Apanha um pouco de rio com as mãos e espreme
nos vidros
Até que as águas se ajoelhem
Do tamanho de uma lagarta nos vidros.
No falar com as águas rãs o exercitam
O Guardador de Águas, Manoel de Barros
(1916-2014)
O Dia Mundial da Água é um evento anual que
ocorre em 22 de março e tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a
importância da água para a sobrevivência de todas as formas de vida no planeta.
Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, de acordo com as
recomendações da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento do Rio de Janeiro. O Dia Mundial da Água serve como um lembrete
de que a água é um recurso limitado e precioso que deve ser preservado e
utilizado de forma sustentável.
A água é um dom do Universo e um bem escasso.
Nenhuma espécie animal ou vegetal vive sem água. Porém, o ser humano está
maltratando, poluindo e superexplorando as fontes limpas de água doce, além de
estar sujando, danificando e acidificando os oceanos. Diversos países do mundo,
especialmente o Oriente Médio, a China e a Índia, estão esgotando suas reservas
de água subterrâneas mais rapidamente do que elas podem ser repostas.
As pessoas pensam que a água é um bem abundante porque ela cobre 71% da superfície da Terra. Todavia, o Serviço Geológico dos EUA produziu uma imagem comparando a quantidade de água total, a água doce e o volume na Terra. Na ilustração, a esfera à esquerda representa a Terra com toda a água removida. A esfera azul à direita mostra o volume aproximado de toda a água da Terra. O minúsculo ponto azul na extrema direita representa a água doce disponível no mundo.
Quando comparado com os demais planetas, a Terra tem uma riqueza imensa de água. Porém, do total dos recursos hídricos, os oceanos abarcam cerca de 97% do volume, restando apenas 3% de água doce para satisfazer as necessidades de todos os seres vivos do Planeta que não vivem nos oceanos. Desta pequena quantidade de água potável, 2,4% estão congeladas nas geleiras e calotas polares e somente 0,6% encontram-se nos rios, lagos e represas. Mas a população e a economia continuam crescendo e demandando maiores volumes de água doce ao mesmo tempo em que aumenta a poluição provocada pelos esgotos e resíduos sólidos.
Matéria da BBC mostra que a escassez de água
afeta aproximadamente 40% da população mundial e está causando conflitos e
migrações em diversas partes do Planeta. Ao longo do século 20, o uso mundial
de água cresceu mais do que o dobro da taxa de crescimento populacional.
Em nenhum lugar o efeito duplo de estresse
hídrico e mudança climática é mais evidente do que na ampla bacia dos rios
Tigre e Eufrates, que inclui Turquia, Síria, Iraque e oeste do Irã. Segundo
imagens de satélite, a região está perdendo água subterrânea mais rápido que
quase qualquer outro lugar do mundo.
Existem muitos exemplos em todo o mundo onde as
tensões da crise hídrica são altas: o conflito do Mar de Aral, envolvendo
Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e Quirguistão; o conflito
do rio Jordão entre os estados levantinos; e a disputa do rio Mekong entre a
China e seus vizinhos do sudeste asiático. Egito, Sudão e Etiópia dependem do
rio Nilo e, durante muito tempo, trocam acusações sobre o projeto da Grande
Represa do Renascimento da Etiópia.
Para reverter a crítica situação, um novo relatório publicado pela Comissão Global sobre a Economia da Água, fez um apelo à ação de todos os países para administrar o ciclo global da água como um bem comum, como forma de vencer o estresse hídrico.
O relatório “Turning the Tide: A Call to Collective Action” diz que a demanda global de água doce superará a oferta em 40% até 2030. Mas também considera que um futuro hídrico sustentável e justo pode ser alcançado, mas requer uma mudança radical na forma como valorizamos, gerenciamos e usamos a água. O documento pede revisão das práticas de desperdício de água em todo o mundo na véspera da Conferência sobre Água da ONU, que vai ser realizada entre os dias 22 e 24/03/2023, em Nova Iorque, para debater compromissos em torno do uso sustentável da água e seus impactos.
A Conferência sobre Água é uma oportunidade
para fortalecer a ação e a conscientização sobre a crise hídrica e a
importância de cumprir o ODS 6 (Água potável e Saneamento). É também a melhor
oportunidade para se colocar a água no centro da ação global para garantir que
as pessoas, as plantações e o meio ambiente continuem tendo a água de que
precisam. Desta forma, foram feitos 7 apelos à ação sobre a água:
• Gerenciar o ciclo global da água como um bem
comum global, a ser protegido coletivamente e em nossos interesses
compartilhados.
• Garantir água segura e adequada para todos os
grupos vulneráveis e trabalhar com a indústria para aumentar o investimento em
água.
• Parar de subestimar a água. Preços adequados
e apoio direcionado aos pobres permitirão que a água seja usada de maneira mais
eficiente, equitativa e sustentável.
• Reduzir os mais de US$ 700 bilhões em
subsídios à agricultura e à água a cada ano, que muitas vezes alimentam o
consumo hídrico excessivo e reduzir o vazamento nos sistemas de água.
• Estabelecer “parcerias de água justa” que
possam mobilizar financiamento para países de baixa e média renda.
• Tomar medidas urgentes nesta década em
questões como a restauração de zonas úmidas e recursos hídricos subterrâneos
esgotados; reciclagem da água usada na indústria; mudar para uma agricultura de
precisão que usa a água de forma mais eficiente; e fazer com que as empresas
relatem sua “pegada hídrica”.
• Reformar a governança da água em nível internacional e incluir a água nos acordos comerciais. A governança também deve levar em consideração mulheres, agricultores, indígenas e outros na linha de frente da conservação da água.
O fato é que a humanidade tem monopolizado os recursos hídricos, transformando-os em commodities, sem respeito aos direitos da água e nem ao direito que as demais espécies vivas da Terra devem ter ao acesso às mesmas fontes da sobrevivência. A água é a fonte da vida. Sem água limpa e pura não existe possibilidade de sobrevivência, nem no presente e muito menos no futuro. (ecodebate)




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