Segundo a bióloga Francyne
Elias-Piera, além do óbvio, o plástico que acumula no lixo, muitas vezes, vem de
locais que a gente nem imagina, como o das roupas sintéticas, por exemplo. “As
roupas sintéticas são aquelas que usamos nos dias mais frios ou aquelas
camisetas que não amassam ou que são feitas para não transpirar. Estas peças
são feitas de fibras de plástico, então, toda vez que lavamos essas roupas, os
fiapos (que são fibras de plástico) vão parar no esgoto. E todo esgoto vai dar
no mar! É por isso que é tão importante cuidar do planeta e dos oceanos – está
tudo conectado, principalmente, pelas correntes marinhas”, afirma Francyne.
A bióloga ressalta, ainda,
que tudo o que fazemos neste sentido aqui no Brasil também afeta outros
lugares, até mesmo lugares limpos como a Antártica. “É por isso que existem
tantas pesquisas sobre plásticos no oceano, mesmo já existindo alternativas
como os canudinhos de papel ou de bambu”, complementa.
Francyne é mestre em
Oceanografia Biológica pela USP e Doutora em Ciência Ambiental pela Universitat
Autònoma de Barcelona. Desde 2000, ela pesquisa os invertebrados da Antártica e
já participou de 5 expedições com Brasil e Coréia, ficando em Estações de
Pesquisa e navios polares. Viveu na Coreia do Sul por 2 anos e foi a única
latina pesquisadora do Instituto de Pesquisa Polar Coreano. Hoje, Francyne é
pós-doutoranda na USP e fundadora do Instituto Gelo na Bagagem, a primeira
plataforma de educação e entretenimento antártico com site, canal no Youtube e
perfil no Instagram. Pelo Instituto, ela incentiva, desde 2010, a formação de
novos pesquisadores antárticos no Brasil, México e Chile por meio de palestras
e cursos presenciais e online.
Quem consome materiais de
plástico biodegradável achando que está fazendo uma boa escolha, todo cuidado é
pouco, pois não adianta caso eles não sejam feitos de materiais naturais –
alguns chegam a ser até pior que o plástico convencional, uma vez que não se
desfaz. “A única coisa diferente no biodegradável é que ele fica menor mais
rapidamente, formando o que a gente chama de microplástico, que são pedacinhos
bem pequenos de plástico que não enxergamos a olho nu”, explica a bióloga.
Então, existem dois
problemas: os plásticos grandes, que baleias e tartarugas comem e se sufocam, e
os microplásticos, que ficam boiando na água ou afundam e ficam no sedimento e
viram alimento de animais pequenos, como o plancton. Algumas espécies, como o
copepode, filtram a água para pegar o alimento e se existe microplástico na
água, ele o come. “Depois é só concluir o que acontece quando o peixe come esse
animal e o ser humano, por sua vez, come o peixe”, alerta. “Imagine o estômago
dos peixes pescados em lugares cheios de lixo? Na minha última viagem para a
Antártica, olhando o que estudo no microscópio, encontrei fibras de plástico e
microplástico no sedimento, no gelo, na água e até no estômago dos animais. E não
foi em animais da superfície não, foi nos animais de fundo de 30, 100 e até 400
metros de profundidade. Existia plástico em todos”, diz Francyne.
A polêmica gera questões e perguntas: como estes plásticos chegaram na Antártica? Seria culpa dos turistas, que não seguem o Protocolo de Madrid, ou seriam as redes de pesca de barcos clandestinos? Ou são as correntes marítimas que levam o lixo que produzimos no Brasil? Muitas pesquisas afirmam serem, sim, as correntes, mostrando que muito do que produzimos aqui impacta no ambiente antártico.
O plástico está presente por toda parte, nos celulares, nas roupas, nas embalagens de alimentos, nos potes de cosméticos, nas seringas, nas embalagens de remédios, nos enfeites, no glitter… E o risco de asfixia de animais não é o único problema – o perigo é que o plástico é formado por substâncias químicas para dar sustentação nos objetos e uma delas é a bisfenol (BPA) ou bisfenol – S (BPS), considerada tóxica. Desde 2011, esta substância é proibida. Existem objetos “free BPA”, porém, algumas substâncias do plástico ainda não foram identificadas e continuam sendo usadas. “O plástico grande ou minúsculo, quando cai na água, libera o bisfenol e intoxica muitos animais, tomando o lugar de outra substância do corpo do animal: o hormônio. Os hormônios são substâncias que o corpo libera para controlar as glândulas e exercer alguma função. É por isso que ocorre a redução da população de golfinhos e baleias, o comprometimento do desenvolvimento de ovos de aves e as deformidades sexuais em répteis e peixes”, explica a bióloga.
No corpo humano, estas substâncias se fixam na gordura do corpo, no sangue e nos fluidos corporais, podendo causar doenças cardíacas, câncer, endometriose, déficit de atenção, problemas neurológicos, baixo QI, puberdade precoce, abortos, acne, obesidade, aumento das glândulas mamarias masculinas, infertilidade e aumento da TPM. Quando se trata de microplásticos, ingerimos estas substâncias pelo ar, na água e até na cerveja. Segundo a bióloga, a ingestão também pode vir das embalagens ou de plástico filme. “O bisfenol migra com facilidade das embalagens para os alimentos. Quando colocamos uma vasilha plástica no micro-ondas, ajudamos a transferir bisfenol ainda mais rapidamente para a comida, e acontece a mesma coisa quando lavamos a louça com detergente ou na máquina de lavar”. E completa: “Estamos tão contaminados com o BPA que ele já foi encontrado no sangue de recém-nascidos, já que as mamadeiras são de plástico. Também encontraram a substância no sangue de cordão umbilical, o que comprova a intoxicação do bebê pela mãe”.
Para diminuir o uso de plástico no dia a dia, Francyne dá algumas dicas:
– evite congelar comida em
potes de plástico
– nunca beba água de garrafas
que ficam no carro e esquentam
– não use canudinho, a menos
que tenha o seu individual feito de aço
– evite usar copinhos
plásticos e prefira os dobráveis, que dá para levar na bolsa
– não aceite sacolas
plásticas em estabelecimentos comerciais
– diminua o uso de embalagens
pets, preferindo as de vidro
– leve sempre uma garrafinha
de vidro ou alumínio com você
– use roupas não sintéticas
(ecodebate)



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