domingo, 15 de maio de 2011

‘Norte de Minas será um deserto em vinte anos’

Ao ler o jornal “Folha de São Paulo” do dia 09 de maio de 2011, tive um susto ao me deparar com uma matéria no caderno “Cotidiano”, na seção de Ciência: “Norte de MG pode virar um deserto em vinte anos”.
O artigo relaciona três mazelas que ocorrem na região e que a podem levar ao colapso: desmatamento, monocultura e pecuária intensiva e pouca quantidade de chuva. Segundo o jornal, dois milhões e duzentas mil pessoas teriam que abandonar o norte de Minas. A matéria fala ainda dos vales do Mucuri e do Jequitinhonha como se tudo fosse igual. Cita ainda que três biomas serão afetados: cerrado, caatinga e mata atlântica. É tudo estarrecedor: o solo vai ficar estéril, não poderá sustentar a agricultura nem a mata nativa e os recursos hídricos vão secar completamente.
Fiz uma reflexão sobre o assunto e decidi escrever ao jornal. Como nascido e criado em Janaúba – uma das cidades mostradas no mapa de Minas, juntamente com Montes Claros e Bocaiúva – porém vivido em quase todas as regiões do Brasil achei estranho este destaque negativo. Sei e conheço todos os problemas sócio ambientais da região e eles são gigantescos e numerosos, mas de forma nenhuma muito pior que as outras regiões.
Vou apresentar o teor da minha carta ao jornal Folha de São Paulo:
Prezados Senhores
Sou engenheiro, especializado em meio ambiente, dono de uma empresa de consultoria em engenharia que trabalha com projetos ambientais. Moro em Janaúba, no norte de Minas Gerais, e me assustei com a matéria da Folha de hoje: “Norte de Minas pode virar deserto em vinte anos”. A realidade ficou longe no artigo. Se não, vejamos: a) a região do norte de Minas Gerais (não estou falando dos vales do Mucuri e Jequitinhonha – não os conheço) possui 52% de toda a mata nativa do estado de Minas; b) as áreas degradadas estão praticamente reflorestadas, com eucalipto e pinus, é verdade, mas isso é outra história; c) chove aproximadamente de 900 a 1.000 mm por ano em quase toda a região, apesar de concentrado em apenas três meses, mas é suficiente para a recarga dos aquíferos; d) a pecuária é forte, mas a fruticultura (banana, manga, limão, mamão e uma variedade de outras frutas) é o carro forte da economia local; e) Janaúba tem, em seu território, um reservatório de águas limpíssimas (Barragem do Bico da Pedra) que, além do abastecimento humano, irriga quase 20 mil hectares de terras altamente produtivas; f) e, por último, mas não finalmente, a reportagem entrevistou uma professora do Ceará??!! Saibam que temos uma excelente universidade aqui no norte de Minas, a Unimontes, com campus em Montes Claros, Janaúba e diversas outras cidades.
* Aroldo Cangussu é engenheiro e ex-secretário de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS AMBIENTAIS LTDA. (EcoDebate)

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