Emissões de geração caem 30%,
mas país tem alta na liberação dos gases do efeito estufa.
Redução da geração térmica em
2016 aliada a maior participação de renováveis contribuiu com o resultado do
setor elétrico
O Brasil registrou alta de
8,9% nas emissões de gases do efeito estufa em 2016, na comparação com o ano
anterior. O país emitiu no ano passado 2,278 bilhões de toneladas brutas de gás
carbônico equivalente (CO2e), contra 2,091 bilhões em 2015, segundo
dados da nova edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito
Estufa (SEEG), lançado pelo Observatório do Clima em 26/10/17.
De acordo com a ONG, é o
nível mais alto desde 2008 e a maior elevação vista desde 2004. O crescimento é
o segundo consecutivo, e ocorreu mesmo em meio à grave crise econômica do país.
Em 2015 e 2016, a elevação acumulada das emissões foi de 12,3%, contra um tombo
de 7,4 pontos no Produto Interno Bruto, que recuou 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016.
“O Brasil se torna, assim, a única grande economia do mundo a aumentar a
poluição sem gerar riqueza para sua sociedade”, afirmou o Observatório do
Clima.
A elevação nas emissões no
ano passado se deveu à alta de 27% no desmatamento na Amazônia. As emissões por
mudança de uso da terra cresceram 23% no ano passado, respondendo por 51% de
todos os gases de efeito estufa que o Brasil lançou no ar. Por outro lado, quase
todos os outros setores da economia tiveram queda nas emissões. A mais
expressiva foi no setor de energia, que viu um recuo de 7,3% – a maior baixa em
um ano desde o início da série histórica, em 1970.
De acordo com os dados do
SEEG, a queda do setor foi puxada pela retração da economia e pelo crescimento
da participação das energias renováveis na matriz elétrica. Até então, o setor
vinha registrando crescimento rápido nas emissões. O destaque foram as emissões
associadas à geração de eletricidade que caíram 30% no ano passado.
O relatório aponta que isso
se deveu à redução da participação das usinas termelétricas fósseis, cuja
geração caiu 28% devido à recuperação parcial dos reservatórios das
hidrelétricas – que aumentaram sua geração em 6% graças às chuvas no Centro-Sul
em 2016 – e à desaceleração da economia. “Além disso, a geração por fontes
renováveis não hídricas, principalmente eólica e biomassa, cresceu 19%”,
afirmou Marcelo Cremer, pesquisador do Iema (Instituto de Energia e Meio
Ambiente).
A maior parte das emissões do setor de energia –
48% – segue atrelada ao setor de transportes. Nos últimos três anos o consumo
de combustível em veículos leves se manteve constante, mas em 2016 a gasolina
aumentou 4% e o etanol caiu 10%. “A troca de etanol por gasolina tende a
aumentar emissões, mas por outro lado, a redução no consumo de óleo diesel,
querosene de aviação e óleo combustível, na esteira da crise, fez com que as
emissões de transportes se mantivessem praticamente idênticas às de 2015”,
concluiu Cremer.
O relatório afirma que o
cenário atual acende uma luz amarela para o cumprimento da Política Nacional de
Mudanças Climáticas. A lei estabelece que o Brasil precisa chegar a 2020 com
emissões não superiores a 2,2 bilhões de toneladas de CO2
equivalente – exatamente o que foi emitido em 2016. “Se não reverter o
desmatamento, o país pode não cumprir a meta caso as emissões dos outros
setores retomem o ritmo de alta de antes da recessão, em especial o de
energia”, pondera o Observatório do Clima.
As emissões da agropecuária
subiram 1,7%. O relatório saliente que, hoje, a atividade agropecuária é, de
longe, a principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa no
país: ela respondeu por 74% das emissões nacionais em 2016, somando as emissões
diretas da agropecuária (22%) e as emissões por mudança de uso da terra (51%).
“As emissões ligadas à atividade agropecuária quase sempre representaram 70% ou
mais das emissões totais do Brasil. Mas elas podem chegar a zero com decisões
nossas”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador técnico do SEEG. Segundo ele, o
país pode zerar o desmatamento e expandir a agricultura de baixo carbono a toda
a agropecuária.
Com efeito, a chamada intensidade de carbono da
economia brasileira, ou seja, o total emitido por unidade de PIB gerada,
cresceu 13% – na contramão da maior parte das grandes economias, em que a
intensidade de carbono vem declinando. Em 2016, o Brasil emitiu 1,1 tCO2e
para cada milhão de dólares de PIB (MUSD), enquanto a média global é de 0,7 tCO2e/MUSD.
Para uma economia de baixo carbono em meados do século, estima-se que este
valor deveria ser inferior a 0,1. (ctee)
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