domingo, 21 de abril de 2024

A mudança climática é uma crise de direitos humanos

A crise do clima ameaça os direitos humanos em proporções nunca antes vistas. É esse o alerta que a Anistia Internacional faz com o lançamento do relatório “Parem de queimar nossos direitos”.

O futuro de toda a humanidade está em grande risco, e o presente de milhões de pessoas já está ameaçado, com o aprofundamento de inúmeras desigualdades.

A Anistia Internacional avalia que os esforços dos Estados para enfrentar as mudanças climáticas continuam muito abaixo do que é preciso para que a situação possa ser revertida. A maioria dos países industrializados continua sem controlar as emissões poluentes de modo satisfatório.

“As mudanças climáticas são uma crise de direitos humanos. De acordo com a normativa internacional dos direitos humanos, os Estados têm obrigações legais de enfrentar a crise do clima. Exigimos que o governo do Presidente Jair Bolsonaro e o Congresso Nacional ajam para atenuar os efeitos das mudanças climáticas sobre a população brasileira e implementem políticas públicas de conservação da natureza e proteção dos direitos humanos baseadas nas evidências científicas. As autoridades públicas no Brasil têm contribuído para que haja um desmonte da agenda ambiental, mas não há mais espaço para o negacionismo. A vida de brasileiros e brasileiras deve vir em primeiro lugar”, explica Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil.

Pensar em respostas para a crise climática implica em dar centralidade aos direitos humanos – principalmente dos grupos mais impactados. O relatório destaca que as mulheres são mais afetadas, principalmente as que estão subjugadas a trabalhos que dependem mais dos recursos naturais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhas e outras pertencentes às comunidades tradicionais. Esses povos estão intrinsecamente ligados ao ambiente natural, que os provê com sustento, moradia e remédios. As áreas onde vivem são frequentemente propensas a desastres climáticos e a expropriações e remoções forçadas, violam seus direitos humanos básicos.

“Neste relatório, a Anistia Internacional cobra dos governos e das empresas um compromisso com a superação da crise climática que ameaça o nosso futuro enquanto espécie – e que já ameaça o presente de muitos. Não existem atalhos para salvar a humanidade. É urgente que as pessoas que estão no poder cumpram com os compromissos assumidos e atuem para reverter essa crise climática, antes que seja tarde demais”, avalia Jurema.

O relatório aponta que o nível de 1,1°C de aquecimento global acima dos níveis pré-industriais já causa impactos devastadores – com ondas de calor, incêndios florestais, tempestades tropicais e secas – que ameaçam direitos à água, aos alimentos, à moradia, à saúde, ao saneamento, ao trabalho, entre muitos outros. A Organização Mundial de Saúde já prevê que as mudanças climáticas devem provocar 250 mil mortes a mais, por ano, nos anos entre 2030 e 2050 – causadas por malária, desnutrição, diarreia e pelo estresse térmico. O Programa Mundial de Alimentação calcula um aumento de 20% na fome e na desnutrição até 2050.

Há um longo percurso para reduzir esse impacto. Manter o aquecimento global no limite de 1,5°C ainda é possível, muito embora a janela para essa possibilidade já esteja se fechando. Isto exige que as emissões de gás de efeito estufa sejam reduzidas, globalmente e até 2030, em 45% – em comparação com os níveis de 2010. Até 2050, a redução deve ser até o nível zero. No entanto, a poluição continua a crescer e atingiu um nível recorde em 2019. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, essa meta pouparia 420 milhões de pessoas de serem expostas ao calor extremo.

E mesmo ao pensar em meios alternativos, governos e empresa devem considerar as populações que serão impactadas por projetos de outros tipos de energia, que não os combustíveis fósseis. Os povos indígenas, quilombolas e as comunidades tradicionais precisam ter seu direito à consulta e ao consentimento livre, prévio e acesso à informação garantidos, quando da instalação de projetos que afetem seus territórios, como por exemplo, projetos de energia renovável, fazendas de cultivo de biocombustíveis e projetos de conservação que costumam ser empreendidos com violação aos direitos dos povos indígenas e das comunidades que vivem nesses locais.

Para contemplar uma resposta adequada, a Anistia Internacional incluiu nesse relatório, uma agenda com recomendações aos estados.

Apresentamos alguns abaixo:

– Proteger as pessoas com a eliminação urgente das emissões de gases de efeito estufa através da adoção de planos climáticos nacionais e outras ações.

– Ajudar as pessoas afetadas a se adaptar às inevitáveis mudanças do clima…

– Garantir que as ações sobre o clima sejam compatíveis com os direitos das pessoas

– Assegurar o direito de todos à informação, à participação e à reparação

– Proporcionar às pessoas afetadas compensação por perdas e danos

– Aumentar a cooperação e a assistência internacionais

– Proteger os direitos humanos das pessoas desalojadas ou em risco de desalojamento devido às mudanças do clima

– Reconhecer o direito a um meio ambiente seguro, limpo, saudável e sustentável

– Regulamentar as empresas

No que diz respeito às populações, os países devem:

– Pactuar e implementar uma recuperação justa e ambientalmente sustentável que coloque os direitos humanos e a ação climática em seu centro.

– Enfrentar as desigualdades que a pandemia e a crise climática exacerbaram e trouxeram à tona.

– Assegurar que as medidas de adaptação priorizem os grupos, comunidades e indivíduos mais impactados pelos efeitos da crise do clima;

– Garantir que as medidas destinadas a proteger as pessoas dos efeitos da mudança climática não resultem na violação de outros direitos humanos;

– Evitar o uso da resposta às mudanças climáticas para justificar violações dos direitos humanos;

– Garantir às pessoas o direito à informação sobre os efeitos das ações climáticas e de participação nos processos decisórios;

– Garantir que a transição para sociedades mais resilientes e de carbono zero seja uma oportunidade para reduzir a pobreza e corrigir desequilíbrios

Mudança Climática: Uma questão de direitos humanos

Sobre a Anistia Internacional

A Anistia Internacional é um movimento global de mais de 10 milhões de pessoas que encaram a injustiça como algo pessoal. Presente em mais de 150 países, a organização realiza campanhas para que direitos humanos internacionalmente reconhecidos sejam respeitados e protegidos. (ecodebate)

Jovens não sabem como os governos atuam nas mudanças climáticas

Cenários de temperatura e precipitação, segundo relatório do IPCC

Pesquisa aponta que 82% dos jovens não sabem como os governos de seus países estão lidando com as mudanças climáticas

De forma geral, adolescentes e jovens não se veem incluídos nas discussões públicas sobre as mudanças climáticas

Estudo conduzido pela ONG Plan International* ouviu mais de 1.800 adolescentes e jovens de 15 a 24 anos, de 37 países, incluindo o Brasil. Organização está convocando governos a melhorar o ensino escolar sobre o tema

Poderia haver muitas outras Gretas Thunberg no mundo se os governos se dedicassem a educar melhor crianças e adolescentes sobre as mudanças climáticas – que sabem pouco sobre o tema, mas se preocupam muito com ele. É o que leva a crer a pesquisa global on-line Reimagining – educação climática e liderança jovem, conduzida pela ONG Plan International.

A organização humanitária coletou as opiniões e experiências dos jovens a respeito da educação sobre as mudanças climáticas e sua participação nos processos de política climática. Mais de 1.800 adolescentes e jovens de 37 países com idades entre 15 e 24 anos participaram. Destes, 54% tinham de 15 a 18 anos, 72% eram meninas e 384 eram do Brasil.

Quase todos (98%) os entrevistados estão preocupados com a emergência climática. Destes, três quartos (74%) dizem que se sentem muito ou extremamente preocupados. Mas quase metade dos participantes (44%) não sabia o que é o Acordo de Paris e 81% não sabiam sequer onde encontrar informações sobre o tema, o que expõe deficiências significativas na forma como os governos educam os jovens sobre questões ambientais.

Meninas e jovens mulheres são mais propensas a se preocuparem com as mudanças climáticas (99%), em comparação com meninos e jovens homens (95%). Quase nove em cada dez (86%) já tomaram alguma atitude contra as mudanças climáticas por causa de seus medos. A forma de ação mais comum foi multiplicar conhecimentos para colegas ou familiares sobre as questões climáticas (64%), assinar ou compartilhar uma petição (49%) e postar sobre as mudanças climáticas nas redes sociais (45%). Mas pouco menos de um em cada cinco (18%) aderiu a um protesto ou uma greve pelo clima.

De forma geral, adolescentes e jovens não se veem incluídos nas discussões públicas sobre as mudanças climáticas. A maioria (84%) dos participantes afirma que os esforços dos governos de seus países para incluí-los nas políticas de combate à emergência climática são insuficientes.

Na prática, o ensino sobre o tema na escola se concentra nos impactos das mudanças climáticas (90%) e nas ações individuais, como reciclagem, economia de energia e mudança de dieta (73%). Os jovens, porém, acreditam que esses temas muitas vezes não são relevantes para o seu dia a dia. Só 22% deles receberam informações sobre políticas relacionadas ao clima, e apenas 11% foram ensinados a participar dos processos de tomada de decisão a respeito do tema. Com isso, 18% dos jovens classificaram a educação que receberam sobre mudanças climáticas como ruim ou muito ruim.

Meninas e mulheres jovens são mais propensas a dizer que não se sentem confiantes em participar de processos de políticas climáticas (29%), em comparação com meninos e homens jovens (20%).

Para Jessica Cooke, Conselheira de Política e Incidência para Mudanças Climáticas da Plan International, “a crise climática é, sem dúvida, a questão definidora de nosso tempo, e são os jovens que vão suportar o peso de seus impactos e viverão com eles por mais tempo. Como na maioria das emergências, as meninas e jovens mulheres provavelmente sofrerão as consequências mais devastadoras”. Ela reforça que só neste ano, estima-se que as mudanças climáticas impedirão pelo menos quatro milhões de meninas de concluírem seus estudos.

“Os jovens nos disseram claramente que temem por seu futuro e querem participar das discussões sobre as políticas e as decisões que vão defini-lo. Mas eles não se sentem informados ou capacitados o suficiente para fazer isso, o que expõe lacunas significativas sobre como os governos estão ensinando crianças e meninas a respeito da crise ambiental que enfrentamos”, afirma Jessica Cooke.

A Plan International entende as mudanças climáticas como uma injustiça social, intergeracional, racial e de gênero. Por isso, apoia crianças e jovens para que se engajem de forma significativa e segura nos processos relacionados às mudanças climáticas para reduzir as barreiras que os impedem de se envolverem e influenciarem a política e a defesa do clima.

Jovens brasileiros

No Brasil, a pesquisa contou com 384 adolescentes e jovens, a segunda maior representatividade entre os países participantes, com 74% de meninas, 22% de meninos e 2% identificados como não-binários. A maioria com idades entre 15 e 16 anos (53%), seguidos de 17 a 18 anos (24%).

Por aqui, a escola é a principal fonte de conhecimento sobre as mudanças climáticas (89%, seguida de sites na internet (71%) e a TV (59%). Ainda na escola, geralmente o conteúdo faz parte das aulas de Geografia (88%) e de disciplinas ligadas a Ciências (74%). Assim como nos outros.

* A Plan International é uma organização humanitária, não governamental e sem fins lucrativos que promove os direitos das crianças e a igualdade para as meninas. (ecodebate)

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Aquecimento global é pior para os mais pobres

O aquecimento global reflete a desigualdade institucionalizada, pois, atinge diretamente aqueles que possuem os menores recursos à sobrevivência

A organização político-social dos países sempre teve como cerne o elo entre a pessoa humana, a sociedade, a natureza e os fatores ambientais, refletindo-se, portanto, no Direito. Sendo certo que a consciência, dentro da cultura ocidental, veio a ocorrer, apenas, com certa força, partir dos anos 60, quanto a importância da natureza e sua conexão de interesse com a pessoa humana. Assim sendo, dada a importância, o meio ambiente – e o direito sobre ele – ganhou espaço constitucional, sendo declarado como um direito fundamental. Apesar da constitucionalização do direito ambiental, a consciência e a ações humanas, em face do meio ambiente, não correspondem a sua importância.

A mudança de postura institucional e a mudança no padrão de comportamento das pessoas andam a passos curtos à mitigação dos danos já perpetrados, bem como, para a precaução e prevenção de eventuais danos ao meio ambiente. E, há um profundo desinteresse ao conhecimento das consequências dessas ações nocivas ao meio ambiente a curto, a médio e, principalmente, a longo prazo.

Estamos experimentando no Brasil – apesar dos alertas frequentes e das tentativas de normatização nacional e internacional para garantir o meio ambiente, em especial, o acordo de Paris assinado em 2015 – o retrocesso diante das práticas, apesar da política nacional de mudança climática brasileira, as quais vem contribuindo sobremaneira com os resultados desastrosos do avanço ao aquecimento global.

A ONU se pronunciou a poucos dias, sobre o impacto do aquecimento global à humanidade, decorrente da emissão de gases do efeito estufa que, pela emissão contínua, podem romper o limite de temperatura em pouco tempo. Este foi o relatório* emitido pela ONU, por meio do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas ou Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC), órgão criado em 1988 para fornecer aos governos informações científicas sobre a utilização das políticas sobre aquecimento global, sendo que o seu primeiro relatório foi publicado em 1992, o qual já apresentou avaliação abrangente sobre o clima e suas respectivas mudanças. O processo para o efeito estufa se dá pela queima de combustível fóssil – petróleo e carvão – para geração de energia em larga escala, cujo processo libera a emissão de gás carbônico (CO2), óxido nitroso (N2O) e metano (CH4).

Impacto do aquecimento global no PIB per capita. (Fonte: Earth System Science - Universidade de Stanford)

A consequência da emissão desses gases na natureza gera efeitos expressivos ao clima, os quais estão sendo experimentadas por todos nós, nos últimos anos. Há, por parte das instituições governamentais, uma tentativa de equilibrar dimensões incompatíveis e, diante de uma escolha por esses entes, o meio ambiente tem que ser prioridade, pois, ele garante a nossa sobrevivência na Terra. Não resta dúvida que as mudanças no clima são ações antrópicas – ações exercidas pela pessoa humana, que provocam impacto ao meio ambiente -, pois o espaço geográfico reflete a vínculo existente entre a sociedade e a natureza.

A preservação do meio ambiente pede com urgência a revisão e a ressignificação da nossa existência e o compromisso com esta, pois, é uma ação e um compromisso de todos para a eliminação e redução da emissão gazes de efeito estufa, do desmatamento, da poluição e para com a preservação dos recursos hídricos.

Diante dos fatos, é inegável como nós nos encarregamos de levar o planeta ao colapso e, como denunciado por muitos pesquisadores, criamos por nossas ações o maior risco à vida humana que é o aquecimento global (Fredes. 2016). Pode se afirmar, portanto, que a defesa do meio ambiente, hoje, corresponde ao direito de sobreviver. E sobrevivendo já estão os pobres, que são os mais afetados, como sempre, pelo caos.

A Doutora em Serviço Social e Professora da UEPG, Selma Maria Schons, durante o Seminário Internacional que tratou das experiências da agenda 21 e os desafios do nosso tempo, lá 2009, já contribuiu falando sobre o aquecimento global e a condição da pobreza, apontando a contradição do sistema que consome mais do que planeta consegue repor. Asseverando que há um consumo desigual que está pondo em risco toda vida humana. Advertiu, ainda, sobre a desigualdade institucionalizada que faz com que aqueles com maior poder econômico e político não tenham percepção do limite e consciência da sua interdependência ecológica e, há por esses, uma apropriação de bens, obrigando outros a sobreviver com o mínimo, sendo que esses, que já vivem com o mínimo – os pobres – são os que menos contribuem com o descaso com o meio ambiente, porém, são os mais afetados, pois, não possuem os recursos necessários para se adaptar ou se proteger dos impactos que a mudança climática provoca. Não são poucas as notícias veiculadas pela mídia em geral, a respeito de pés.

Como a mudança climática está deixando os países ricos mais ricos, e os pobres mais pobres

Nova pesquisa sugere que o aquecimento global aumentou a desigualdade social ao reduzir o crescimento de países de clima quente, como Índia, Brasil e Nigéria, enquanto países desenvolvidos, como Noruega e Suécia, ficaram ainda mais ricos.

O aquecimento global afeta, também, a segurança alimentar porque o clima afeta o plantio e a colheita, comprometendo a qualidade e quantidade alimentar e nutricional, que já é escassa e comprometida para a população mais pobre. E, também, compromete a soberania alimentar que, segundo o Fórum Mundial sobre o tema, ocorrido em Havana em 2001, é a via para se erradicar a fome e a desnutrição e garantir a segurança alimentar duradoura e sustentável para todos os povos, pois, trata-se do fomento à políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito à alimentação para toda a população.

Portanto, o aquecimento global reflete a desigualdade institucionalizada, pois, atinge diretamente aqueles que possuem os menores recursos à sobrevivência. Por essa razão, nas palavras de Schons é “preciso apostar na mudança de paradigmas, rever nossas ações, atitudes, motivações e valores. Trata-se de uma construção coletiva para desenhar uma nova política com princípios éticos mais favoráveis à vida. Somos assim colocados diante de escolhas: continuar no vício do consumismo sem limites como ‘saqueadores e predadores’, com nossos individualismos ou, coletivamente, tomar consciência, criar resistências, fortalecer as vozes que denunciam os saques e buscam desenvolver os valores da troca e da solidariedade entre os povos, principalmente em vista das gerações futuras”.

Que as nossas ações sejam, portanto, praticadas em defesa da vida e se façam de modo a garantir o meio ambiente sadio para todos, independentemente de sua condição social. (ecodebate)

Fevereiro de 2024 bate recorde de concentração de CO2 e de temperatura

Abrimos as portas do inferno” - Secretário-geral da ONU, António Guterres (2023)

A civilização está seguindo uma rota extremamente perigosa e a emergência climática é a principal ameaça à vida na Terra.

Fevereiro/2024 bateu dois recordes preocupantes. A concentração de CO2 na atmosfera chegou a 424,55 partes por milhão (ppm), um aumento de 4,3 ppm acima do valor de 420,3 ppm de fevereiro/2023. O pico anual da concentração de CO2 ocorre, normalmente, nos meses de maio. Mas fevereiro/2024 já antecipou o recorde e superou também o mês de maio/2023 (424 ppm), conforme mostra a figura abaixo da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos.

A NOAA também divulgou em 06/02/24, que a taxa de crescimento da concentração de CO2 na atmosfera foi de 3,36 ppm em 2023, o valor mais alto já registrado no Holoceno (últimos 12 mil anos) e bem acima da média de 2,4 ppm da década passada. O ano de 2024 caminha para ter uma concentração média em torno de 426 ppm, valor equivalente ao que aconteceu há milhões de anos.

Antes da Revolução Industrial e Energética, a concentração de CO2 na atmosfera, na média, permaneceu abaixo de 280 partes por milhão (ppm), por um longo período de tempo. Mas a queima de hidrocarbonetos turbinou o crescimento demoeconômico, ao mesmo tempo que jogava grandes quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera. O clima do Planeta ficou praticamente estável durante todo o Holoceno. Mas começou a mudar rapidamente no Antropoceno – época em que os seres humanos se transformaram em uma força geológica que está colocando em xeque as condições de habitabilidade da Terra.

Nos últimos 250 anos houve um grande aumento do volume populacional e um progresso extraordinário das condições de vida da humanidade, com redução da mortalidade infantil, aumento da esperança de vida, avanços significativos nos níveis de educação, com significativa melhoria nas condições de moradia e no aumento padrão de consumo. Mas tudo isto teve um custo ambiental terrível, com a aceleração das mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. As emissões globais de CO2 que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram cerca de 40 bilhões de toneladas em 2023.

Em consequência, a concentração de CO2 que manteve uma média entre 200 e 300 ppm durante mais de 800 mil anos, começou a subir no século XIX, atingiu 300 ppm em 1920, chegou a 310 ppm em 1950, alcançou 350 ppm em 1987, registrou 400 ppm no ano do Acordo de Paris, em 2015, e marcou o recorde de 422 ppm no ano de 2023. Agora em fevereiro de 2024 bateu novos recordes absolutos. Este crescimento exponencial da concentração de CO2 na atmosfera é um fato inédito na história da humanidade e nunca tinha sido visto nos últimos 14 milhões de anos.

Segundo o artigo “Toward a Cenozoic history of atmospheric CO2”, publicado na revista acadêmica Science (08/12/2023), a última vez que a atmosfera continha 420 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono foi entre 14 e 16 milhões de anos atrás, quando não havia gelo na Groenlândia e os ancestrais mais próximos dos humanos (hominídeos) ainda não existiam. Isto é muito mais antigo do que os 3 a 5 milhões de anos indicados por análises anteriores.

Este novo estudo é o produto de sete anos de trabalho de um consórcio de 80 investigadores de 16 países e é agora considerado o consenso atualizado da comunidade científica. Se as emissões não sofrerem uma rápida diminuição, a concentração pode aumentar até 600 ou 800 ppm, taxas só alcançadas durante o Eoceno (entre 30 milhões e 40 milhões de anos atrás), quando a vida silvestre e a flora do planeta eram muito diferentes.

Existe uma determinação da física que relaciona as maiores emissões de dióxido de carbono com maior concentração de CO2 na atmosfera, o que aumenta o efeito estufa e eleva as temperaturas médias do planeta. Assim, não é de se estranhar que todos os meses, desde junho de 2023, o limite mínimo de 1,5ºC do Acordo de Paris foi ultrapassado.

Dados do Instituto Copernicus, mostram que o mês de fevereiro de 2024 foi o mês de fevereiro mais quente já registado a nível mundial, com uma temperatura média do ar de 13,54°C, representando 0,81°C acima da média dos meses de fevereiro de 1991-2020 e 0,12°C acima da temperatura do fevereiro mais quente anterior, que foi em 2016. Este é o nono mês consecutivo mais quente já registrado para o respectivo mês do ano. O mês foi 1,77°C mais quente do que uma estimativa da média de fevereiro para 1850-1900, o período de referência pré-industrial designado pelo IPCC, conforme mostra o gráfico abaixo.

A temperatura média global dos últimos doze meses (março/2023 a fevereiro/2024) é a mais alta já registrada, ficando 0,68°C acima da média de 1991-2020 e superando o limite mínimo do 1,56°C acima da média pré-industrial de 1850-1900. A temperatura média global diária foi excepcionalmente elevada durante a primeira metade do mês, atingindo 2°C acima dos níveis de 1850-1900 em quatro dias consecutivos (8-11 de fevereiro).

As temperaturas europeias em fevereiro/2024 situaram-se 3,3°C acima da média de fevereiro de 1991-2020, com temperaturas muito acima da média registadas na Europa Central e Oriental. Fora da Europa, as temperaturas estiveram acima da média no norte da Sibéria, no centro e noroeste da América do Norte, na maior parte da América do Sul, em toda a África e no oeste da Austrália. O El Niño continuou a enfraquecer no Pacífico equatorial, mas as temperaturas do ar marinho em geral permaneceram num nível invulgarmente elevado.

A temperatura média global da superfície do mar (TSM) para fevereiro de 2024, acima de 60°S–60°N, foi de 21,06°C, a mais alta para qualquer mês no conjunto de dados, acima do recorde anterior de agosto de 2023 (20,98°C). A temperatura da superfície do mar é definida sobre o oceano extrapolar global, de 60°S a 60°N. Isto é usado como um diagnóstico padrão para monitoramento climático. A média diária da TSM atingiu um novo máximo absoluto de 21,09°C no final do mês.

Não resta dúvidas de que a civilização humana está seguindo uma rota extremamente perigosa. A emergência climática é a principal ameaça à vida na Terra. Como disse o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres: “Estamos no caminho para o inferno climático”. Se esta rota não for alterada, as consequências serão catastróficas para os ecossistemas, a economia e a população mundial.

Concentração de CO2 na atmosfera da Terra bate novo recorde histórico. (ecodebate)

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Mudanças Climáticas: o que podemos fazer?

Desligue aparelhos e lâmpadas que não estão sendo usados. Dê preferência ao uso de fontes de energia limpa e renováveis, como a energia solar, a energia eólica (dos ventos) e a biomassa. Reduza o consumo de combustíveis fósseis e seus derivados, como o petróleo e a gasolina. Procure deixar o carro em casa.
A última edição da COP28, Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, realizada em dezembro de 2023, teve como uma de suas prioridades as reduções profundas na emissão de carbono, conduta que deve minimizar os impactos ambientais.

Na Conferência, como pontos positivos, podemos destacar o amadurecimento da mentalidade ambiental e o processo de conscientização para as mudanças climáticas, que foi muito beneficiado pelo avanço das novas tecnologias e serviu para fundamentar os alertas dos especialistas com relação aos problemas resultantes do desequilíbrio climático, papel crucial no fomento das discussões e na busca de soluções por parte dos governos dos principais países do mundo.

As empresas passaram a ver o engajamento ambiental de suas marcas como um importante aliado para a construção de uma imagem positiva diante da sociedade e, com isso, houve uma evolução nos processos relacionados à preservação ambiental. Vários resultados têm sido alcançados por iniciativas destinadas a diminuir as emissões de carbono.

Exemplo disso é o projeto de um dos maiores startups de entrega de alimentos do Brasil, que substituiu a entrega motorizada por bicicletas. Além disso, fez parceria com uma empresa fabricante de motos elétricas, o que permitiu a realização de 5,7 milhões de entregas sustentáveis. Somente essa empresa, em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica, investiu no plantio de 50 mil mudas de árvores, o equivalente a 20 campos de futebol. A previsão é que em 20 anos sejam retiradas mais de 8 milhões de toneladas de carbono da atmosfera, quantia correspondente a 28 milhões de entregas.

Apesar de todos os avanços nas áreas governamentais e nas empresas privadas, acredito que o maior avanço ainda está por vir. É preciso conscientizar a sociedade de que a maior e mais impactante fase de contenção das mudanças climáticas irá começar quando a questão ambiental deixar de ser apenas um projeto de governo e se tornar um plano pessoal e de vida de cada cidadão.

A educação ambiental está presente nas escolas, mas precisa estar no âmbito familiar, somente assim atingirá as pessoas em sua totalidade. É nos lares que os principais conceitos são fundamentados, as boas atitudes são consolidadas e a parceria escola-família ganhar um poder transformador.

É o momento de cada indivíduo buscar a sua própria redução da emissão de carbono e pensar no inventário pessoal de carbono zero, ideia que vai em direção à iniciativa chamada de “pegada de carbono pessoal”, em que cada um é responsável por reduzir a sua própria emissão diária.

Se cada cidadão se tornar um agente redutor de carbono, isso poderá se concretizar na maior transformação ambiental já vista na história.

A preservação da vida é responsabilidade de todos e a solução começa com pequenas atitudes. (ecodebate)

Estudo sugere quatro soluções climáticas baseadas na natureza

A conservação e o reflorestamento de florestas tropicais são duas soluções climáticas bem comprovadas baseadas na natureza que podem reduzir o carbono atmosférico. Aqui, uma seção recentemente cortada da Amazônia peruana.

Um novo estudo revisado por pares descobriu que quatro soluções climáticas baseadas na natureza – as que as empresas e outras entidades usam com mais frequência para reivindicar créditos de carbono – têm fundamentos científicos robustos.

Os quatro caminhos são conservação ou reflorestamento de florestas tropicais e conservação ou reflorestamento de florestas temperadas.

A maioria de outros métodos desse tipo precisa de pesquisas adicionais antes que seu potencial possa ser avaliado, dizem os autores. A pesquisa acaba de aparecer na revista Nature Climate Change.

As soluções climáticas baseadas na natureza são estratégias de conservação, restauração ou manejo cujo objetivo principal é mitigar as emissões de gases de efeito estufa ou remover o carbono da atmosfera.

Mais de 100 dos 167 signatários dos Acordos de Paris os incluem como parte de seus planos de mitigação. Muitos, incluindo a Indonésia, a Colômbia e a China, já os estão usando para demonstrar progresso em seus compromissos climáticos.

O estudo analisou a base científica e a confiança de especialistas em 43 soluções. Não examinou a execução de projetos individuais, métodos de cálculo de créditos de carbono ou co-benefícios de projetos de redução de carbono.

Existem protocolos de crédito de carbono para 35 das soluções que os pesquisadores consideraram, e várias entidades usaram 28 das soluções para angariar créditos. A boa notícia: cerca de 70% dos créditos baseados na natureza rastreados pelos pesquisadores foram para projetos nas quatro categorias baseadas na floresta que eles achavam mais credíveis. Outros métodos, como agroflorestas, conservação de manguezais e turfeiras e restauração de pastagens, precisam de mais pesquisas, disseram os autores.

A coautora do estudo, Ruth DeFries, diretora acadêmica da Columbia Climate School, disse: “A urgência pela mitigação climática exige abordagens baseadas em ciência sólida que possa oferecer ações efetivas. O estudo é um apelo para garantir que as soluções climáticas baseadas na natureza se concentrem nas ações que podem proporcionar uma verdadeira mitigação, enquanto continuam a desenvolver a base técnica e científica para outros tipos de ações baseadas na natureza.

Outro coautor do estudo, Steven Hamburg, cientista-chefe do Fundo de Defesa Ambiental, disse: “As soluções climáticas baseadas na natureza são fundamentais para atingir nossas metas climáticas. Este estudo reafirma a força da ciência subjacente a quatro tipos principais de soluções baseadas na natureza e enfatiza a necessidade de se envolver em pesquisas adicionais para esclarecer o potencial de mitigação de outros.

Esta matéria foi republicada por cortesia do Earth Institute, Columbia University, http://blogs.ei.columbia.edu. (ecodebate)

domingo, 14 de abril de 2024

Lixo eletrônico: geração cresce mais que a reciclagem

A geração mundial de lixo eletrônico está aumentando cinco vezes mais rápido do que a reciclagem documentada de lixo eletrônico. 62 milhões de toneladas: Lixo eletrônico gerado em 2022, igual ao peso de 107.000 das maiores aeronaves de passageiros (853 assentos) e mais pesadas (575 toneladas) do mundo.
Lixo eletrônico.

Entenda as tendências, estatísticas e a necessidade urgente de soluções sustentáveis para o manejo do lixo eletrônico (e-waste).

Chamamos “lixo eletrônico” ou “e-waste” os dispositivos que funcionam conectados à rede elétrica ou baterias que são descartados, tais como celulares, brinquedos, televisores, fornos de micro-ondas, cigarros eletrônicos, computadores portáteis, painéis solares e baterias.

Agências da ONU acabam de divulgar relatórios dando conta que a geração de e-waste está aumentando em todo o mundo, enquanto as taxas de reciclagem permanecem baixas e provavelmente cairão ainda mais. Não estão incluídos nos dados divulgados os resíduos gerados por veículos elétricos, que se enquadram em uma categoria separada.

Segundo esses relatórios, cerca de 62 milhões de toneladas de “e-waste” foram geradas em 2022. Esse número pode chegar a 82 milhões de toneladas até 2030.

Metais como cobre, ouro, ferro e terras raras representam a metade do peso do e-waste gerado e valem cerca de US$ 91 bilhões, segundo o relatório.

Reciclagem de lixo eletrônico cresce em 2023, mas ainda está abaixo da capacidade.

Segundo a ONU, 22% da massa de lixo eletrônico foi coletada e reciclada adequadamente em 2022, devendo esse número cair para 20% até o final da década, principalmente em função do aumento do uso desses equipamentos, ciclos de vida de produtos mais curtos, poucas opções para reparo e infraestrutura inadequada de processamento do e-waste.

Apenas 1% da demanda pelas valiosas terras raras, necessárias à fabricação desses produtos, é atendida pela reciclagem.

Cerca de metade de todo o lixo eletrônico é gerado na Ásia, onde poucos países possuem legislação adequada acerca do assunto, cuja aplicação geralmente não é feita de forma rígida. As taxas de reciclagem e coleta ultrapassam 40% na Europa, onde a geração de resíduos per capita é a maior do mundo, chegando quase a 18 kg por ano. Na África, que gera menos e-waste que os demais continentes, as taxas de reciclagem e coleta giram em torno de 1%.

“As pesquisas mais recentes mostram que o desafio global representado pelo lixo eletrônico só vai crescer”, disse Cosmas Zavazava, executivo da International Telecommunication Union, uma das agências da ONU responsáveis pela elaboração dos relatórios. Zavazava disse também que menos da metade do mundo aborda adequadamente o problema e que é necessária regulamentação eficiente para impulsionar a coleta e a reciclagem.

Esse tema merece a atenção de governos, empresas e da sociedade em geral, pelos impactos que pode trazer ao meio ambiente. (ecodebate)

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