Custos globais: Um relatório
do NRDC estimou em 2021 os custos globais para a saúde pública resultantes das
mudanças climáticas e da poluição por combustíveis fósseis em mais de U$ 820
mil milhões anuais.
Estudos mais recentes, como a
análise da revista Nature Climate Change, apontam que os danos à saúde
atribuídos às mudanças climáticas já geram impactos econômicos da ordem de
bilhões de dólares em diversos países.
Impactos na saúde que geram
custos:
Doenças respiratórias: O
aumento da temperatura e as mudanças nos padrões de chuva contribuem para a
piora da qualidade do ar, agravando problemas como asma, bronquite e alergias.
Doenças infecciosas: O
aumento da temperatura e da umidade favorece a proliferação de vetores de
doenças como malária, dengue e febre amarela.
Saúde mental: Eventos
extremos, como inundações e ondas de calor, podem levar ao aumento de casos de
ansiedade, depressão e stress pós-traumático.
Stress térmico e desnutrição:
O calor extremo e a insegurança alimentar, causada por alterações na
agricultura, também são consequências direta das mudanças climáticas que afetam
a saúde.
Ações necessárias: É
fundamental que a crise climática seja tratada como uma emergência de saúde
pública, exigindo ações políticas decisivas e investimentos em saúde e
infraestrutura para mitigação e adaptação aos impactos.
Uma nova pesquisa, publicada
revista Nature Climate Change, revela que danos à saúde atribuídos às mudanças
climáticas já geram impactos econômicos da ordem de bilhões de dólares e uma
vasta escala de morte, doença e deficiência.
O estudo, liderado por Colin J. Carlson e uma equipe internacional de cientistas, enfatiza a urgência de tratar a crise climática como uma emergência de saúde pública.
Nos últimos dez anos, a ciência da atribuição tem consolidado a conexão entre as mudanças climáticas e graves consequências para a saúde global. Contudo, a maior parte dos estudos anteriores focou desproporcionalmente em países de alta renda e quantificou principalmente os resultados de saúde relacionados ao calor e eventos climáticos extremos.
A nova análise busca oferecer
uma imagem mais abrangente do verdadeiro fardo global imposto pelo clima,
destacando a necessidade de uma ação política decisiva.
O impacto invisível (e não
tão invisível) na saúde
Pesquisadores afirmam que a
saúde humana, especialmente a perda de vidas, mas também doenças, deficiências
e mal-estar, é uma das categorias mais visíveis dos impactos das mudanças
climáticas.
Embora a comunidade
científica concorde que o aquecimento global de aproximadamente +1,3°C desde os
níveis pré-industriais é resultado de influências antropogênicas, a
quantificação de seus efeitos na saúde tem sido um desafio. O estudo utiliza
métodos de detecção e atribuição para isolar os efeitos das forças humanas.
Os achados são alarmantes:
com uma única exceção, todos os estudos de atribuição de impacto na saúde até
agora reportaram um impacto negativo substancial das mudanças climáticas,
frequentemente na forma de perda de vidas devido ao aumento das temperaturas ou
eventos climáticos extremos.
• Mortes relacionadas ao
calor: Estimativas variam de 10 mortes em um único dia de onda de calor em
Londres (2006) a impressionantes 271.656 mortes associadas ao calor em 43
países entre 1991 e 2018 [6, Tabela 1].
• Doenças transmitidas por
vetores: Pesquisas recentes abordam o crescente fardo de doenças virais
transmitidas por mosquitos.
• Poluição do ar: A
mortalidade devido à poluição do ar por partículas finas (PM2.5) de incêndios
florestais também é uma preocupação crescente.
• Saúde infantil: O estudo
diversifica para incluir riscos de saúde enfrentados por crianças, como mortes
neonatais, nascimentos prematuros e baixo peso ao nascer, e malária infantil.
Ainda há uma lacuna significativa em áreas como mortalidade atribuível à desnutrição (apesar de cada 1°C de aquecimento antropogênico resultar em um aumento de 1-2% na insegurança alimentar) e doenças diarreicas, que ainda não foram quantificadas por estudos de atribuição de impacto.
O custo econômico: bilhões perdidos
Além do sofrimento humano, as
perdas de saúde se traduzem em cifras econômicas chocantes. O estudo estima que
as perdas anuais já ultrapassam US$ 10 bilhões.
• Custos de partos
prematuros: As despesas médicas relacionadas a nascimentos prematuros por ondas
de calor na China podem exceder US$ 300 milhões por ano, com a perda de ganhos
ao longo da vida devido a deficiências cognitivas superando US$ 1 bilhão
anualmente.
• Eventos extremos: As perdas
de anos de vida devido ao Furacão Harvey foram estimadas em aproximadamente US$
17 bilhões. Um estudo global de 185 eventos climáticos extremos calculou uma
perda média atribuível de vidas no valor de US$ 22,7 bilhões por ano.
• Perdas monetizadas com base
no Valor Estatístico da Vida (VSL):
- Mortes neonatais
relacionadas à temperatura em 29 países de baixa e média renda: US$ 29,5
bilhões anuais (ajustado).
- Mortes relacionadas ao
calor em 43 países: US$ 31,0 bilhões anuais (ajustado).
- Poluição do ar global por
PM2.5 de incêndios florestais: US$ 40,2 bilhões anuais (ajustado).
- Em alguns casos, as perdas
diretamente quantificadas podem se aproximar de trilhões de dólares. As 271.656
mortes relacionadas ao calor atribuídas às mudanças climáticas em 43 países
entre 1991 e 2018 equivaleriam a uma perda de US$ 869,3 bilhões (ajustado) ou
US$ 3,1 trilhões (não ajustado) [7, Tabela 1].
Essas estimativas são cruciais para que os países busquem financiamento para perdas e danos resultantes das mudanças climáticas, especialmente porque os impactos na saúde humana dominam as estimativas de danos econômicos agregados.
Atribuição de fonte e ações legais
Uma fronteira importante da
pesquisa é a atribuição de “fonte”, que quantifica as contribuições de grandes
emissores de gases de efeito estufa para eventos extremos e seus impactos. Por
exemplo, um estudo estimou que dezenas de mortes relacionadas ao calor na Suíça
entre 1969 e 2018 poderiam ser atribuídas a empresas de combustíveis fósseis
específicas, como Chevron (59 mortes), ExxonMobil (54 mortes) e Saudi Aramco
(53 mortes). Utilizando a abordagem de VSL, essas perdas equivaleriam a
centenas de milhões de dólares para cada emissor.
Esses estudos de atribuição
de fonte são de relevância única para ações legais contra emissores e governos,
fornecendo evidências que ligam as emissões antropogênicas de gases de efeito
estufa às perdas dos demandantes.
A necessidade de uma
perspectiva global e equitativa
Os pesquisadores alertam para
um viés geográfico nos estudos de atribuição de impacto na saúde, com quase
todos os trabalhos em nível subnacional concentrados em países de alta renda.
Essa tendência reflete a comunidade de pesquisa, predominantemente liderada por
instituições do Norte Global, mesmo quando o foco é os impactos no Sul Global.
Para uma visão mais
abrangente e representativa, é fundamental aumentar o investimento em pesquisas
lideradas por cientistas climáticos e pesquisadores de saúde pública que vivem
nas linhas de frente da injustiça climática.
Resumo:
O artigo da Nature Climate
Change, “Health losses attributed to anthropogenic climate change”, explora
como a mudança climática causada pelo homem tem impactado significativamente a
saúde humana globalmente. Os autores destacam que a ciência da atribuição tem
demonstrado que o aquecimento global é responsável por um número considerável
de mortes, doenças e incapacidades. Embora os estudos anteriores focassem
principalmente em países de alta renda e em desfechos relacionados ao calor e
eventos climáticos extremos, este artigo enfatiza a necessidade de uma visão
mais abrangente do ônus global, incluindo doenças transmitidas por vetores e
impactos na saúde infantil. Os pesquisadores também monetizam essas perdas de
saúde, atribuindo bilhões de dólares em custos anuais à mudança climática, e
discutem a relevância desses dados para litígios e políticas públicas,
especialmente em relação à compensação por perdas e danos. Por fim, o texto
ressalta a importância de pesquisas lideradas por cientistas do Sul global para
abordar as disparidades geográficas e as iniquidades na compreensão dos
impactos na saúde. (ecodebate)





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