Em
20/05/2021, para variar, Cuiabá foi a Capital mais quente do Brasil, o que
acontece por mais de 200 dias por ano, nada menos do que 35 graus centígrados
para esta época do ano, já quase chegando ao inverno; isto também acontece em
diversas outras cidades/municípios de Mato Grosso, com destaque para Várzea
Grande e toda a Baixada Cuiabana.
Com o
passar do tempo a nossa outrora Cidade Verde e também Várzea Grande, foram
sendo ocupadas desordenadamente através dos famosos “grilos”, invasões e,
ultimamente, com sua paisagem urbana totalmente alterada pelo surgimento de
prédios e alguns “arranha-céus”.
Os
espaços públicos e também os famosos quintais cuiabanos e várzea-grandenses,
cobertos com mangueiras e outras árvores frutíferas, bem frondosas, aos poucos
foram e continuam sendo destruídos para dar lugar a conjuntos e prédios
residenciais e edifícios comerciais.
As
ruas, avenidas, praças e demais logradouros públicos, mesmo sem serem dotadas
de galerias pluviais e esgotamento sanitário, foram e continuam sendo
pavimentadas com asfalto e cimento, tornando a temperatura dessas áreas muito
mais quentes que nas demais áreas dos municípios.
Inúmeras
pesquisas já constataram que em diversos pontos de Cuiabá e também de Várzea
Grande tem surgido áreas que se caracterizam como locais com “ondas de calor”,
bem acima da média da cidade ou da região.
É
triste, mas é a mais pura realidade, cristalina, que salta aos olhos de
qualquer observador que o meio ambiente, a começar pela falta de arborização
urbana, com calçadas intransitáveis, seja pelos obstáculos existentes, buracos,
matagal, lixo, degraus, material de construção, dejetos humanos e de animais e
carros estacionados sobre as calçadas, impossibilitando a mobilidade de
pedestres, principalmente pessoas idosas, deficientes físicos (cadeirantes e
visuais/cegos), mulheres com carrinhos de criança, o que não deixa de ser um
desrespeito ao direito de ir e vir das pessoas, simplesmente ignorado pelos
nossos governantes, inclusive de organismos de controle da gestão pública.
Mesmo
obras públicas como construção de grandes avenidas e outras vias de grande
circulação quando de suas implantações o Poder Público simplesmente “esquece”
de um princípio básico que é a arborização urbana. Plantar e cuidar de árvores
e ajardinamento dos espaços públicos parece estar fora das prioridades de
nossas prefeituras e câmaras municipais. Esses requisitos devem estar contidos
no Plano Diretor de Arborização Urbano, embasado em Lei Especial que deve ser
aprovado pelo Legislativo Municipal.
O maior
aglomerado urbano de Mato Grosso, constituído por Cuiabá e Várzea Grande, com
aproximadamente UM MILHÃO de habitantes, como centro da Região Metropolitana do
Vale do Rio Cuiabá, ainda conhecida como Baixada Cuiabana, padece deste descaso
em relação `a Arborização Urbana.
O
engajamento e a participação dos moradores seja individual ou coletivamente através
de organizações, grupos de vizinhança e também das empresas privadas de todos
os setores é fundamental para um processo racional e continuo de arborização
urbana.
A
produção, a distribuição de mudas e o plantio de árvores diretamente por
voluntários é fundamental e super importante, como já vem ocorrendo em Cuiabá
com alguns projetos, com destaque para uma iniciativa idealizada pela Advogada
Silvia Mara de Arruda que em pouco tempo já conseguiu mobilizar centenas de
voluntários e voluntárias e está desenvolvendo o Projeto Cuiabá mais verde, através
de uma experiência piloto no trecho inicial da Av. Helder Cândia; uma grande
Avenida que foi construída pelo Governo do Estado de MT, sob contrato com
empresa privada, mas, que, lamentavelmente a dimensão Arborização Urbana foi
totalmente esquecida e negligenciada, é uma demonstração de como é difícil até
mesmo para atividades voluntárias de arborização urbana quando não existe o
Plano Diretor de Arborização Urbana, que seria o mapa, a matriz a traçar as linhas
mestras, onde as ações voluntárias sejam complementares e jamais substitutas
das ações públicas, das Prefeituras.
Cabe ao
PDAU traçar as diretrizes básicas indicando como, quando e onde devam se
“encaixar” as ações da iniciativa privada, dos moradores e dos voluntários
(pessoas e organizações), tipos/espécies de mudas apropriadas, dando-se
preferência, sempre que possível para árvores nativas da região, enfim, todos
os aspectos técnicos deste plano; se isto não acontece o processo voluntário se
torna caótico, descontinuado e desestimula qualquer esforço em prol da
arborização urbana.
Existe
também uma ideia, já apresentada pelo sociólogo e professor Juacy da Silva, no
sentido de que a prefeitura ou as prefeituras possam conceder incentivos, como
redução ou até mesmo remissão de IPTU por alguns anos, para moradores,
proprietários e empresas privadas que plantem árvores, cuidem de suas calçadas
e muros e, no caso de terrenos baldios ou desocupados, cuidem dos mesmos
corretamente, evitando o surgimento de verdadeiros matagais, sujeitos às
queimadas urbanas ou se transformando em “lixões”.
Se de
um lado a prefeitura perde parte da receita do IPTU, por outro lado este
processo resultará no estímulo para geração de emprego e renda e, também maior
arrecadação de ISSQN e ICMS, através do aumento da demanda por serviços na área
de construção civil e na venda de materiais como areia, pedra, cal, cimento,
ferro, madeira, tinta e outros mais. Sendo que o maior ganho seria uma cidade
mais verde, sustentável, com calçadas, muros e terrenos urbanos bem cuidados,
enfim, com aspectos urbanísticos mais agradáveis.
E para os proprietários que não cumpram com a Lei e nem aproveitem os incentivos das Prefeituras caberia `as mesmas exercerem seu poder de policia, impondo multas, incluindo os proprietários inadimplentes no cadastro da divida publica e impondo o IPTU progressivo, como determina a legislação em vigor, principalmente o Estatuto das Cidades, desestimulando os maus pagadores e maus munícipes.
Uma árvore adulta de grande porte pode sequestrar, em média, uma tonelada de gases da atmosfera, através da fotossíntese, ou seja, atua como um exaustor, sugando gases de efeito estufa, como gás carbônico, gás metano e outros mais, que tantos males causam `a saúde população e provocam o efeito estufa e as mudanças climáticas.
Quando
se corta uma árvore o impacto negativo disto é tremendo, pois estamos impedindo
que a mesma realize este processo de sequestro de carbono e outros gases e
também, contribuindo para que o carbono “estocado” no solo ao redor das árvores
seja liberado e aumente a concentração dos mesmos na atmosfera.
Enquanto
pessoas idealistas e preocupados com o meio ambiente, com a Ecologia Integral
tem feito e continuam fazendo um grande esforço para incrementar a Arborização Urbana,
inclusive plantio de árvores em vias públicas e `as margens de rios, córregos,
tentando recuperar nascentes que contribuem para o revigoramento de cursos
d’água, somos obrigados a assistir crimes ambientais como o desmatamento e queimadas
que estão destruindo nossos biomas como Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pampas,
Mata Atlântica e o nosso Pantanal todos os anos, ante a omissão e conivência de
organismos públicos e autoridades que deveriam zelar para que o meio ambiente
não seja degradado e a tão rica biodiversidade brasileira continue sendo
destruída impiedosamente, como tem acontecido ultimamente.
Só para
termos uma ideia da dimensão do desmatamento na Amazônia e no Cerrado apenas,
entre 2001 e 2020, na Amazônia foram desmatados 230 mil km2 ou 23,0
milhões de ha e no Cerrado o desmatamento no mesmo período foi de 237 mil km2
ou 23,7 milhões de ha., totalizando 46,7 milhões de ha. E as previsões ou
estimativas indicam que em 2021 serão desmatados mais 650 mil ha em cada um
desses biomas, ou mais um 1,3 milhão de ha, quando somados, o que elevaria o
total de desmatamento nos dois biomas a quase 48 milhões de ha.
Se
considerarmos que em um ha de Floresta nativa existem em torno de 1.600
árvores, podemos imaginar quantas árvores foram destruídas em apenas 20 anos de
desmatamento na Amazônia e no Cerrado, nada menos do que 76,8 bilhões de
árvores nativas, muitas exportadas de forma ilegal e criminosa, isto terá
impossibilitado também que 76,8 bilhões de toneladas de carbono equivalente que
está na atmosfera terrestre teriam sido sequestrados, além de milhões de
toneladas de carbono que estavam estocadas no solo dessas áreas tenham sido
liberadas para a atmosfera, aumentando o volume de gases de efeito estufa,
contribuindo para aumentar o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Se
adicionarmos todo o desmatamento, legal e ilegal, além das queimadas que
ocorrem todos os anos em todos os biomas brasileiros, além das demais fontes de
poluição urbana, como a frota de veículos movidos com energia suja, oriunda de
combustíveis fósseis, setores empresariais e residenciais, podemos imaginar o
quanto nosso país está longe de cumprir com as cláusulas do Acordo de Paris,
firmado pelo Brasil, mas que tem sido extremamente negligenciado pelos atuais Governos
Federal, Estaduais e municipais.
De outro lado, podemos imaginar e perceber o quanto de diminuta tem sido ou pode ser todo o esforço para arborização urbana no contexto de um desmatamento acelerado, além do fato de que o Brasil tem mais de 100 milhões de ha de áreas degradadas ou em processo de degradação.
Em 05 de Junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, a ONU vai oficializar, em comemoração que será realizada no Paquistão e estará “lançando” a Década Mundial da Restauração dos Ecossistemas (degradados), a vigorar de 2021 a 2030, coincidindo com a Agenda 2030 ou dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, entre os quais consta as Cidades Sustentáveis.
Quer
nos parecer que a Arborização urbana, ao lado da agricultura urbana,
periurbana, de um amplo programa de reflorestamento, da silvicultura, da
agrofloresta e uso mais racional do solo são partes integrantes e extremamente
importantes para que tenhamos, realmente, cidades sustentáveis e melhor
qualidade de vida. Precisamos ver a cidade no contexto de sua inserção
territorial: urbano/rural e não como uma “ilha” isolada deste contexto.
A
grande estratégia dessa Década de Restauração dos Ecossistemas é possibilitar,
de um lado, a redução da poluição do ar, dos cursos d’água, dos córregos, rios,
lagos, lagoas e dos oceanos e também combater de forma mais efetiva o
desmatamento e as queimadas, verdadeiros crimes ambientais que destroem a
biodiversidade, degradam o solo e de boa parte da vida no planeta. Só as
queimadas que ocorreram em 2020 destruíram aproximadamente 2,6 milhões de ha no
Pantanal, sem contar o rastro de fogo e destruição que varreram a Amazônia e o
Cerrado.
De
outro lado, também estão previstas diversas atividades para restaurar ou seja,
recuperar áreas que já foram degradadas por desmatamento, queimadas, uso
abusivo de agrotóxicos, pela erosão que contribuem para a morte dos rios.
A meta
é a recuperação de, no mínimo, 300 milhões de ha de áreas que foram degradadas
em todo o mundo, incluindo a recuperação de 40 milhões de ha no Brasil.
Isto
demandará um grande programa de reflorestamento e, por extensão, também
estímulo para que os municípios cuidem da arborização urbana, tornando as
cidades mais verdes, mais sustentáveis, mais agradáveis para se viver e mais
belas; afinal existe uma grande diferença estética e ecológica entre uma cidade
com grandes áreas verdes, parques, avenidas, ruas, quintais cobertos por
árvores, florestas urbanas, calçadas ecológicas, ciclovias e cidades onde só
existem edifícios, praças, ruas, avenidas e outros espaços públicos totalmente
cobertos por asfalto e cimento, com trânsito caótico emitindo gases tóxicos que
saem dos escapamentos dos carros, principalmente durante períodos de
congestionamentos.
Em
diversas regiões do Brasil, principalmente em Mato Grosso, com destaque para o
Aglomerado Urbano de Cuiabá e Várzea Grande, parece que a secura este ano será
pior do que nos últimos anos e, com isso, as queimadas poderão se repetir,
destruindo o que sobrou nas temporadas passadas e afetando a saúde da população,
já tão fragilizada pela pandemia do coronavírus.
As
queimadas urbanas também podem acontecer, pois tanto em Cuiabá quanto em Várzea
Grande, existem muitos terrenos desocupados ou “baldios” como se diz, sem
cuidado, verdadeiros capinzais, aguardando alguém colocar fogo e aí tudo o que
já bem conhecemos.
Prefeituras
dessas e de outras cidades devem se mobilizar e realizar ações preventivas e
educativas, mas também de fiscalização e repressão para que os proprietários
desses terrenos desocupados, alguns que são verdadeiros latifúndios urbanos e
só servem apenas para especulação imobiliária, sejam obrigados a manterem suas
propriedades limpas e isto só acontece se as prefeituras exercerem o Poder de Polícia
de que são investidas. A omissão e a conivência dos poderes públicos contribuem
para a degradação e para aumento dos crimes ambientais.
Urge,
portanto, que as Prefeituras de Cuiabá, de Várzea Grande e demais municípios de
Mato Grosso e de outros estados brasileiros, empenhem-se mais, de forma mais
efetiva e concreta, para que sejam elaborados os Planos Diretores de
Arborização Urbana (PDAU), ao mesmo tempo que realizem outras ações, incluindo
uma ampla campanha de educação ambiental, estímulo `a reciclagem, redução do
desperdício, combate a todas as formas de poluição, esgotamento sanitário,
melhoria na limpeza urbana, recuperação de nascentes, córregos que fazem parte
da bacia do Rio Cuiabá, evitando tanto a morte deste importante rio, como
também reduzindo a degradação de nosso Pantanal, que esta morrendo a olhos
vistos.





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