Furacão Florence e Tufão Mangkhut: a vulnerabilidade
imposta pelo aquecimento global.
“É triste pensar que a natureza fala e que a
humanidade não a ouve” - Victor Hugo.
A ciência mostra que as tempestades são mais fortes
em decorrência do aquecimento global.
Os
furacões (que acontecem no Atlântico Norte e no Pacífico entre o Havaí e a
costa oeste dos EUA), os Tufões (que acontecem no Pacífico entre o Havaí e o
leste asiático) e os Ciclones que acontecem no hemisfério sul e no oceano
índico são fenômenos provocados pelo aquecimento da superfície do mar, que faz
evaporar a água em ritmo mais acelerado, formando nuvens de chuva. Isto faz
cair a pressão atmosférica e favorece a subida do ar, retroalimentando a
evaporação. Este fenômeno intensifica as correntes de vento oceânicas que
passam a se movimentar em espiral, podendo atingir velocidades muito altas.
Pela
escala Saffir-Simpson, o ciclone extratropical tem ventos até 117 km/h. Na
categoria 1: os ventos vão de 118 a 152 km/h; na categoria 2: de 153 a 176
km/h; categoria 3: de 177 a 207 km/h; categoria 4: de 208 a 250 km/h e
categoria 5: acima de 251 km/h.
Nos
últimos anos os Furacões, Tufões e Ciclones têm aumentado de frequência e de
intensidade e, obviamente, não dá para ignorar o efeito do aquecimento global,
que é intensificado pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa,
gerados pelo crescimento exponencial das atividades antrópicas, especialmente a
queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e a expansão da pecuária.
Por
conta da maior concentração de CO2 e outros gases de efeito estufa
(como o metano) na atmosfera, a temperatura do Planeta já subiu cerca de 1°C,
em relação às temperaturas pré-industriais. Os desastres naturais aumentam em
decorrência dos efeitos da mudança climática. Cientistas da Universidade de
Stony Brook consideram que o aumento da temperatura da superfície dos oceanos,
eleva a umidade do ar e o calor adicional funciona com catalisador e
potencializador dos Furacões, Tufões e Ciclones. No caso do Florence, eles
consideram que as chuvas do furacão são 50% mais altas do que seriam sem o
aquecimento global e que o tamanho projetado do furacão é cerca de 80
quilômetros maior.
O
gráfico abaixo mostra que as perdas econômicas estão aumentando nos Estados
Unidos. No século passado, o Furacão Andrew gerou um prejuízo de US$ 49,1
bilhões, em 1992. Isto foi largamente superado pelos prejuízos do Furacão
Katrina, em 2005, que gerou custos de US$ 165 bilhões. Mas o ano de 2017 foi
recordista com o prejuízo somado dos Furacões Harvey, Irma e Maria totalizando
cerca de US$ 250 bilhões.

Ainda
é cedo para calcular os prejuízos do Furacão Florence que atingiu a categoria 5
(ventos acima de 251 km/h), mas desacelerou e atingiu a costa da Carolina do
Norte como categoria 1 e logo se transformou em tempestade tropical. Mesmo
perdendo força e deixando de ser um desastre de grandes proporções como o
Katrina, o Furacão Florence ocasionou a ordem de retirada de mais de 1,7 milhão
de moradores da costa leste dos EUA, parou a economia, cancelou milhares de
voos, gerou blecautes e destruição de patrimônio, provocou a morte de pelo menos
15 pessoas (contagem preliminar) e inundou e paralisou extensas áreas. Mas como
disse Kevin Arata, porta-voz da cidade de Fayetteville, na CNN, no domingo: “O
pior ainda está por vir”.
Concomitante
ao Furacão Florence que se formou e se expandiu no Atlântico Norte, o Tufão
Mangkhut (que se formou no Pacífico mais ou menos no mesmo período, na segunda
semana de setembro de 2018) atingiu o leste asiático também deixou um rastro de
destruição em termos econômicos e humanos, embora em proporção menor do que o
estimado anteriormente. O tufão Mangkhu, que também tinha chegado à categoria
5, desacelerou e atingiu o norte das Filipinas (uma região com baixa densidade
demográfica) com ventos de 170 km/h e rajadas de até 260 km/h.
Em
sua passagem pelo arquipélago, o Mangkhut deixou 54 mortos e 42 pessoas
desaparecidas nas Filipinas (contagem preliminar), incluindo um bebê e uma
criança. A maioria das mortes foi causada por deslizamentos de terra e
destruição de casas pela força dos ventos. Em sua trajetória filipina o tufão
deslocou 50 mil pessoas, que tiveram que deixar suas casas e afetou mais de 5,2
milhões de indivíduos que vivem em um raio de 125 km da trajetória do Mangkhut.
Em
Hong Kong, o Tufão chegou com ventos de 173 km/h e rajadas de até 223 km/h,
paralisando totalmente uma das cidades mais dinâmicas do mundo. Embora tenha
havido muita inundação, telhados arrancados, muitas árvores caídas e guindastes
derrubados, não houve nenhuma vítima fatal em uma cidade muito bem preparada
para enfrentar os desafios da instabilidade climática. Mas os prejuízos
econômicos foram enormes e ainda estão sendo contabilizados.
Na
China, os danos provocados pelo Tufão Mangkhut foram de grande extensão. A
cidade de Macau, famosa pelos seus casinos, parou totalmente e foi tão ou mais
afetada do que Hong Kong. A tempestade adentrou pelo continente e assolou a
populosa região de Guangdong, onde mais de 2,4 milhões de pessoas foram
evacuadas. A tempestade atingiu a cidade de Haiyan por volta das 17h de domingo
(segunda-feira na China) e, pelo menos, duas pessoas morreram. As escolas
fecharam, as viagens dos trens de alta velocidade foram suspensas, centenas de
voos foram cancelados, os barcos de pesca retornaram e as inundações se
espalharam, segundo a agência de notícias estatal, Xinhua. Os estragos
continuam pelo interior do sul da China.
O
fato é que um mundo mais quente traz furacões/tufões/ciclones mais
destruidores, pois a combinação de maior temperatura das águas oceânicas e
maior umidade do ar funciona como um catalisador destes redemoinhos. A ciência
mostra que as tempestades são mais fortes em decorrência do aquecimento global.
As leis da termodinâmica não deixam dúvida de que as mudanças climáticas estão
aumento a frequência e o poder de destruição dos eventos extremos que trazem
chuva, agitam o oceano e provocam inundações.
O
escritor Jeff Nesbit tem chamado a atenção para o desafio climático e como o
aquecimento global tem impactando as comunidades em todo o mundo: secas mais
longas no Oriente Médio, desertificação crescente na China e na África (duas
regiões com alta densidade demográfica), temporada de monções encolhendo na
Índia e ficando mais instáveis, ondas de calor amplificadas na Austrália, no
Irã, Paquistão, etc., furacões/tufões/ciclones mais intensos atingindo a América
e a Ásia, guerras por água no Chifre da África, rebeliões, refugiados e
crianças famintas em todo o mundo. Nesbit escreveu o livro “This
is the way the world ends: how droughts and die-offs, heat waves and hurricanes
are converging on America”, onde mostra que a mudança climática não
é uma ameaça distante, pois já está impactando comunidades em todo o mundo.

Ele
chama a atenção para a possibilidade de surgimento de furacões com categoria 6,
com ventos que excedam 200 milhas por hora (mais de 300 km/h). Esta
possibilidade é cada vez mais real devido ao aquecimento dos oceanos e ao maior
vapor de água circulando pela atmosfera. As super tempestades podem ter um
poder devastador e, junto ao aumento do nível do mar, podem fazer naufragar amplas
áreas costeiras, com prejuízos incalculáveis para a agricultura e as cidades.
O
que é preciso reconhecer é que esses eventos climáticos extremos estão
relacionados ao fato de que, desde 2015, o Planeta já está em torno de 1º C
acima da média pré-industrial.
A
terra está se tornando um local perigoso. Portanto, a recente onda de eventos
catastróficos não é mera anomalia. O sistema climático está cada vez mais
desequilibrado, em função do modelo “Extrai-Produz-Descarta”. Os últimos quatro
anos (2014-2017) foram os mais quentes já registrados no Holoceno e tudo indica
que o mundo assistirá temperaturas mais extremas nos próximos quatro anos.
Infelizmente,
em vez de confrontar essa ameaça à espécie humana e às demais espécies vivas da
Terra, a humanidade, egoisticamente, reforça o mito do crescimento econômico
acreditando no mantra que diz que a qualidade de vida depende do aumento das
atividades antrópicas.
Contudo,
a economia não pode ser maior do que a ecologia e nem a humanidade pode superar
a capacidade de carga da Terra. Ou a civilização muda o rumo que está levando
ao aumento da probabilidade de um colapso ambiental ou haverá de lidar com um
colapso civilizacional. Esta possibilidade foi abordada em novo estudo
científico que indicou que a Terra pode entrar em uma situação com clima tão
quente, que pode elevar as temperaturas médias globais a até cinco graus
Celsius acima das temperaturas pré-industriais.
O estudo mostra que o aquecimento global causado pelas
atividades antrópicas de 2º Celsius pode desencadear outros processos de
retroalimentação, podendo desencadear a liberação incontrolável na atmosfera do
carbono e do metano armazenado no permafrost, nas calotas polares, etc. Isto
provocaria o fenômeno “Terra Estufa”, o que levaria à temperatura ao recorde
dos últimos 1,2 milhão de anos.
Ou
seja, o cenário da “Terra Estufa”, aumenta a possibilidade de
furacões/tufões/ciclones de categoria 6, o que traria grande sofrimento e
grande prejuízo para a humanidade e afetaria todos os seres vivos do Planeta.
Seria algo parecido com o apocalipse, só que provocado pela crescente
interferência humana e pela dimensão da economia que, no conjunto, se
transformaram em forças globais de rompimento do equilíbrio homeostático da
Terra.
O
Furacão Florence e o Tufão Mangkhut são apenas sinais de uma catástrofe de
maiores dimensões que está ocorrendo “à prestação”, mas que são um aviso do
muito que está por vir. (ecodebate)