Qualidade da água é ruim ou péssima em 40% dos rios
analisados pela Fundação SOS Mata Atlântica
Um levantamento com a
medição da qualidade da água em 96 rios, córregos e lagos de 7 Estados
brasileiros, o mais amplo até hoje coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica,
revela que 40% apresentam qualidade ruim ou péssima. Os dados, divulgados
na semana em que se celebra o Dia da Água (22 de março), foram coletados entre
março de 2013 e fevereiro de 2014 e incluem um levantamento inédito envolvendo
as 32 Subprefeituras da cidade de São Paulo, além de 15 pontos do Rio de
Janeiro. Veja a lista completa dos pontos analisados no relatório técnico em http://bit.ly/rios2014.
De acordo com os
números consolidados, 87 pontos analisados (49%) tiveram sua qualidade da água
considerada regular, 62 (35%) foram classificados como ruins e 9 (5%)
apresentaram situação péssima. Apenas 19 (11%) dos rios e mananciais – todos
localizados em áreas protegidas e que contam com matas ciliares preservadas –
mostraram boa qualidade. E nenhum dos pontos analisados foi avaliado como
ótimo.
Segundo Malu Ribeiro,
coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, os melhores resultados
foram obtidos em áreas protegidas, como alguns pontos da Bacia do Alto Tietê na
Área de Proteção Ambiental (APA) Capivari-Monos e no Parque Várzeas do Tietê.
Em Minas, foi encontrada água com qualidade boa em Extrema, na APA Fernão Dias.
E no Espírito Santo, também foi observada água com qualidade boa no município
de Santa Teresa, conhecido como Santuário Capixaba da Mata Atlântica, que
possui ricos ambientes biológicos como as Reservas de Santa Lúcia e Augusto
Ruschi.
“A maioria dos pontos
que apresentaram boas condições estavam em Unidades de Conservação, como
parques ou reservas, ou em locais em que a mata ciliar foi recuperada. Em 6
pontos monitorados, nos Córregos São José e da Concórdia e no Rio Ingazinho, na
Bacia do Rio Piraí (SP), notamos na prática a importância de recuperar a
floresta – após um reflorestamento a qualidade da água passou de regular a boa.
Isso comprova que para garantir água em qualidade e quantidade é preciso
recompor matas ciliares e manter as florestas”, afirma a coordenadora do
estudo.
Já as principais
fontes de poluição e contaminação, segundo ela, são decorrentes da falta de
tratamento de esgotos domésticos, de produtos químicos lançados nas redes
públicas e da poluição difusa proveniente do lixo e resíduos sólidos descartados
de forma inadequada nas cidades, além do desmatamento e do uso de defensivos e
fertilizantes nas zonas rurais. “Os piores índices estão em áreas densamente
urbanizadas”, explica Malu Ribeiro.
O pior desempenho de
pontos próximos a grandes adensamentos urbanos fica evidente em um recorte que
reúne as 34 coletas feitas pela equipe da SOS Mata Atlântica nas 32
Subprefeituras da cidade de São Paulo. O levantamento inédito, realizado
durante o mês de fevereiro de 2014, apresentou os seguintes resultados:
Qualidade – n° de
rios - %
Ótima – 0 – 0%
Boa – 0 – 0%
Regular – 6 – 17,65%
Ruim – 20 – 58,82%
Péssima – 8 – 23,53%
Total – 34 – 100%
Já os 15 pontos de
coleta analisados na cidade do Rio de Janeiro durante todo o mês de fevereiro
de 2014, em locais menos impactados pela urbanização, obtiveram um desempenho
mediano, sem nenhum resultado péssimo, bom ou ótimo:
Qualidade – n° - %
Ótima – 0 – 0%
Boa – 0 – 0%
Regular – 9 – 40,%
Ruim – 6 – 60%
Péssima – 0 – 0%
Total – 15 – 100%
Outro dado relevante
no levantamento feito pela SOS Mata Atlântica é uma comparação de 88 pontos de
34 cidades nos Estados de SP e MG que haviam sido monitorados em 2010, na qual
foi possível perceber que a quantidade de corpos hídricos em péssimo estado
caiu de 15 para 7, enquanto o número de rios em situação ruim subiu de 18 para
29 e os rios em boas condições subiram de 5 para 15. “Costumamos dizer que em
São Paulo os rios estão saindo da UTI. A situação ainda é preocupante e requer
investimentos em saneamento e planejamento urbano. No caso de Minas, os
pagamentos por feitos aos proprietários de terra que preservam matas ciliares
ajudou a manter a boa qualidade nos períodos de seca”, diz Malu. Dados
completos do relatório em http://bit.ly/rios2014.
Índices – 2010 - % -
2014 - %
Ótima – 0 – 0% - 0 –
0%
Boa – 5 – 4,44% - 15
– 13,2%
Regular – 50 – 44% -
37 – 32,6%
Ruim – 18 – 15,84% -
29 – 16,7%
Péssima – 15 – 13,2%
- 7 – 6,16%
Total – 88 – 100% -
88 – 100%
Segundo os técnicos,
um dos destaques positivos foi a cidade de Salto, no interior paulista, onde o
ponto de captação saiu do regular (quase ruim) para bom, após ter sido
realizado um programa de três anos de restauração florestal. Já o Rio
Tamanduateí, que em 2010 esboçava uma recuperação após uma série de medidas de
tratamento de esgoto, manteve qualidade péssima após uma nova onda de ocupações
irregulares. “A solução não é apenas coletar e tratar esgoto, é preciso
conscientização da população e bons planos diretores”, afirma Malu Ribeiro.
Metodologia
A coleta para os
estudos é realizada por meio de um kit desenvolvido pelo programa Rede das
Águas, da SOS Mata Atlântica, que possibilita a avaliação dos rios a partir de
um total de 16 parâmetros, que incluem níveis de oxigênio, fósforo, PH, odor,
aspectos visuais, entre outros. O kit classifica a qualidade das águas em cinco
níveis de pontuação, de acordo com a legislação: péssimo (de 14 a 20 pontos),
ruim (de 21 a 26 pontos), regular (de 27 a 35 pontos), bom (de 36 a 40 pontos)
e ótimo (acima de 40 pontos).
Os projetos da
Fundação SOS Mata Atlântica para a coleta de rios, córregos e lagos em Estados
com o bioma Mata Atlântica estão abertos à população em geral. Os interessados
em acompanhar a qualidade dos rios locais podem participar dos grupos de
monitoramento já existentes ou ajudar a criar novos grupos em rios próximos a
escolas, igrejas e outros centros comunitários. Os grupos fazem a medição uma
vez por mês e enviam os resultados pela internet. (ecodebate)
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