sábado, 13 de fevereiro de 2010

Crise climática vai reduzir área cultivável na Região Nordeste

Estudo avalia peso do aquecimento em saúde pública, migração e PIB. As mudanças climáticas previstas para atingir o Brasil nas próximas décadas devem deixar áreas hoje já vulneráveis no Nordeste ainda mais pobres, com mais fome e com menos gente. Em linhas gerais, essa é a conclusão de um estudo, lançado hoje por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fiocruz, que buscou avaliar os impactos que o aquecimento global terá sobre as migrações e a saúde na região. Os pesquisadores trabalharam com a premissa, apontada em agosto por estudo da Embrapa e da Unicamp, de que o aumento das temperaturas vai reduzir as áreas de baixo risco para a agricultura em todo o País, principalmente no Nordeste. A nova pesquisa detalhou essa perda agrícola e calculou os prejuízos econômicos e sociais que ela vai causar. Pelas contas, o aquecimento deve promover uma redução de 11,4% no PIB da região até 2050. Isso deve ser resultado da redução expressiva da área agricultável. Os Estados mais afetados, segundo o trabalho, deverão ser Ceará (-79,6% de terra apta), Piauí (-70,1%), Paraíba (-66,6%) e Pernambuco (-64,9%). Esses números valem para o pior cenário, que prevê aumento de 4°C na temperatura do Nordeste até 2070. Tem-se a noção de que o impacto climático seria grande, mas os números foram maiores do que esperávamos. O impacto nos PIBs está subestimado porque só avaliamos os danos à agricultura, sem considerar geração de energia e oferta de água. A expectativa é que a dificuldade de cultivo, e o conseqüente prejuízo à segurança alimentar, acabem piorando as condições socioeconômicas daquelas populações e aumentem as migrações do sertão para o litoral e para outros Estados, em especial do Centro-Oeste e do centro-norte, mas também do Sudeste. Esta região, que nos últimos anos vem presenciando uma volta dos nordestinos que vieram nos anos 70, deve receber novas ondas migratórias. Pela tendência da região, continuariam ocorrendo migrações nos próximos anos mesmo sem o choque climático. Mas o que vimos é que, com o aquecimento, elas serão mais significativas. Ele trabalha-de com a chamada taxa líquida de migração, que é a relação entre a quantidade de pessoas que migram e a população do município. Sem a elevação da temperatura, ela seria em média de - 0,29%, contra -0,39% com o aquecimento. Até 2040, o Nordeste deve perder 247 mil habitantes. Os principais pontos de partida devem ser as regiões metropolitanas do Recife (PE) e de João Pessoa (PB) e a capital Teresina (PI). A locomoção de pessoas e o aumento das temperaturas e da aridez devem elevar também o Índice Geral de Vulnerabilidade, que mostra quão sensível é uma população a epidemias e à seca. No pior cenário de aquecimento, novamente Ceará e Pernambuco estarão entre os mais vulneráveis, além da Bahia.

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