Análises em amostras de água de uma Estação de
Tratamento de Água (ETA), em Jaboticabal, SP, detectaram a presença de
substâncias farmacológicas e de cafeína em águas superficiais, que servem como
fonte para o consumo humano.
Segundo pesquisadores, mesmo em concentrações baixas
esses agentes tóxicos podem trazer riscos à saúde e ao ambiente aquático. Os
maiores níveis encontrados foram de carbamazepina, um medicamento utilizado
contra epilepsia e dores neuropáticas.
As outras substâncias investigadas foram atenolol,
clonazepam, fluoxetina, haloperidol, ibuprofeno, paracetamol, sinvastatina,
venlafaxina e a cafeína. As coletas foram realizadas em 2019, em estações
chuvosas e de estiagem. A pesquisa faz parte do trabalho de doutorado de Ana
Carla Coleone de Carvalho, com orientação do professor Wanderley da Silva
Paganini, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
As águas superficiais são aquelas cujos recursos
hídricos ficam acumulados na superfície do solo: rios, riachos, lagos,
pântanos, mares, etc.; e que por se encontrarem em regiões de mais fácil
acesso, têm sido as principais fontes de abastecimento do planeta. Nesses
corpos d’água, há uma variedade de contaminantes e poluentes tanto de origem
natural quanto provenientes de efluentes
domésticos e industriais, como mostra o estudo.
Ana Carla explica ao Jornal da USP que, devido ao
elevado consumo de fármacos, depois de serem utilizados pelas pessoas, uma
parcela é excretada pelas fezes e pela urina, acaba chegando às Estações de
Tratamento de Esgoto (ETEs) e, posteriormente, é escoada para os rios, junto
com os resíduos sanitários. “Isso acontece principalmente em locais onde o
saneamento básico é precário. A presença de substâncias tóxicas pode ser
explicada pela liberação do esgoto sem tratamento diretamente nos corpos
d’água, fontes de extração de águas das ETAs”, diz.
Segundo a pesquisadora, nem sempre os compostos são
totalmente removidos pelas estações de tratamento, sendo importante a avaliação
periódica desses contaminantes na água bruta, que servirá como fonte de
abastecimento das ETAs e na tratada, disponibilizada para consumo da população.
A técnica utilizada para análise foi a cromatografia líquida, acoplada à espectrometria de massas sequencial, que separa, quantifica e analisa os compostos químicos. O estudo avaliou a presença das substâncias em água tratada e sem tratamento, além de caracterizá-las, de acordo com as características físico-químicas e microbiológicas, verificando a conformidade dessas águas com os padrões legais.
A presença de contaminantes na água, mesmo em concentrações baixas, pode trazer riscos à saúde e ao ambiente aquático.
Resíduos farmacológicos são encontrados em água
destinada ao consumo humano.
As análises foram feitas em Estações de Tratamento
de Águas/ETAs. As maiores concentrações foram de carbamazepina, um medicamento
utilizado contra epilepsia e dores neuropáticas.
Resultados
“Houve maior concentração de contaminantes em períodos
de secas, porque nessa época os corpos d’agua têm baixa vazão, fazendo com que
haja pouca diluição de elementos tóxicos”, diz a pesquisadora. Os maiores
níveis foram de carbamazepina, venlafaxina, fluoxetina e cafeína, porém, neste
caso, as substâncias foram removidas depois da água tratada. Quanto ao
ibuprofeno, o paracetamol, o atenolol, a sinvastatina, o clonazepan e o
haloperidol, não foram detectados nas amostras analisadas ou ficaram abaixo do
nível de quantificação atingido pelo método analítico.
Carbamazepina (Tegretol)
A carbamazepina apresentou maior concentração no
inverno 81 ng/L 80 vezes maior que em março, período de chuvas.
A carbamazepina é vendida comercialmente sob o nome
de Tegretol. É um dos principais medicamentos utilizados no tratamento de
epilepsia e dor neuropática
A venlafaxina (antidepressivo) foi detectada nos
meses de seca, com valor máximo de 2,6 ng/L no mês de julho, quando a
precipitação média foi menor que 25 mm.
A fluoxetina (antidepressivo) só foi encontrada nas
amostras de fevereiro, correspondendo ao período de maior ocorrência de chuvas,
aproximadamente 300 mm, com valor máximo de 8,6 ng/L
Já a cafeína (estimulante) foi encontrada nas
amostras em todo o período das coletas, em uma concentração máxima de 406 ng/L
no mês de julho, cerca de sete vezes maior do que a obtida na primeira coleta
do período chuvoso.
A cafeína está presente em vários medicamentos,
principalmente associado à dipirona que é utilizada contra cefaleias e
enxaquecas.
Efeitos adversos
Ana Carla explica que, por permanecerem
biologicamente ativos nos corpos d’água, os compostos são capazes de atravessar
as membranas biológicas e atingir células e tecidos, o que pode desencadear
efeitos indesejáveis em organismos não alvos e à saúde humana, mesmo em concentrações
muito baixas. Por organismos não alvos, Ana Carla cita outras espécies (peixes,
algas, crustáceos, dentre outros).
Segundo a pesquisadora, os principais efeitos
observados para os compostos detectados nesse estudo foram comportamentais
(estresse, ansiedade e efeito antipredador); fisiológicos metabólicos
(alteração nas respostas imunes em vias oxidativas e bioquímicas); e
reprodutivos (alteração na desova e malformação dos embriões). Houve também
impacto na maturidade e desenvolvimento dos organismos aquáticos, alteração no
ritmo circadiano (ciclo biológico de vigília/sono), dentre outros.
Como funcionam as estações de tratamento de água e
esgoto?
Estações de Tratamento de Esgoto/ETEs
Nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), existe
uma infraestrutura que trata o esgoto de origem doméstica e industrial, o
chamado esgoto sanitário. Depois de passar pelo processo, o efluente tratado é
escoado para rios e mares, com um nível de poluição aceitável, conforme
legislação vigente.
Depois de passar pelas redes coletoras, o esgoto
sanitário cloacal (banheiro, pias e áreas de serviço) é destinado às estações.
Lá, os resíduos passam pelas seguintes etapas sequencialmente: grandeamento:
separação e retenção de resíduos sólidos lançados indevidamente na rede de
esgoto (fraldas, restos de alimentos, etc.); caixa de areia ou desarenador:
retenção da areia e de outros resíduos; reator anaeróbio: o efluente passa por
tanques fechados na presença de bactérias anaeróbias, para degradação de
matéria orgânica; filtro biológico aerado: passagem do material por filtros de
brita para colocação de oxigênio; decantação: decantação dos resíduos sólidos e
posterior retirada por meio de raspagem; adição de coagulante para remoção de
nutrientes; desinfecção: adição de produto químico sanitizante ao efluente
líquido para remoção de vírus, bactérias e outros microrganismos.
Sistema de Abastecimento de Água
Extraído de: http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=47
Estações de Tratamento de
Águas (ETAs)
Nas Estações de Tratamento de
Águas (ETAs), a água é captada de alguma fonte (rio, lago, represa) e tratada
para torná-la apropriada para consumo humano. As partículas impróprias são
retiradas e produtos químicos (o cloro, por exemplo) são adicionados para
eliminação de microrganismos que provocam doenças. Um tratamento convencional é
composto por decantação, filtração, desinfecção e fluoretação. Somente depois
desse processo, a água doce se torna potável para ser distribuída à população.
(ecodebate)



Nenhum comentário:
Postar um comentário