Dia Mundial da Alimentação 2020: aumenta a fome no
mundo.
“De pé ó vítimas da fome;
De pé famélicos da terra” - Hino da Internacional Socialista.
O Dia Mundial da Alimentação começou a ser celebrado em 1981, como
uma forma de conscientizar a população de que é preciso se manter informado em
questões como nutrição e alimentação para manter a saúde em dia e para
organizar a luta contra a fome. O Dia Mundial da Alimentação é comemorado em 16
de outubro em mais de 150 países. Esta data é marcada também pela criação da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.
A meta número 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
conjunto de intenções aprovados pela ONU em 2015, estabelece como fim acabar
com todas as formas de fome e má nutrição até 2030, de modo a garantir que
todas as pessoas do mundo – especialmente as crianças – tenham acesso
suficiente a alimentos nutritivos durante todos os anos. Para alcançar este
objetivo, é necessário promover práticas agrícolas sustentáveis, por meio do
apoio à agricultura familiar, do acesso equitativo à terra, à tecnologia e ao
mercado.
Um estudo recente da Oxfam
Internacional, realizado por conta da pandemia de covid-19, advertiu sobre o
aumento da fome no planeta em função do surto pandêmico do novo coronavírus que
gerou uma grande recessão global e lançou milhões de pessoas na pobreza extrema.
De acordo com dados da organização não governamental britânica, a
crise alimentar que já vinha se acirrando nos últimos anos vai se agravar até o
fim de 2020, pois um montante entre 6,1 mil e 12,2 mil pessoas poderão morrer
diariamente de fome em decorrência dos impactos socioeconômicos da pandemia.
O gráfico abaixo mostra o aumento do Índice de Preço dos Alimentos da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) em 2020. O Índice de Preços de Alimentos teve média de 97,9 pontos em setembro de 2020, dois pontos (2,1 por cento) acima de agosto e 5% acima de seu valor um ano atrás. O valor de setembro, o maior desde fevereiro de 2020, representou o quarto aumento mensal consecutivo. Preços muito firmes de óleos vegetais e cereais estiveram por trás do último aumento do FFPI. Em contraste, os preços dos produtos lácteos permaneceram estáveis em geral, enquanto os do açúcar e da carne recuaram em relação aos níveis de agosto. O Índice tende a ser o maior dos últimos 5 anos.
O aumento do preço dos alimentos foi muito sentido no Brasil. Segundo o IBGE, o arroz ficou quase 20% mais caro desde o início do ano, o preço do feijão mulatinho subiu 32,6%, da abobrinha, 46,8%, e da cebola, 50,4%. As razões para esse comportamento estão ligadas, de forma direta e indireta, à pandemia — o que significa que o impacto pode se estender pelos próximos meses, embora haja dúvidas sobre um aumento persistente dos preços no curto prazo.
No longo prazo, as maiores ameaças à segurança alimentar vem das
mudanças climáticas. Não só os efeitos climáticos extremos (como tempestades,
secas, furacões, incêndios florestais, etc.) e o aquecimento global.
O artigo de Agnolucci e colegas (15/09/2020), “Impacts of rising temperatures and farm management practices on global yields of 18 crops”, publicado na revista Nature Food, mostra que as mudanças climáticas podem provocar a diminuição da produção agrícola global. Os países que já lutam com baixas safras serão os mais afetados pelo aquecimento do clima. Os pesquisadores avaliaram os rendimentos globais de 18 das culturas mais cultivadas – trigo, milho, soja, arroz, cevada, beterraba sacarina, mandioca, algodão, amendoim, painço, aveia, batata, leguminosas, colza, centeio, sorgo, girassol e batata-doce – culturas que, juntas, representam 70% da área de cultivo global e cerca de 65% da ingestão calórica global.
16 de outubro - Dia Mundial da Alimentação.
Os autores descobriram que as mudanças climáticas não só
prejudicarão a capacidade dos agricultores de manter as safras atuais, mas também
que os países que já enfrentam a insegurança alimentar serão afetados de forma
desproporcional. Os pesquisadores investigaram as variações de temperatura, mas
não examinaram os impactos do clima nos padrões de precipitação ou outros
fenômenos climáticos como enchentes ou secas. Os países com maior impacto
negativo na maioria das safras foram os da África Subsaariana e alguns países
da América do Sul e do Sul da Ásia, como Índia, Brasil, Indonésia e Venezuela,
entre outros.
Mas diante do ataque populista ao multilateralismo e diante das dificuldades
da governança global, o prêmio Nobel da Paz de 2020 foi concedido ao Programa
Mundial de Alimentos da ONU, no dia 09/10, pelo combate a fome no mundo.
Segundo a Academia Sueca, o programa foi premiado pelos seus esforços para
combater a fome, pela sua contribuição para melhorar as condições para a paz em
áreas afetadas por conflitos e por atuar como força motriz nos esforços para
prevenir o uso da fome como arma de guerra e conflito. A organização atua em
situações de emergência e em países afetados por conflitos, onde há mais risco
de desnutrição.
O fato é que a emergência sanitária vai passar, mas a emergência climática vai continuar, deve degradar os solos e as fontes de água potável e vai gerar ondas de calor cada vez mais severas, devendo pressionar o preço dos alimentos, aumentar a fome no mundo e, provavelmente, engendrar mais vidas perdidas do que a pandemia da Covid-19. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário