terça-feira, 7 de outubro de 2025

Mudanças climáticas já custam bilhões de dólares para a saúde pública

Sim, as mudanças climáticas já geram um custo de bilhões de dólares para a saúde pública globalmente e no Brasil, com custos que podem chegar a centenas de bilhões de dólares por ano, impulsionados por uma vasta gama de impactos como doenças respiratórias, infecciosas, e de saúde mental, além da insegurança alimentar e o stress térmico. Uma pesquisa recente publicada na Nature Climate Change e divulgada em setembro/2025 pelo EcoDebate quantificou os impactos econômicos da crise climática na saúde em diversos países, destacando a necessidade de tratamento da questão como uma emergência de saúde pública.

Custos globais: Um relatório do NRDC estimou em 2021 os custos globais para a saúde pública resultantes das mudanças climáticas e da poluição por combustíveis fósseis em mais de U$ 820 mil milhões anuais.

Estudos mais recentes, como a análise da revista Nature Climate Change, apontam que os danos à saúde atribuídos às mudanças climáticas já geram impactos econômicos da ordem de bilhões de dólares em diversos países.

Impactos na saúde que geram custos:

Doenças respiratórias: O aumento da temperatura e as mudanças nos padrões de chuva contribuem para a piora da qualidade do ar, agravando problemas como asma, bronquite e alergias.

Doenças infecciosas: O aumento da temperatura e da umidade favorece a proliferação de vetores de doenças como malária, dengue e febre amarela.

Saúde mental: Eventos extremos, como inundações e ondas de calor, podem levar ao aumento de casos de ansiedade, depressão e stress pós-traumático.

Stress térmico e desnutrição: O calor extremo e a insegurança alimentar, causada por alterações na agricultura, também são consequências direta das mudanças climáticas que afetam a saúde.

Ações necessárias: É fundamental que a crise climática seja tratada como uma emergência de saúde pública, exigindo ações políticas decisivas e investimentos em saúde e infraestrutura para mitigação e adaptação aos impactos.

Uma nova pesquisa, publicada revista Nature Climate Change, revela que danos à saúde atribuídos às mudanças climáticas já geram impactos econômicos da ordem de bilhões de dólares e uma vasta escala de morte, doença e deficiência.

O estudo, liderado por Colin J. Carlson e uma equipe internacional de cientistas, enfatiza a urgência de tratar a crise climática como uma emergência de saúde pública.

Nos últimos dez anos, a ciência da atribuição tem consolidado a conexão entre as mudanças climáticas e graves consequências para a saúde global. Contudo, a maior parte dos estudos anteriores focou desproporcionalmente em países de alta renda e quantificou principalmente os resultados de saúde relacionados ao calor e eventos climáticos extremos.

A nova análise busca oferecer uma imagem mais abrangente do verdadeiro fardo global imposto pelo clima, destacando a necessidade de uma ação política decisiva.

O impacto invisível (e não tão invisível) na saúde

Pesquisadores afirmam que a saúde humana, especialmente a perda de vidas, mas também doenças, deficiências e mal-estar, é uma das categorias mais visíveis dos impactos das mudanças climáticas.

Embora a comunidade científica concorde que o aquecimento global de aproximadamente +1,3°C desde os níveis pré-industriais é resultado de influências antropogênicas, a quantificação de seus efeitos na saúde tem sido um desafio. O estudo utiliza métodos de detecção e atribuição para isolar os efeitos das forças humanas.

Os achados são alarmantes: com uma única exceção, todos os estudos de atribuição de impacto na saúde até agora reportaram um impacto negativo substancial das mudanças climáticas, frequentemente na forma de perda de vidas devido ao aumento das temperaturas ou eventos climáticos extremos.

• Mortes relacionadas ao calor: Estimativas variam de 10 mortes em um único dia de onda de calor em Londres (2006) a impressionantes 271.656 mortes associadas ao calor em 43 países entre 1991 e 2018 [6, Tabela 1].

• Doenças transmitidas por vetores: Pesquisas recentes abordam o crescente fardo de doenças virais transmitidas por mosquitos.

• Poluição do ar: A mortalidade devido à poluição do ar por partículas finas (PM2.5) de incêndios florestais também é uma preocupação crescente.

• Saúde infantil: O estudo diversifica para incluir riscos de saúde enfrentados por crianças, como mortes neonatais, nascimentos prematuros e baixo peso ao nascer, e malária infantil.

Ainda há uma lacuna significativa em áreas como mortalidade atribuível à desnutrição (apesar de cada 1°C de aquecimento antropogênico resultar em um aumento de 1-2% na insegurança alimentar) e doenças diarreicas, que ainda não foram quantificadas por estudos de atribuição de impacto.

O custo econômico: bilhões perdidos

Além do sofrimento humano, as perdas de saúde se traduzem em cifras econômicas chocantes. O estudo estima que as perdas anuais já ultrapassam US$ 10 bilhões.

• Custos de partos prematuros: As despesas médicas relacionadas a nascimentos prematuros por ondas de calor na China podem exceder US$ 300 milhões por ano, com a perda de ganhos ao longo da vida devido a deficiências cognitivas superando US$ 1 bilhão anualmente.

• Eventos extremos: As perdas de anos de vida devido ao Furacão Harvey foram estimadas em aproximadamente US$ 17 bilhões. Um estudo global de 185 eventos climáticos extremos calculou uma perda média atribuível de vidas no valor de US$ 22,7 bilhões por ano.

• Perdas monetizadas com base no Valor Estatístico da Vida (VSL):

- Mortes neonatais relacionadas à temperatura em 29 países de baixa e média renda: US$ 29,5 bilhões anuais (ajustado).

- Mortes relacionadas ao calor em 43 países: US$ 31,0 bilhões anuais (ajustado).

- Poluição do ar global por PM2.5 de incêndios florestais: US$ 40,2 bilhões anuais (ajustado).

- Em alguns casos, as perdas diretamente quantificadas podem se aproximar de trilhões de dólares. As 271.656 mortes relacionadas ao calor atribuídas às mudanças climáticas em 43 países entre 1991 e 2018 equivaleriam a uma perda de US$ 869,3 bilhões (ajustado) ou US$ 3,1 trilhões (não ajustado) [7, Tabela 1].

Essas estimativas são cruciais para que os países busquem financiamento para perdas e danos resultantes das mudanças climáticas, especialmente porque os impactos na saúde humana dominam as estimativas de danos econômicos agregados.

Atribuição de fonte e ações legais

Uma fronteira importante da pesquisa é a atribuição de “fonte”, que quantifica as contribuições de grandes emissores de gases de efeito estufa para eventos extremos e seus impactos. Por exemplo, um estudo estimou que dezenas de mortes relacionadas ao calor na Suíça entre 1969 e 2018 poderiam ser atribuídas a empresas de combustíveis fósseis específicas, como Chevron (59 mortes), ExxonMobil (54 mortes) e Saudi Aramco (53 mortes). Utilizando a abordagem de VSL, essas perdas equivaleriam a centenas de milhões de dólares para cada emissor.

Esses estudos de atribuição de fonte são de relevância única para ações legais contra emissores e governos, fornecendo evidências que ligam as emissões antropogênicas de gases de efeito estufa às perdas dos demandantes.

A necessidade de uma perspectiva global e equitativa

Os pesquisadores alertam para um viés geográfico nos estudos de atribuição de impacto na saúde, com quase todos os trabalhos em nível subnacional concentrados em países de alta renda. Essa tendência reflete a comunidade de pesquisa, predominantemente liderada por instituições do Norte Global, mesmo quando o foco é os impactos no Sul Global.

Para uma visão mais abrangente e representativa, é fundamental aumentar o investimento em pesquisas lideradas por cientistas climáticos e pesquisadores de saúde pública que vivem nas linhas de frente da injustiça climática.

O estudo da Nature Climate Change serve como um poderoso lembrete de que as mudanças climáticas não são uma ameaça distante, mas uma crise de saúde pública atual e financeiramente devastadora. Seus resultados urgem por uma reavaliação global de como enfrentamos o aquecimento do planeta, com ênfase na saúde e na equidade.
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Resumo:

O artigo da Nature Climate Change, “Health losses attributed to anthropogenic climate change”, explora como a mudança climática causada pelo homem tem impactado significativamente a saúde humana globalmente. Os autores destacam que a ciência da atribuição tem demonstrado que o aquecimento global é responsável por um número considerável de mortes, doenças e incapacidades. Embora os estudos anteriores focassem principalmente em países de alta renda e em desfechos relacionados ao calor e eventos climáticos extremos, este artigo enfatiza a necessidade de uma visão mais abrangente do ônus global, incluindo doenças transmitidas por vetores e impactos na saúde infantil. Os pesquisadores também monetizam essas perdas de saúde, atribuindo bilhões de dólares em custos anuais à mudança climática, e discutem a relevância desses dados para litígios e políticas públicas, especialmente em relação à compensação por perdas e danos. Por fim, o texto ressalta a importância de pesquisas lideradas por cientistas do Sul global para abordar as disparidades geográficas e as iniquidades na compreensão dos impactos na saúde. (ecodebate)

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