segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Perda de animais dispersoras de sementes impedem as plantas de se adaptar

Perda de espécies animais dispersoras de sementes impedem as plantas de se adaptar às mudanças climáticas.

Pesquisadores avaliaram como a perda de biodiversidade de pássaros e mamíferos afetará as chances das plantas se adaptarem ao aquecimento climático induzido pelo homem.

Mais da metade das espécies de plantas dependem de animais para dispersar suas sementes.

Em um estudo apresentado na capa da edição desta semana da revista Science, pesquisadores norte-americanos e dinamarqueses mostraram que a capacidade das plantas dispersas por animais de acompanhar as mudanças climáticas foi reduzida em 60% devido à perda de mamíferos e pássaros que ajudam essas plantas em se adaptar às mudanças ambientais.
Pequenos pássaros, como tordos, normalmente dispersam sementes em distâncias relativamente curtas.

Pesquisadores da Rice University, University of Maryland, Iowa State University e Aarhus University usaram aprendizado de máquina e dados de milhares de estudos de campo para mapear as contribuições de pássaros e mamíferos dispersores de sementes em todo o mundo. Para entender a gravidade dos declínios, os pesquisadores compararam mapas de dispersão de sementes hoje com mapas que mostram como seria a dispersão sem extinções causadas por humanos ou restrições de espécies.

“Algumas plantas vivem centenas de anos, e sua única chance de se mover é durante o curto período em que são uma semente se movendo pela paisagem”, disse o ecologista da Rice Evan Fricke, o primeiro autor do estudo.

À medida que o clima muda, muitas espécies de plantas devem se mudar para um ambiente mais adequado. Plantas que dependem de dispersores de sementes podem enfrentar a extinção se houver poucos animais para mover suas sementes o suficiente para acompanhar as mudanças nas condições.
“Se não houver animais disponíveis para comer seus frutos ou levar suas nozes, as plantas dispersas por animais não vão muito longe”, disse ele.

E muitas plantas das quais as pessoas dependem, tanto econômica quanto ecologicamente, dependem de pássaros e mamíferos dispersores de sementes, disse Fricke, que conduziu a pesquisa durante uma bolsa de pós-doutorado no Centro Nacional de Síntese Socioambiental (SESYNC) da Universidade de Maryland em colaboração com coautores Alejandro Ordonez e Jens-Christian Svenning de Aarhus e Haldre Rogers de Iowa State.

Fricke disse que o estudo é o primeiro a quantificar a escala do problema de dispersão de sementes globalmente e as regiões mais afetadas. Os autores usaram dados sintetizados de estudos de campo em todo o mundo para treinar um modelo de aprendizado de máquina para dispersão de sementes e, em seguida, usaram o modelo treinado para estimar a perda de dispersão de rastreamento climático causada por declínios de animais.

Ele disse que o desenvolvimento de estimativas de perdas por dispersão de sementes exigiu dois avanços técnicos significativos.

“Primeiro, precisávamos de uma maneira de prever as interações de dispersão de sementes que ocorrem entre plantas e animais em qualquer local do mundo”, disse Fricke.

Modelando dados em redes de interações de espécies de mais de 400 estudos de campo, os pesquisadores descobriram que poderiam usar dados sobre características de plantas e animais para prever com precisão as interações entre plantas e dispersores de sementes.

“Segundo, precisávamos modelar como cada interação planta-animal realmente afetava a dispersão de sementes”, disse ele. “Por exemplo, quando um animal come uma fruta, pode destruir as sementes ou dispersá-las a alguns metros ou vários quilômetros de distância.”

Os pesquisadores usaram dados de milhares de estudos que abordaram quantas sementes de espécies específicas de pássaros e mamíferos se dispersam, até que ponto as dispersam e quão bem essas sementes germinam.

“Além do alerta de que o declínio nas espécies animais limitou muito a capacidade das plantas de se adaptar às mudanças climáticas, este estudo demonstra lindamente o poder de análises complexas aplicadas a dados enormes e disponíveis publicamente”, disse Doug Levey, do programa diretor da Diretoria de Ciências Biológicas da National Science Foundation (NSF), que financiou parcialmente o trabalho.

O estudo mostrou que as perdas por dispersão de sementes foram especialmente severas em regiões temperadas da América do Norte, Europa, América do Sul e Austrália. Se as espécies ameaçadas forem extintas, as regiões tropicais da América do Sul, África e Sudeste Asiático seriam as mais afetadas.

“Encontramos regiões onde a dispersão de sementes de rastreamento climático diminuiu 95%, embora tenham perdido apenas alguns por cento de suas espécies de mamíferos e aves”, disse Fricke.

Fricke disse que o declínio dos dispersores de sementes destaca uma importante interseção das crises climática e de biodiversidade.

“A biodiversidade de animais dispersores de sementes é fundamental para a resiliência climática das plantas, o que inclui sua capacidade de continuar armazenando carbono e alimentando as pessoas”, disse ele.

A restauração do ecossistema para melhorar a conectividade dos habitats naturais pode neutralizar alguns declínios na dispersão de sementes, disse Fricke.

“Grandes mamíferos e aves são particularmente importantes como dispersores de sementes de longa distância e foram amplamente perdidos dos ecossistemas naturais”, disse Svenning, autor sênior do estudo, professor e diretor do Centro de Dinâmica da Biodiversidade em um Mundo em Mudança da Universidade de Aarhus. “A pesquisa destaca a necessidade de restaurar as faunas para garantir uma dispersão eficaz diante das rápidas mudanças climáticas.”

Fricke disse: “Quando perdemos mamíferos e aves dos ecossistemas, não perdemos apenas espécies. A extinção e a perda de habitat danificam redes ecológicas complexas. Este estudo mostra que o declínio de animais pode atrapalhar as redes ecológicas de maneiras que ameaçam a resiliência climática de ecossistemas inteiros dos quais as pessoas dependem”.

Levey, da NSF, disse: “Através do SESYNC e outros investimentos da NSF, estamos permitindo que os ecologistas prevejam o que acontecerá com as plantas quando seus ‘colegas de equipe’ dispersores saírem de cena da mesma forma que prevemos os resultados dos jogos esportivos”.

A pesquisa foi apoiada pela NSF (1639145), a Fundação Villum (16549) e a Fundação de Pesquisa da Universidade de Aarhus (AUFF-F-2018-7-8). (ecodebate)

Crise climática é a maior ameaça de longo prazo que a humanidade enfrenta

• Os principais riscos são a crise climática, as crescentes divisões sociais, o aumento dos riscos cibernéticos e uma recuperação global desigual, à medida que a pandemia persiste.

• Uma pesquisa global de especialistas descobre que apenas 1 em cada 6 estão otimistas e apenas 1 em cada 10 acreditam que a recuperação global se acelerará.

• Para resolver essas questões sistêmicas, os líderes globais devem adotar uma resposta coordenada de múltiplas partes interessadas, mesmo que o espaço para cooperação diminua.

Os riscos climáticos dominam as preocupações globais à medida que o mundo entra no terceiro ano da pandemia. De acordo com o Global Risks Report 2022, enquanto os principais riscos de longo prazo se relacionam ao clima, as principais preocupações globais de curto prazo incluem divisões sociais, crises de subsistência e deterioração da saúde mental.

Além disso, a maioria dos especialistas acredita que uma recuperação econômica global será volátil e desigual nos próximos três anos.

Agora, em sua 17ª edição, o relatório encoraja os líderes a pensarem fora do ciclo de relatórios trimestrais e a criar políticas que gerenciem riscos e moldem a agenda para os próximos anos. Ele explora quatro áreas de riscos emergentes: cibersegurança; competição no espaço; uma transição climática desordenada; e pressões migratórias, cada uma exigindo coordenação global para uma gestão bem-sucedida.

“As disrupções econômicas e de saúde estão agravando as divisões sociais. Isso está criando tensões em um momento em que a colaboração dentro das sociedades e entre a comunidade internacional será fundamental para garantir uma recuperação global mais uniforme e rápida. Os líderes globais devem se unir e adotar uma abordagem coordenada de múltiplas partes interessadas para enfrentar os desafios globais implacáveis e construir resiliência antes da próxima crise”, disse Saadia Zahidi, Managing Director do Fórum Econômico Mundial.

Carolina Klint, Risk Management Leader, Continental Europe da Marsh, disse: “À medida que as empresas se recuperam da pandemia, elas estão aprimorando o foco na resiliência organizacional e nas credenciais ESG. Com as ameaças cibernéticas agora crescendo mais rápido do que nossa capacidade de erradicá-las permanentemente, está claro que nem a resiliência nem a governança são possíveis sem planos de gerenciamento de risco cibernético sofisticados e confiáveis. Da mesma forma, as organizações precisam começar a entender seus riscos espaciais, especialmente o risco para os satélites, dos quais nos tornamos cada vez mais dependentes, dado o aumento das ambições e tensões geopolíticas”.

Peter Giger, Group Chief Risk Officer do Zurich Insurance Group, disse: “A crise climática continua sendo a maior ameaça de longo prazo que a humanidade enfrenta. A omissão de ação sobre as mudanças climáticas pode reduzir o PIB global em um sexto e os compromissos assumidos na COP26 ainda não são suficientes para atingir a meta de 1,5°C. Não é tarde demais para governos e empresas agirem sobre os riscos que enfrentam e conduzirem uma transição inovadora, determinada e inclusiva que proteja as economias e as pessoas”.
O relatório se encerra com reflexões sobre o segundo ano da pandemia de COVID-19, produzindo novos insights sobre a resiliência a nível nacional. O capítulo também se baseia nas comunidades de especialistas em risco do Fórum Econômico Mundial — a Chief Risk Officers Community and Global Future Council on Frontier Risks — para oferecer conselhos práticos na implementação da resiliência para as organizações.
O Global Risk Report 2022 foi desenvolvido com o apoio do Global Risks Advisory Board do Fórum Econômico Mundial. Ele também se beneficia da colaboração contínua com seus parceiros estratégicos, Marsh McLennan, SK Group e Zurich Insurance Group, e seus consultores acadêmicos na Oxford Martin School (Universidade de Oxford), na National University of Singapore e no Wharton Risk Management and Decision Processes Center (Universidade da Pensilvânia).
Leia mais sobre o Global Risks Report 2022 em https://www.weforum.org/reports/global-risks-report-2022 (ecodebate)

Os 8 anos mais quentes do Antropoceno

“Nossa casa ainda está pegando fogo e vocês estão jogando gasolina nas chamas!” Greta Thunberg.
O aquecimento global é uma realidade inexorável e as pessoas já começam a perceber a dimensão do problema quando sofrem os efeitos dos furacões, inundações, secas prolongadas, ondas letais de calor, etc. O período de 2014 a 2021 foi o octênio mais quente do Antropoceno.

O gráfico abaixo mostra a variação mensal da temperatura nos últimos 8 anos – que ocorreram entre 2014 e 2021 – registrando as maiores temperaturas da série histórica iniciada em 1880. O ano de 1998 foi o mais quente do século passado e apresentou temperatura 0,65ºC acima da média do século XX. O ano de 2010 registrou 0,72ºC, mas em 2011 a temperatura ficou em 0,58ºC acima da média do século passado, mas abaixo daquela registrada em 1998.

Contudo, o quadro muda de figura e, a partir de 2014, todos os anos apresentam variações de temperatura acima do registrado em 1998 e 2010. Em 2014 a temperatura foi 0,74ºC acima da média do século XX. Em 2016 e 2020 ficou quase 1ºC acima da média do século XX. Em 2021, com o fenômeno La Niña, a temperatura ficou 0,84ºC, acima da média do século XX.

Segundo o Global Temperature Report for 2021, do centro de pesquisa Berkeley Earth, “o ano de 2021 foi nominalmente o 6º ano mais quente na Terra desde que as observações diretas começaram. A temperatura média global em 2021 foi significativamente mais fria do que em 2020, mas ainda 1,2°C acima da média de 1850 a 1900. O La Niña provavelmente contribuiu com as condições um pouco mais frias em 2021 e espera-se que também afete 2022. Embora 2021 não tenha sido um ano recorde global, 8% da superfície da Terra teve um ano localmente mais quente, incluindo a China e outros centros populacionais”.

O que tem acelerado o aquecimento global é o aumento das emissões de gases de efeito estufa provocado pelo crescimento demoeconômico do mundo. Mais pessoas consumindo mais produtos significa mais extração de recursos naturais e mais poluição. Como não existe população sem consumo e nem consumo sem população o resultado é maior concentração de CO2 na atmosfera. Alguns países têm alto padrão de consumo e baixas taxas de crescimento demográfico, enquanto outros países possuem alto crescimento da população com baixo padrão de consumo. Evidentemente, uns emitem e desmatam mais do que os outros. Mas uma característica em comum é que todas as pessoas, em maior ou menor proporção, contribuem para a degradação ambiental. O ser humano, ao contrário da abelha, não possui uma relação simbiótica com o meio ambiente.

Com o crescimento demoeconômico a humanidade ultrapassou a capacidade de carga da Terra. Nos últimos 50 anos (1972-2022) a população mundial mais que dobrou de tamanho (passando de 3,85 bilhões para 7,9 bilhões de habitantes) e o PIB mundial aumentou 5 vezes. Assim, enquanto algumas pessoas consideram que o crescimento econômico teve maior impacto sobre as emissões de gases de efeito estufa do que o crescimento populacional, o fato é que a pegada ecológica já ultrapassou a biocapacidade do Planeta.

Segundo o climatologista James Hansen (03/12/2021), a temperatura da superfície global em 2021 (gráfico abaixo) foi de +1,12°C em relação à média de 1880-1920 na análise do GISS (Instituto Goddard para Estudos Espaciais). Os anos de 2021 e 2018 estão empatados entre os 6 mais quentes no registro instrumental. Os oito anos mais quentes ocorreram nos últimos oito anos. A taxa de aquecimento sobre a terra é cerca de 2,5 vezes mais rápida do que sobre o oceano. O ciclo irregular El Niño/La Nina domina a variabilidade interanual da temperatura, o que sugere que 2022 não será muito mais quente que 2021, mas 2023 pode estabelecer um novo recorde. Além disso, três fatores: (1) aceleração das emissões de gases de efeito estufa (GEE), (2) diminuição dos aerossóis, (3) o ciclo de irradiação solar aumentará um desequilíbrio energético planetário já recorde e levará a temperatura global além do limite de 1,5°C – provavelmente durante a década de 2020. Por causa da inércia e atrasos de resposta nos sistemas climáticos e energéticos, o limite de 2°C provavelmente também será ultrapassado em meados do século.

Desta forma, se o aquecimento global continuar no ritmo atual, a civilização estará no rumo de uma catástrofe. E o mais grave é que a autodestruição humana pode levar junto milhões de espécies que nada tem a ver com os erros egoísticos dos seres que se julgam superiores e os mais inteligentes do Planeta. A humanidade pode estar rumando para o suicídio, podendo também gerar um ecocídio e um holocausto biológico de proporções épicas.

O aquecimento global derrete o gelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares elevando o nível do mar e deixando bilhões de pessoas afetadas pela invasão da água salgada e escassez da água potável. A acidificação e a morte dos oceanos vai ter um impacto devastador para a humanidade. O aquecimento e a acidificação também vai afetar a agricultura e o preço dos alimentos deve subir, aumentando a insegurança alimentar e acendendo uma centelha capaz de incendiar grandes mobilizações de massa.

Para mitigar o aquecimento global, libertar-se dos combustíveis fósseis é essencial. Porém, está cada vez mais evidente que não basta mudar a matriz energética, descarbonizar a economia e promover uma maquiagem verde no processo de produção e consumo. É preciso, urgentemente, colocar na ordem do dia o debate sobre os meios de se promover o decrescimento das atividades antrópicas. A meta de redução da pobreza deve ser alcançada pelo decrescimento das desigualdades sociais e não pelo crescimento demoeconômico desenfreado.

Em meados de janeiro de 2021, uma onda de calor intensa atingiu a região central da América do Sul fazendo com que cidades na Argentina, Uruguai, Paraguai e no Rio Grande do Sul registrassem temperaturas recordes. A poderosa onda de calor provocou uma onda de incêndios em vegetação no Cone Sul. A área mais atingida por incêndios florestais foi a Argentina, o país mais afetado pelo calor extremo com máximas nacionais acima de 40ºC todos os dias entre 08 e 15 de janeiro, com registros de até 45ºC. A Austrália bateu o recorde com 50,7ºC. Isto é inédito e serve de alerta para os negacionistas da crise climática provocada pelo crescimento exponencial das atividades antrópicas.

O mundo precisa aprender com o trauma da covid-19 e mobilizar todas as forças possíveis para mitigar a crise climática e resolver os problemas ambientais do século XXI. Senão, como mostrou o jornalista David Wallace-Wells, teremos uma “Terra inabitável”. (ecodebate)

sábado, 29 de janeiro de 2022

Substituir a carne bovina na dieta reduz as emissões

Substituir a carne bovina na dieta reduz as emissões

Se os americanos trocassem uma porção de carne bovina por dia por frango, as emissões de gases de efeito estufa de suas dietas cairiam em média 48% e o impacto no uso da água em 30%, de acordo com o estudo.

Se a sua resolução de Ano Novo é comer melhor para o planeta, um novo estudo da Universidade de Tulane descobriu que pode ser mais fácil do que você pensa.

Os americanos que comem carne bovina podem reduzir a pegada de carbono de sua dieta em até 48% trocando apenas uma porção por dia por uma alternativa mais ecológica, de acordo com um novo estudo publicado no The American Journal of Clinical Nutrition.

Usando dados do mundo real de uma pesquisa sobre o que mais de 16.000 americanos comem em um dia médio, pesquisadores da Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical da Universidade de Tulane e da Universidade de Michigan calcularam quanta diferença as pessoas poderiam fazer se trocassem um alto – item alimentar de impacto para opções semelhantes e mais sustentáveis. Eles examinaram como a mudança afetaria duas métricas – as emissões de gases de efeito estufa de suas dietas diárias e a pegada de escassez de água, uma medida da água irrigada usada para produzir os alimentos que comem que leva em consideração as variações regionais na escassez de água.

“As pessoas podem fazer uma diferença significativa em sua pegada de carbono com mudanças muito simples” – Diego Rose, autor principal do estudo.

O item de maior impacto na dieta dos americanos é a carne bovina e cerca de 20% dos entrevistados comem pelo menos uma porção por dia. Se eles trocassem coletivamente uma porção de carne bovina – por exemplo, escolhendo peru moído em vez de carne moída – as emissões de gases de efeito estufa de suas dietas caíram em média 48% e o impacto no uso da água diminuiu 30%.

“As pessoas podem fazer uma diferença significativa em sua pegada de carbono com mudanças muito simples – e a mais fácil seria substituir as aves por carne bovina”, disse o principal autor Diego Rose, professor de nutrição e segurança alimentar da Escola de Saúde Pública da Universidade de Tulane e Remédio Tropical.

O estudo também examinou como a mudança afetaria o impacto ambiental geral de todo o consumo de alimentos nos EUA em um dia – inclusive se 80% das dietas não mudassem. Se apenas os 20% dos americanos que comem carne bovina em um dia mudassem para outra coisa em uma refeição, isso reduziria a pegada de carbono geral de todas as dietas dos EUA em 9,6% e reduziria os impactos no uso da água em 5,9%.

A produção agrícola é responsável por cerca de um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa e cerca de 70% das retiradas globais de água doce. Para o estudo, os pesquisadores construíram um extenso banco de dados das emissões de gases de efeito estufa e uso da água relacionados à produção de alimentos e o vincularam a uma grande pesquisa federal que perguntou às pessoas o que elas comeram em um período de 24 horas.

Embora a troca de carne bovina tenha tido o maior impacto, eles também mediram o impacto da mudança de outros itens. Substituir uma porção de camarão por bacalhau reduziu as emissões de gases de efeito estufa em 34%; a substituição do leite lácteo por leite de soja resultou em uma redução de 8%.

A redução mais significativa na pegada de escassez de água veio da substituição de aspargos por ervilhas, resultando em uma redução de 48%. A substituição de amendoins por amêndoas diminuiu a pegada de escassez de água em 30%.

Embora as substituições individuais tenham sido o foco do estudo, Rose disse que enfrentar as mudanças climáticas deve envolver mais do que ações singulares.

“As mudanças necessárias para resolver nossos problemas climáticos são importantes. Eles são necessários em todos os setores e em todos os níveis da organização humana, desde agências internacionais até governos federais e estaduais, comunidades e famílias”, disse Rose. “Muitas pessoas têm uma opinião forte sobre isso e desejam mudar nosso problema climático por meio de ações diretas que possam controlar. Isso, por sua vez, pode mudar as normas sociais sobre a gravidade do problema e as possíveis soluções que podem resolvê-lo. Nosso estudo fornece evidências de que mesmo passos simples podem ajudar nesses esforços”.

Os coautores do estudo incluem Amelia Willits-Smith da Universidade de Tulane e Martin C. Heller, anteriormente da Universidade de Michigan, e agora da Blonk Consultants. (ecodebate)

Chuvas extremas desaceleram a economia global

Emergência Climática – Chuvas extremas desaceleram a economia global.
O crescimento econômico diminui quando o número de dias úmidos e de dias com chuvas extremas aumenta, segundo uma equipe de cientistas de Potsdam.

Os países ricos são os mais severamente afetados e, neste caso, os setores manufatureiro e de serviços, de acordo com seu estudo agora publicado como reportagem de capa na renomada revista científica Nature.

A análise de dados de mais de 1.500 regiões nos últimos 40 anos mostra uma conexão clara e sugere que a intensificação das chuvas diárias impulsionadas pelas mudanças climáticas pela queima de petróleo e carvão prejudicará a economia global.

“Trata-se de prosperidade e, em última análise, dos empregos das pessoas. As economias em todo o mundo são desaceleradas por mais dias úmidos e chuvas diárias extremas – uma visão importante que contribui para nossa crescente compreensão dos verdadeiros custos das mudanças climáticas”, diz Leonie Wenz, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK) e do Mercator Research Institute on Global Commons and Climate Change (MCC), que liderou o estudo.

“As avaliações macroeconômicas dos impactos climáticos até agora se concentraram principalmente na temperatura e consideraram – se for o caso – as mudanças nas chuvas apenas em escalas de tempo mais longas, como anos ou meses, perdendo assim o quadro completo”, explica Wenz. a precipitação é geralmente boa para as economias, especialmente as dependentes da agricultura, a questão é também como a chuva é distribuída ao longo dos dias do ano. A intensificação das chuvas diárias acaba sendo ruim, especialmente para países ricos e industrializados como EUA, Japão ou Alemanha”.

Uma análise global inédita dos efeitos das chuvas subnacionais

“Identificamos uma série de efeitos distintos na produção econômica, mas o mais importante realmente é de chuvas diárias extremas”, diz Maximilian Kotz, primeiro autor do estudo e também do Instituto Potsdam. “Isso ocorre porque os extremos de chuva são onde já podemos ver a influência das mudanças climáticas com mais clareza e porque estão se intensificando em quase todos os lugares do mundo”.

A análise avalia estatisticamente os dados da produção econômica subnacional para 1.554 regiões em todo o mundo no período 1979-2019, coletados e disponibilizados publicamente pela MCC e PIK. Os cientistas combinam isso com dados de chuva de alta resolução. A combinação de detalhes cada vez maiores em dados climáticos e econômicos é de particular importância no contexto da chuva, um fenômeno altamente local, e revelou os novos insights.

'Tanto os políticos quanto a população em geral devem entender que todos os elementos do sistema terrestre estão interligados', diz o cientista brasileiro Carlos Nobre.

A Groenlândia está localizada a mais de 8 mil quilômetros da Amazônia e a mais de 18 mil quilômetros da Antártida.

Como tragédia climática ‘dominó’ pode ter efeito irreversível da Amazônia à Groenlândia.

“É a chuva diária que representa a ameaça”

Ao carregar a atmosfera da Terra com gases de efeito estufa de usinas de energia fóssil e carros, a humanidade está aquecendo o planeta. O ar aquecido pode reter mais vapor de água que eventualmente se torna chuva. Embora a dinâmica atmosférica torne as mudanças regionais nas médias anuais mais complicadas, os extremos diários de chuva estão aumentando globalmente devido a esse efeito do vapor d’água.

“Nosso estudo revela que é precisamente a impressão digital do aquecimento global na precipitação diária que tem fortes efeitos econômicos que ainda não foram contabilizados, mas são altamente relevantes”, diz o coautor Anders Levermann, chefe do domínio Ciência da Complexidade do Instituto Potsdam, professor na Universidade de Potsdam e pesquisador do Observatório da Terra Lamont Doherty da Universidade de Columbia, em Nova York. “Examinar mais de perto as escalas de tempo curtas em vez das médias anuais ajuda a entender o que está acontecendo: é a precipitação diária que representa a ameaça. São mais os choques climáticos dos extremos climáticos que ameaçam nosso modo de vida do que as mudanças graduais. Ao desestabilizar nosso clima, prejudicamos nossas economias. Temos que garantir que nossa queima de combustíveis fósseis também não desestabilize nossas sociedades”.

Pessoas caminhando por uma estrada alagada em Zhengzhou, na província central chinesa de Henan, em 20/07/2020.

Crise ambiental avança e clima extremo desafia o mundo

A coincidência de fenômenos meteorológicos devastadores em diferentes pontos do planeta —do frio extremo no Brasil à onda de calor na América do Norte, passando pelas enchentes na Europa e na China— colocou a mudança climática no foco do debate político e da preocupação social. (ecodebate)

Desmatamento no Cerrado ameaça a segurança hídrica

Regiões hidrográficas abrigam grande parte da vegetação nativa do bioma Cerrado; mais devastadas, bacias localizadas no Matopiba chegaram a perder metade da cobertura original.

O desmatamento no Cerrado em 2021 se concentrou em duas das principais regiões hidrográficas do país, a do Tocantins-Araguaia e a do São Francisco. Juntas, perderam 56,8%, ou 4.840,86 km², do total de 8.523,44 km² derrubados no bioma entre agosto de 2020 e julho no ano passado. A bacia do Rio Tocantins foi a mais afetada: concentrou 23% do total desmatado, ou 1.961,13 km², uma área maior que a capital do Maranhão, São Luís. É seguida pelas bacias do Médio São Francisco, que responde por 15,9%, ou 1.356,65 km² do total suprimido, e a do Araguaia, com 15,7% (1.336,5 km²).

Cientistas do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) realizaram a análise com base nos dados do Prodes, sistema de monitoramento do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), após notícia sobre possível desmobilização, por falta de verba, de equipe que monitora o Cerrado. Diretor no INPE, Clézio De Nardin disse que não são verdadeiras as informações de que o trabalho seria descontinuado a partir de abril.

Presidente do Conselho Deliberativo do IPAM e professora da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes Bustamante alerta para o risco à segurança hídrica. “O monitoramento das condições da cobertura e uso do solo nas bacias hidrográficas do Cerrado é essencial para a gestão de recursos hídricos e para a elaboração de estratégias adequadas de restauração de paisagens funcionais.”

Segundo o mapeamento do Prodes, mais da metade da vegetação nativa do Cerrado – 51% ou 1,01 milhão de km² – já foi desmatada. “É importante destacar a contribuição do Cerrado para uma fração significativa das regiões hidrográficas no Brasil e que as bacias são unidades básicas de planejamento e gestão ambiental. Dados contínuos do estado das bacias abrem possibilidades de atuar mais rapidamente e de forma mais efetiva para evitar ou mitigar impactos negativos de mudanças em larga escala”, acrescenta Bustamante.

As três bacias – do Tocantins, do Araguaia e do São Francisco – guardam 47% (456,25 mil km²) de toda a vegetação nativa remanescente no bioma. De acordo com dados do Prodes, são 183,46 mil km² de vegetação nativa na bacia do Tocantins (62,4% de sua área total), 148,6 mil km² na bacia do Araguaia (49,9% de sua área total) e 124,1 mil km² na bacia do Médio São Francisco (59,1% de sua área total).

Pastagem e agricultura

Em uma série histórica de 1985 a 2020, a iniciativa MapBiomas mostra que as regiões hidrográficas do Tocantins-Araguaia e do São Francisco são responsáveis por metade (48,6%) do aumento de área da agropecuária no Cerrado no período analisado. Foram 86 mil km² de áreas convertidas ao setor na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia e 43 mil km² na região do São Francisco.

Cerca de 99,6% das áreas desmatadas na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia já foram destinadas à pastagem e à agricultura. Na região do São Francisco, foram 77,4% das áreas destinadas à pastagem, à agricultura e à silvicultura.

Consequências para todos

“Estamos assistindo ao direcionamento do desmatamento do Cerrado para as fisionomias savânicas e campestres. São áreas produtoras de água que, uma vez convertidas desordenadamente em agricultura, consomem e esgotam os recursos hídricos regionais”, alerta o pesquisador do IPAM no MapBiomas, Dhemerson Conciani. “Os sucessivos recordes de desmatamento na região e dados históricos sobre a diminuição da superfície natural de água mostram que essa conta não fecha: além dos impactos à biodiversidade e ao bem-estar humano, a própria produtividade agrícola e a geração de energia hidrelétrica também sofrerão as consequências no médio prazo”, complementa.

Nos últimos 30 anos, segundo o MapBiomas Água, houve uma diminuição de 47% (1.260 km²) da superfície natural de água na região hidrográfica do São Francisco e uma de 10,4% (1.530 km²) na região do Tocantins-Araguaia, que abriga o maior contínuo de ecossistemas úmidos do Cerrado brasileiro. (ecodebate)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Mudanças climáticas e a descarbonização da economia

A economia de baixo carbono exige novos modelos de negócios que promovam a desmaterialização da economia, exige migrar da posse do produto para o uso de serviço

O aquecimento global está diretamente ligado a um longo processo que se intensifica a partir da Revolução Industrial, que estabeleceu uma nova sociedade baseada no crescimento contínuo da produção e consumo. Esse novo sistema se tornou cada vez mais dependente dos combustíveis fósseis, como o carvão, o gás natural e os derivados de petróleo – gasolina, óleo diesel, óleos combustíveis, entre outros. A queima desses combustíveis significa a emissão de gases do efeito estufa (GEE) para a atmosfera.

Da mesma forma, o desmatamento ilegal praticado por organizações agrícolas que não respeitam as normas ambientais também tem contribuído significativamente para o processo de aquecimento global. O carbono presente na forma sólida na vegetação é transferido para atmosfera ao assumir sua forma gasosa em função da expansão das queimadas.

As consequências do aquecimento global também são bem conhecidas, destacando-se o degelo das calotas solares, mudanças no clima e regime de chuvas, a menor disponibilidade de água e impactos negativos na produção agrícola.

Nesse cenário, para evitar ou minimizar os efeitos do aumento da temperatura do planeta, o caminho é tomar medidas urgentes para evitar a concentração de CO2 na atmosfera – dentre os vários gases que contribuem para o aquecimento global, o principal é CO2, que representa cerca de 60%.

Para avançarmos nessa direção é necessário migrarmos para processos que favoreçam a descarbonizarão da economia. No entanto, uma transição para uma economia de baixo carbono não é em nada trivial ou simples, pois é necessário transformar efetivamente discurso em prática. Teremos que ir muito mais longe do que mudanças pontuais em atividades econômicas como ecoeficiência de processos e maior coleta e reciclagem de materiais. Será preciso alterar os modelos de desenvolvimento dos países, que terão de abrir mão de fontes de energia como petróleo e carvão. Será preciso assegurar inovação radical e não apenas incremental nos ganhos de eficiência energética e de água, e ainda, transformar a cultura do consumo como um indicador de felicidade e realização.

A economia de baixo carbono exige novos modelos de negócios que promovam a desmaterialização da economia, exige migrar da posse do produto para o uso de serviço. Deveremos ser a geração que terminará com os combustíveis fósseis, pois ele representa a economia do século passado e em termos de racionalidade econômica, ambiental e social, essa tecnologia não fará mais nenhum sentido.

Energia solar, eólica, carros e bicicletas elétricas, economia compartilhada são algumas das características dessa nova economia que paulatinamente vem construindo um mundo da economia de baixo carbono, que tem outra energia e outros modelos de negócios. (ecodebate)

As consequências da crise climática já chegaram

Os sintomas estão se tornando cada vez mais evidentes. Estamos perdendo a Terra. As consequências do aquecimento global se tornaram irrefutáveis.

Os alertas científicos do passado se consolidam com os fatos do presente, os ecossistemas se retorcem e a inação afasta a humanidade de um cenário otimista. Este verão que se encerra [na Europa] ficará para a história devido à trágica pandemia, mas também devido ao calor global, degelo, incêndios e furacões. É que os meses de julho e agosto/2020 lançaram muitas certezas sobre a crise climática.

O nível que marca o mercúrio do termômetro revela que o calor do verão está significativamente acima da média. Tanto é que o Serviço Europeu de Mudanças Climáticas Copernicus registrou um agosto muito mais quente que o normal, com temperaturas 0,44°C acima da média, que o tornam o quarto mais quente desde que há registros. Longe de ser anedótico, é um número que faz parte de uma tendência climática preocupante com o aumento das temperaturas. O mês de agosto, de 2015 a 2020, foi mais quente globalmente do que qualquer agosto antes desses seis anos.

Temperaturas sem precedentes de 55°C foram registradas no Vale da Morte, na Califórnia. A Sibéria, por sua vez, confirmou que o aquecimento global está sendo mais severo na região ártica do planeta, como explica ao Público a física e meteorologista do Eltiempo.es Irene Santa. “Já foram registrados 38°C nessa região, quando o normal para essa fase do ano seria 20°C. Estamos falando de uma anomalia de 18°C”, explica. “Já sabíamos que o planeta está esquentando, mas isso corrobora que no Ártico chega ao dobro. E não só no verão, as temperaturas médias de janeiro a maio no centro e norte da Sibéria este ano têm sido de 8°C acima do normal”.

Os termômetros não enganam e as consequências desse calor que perdura nos últimos anos estão deixando consequências diretas nos ecossistemas. Um deles é o derretimento das calotas polares. Nesse sentido, este verão ficará para a história depois que as geleiras da Groenlândia, a segunda maior massa de gelo do mundo, forem reduzidas a um ponto sem volta, conforme noticiado na revista Nature. “O gelo que é descarregado no oceano excede em muito a neve que se acumula na superfície da camada de gelo”, explicam os autores da pesquisa, que mostra que a superfície congelada só aumentaria sua massa de gelo em um de cada cem anos.

As consequências do aumento constante das temperaturas também foram evidenciadas no gelo do Mar de Bering, onde dados de satélite coletados em uma publicação da revista Science Advance revelam que o manto de gelo já atingiu o nível mais baixo de todos os tempos. Algo semelhante acontece com a geleira Reina de los Dolomitas, que já perdeu mais de 80% de seu volume e, segundo informações do The Guardian, pode desaparecer em 15 anos, caso a tendência das altas temperaturas continue. É que o calor – não só no verão de 2020, mas nos últimos anos – fez com que os lagos que são alimentados pela água das geleiras aumentassem em 50% seu tamanho devido ao degelo.

A queda gradativa do gelo confirma os alertas dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU a respeito da elevação do nível do mar. Em seu último relatório, publicado há apenas um ano, eles já relataram que o degelo havia se acelerado a taxas até 2,5 vezes maiores do que a média do século anterior, o que levará, no melhor dos casos, a que os oceanos aumentem o nível em um metro até o final do século.

A Sibéria queima

Termômetros com números altos na Sibéria deixaram um ecossistema muito mais seco do que o normal, o que permitiu que essa região se tornasse o cenário ideal para o início de um incêndio. Tanto é que esta área da Rússia tem registado um dos maiores megaincêndios do verão, com mais de 300 fontes ativas e cerca de 9,26 milhões de hectares queimados, mais do que a área que Portugal ocupa no mapa, segundo estimativas do Greenpeace.

O fogo nessas áreas do planeta tem consequências mais problemáticas do que em qualquer outro lugar. Por um lado, o fogo queima a turfa, um componente pastoso da planta cujo pavio libera grande quantidade de CO2 na atmosfera. E, por outro lado, o calor das chamas contribui para o derretimento do permafrost – a camada de solo que permanece congelada – e o metano armazenado no subsolo há milhares de anos é liberado. Dessa forma, os incêndios tornam-se consequência e causa da crise climática, pois contribuem para a emissão de toneladas de poluentes que aceleram o aquecimento global.

Além do atípico megaincêndio siberiano, o verão de 2020 deixa outros focos importantes como o atual incêndio da Califórnia – o segundo maior da história do Estado norte-americano – e os incêndios na Amazônia, que estão a caminho de ser os piores registrados em um agosto, há dez anos, segundo especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil.

A crise climática é capaz de desencadear ao mesmo tempo fenômenos opostos. Assim, enquanto a Califórnia e a Sibéria ardem, a costa atlântica foi atingida por uma temporada de furacões cuja chegada estava prevista para julho, quando a tempestade Isaías colocou a República Dominicana em xeque e deixou seis mortos nos Estados Unidos. O motivo de esta zona do Atlântico ter sido marcada por grandes tempestades durante agosto/2020 tem a ver com o aumento da temperatura do mar, o que favorece o desenvolvimento deste tipo de fenômeno. Dessa forma, as repercussões da crise climática parecem ir além do calor e visam tornar o planeta um lugar incômodo, onde enchentes, chuvas torrenciais e incêndios são cada vez mais comuns. (ecodebate)

Degelo do permafrost acelera a erosão costeira no Ártico

Pesquisadores do permafrost analisam os fatores de mudanças rápidas nas costas do Ártico e as implicações para os seres humanos e o meio ambiente.
As costas do Ártico são caracterizadas por gelo marinho, permafrost e gelo terrestre. Isso os torna particularmente vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, que já estão acelerando a rápida erosão costeira. O aquecimento crescente está afetando a estabilidade da costa, sedimentos, armazenamento de carbono e mobilização de nutrientes. Compreender a correlação dessas mudanças é essencial para melhorar as previsões e estratégias de adaptação para as costas do Ártico.

Em uma edição especial da revista Nature Reviews Earth & Environment, pesquisadores do Alfred Wegener Institute descrevem a sensibilidade das costas do Ártico às mudanças climáticas e os desafios para os humanos e a natureza.

“O ritmo das mudanças no Ártico está aumentando, levando a um recuo costeiro acelerado”, diz Anna Irrgang, do Alfred Wegener Institute, Helmholtz Center for Polar and Marine Research (AWI). “Isso afeta o ambiente natural e humano, por exemplo, liberando carbono do solo no mar e na atmosfera, ou perdendo a terra que sustenta comunidades e infraestrutura.” Exatamente como e quanto as costas estão mudando depende da interação das configurações costeiras locais, como a presença de permafrost, e fatores ambientais, como a temperatura do ar e da água. “As previsões sobre isso geralmente estão sujeitas a grandes incertezas porque dados oceanográficos e ambientais confiáveis para zonas costeiras remotas são limitados”, diz Irrgang. Para melhorar a compreensão e, portanto, as previsões de desenvolvimentos futuros.

Fatores ambientais e configurações locais impulsionam a mudança costeira

As costas do Ártico têm estruturas diferentes dependendo da região. No Alasca, Canadá ou Sibéria, por exemplo, eles são particularmente ricos em gelo terrestre com penhascos de permafrost que variam em altura de até 40 metros. Na Groenlândia, Svalbard e no arquipélago canadense, por outro lado, as costas geralmente contêm pouco ou nenhum gelo no solo, mas, em vez disso, grandes volumes de sedimentos grosseiros, derivados de geleiras, ou mesmo rochas sólidas. Essas diferenças geomorfológicas regionais influenciam como outras variáveis ambientais afetam as costas. Por exemplo, se as temperaturas do ar e da água mudarem, isso afetará todo o sistema costeiro. Penhascos de permafrost ricos em gelo, por exemplo, alguns dos quais com até 80% de gelo, são bastante resistentes à ação das ondas mecânicas. No entanto, quando descongelam devido ao aumento da temperatura do ar e da água,

As costas do Ártico são, portanto, particularmente sensíveis ao clima: o aquecimento global está causando o degelo de grandes áreas de permafrost, o derretimento do gelo do solo e o colapso das superfícies terrestres. Isso, por sua vez, afeta a disponibilidade e a qualidade da água, o crescimento das plantas e aumenta o desgaste do solo (erosão) e as inundações costeiras. Além disso, as temperaturas da superfície do mar aumentam na maior parte do Ártico, o que pode prolongar o período sem gelo marinho. As costas ficam então expostas a ondas fortes por muito mais tempo, especialmente durante o outono tempestuoso.

Mudanças na costa do Ártico

A comparação das taxas de mudança das costas do Ártico mostra que a esmagadora maioria das costas do permafrost está recuando devido à erosão. A Ilha Herschel, no norte do Canadá, por exemplo, perde até 22 metros de penhasco por ano. Quando o permafrost derrete, ele permite que carbono orgânico, nutrientes e poluentes sejam liberados no ambiente costeiro e na atmosfera. Especialistas estimam que a erosão costeira libera cerca de 14 megatons de carbono orgânico no Oceano Ártico a cada ano – o que é maior do que a quantidade de carbono orgânico particulado fornecido pelos rios do Ártico. O degelo de solos anteriormente sólidos também está afetando a população local. Cerca de 4,3 milhões deles serão confrontados com as consequências: perderão edifícios e estradas, áreas de caça tradicionais e também locais culturais. No Alasca, assentamentos inteiros já precisam ser abandonados e as pessoas precisam se mudar. A erosão das áreas congeladas aumenta os riscos de degelo do permafrost e a poluição ambiental atualmente incalculável das infraestruturas industriais. Só a longo prazo.

Dados precisos para boas condições de vida nas costas do Ártico

“Nossa compreensão atual da dinâmica costeira do Ártico é fragmentada, com poucos dados com alta resolução espacial e temporal sobre fatores ambientais e mudanças na costa”, diz Anna Irrgang. “Embora esses conjuntos de dados já existam para algumas regiões, como o norte do Alasca, a maior parte da costa do Ártico está mal mapeada.” No entanto, observações em todo o Ártico de fatores ambientais e mudanças costeiras são urgentemente necessárias para reduzir as incertezas nas previsões. Isso ajudaria as comunidades locais a lidar com novos desenvolvimentos socioecológicos. “Para isso, precisamos desenvolver métodos de adaptação que possibilitem condições de vida boas e sustentáveis nos assentamentos costeiros do Ártico. A estreita cooperação com a população local é fundamental para isso”, diz Anna Irrgang.

A análise da mudança costeira do Ártico faz parte da edição especial “Permafrost” da revista Nature Reviews Earth & Environment. A Seção de Permafrost AWI também está envolvida com duas contribuições adicionais: em uma revisão, os pesquisadores mostram como milhões de lagos de orvalho e bacias de lagos drenados se formaram e cresceram em áreas baixas do Ártico e boreal como resultado do derretimento do permafrost rico em gelo. Esses processos influenciam os processos da paisagem e do ecossistema, bem como os meios de subsistência humanos nas vastas regiões das terras baixas do Ártico. Um terceiro artigo apresenta o projeto “Permafrost Comics”, que utiliza desenhos animados para tornar o conhecimento sobre o permafrost mais acessível a um público amplo e principalmente jovem. (ecodebate)

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O calor acumulado nos oceanos está em níveis recordes

Os oceanos do mundo estão mais quentes do que nunca, continuando seu recorde de temperatura pelo sexto ano consecutivo.

A descoberta baseada nos dados mais recentes até 2021 ocorre no final do primeiro ano da Década da Ciência Oceânica para Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, os 17 objetivos interligados para manter as sociedades humanas e os ecossistemas naturais em todo o mundo – muitos dos quais que estão relacionados com a saúde dos oceanos.

O relatório mais recente, de autoria de 23 pesquisadores de 14 institutos, foi publicado em 11 de janeiro de 2022 na Advances in Atmospheric Sciences. Ele resume dois conjuntos de dados internacionais: do Instituto de Física Atmosférica (IAP) da Academia Chinesa de Ciências (CAS) e dos Centros Nacionais de Informações Ambientais da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), que analisam observações do calor do oceano conteúdo e seu impacto datam da década de 1950.

“O conteúdo de calor oceânico está aumentando implacavelmente, globalmente, e este é um indicador primário da mudança climática induzida pelo homem”, disse o autor do artigo Kevin TRENBERTH, renomado estudioso do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica no Colorado, EUA. “Neste relatório mais recente, atualizamos as observações do oceano até 2021, além de revisitar e reprocessar dados anteriores”.

No ano passado, os pesquisadores descobriram que os 2.000 metros superiores em todos os oceanos absorveram 14 Zettajoules a mais do que em 2020, o equivalente a 145 vezes a geração mundial de eletricidade em 2020. Para contextualizar, toda a energia que os humanos usam em todo o mundo em um único ano é cerca de metade de um Zettajoule. [Zettajoule é 1 mais 21 zeros joules ou 240.000.000.000.000.000.000 calorias].

“Além de absorver calor, atualmente, o oceano absorve de 20 a 30% das emissões humanas de dióxido de carbono, levando à acidificação dos oceanos; no entanto, o aquecimento dos oceanos reduz a eficiência da absorção de carbono oceânica e deixa mais dióxido de carbono no ar”, disse CHENG Lijing, principal autor do artigo e professor associado do Centro Internacional de Ciências Climáticas e Ambientais do IAP CAS. “Monitorar e entender o acoplamento de calor e carbono no futuro são importantes para rastrear as metas de mitigação das mudanças climáticas”.

Os pesquisadores também avaliaram o papel de várias variações naturais, como as fases de aquecimento e resfriamento conhecidas como El Niño e La Nina, que afetam muito as mudanças regionais de temperatura. De acordo com o CHENG, as análises regionais mostram que o aquecimento robusto e significativo dos oceanos desde o final da década de 1950 ocorre em todos os lugares. No entanto, as ondas de calor marinhas regionais são uma consequência, com enormes impactos na vida marinha.

“Nosso trabalho anterior mostrou que os cientistas precisam de menos de 4 anos de medições do calor oceânico para detectar um sinal de aquecimento induzido pelo homem a partir de variações naturais. Isso é muito mais curto do que as quase três décadas de medições necessárias para detectar o aquecimento global usando temperaturas do ar próximas à Terra. Superfície da Terra. De fato, embora nos 10 anos mais quentes, as temperaturas globais da superfície para 2021 não sejam as mais altas já registradas devido às condições de La Nina no Pacífico tropical, entre outras coisas. O conteúdo de calor do oceano é um dos melhores indicadores das mudanças climáticas”. disse John ABRAHAM, professor da Universidade de St. Thomas. Durante La Nina, o oceano realmente absorve, mas enterra calor extra abaixo da superfície.

“Com experimentos de modelo, nosso estudo mostra que o padrão de aquecimento dos oceanos é resultado de mudanças relacionadas ao homem na composição atmosférica”. disse CHENG. “À medida que os oceanos aquecem, a água se expande e o nível do mar sobe. Oceanos mais quentes também sobrecarregam os sistemas climáticos, criando tempestades e furacões mais poderosos, além de aumentar o risco de precipitação e inundações”.

“Os oceanos estão absorvendo a maior parte do aquecimento das emissões humanas de carbono”, disse o autor do artigo Michael MANN, professor de ciências atmosféricas da Universidade Estadual da Pensilvânia. “Até chegarmos a zero emissões líquidas, esse aquecimento continuará, e continuaremos quebrando recordes de conteúdo de calor oceânico, como fizemos este ano. Uma melhor conscientização e compreensão dos oceanos são a base para as ações de combate às mudanças climáticas.” (ecodebate)

Cidades fluminenses com decrescimento populacional em 2021

A pandemia da covid-19 afetou a dinâmica demográfica aumentando o número de mortes e diminuindo o número de nascimentos.

Para o Brasil como um todo o número de nascimentos ficou acima do número de óbitos tanto em 2020, quanto em 2021. Mas o crescimento vegetativo (Nascimentos – óbitos e migração zero) diminuiu desde 2019.

Este fenômeno aconteceu em todas as escalas geográficas, mas no plano municipal, os estados do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro apresentaram o maior número de cidades com decrescimento demográfico em 2020 e 2021, inclusive nas capitais destes dois estados. Em artigo aqui do Ecodebate de 01/12/2021, mostrei que houve 22 cidades no território fluminense que apresentaram variação vegetativa negativa em 2020. Mas em 2021, o número de cidades com decrescimento demográfico aumentou para 36 cidades, como mostra a tabela abaixo.

O município do Rio de Janeiro (segunda maior cidade do país e maior cidade fluminense), com 6,78 milhões de habitantes em 2021, registrou 72,1 mil nascimentos e 78,96 mil óbitos, o que resultou em um decrescimento vegetativo de 6,85 mil pessoas, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil.

A segunda maior cidade fluminense, São Gonçalo – com pouco mais de 1 milhão de habitantes – registrou 6,95 mil nascimentos e 9,3 mil óbitos em 2021, apresentando um decrescimento vegetativo de 2,4 mil pessoas. Petrópolis apresentou decrescimento de 712 pessoas, Volta Redonda com 570, Itaboraí com 553 e São João do Meriti com decrescimento de 545 pessoas.

As outras 30 cidades fluminenses que tiveram decrescimento vegetativo da população apresentaram variação abaixo de 500 pessoas.

Mas o estado do Rio de Janeiro possui 92 municípios e, em 2021, registrou 191,7 mil nascimentos e 188,2 mil óbitos, com crescimento vegetativo de 3.545 pessoas. Além do mais, os nascimentos devem aumentar e os óbitos devem diminuir em 2022, se houve o fim da pandemia. Por fim, o decrescimento demográfico estrutural vai prevalecer nas próximas décadas, a partir de 2030 para o conjunto do território fluminense. (ecodebate)

Mudanças Climáticas: o que podemos fazer?

Desligue aparelhos e lâmpadas que não estão sendo usados. Dê preferência ao uso de fontes de energia limpa e renováveis, como a energia sola...