Números alarmantes de novas
queimadas foram detectados na Amazônia brasileira, aponta a Anistia
Internacional. As autoridades públicas seguem omissas na proteção da terra e
dos direitos humanos dos povos da floresta amazônica.
Antes do Dia da Amazônia,
celebrado em 05/09/2020, cerca de 63 mil focos de incêndios foram identificados
este ano, até 31/08/2020, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE). O Exército brasileiro está posicionado na Amazônia, desde maio, ostensivamente
para combater o desmatamento e os incêndios ilegais.
A Anistia Internacional
também destacou que o desmatamento aumentou em 43,5% entre agosto/2019 e julho/2020,
comparado com o mesmo período de 2018 a 2019, destruindo um total de 9.205 km² de
floresta. A destruição recente pode, na realidade, ser muito maior, depois que
os dados forem corrigidos para levar em conta um erro de satélite que afetou a
captura de alguns focos de incêndio desde 16/08/2020.
“Com os incêndios novamente
se multiplicando rapidamente nesta estação de queimadas, está mais do que claro
que as forças armadas brasileiras não possuem a experiência ou habilidade
técnica necessária para barrar a ação daqueles que ateiam fogo na floresta e
promovem invasões ilegais de terras protegidas”, disse Richard Pearshouse,
diretor de Meio Ambiente e Crises da Anistia Internacional.
Richard continua: “O envio de
forças do Exército encobre a estratégia do governo brasileiro de
intencionalmente enfraquecer a capacidade operacional de seus próprios órgãos
ambientais, com a finalidade de abrir a Amazônia para a exploração comercial”.
“O governo deveria devolver o
controle da fiscalização ambiental e implementação das leis ambientais às
autoridades civis apropriadas. A única maneira de proteger a maior floresta
tropical do mundo é o governo demonstrar apoio político inequívoco à proteção
ambiental civil na Amazônia, começando por restabelecer as verbas e outros
recursos e apoiar as agências governamentais para que implementem a legislação
ambiental”, explica ele.
Ao todo 74% dos focos de
incêndios detectados pelo INPE foram registrados depois do governo brasileiro
ter proibido queimadas, em meados de julho/2020. Os incêndios muitas vezes são
iniciados intencionalmente por grileiros, indivíduos que desmatam áreas de
floresta e invadem as terras para convertê-las, posteriormente, em pastagem.
Essa atividade ilegal sustenta a multibilionária indústria pecuarista
brasileira.
Imagens de satélite captadas nos últimos dois meses também revelaram a existência de novos incêndios nas três áreas protegidas que a Anistia Internacional visitou recentemente no Estado de Rondônia: o território indígena Uru-Eu-Wau-Wau e as reservas extrativistas do Rio Jacy-Paraná e Rio Ouro Preto.
Novas queimadas na floresta detectadas antes do Dia da Amazônia alcançam número assustador.
Fazendas de gado ilegais
alimentam a destruição da Amazônia
A pecuária bovina é o
principal fator causador das invasões e ocupações ilegais de terras em reservas
extrativistas e territórios indígenas da Amazônia brasileira, alimentando o
desmatamento e pisoteando os direitos dos povos indígenas e moradores
tradicionais dessas áreas.
A região amazônica é palco do
maior crescimento da lucrativa indústria pecuarista no Brasil. Desde 1988, o
número de gado criado na região quase quadruplicou, chegando a 86 milhões de
animais em 2018, ou seja, 40% do rebanho nacional total. Parte dessa expansão
vem destruindo grandes áreas de floresta protegida em territórios indígenas e
reservas extrativistas.
Ao todo 63% da área desmatada
entre 1988 e 2014 tornou-se pastagem de gado – uma área cinco vezes maior que a
superfície de Portugal. A Anistia Internacional documentou esse processo em detalhes
em um relatório publicado em novembro/2019.
De acordo com dados
governamentais, os territórios indígenas da Amazônia brasileira perderam 497 km²
de floresta entre agosto/2018 e julho/2019 – um aumento de 91% em relação ao
período correspondente de um ano antes.
Gado criado ilegalmente em
áreas protegidas é encontrado na cadeia de fornecimento da JBS
Em investigação recente, a
Anistia Internacional constatou que gado criado ilegalmente em áreas protegidas
da Amazônia brasileira foi identificado na cadeia de fornecimento da JBS, a
maior empresa de processamento de carnes.
A Anistia Internacional não encontrou evidências que indicassem envolvimento direto da JBS com violações dos direitos humanos, mas a organização está pedindo à JBS que implemente um sistema de fiscalização efetivo, incluindo de seus fornecedores indiretos, até o final de 2020, para assegurar que nenhum bovino criado ilegalmente em áreas protegidas ingresse em sua cadeia de fornecimento.
Tragédia anunciada: Amazônia continua ardendo em chamas.
A Anistia Internacional lançou uma petição online, “Diga não ao gado criado ilegalmente na Amazônia”, que pode ser assinada aqui. (ecodebate)
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