sábado, 27 de fevereiro de 2021

Turismo é responsável pelo lixo marinho nas praias do Mediterrâneo

Turismo é o principal responsável pelo lixo marinho nas praias do Mediterrâneo.
A pandemia global COVID19 pode ser uma oportunidade para repensar o modelo de turismo sustentável.

Pesquisadores do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universitat Autònoma de Barcelona (ICTA-UAB) alertam para o impacto do atual modelo de turismo nas ilhas mediterrâneas na produção de lixo marinho nas praias, e recomendam aproveitar a situação gerada pela pandemia Covid19 para repensar um novo modelo mais sustentável.

A pesquisa, publicada recentemente na revista Scientific Reports, mostra que o uso recreativo das praias das ilhas mediterrâneas durante o verão é responsável por até 80% do lixo marinho que se acumula nessas praias, e gera grandes quantidades de microplásticos através da fragmentação de maiores artigos de plástico.

O estudo internacional liderado por pesquisadores do ICTA-UAB analisou os efeitos dos resíduos gerados pelo turismo em oito ilhas do Mediterrâneo nos últimos quatro anos. O lixo marinho, incluindo microplásticos, pode ser definido como qualquer material sólido persistente, manufaturado ou processado descartado, descartado ou abandonado no meio marinho e costeiro. Resulta da atividade humana e pode ser encontrado em todos os oceanos e mares do mundo. “Esta questão ambiental está ameaçando a boa saúde dos ecossistemas marinhos e pode levar à perda de biodiversidade. Ela também pode ter impactos econômicos enormes para as comunidades costeiras que dependem dos serviços ecossistêmicos, aumentando os gastos com limpeza de praias, saúde pública ou eliminação de resíduos”, afirma o Dr. Michaël Grelaud, pesquisador do ICTA-UAB e autor do artigo.

Países que mais poluem recebem milhões de turistas do mundo todo.

Turistas são responsáveis por 40% de todo o lixo no Mar Mediterrâneo, segundo um relatório da organização WWF. Do total de lixo fruto do turismo, 95% é plástico. Turquia, Espanha, Itália, Egito e França são os países que mais poluem o Mar Mediterrâneo, países que recebem mais de 34 milhões de turistas somente do Reino Unido.

A região do Mediterrâneo acolhe cerca de um terço do turismo mundial todos os anos e é particularmente afetada pela poluição ambiental relacionada com este setor. Devido à sua atratividade, as ilhas do Mediterrâneo multiplicam sua população em até 20 durante a alta temporada. Isto representa um desafio para os municípios costeiros, que dependem deste setor mas têm de se adaptar e fazer face ao aumento dos resíduos gerados, inclusive nas praias, pelo afluxo sazonal de turistas. Espera-se que o turismo costeiro seja uma das principais fontes terrestres de lixo marinho.

A quantidade e o tipo de resíduos coletados foram caracterizados durante 147 pesquisas de lixo marinho realizadas durante a temporada de turismo baixa e alta de 2017, em 24 praias de 8 ilhas mediterrâneas diferentes. Os resultados mostram que a grande maioria dos itens coletados são de plástico, pois representam mais de 94% do lixo marinho.

Durante o verão, em média 330 itens se acumulam por 1000m2 de praia por dia nas praias turísticas mais populares, 5,7 vezes mais do que na baixa temporada. Isso representa um item a cada três etapas. O número de itens provavelmente deixados nas praias pelos visitantes, como bitucas de cigarro, canudos ou latas de bebidas, representam mais de 65% da quantidade de lixo marinho que se acumula nas praias mais procuradas pelos turistas. Isso pode aumentar até 80% se os microplásticos grandes forem incluídos como sugerido pelos resultados: durante o verão, os itens de plástico deixados na praia sofrerão fragmentação sob os efeitos combinados da irradiância solar e atrito com a areia, acelerados pelo alto volume de visitantes. Extrapolado para todas as ilhas do Mar Mediterrâneo,

Em 2019, e após a realização de campanhas de sensibilização cidadã, os resultados apontaram para uma diminuição de mais de 50% dos itens associados a visitantes.

“Esses resultados muito encorajadores provavelmente se beneficiam da crescente atenção do público à poluição do plástico nos oceanos ou às medidas adotadas pela Comissão Europeia para reduzir o lixo marinho, como a diretriz de uso único do plástico”, diz a Dra. Patrizia Ziveri, Professor Pesquisador do ICREA do ICTA-UAB.

Além disso, eles lembram que “o confinamento pela COVID19 e a redução drástica temporária do turismo associada oferece uma oportunidade para repensar a importância fundamental do turismo sustentável para garantir um futuro saudável para o meio ambiente e, portanto, também para as pessoas”, Dr. Patrizia Ziveri conclui.

72% do lixo nas praias portuguesas é plástico.

Os plásticos dominam os resíduos encontrados no Mediterrâneo, a maior parte com origem na Turquia e Espanha, e afetam Portugal, alertou a organização ambientalista internacional WWF. (ecodebate)

Retorno dos EUA ao Acordo de Paris pressiona o Brasil

Retorno dos EUA ao Acordo de Paris pressiona o Brasil a honrar compromissos.
PRI – Principles for Responsible Investment

Ações ambientais do governo Biden impactam o Brasil – Retorno dos EUA ao compromisso internacional pressiona país a seguir a conduta dos signatários.

Ao assinar o retorno dos EUA ao Acordo de Paris, compromisso mundial para redução das emissões de gases de efeito estufa, o presidente americano Joe Biden não apenas mostra seu posicionamento interno e externo, como afeta a política ambiental de outras nações, inclusive o Brasil. Para Alessandro Azzoni*, professor, economista e especialista em Direito Ambiental, um dos efeitos mais imediatos pode ser o recebimento de recursos destinados ao meio ambiente. “Os países ricos signatários do acordo têm que destinar recursos para os países subdesenvolvidos. A economia americana tem a capacidade de financiar as ações de tratamento de resíduos e de esgotos, cuidar do processo de recuperação ambiental e, ainda, auxiliar na mudança de cultura de produção industrial”, explica.

O posicionamento de Biden tem forte impacto internacional porque dita como deve ser a conduta para todos os outros países. “Para nós, os recursos seriam importantes para a redução do desmatamento e o reflorestamento de áreas degradadas, entre outras medidas, mas o posicionamento americano deixa claro que os países que forem contra o acordo sofrerão represálias”.

O Pantanal registrou em 2020 o maior número de focos de queimada desde 1998.

Para atingir a meta do Acordo de Paris, Brasil terá de cortar mais carbono.

Observatório do Clima divulga os números mais recentes sobre as emissões do país. Desmatamento deve impactar negativamente os resultados.

Na gestão anterior dos EUA, explica Azzoni, Donald Trump incentivou a industrialização, saiu do Acordo de Paris e flexibilizou normas ambientais, voltando sua economia só para crescimento, alegando ser cético sobre o impacto da produção humana para o aquecimento global. No entanto, o mundo pensa diferente do ex-presidente americano: hoje o Acordo de Paris é o principal tratado mundial do tema, estabelecido pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), com quase 200 países signatários e que substituiu o Protocolo de Kyoto. Entre suas metas, estão: manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, limitando-se a 1,5ºC; investir em modelos de energia que saiam da matriz fóssil garantir que nações ricas destinem US$ 100 bilhões ao ano em ações de combate às mudanças no clima do planeta e de ajuda a países em desenvolvimento para implantar essas ações.

Alessandro Azzoni pondera que mesmo após essa mudança em relação ao governo anterior, Joe Biden tem questões internas pendentes. “Todas as medidas do governo Trump ocorreram por meio de decretos e foi mais fácil para o novo presidente recompor a posição do país no tema ambiental. O que não será fácil é cumprir as metas do acordo, porque os países signatários têm que elaborar uma política de emissão de gases de efeito estufa e, na prática, isso quer dizer rever a matriz energética, meios de transporte e linhas de produção”, enumera.

Segundo o professor, as ações são desafiadoras para o líder americano porque todas essas mudanças terão que ser discutidas nos congressos e com a indústria do país. “Se o país não tomar medidas realmente concretas, as ações se mostram apenas paliativas e não ativos ambientais. Não foram firmados compromissos com prazos, apesar da citação do ano de 2035 para reformulação da matriz energética”, destaca ele.

(ecodebate)

Sítios de Patrimônio Mundial Natural estão sob ameaça devido a mudança climática

Sítios de Patrimônio Mundial Natural estão sob ameaça por causa da mudança climática.
Parque Nacional do Iguaçu.

Um levantamento da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês) constatou que um terço dos Sítios de Patrimônio Mundial Natural estão sob ameaça por causa da mudança climática.

O estudo destaca que áreas como a Grande Barreira de Coral australiana, o maior recife de corais do mundo, já estão sendo afetadas e foram classificadas como conservação “crítica”.

Entre os 83 Sítios do Patrimônio Mundial Natural que estão sofrendo com a mudança climática também estão as Áreas Protegidas da Região Floral do Cabo, na África do Sul, onde a alteração exacerbou a disseminação de espécies invasoras; Área de Conservação do Pantanal no Brasil, que foi severamente danificada por incêndios florestais; o Lago Kluane, localizado em um sítio do Patrimônio Mundial no Canadá e nos Estados Unidos, que está sofrendo com o rápido degelo da geleira Kaskawulsh, fato que acabou mudando o fluxo do rio, esgotando as populações de peixes.

Rodrigo Silva, coordenador do curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário Internacional Uninter, explica que estes locais “são áreas excepcionais com grande valor cultural e natural devido à sua grande diversidade biológica (ou biodiversidade). Além disso, são regiões reconhecidas pela UNESCO e que tem como principal função a preservação dessa diversidade e de populações tradicionais que ali vivem”, afirma.

Segundo o professor, as mudanças climáticas são o principal problema ambiental que será vivenciado nas próximas décadas. “Estudos apontam que, até o ano de 2050, o planeta aquecerá cerca de 2°C a mais do que hoje. Isso significa dizer que teremos mais enchentes e alagamentos, alteração do regime de chuvas com períodos de seca e estiagem mais severos, aumento dos níveis dos mares e oceanos bem como aumento no seu processo de acidificação, desertificação de ambientes e perda de biodiversidade. Obviamente, tudo isso está estreitamente relacionado a enormes perdas econômicas, sociais e ambientais”, comenta.

Mudança climática ameaça Patrimônio Mundial Natural.

Sítios do Patrimônio Mundial Natural

O material, que usou como base dados de 2014 e 2017, foi desenvolvido a fim de diagnosticar se a conservação dos 252 sítios do Patrimônio Mundial Natural é suficiente para protegê-los a longo prazo. De acordo com o relatório, a mudança climática ultrapassou as espécies invasoras como a principal ameaça ao Patrimônio Mundial natural.

Silva acredita que mecanismos de preservação e conservação da nossa biodiversidade indicam que a humanidade está no caminho certo. No entanto, é preciso que essas políticas sejam implementadas de maneira permanente e que, além disso, a população também seja orientada a como diminuir a sua própria pegada ecológica.

“Por serem locais de altíssima biodiversidade (natural e cultural), esses sítios são primordiais para a conservação desse tesouro. No entanto, é preciso que haja políticas públicas eficazes que fomentem positivamente o processo de gestão dessas áreas. Além disso, temos que realizar um trabalho voltado à educação ambiental dos cidadãos”, afirma Silva.

Uma alternativa apresentada pelo professor é a utilização destas áreas para o desenvolvimento do turismo ecológico e, consequentemente, geração de emprego e renda para as populações locais. “O uso dessas áreas com responsabilidade e gestão pode ser uma excelente ferramenta de promoção de conscientização e sensibilização dos cidadãos brasileiros”.

Atualmente, o Brasil tem sete locais considerados como Sítios do Patrimônio Mundial Natural. São eles: Parque Nacional de Iguaçu (Foz do Iguaçu/PR e Argentina), As Reservas de Mata Atlântica do Sudeste (Paraná e São Paulo), Costa do Descobrimento (Reservas da Mata Atlântica, Bahia e Espírito Santo), Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central, Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), Áreas protegidas do Cerrado: Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas (Goiás), Ilhas Atlânticas Brasileiras: Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas.

Centro de Excelência ARC para Estudos de Recifes de Coral.

Um terço do patrimônio natural mundial é ameaçado pela mudança climática. (ecodebate)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Ecoparques ajudam desenvolvimento positivo pela Economia Circular

Ecoparques auxiliam no desenvolvimento positivo através da Economia Circular.
A economia circular que está ganhando o mundo e já tem boas iniciativas no Brasil.

Repensar a forma de desenhar, produzir e comercializar produtos para garantir o uso - e reuso - inteligente dos recursos naturais. Esta é a proposta da economia circular, que está ganhando o mundo e já tem boas iniciativas no Brasil.

Criação de Ecoparques: a saída para o uso inteligente de resíduos sólidos urbanos no Brasil.

A gestão de resíduos sólidos tem se tornado um assunto cada vez mais comentado ao redor do mundo na última década. O grande volume de consumo nas cidades resulta em uma geração de resíduos sólidos urbanos bastante alta, crescimento este que, infelizmente não possui gestão adequada. Essa gestão inadequada traz consequências danosas para o meio ambiente e para a saúde das pessoas com contaminação do solo, do ar e dos recursos hídricos. Grande parte dos resíduos poderiam ser reaproveitados ou transformados em produtos de valor agregado (Economia Circular), poupando recursos naturais, financeiros e emissões de gases do efeito estufa (GEE).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sancionada em 2010, foi um marco importante para o setor e a iminência da aprovação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PLANARES) traz à tona metas importantes para o gerenciamento adequado de resíduos sólidos, como metas de redução de aterramento, reciclagem e estabilização da fração orgânica. Entretanto, há poucas adequações no país, os lixões ainda existem e o Brasil precisa evoluir bastante em todos os setores, públicos e privados. Após 10 anos da Lei Federal nº 12.305/10, os índices relacionados à coleta regular, coleta seletiva, reciclagem, estabilização dos biodegradáveis e destinação final adequada dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) ainda são insatisfatórios.

De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) em 2020, através do “Panorama dos Resíduos Sólidos”, a geração de RSU no Brasil na última década registrou crescimento considerável, passando de 67 milhões para 79 milhões de toneladas por ano. Deste total, foram coletados 58,7 milhões de toneladas em 2010 e 72,7 milhões de toneladas em 2019. Isso equivale a 140 maracanãs cheios de lixo.

A coleta regular é a etapa inicial necessária para viabilizar um sistema adequado de gestão de resíduos, e, apesar do avanço registrado, o país ainda apresenta déficit na abrangência desses serviços e 6,3 milhões de t/ano seguem abandonadas no meio ambiente – impactando diretamente na saúde de 77,65 milhões de brasileiros, com um custo ambiental e para tratamento de saúde de cerca de USD 1 bilhão por ano.

Já sobre a coleta seletiva, os dados mostram que, em 2010, 3.152 municípios registravam alguma iniciativa de coleta seletiva, enquanto na década seguinte esse número aumentou para 4.070 municípios. Apesar do crescimento, em muitos municípios as atividades de coleta seletiva ainda não abrangem a totalidade de sua área urbana. As iniciativas ainda são bastante iniciais e a falta de separação, de infraestrutura e de logística refletem na sobrecarga do sistema de destinação final e na extração de recursos naturais.

Maior parte dos RSU coletados no Brasil seguem para disposição em aterros sanitários, tendo sido registrado um aumento de 10 milhões de toneladas em uma década, passando de 33 milhões de t/ano para 43 milhões de t/ano. Por outro lado, a quantidade de resíduos que segue para unidades inadequadas (lixões e aterros controlados) também cresceu, passando de 25 milhões de t/ano para pouco mais 29 milhões de t/ano. Atualmente, 40,5% dos resíduos no Brasil têm sua destinação final feita de maneira inadequada.

A gestão da fração orgânica é outro grande desafio. Apesar de representar a maior fração dos RSU (51,4%), a gestão adequada ainda é insignificante. Segundo o PLANARES, em 2018 foram coletadas 37 milhões de toneladas de orgânicos e apenas 127.498 toneladas, ou seja, apenas 0,34% desta fração foi submetida a um tratamento adequado, que poderia ser utilizada para gerar eletricidade, combustível veicular e industrial, composto orgânico (reciclando carbono e nutrientes), material de cobertura de aterro, dentre outros. Lembrando que o tratamento desta fração caracteriza-se como índices de reciclagem de materiais.

Para evoluirmos na quantidade de resíduos reciclados, do ponto de vista da hierarquia das alternativas de tratamento de resíduos está o Ecoparque, uma instalação que segrega, processa e transforma as frações dos resíduos em produtos de valor agregado (recicláveis secos, resíduos para aproveitamento energético (RSUE), composto, biogás/biometano, energia elétrica, energia térmica, material de cobertura de aterro, dentre outros).

Neste sentido, precisamos aumentar o número de Ecoparques no país, gerando possibilidades de uso dos resíduos, reduzindo significativamente a destinação final diretamente no aterro. Pensando nisso, nós, da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, em parceria com a Abema (Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente), estamos trabalhando em um plano para elaborar normas que definam o que é um Ecoparque e quais devem ser os processos, etapas e a caracterização desde o ponto de coleta até o processamento e entrega dos produtos finais. Além disso, estamos fazendo uma força-tarefa para atualizar e elaborar novas normas referentes aos setores de meio ambiente, resíduos e saneamento que trabalharão todas integradas.

Somente a regulamentação e a transparência das etapas dos processos relacionados poderá facilitar a estruturação deste modelo de negócios, trazendo segurança jurídica para que o mercado possa investir na criação de Ecoparques, como aconteceu em diversos países na Europa, possibilitando ao Brasil ter uma escala maior de resíduos destinados adequadamente e de acordo com uma normalização nacional e procedimento único.

E-Cycle ou economia circular propõe uma mudança em toda a nossa maneira de consumir, da matéria-prima até o produto final, com a destinação dele para ser utilizado na matéria prima inicial.

As normas também auxiliam no ciclo de desenvolvimento positivo gerado através da Economia Circular, que propõe que os resíduos de um setor sejam aproveitados por outros como matéria-prima, permitindo que os produtos e serviços retornem à natureza com menor impacto ambiental.

*Mario William Esper é Presidente da ABNT, Engenheiro Civil, Mestre em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP. (ecodebate)

Embalagens sustentáveis para seu restaurante ser amigo do meio ambiente

A embalagem sustentável mais conhecida e popular do mundo é a casca da banana. Pense bem, ela nasce junto com a fruta, portanto, não custa nada. Mantém a parte comestível protegida, é fácil de tirar e, em pouquíssimo tempo, desaparece na natureza causando zero impacto para o ambiente. Só tem um problema, a casca da banana só é embalagem para a banana.

Quando pensamos em embalagem sustentável, é importante pensar em toda a vida deste produto – desde a extração da matéria-prima, produção, no uso e reuso adequado, nas possibilidades de reciclagem ou absorção no meio ambiente e, claro, nos custos envolvidos.

Embalagens sustentáveis tradicionais

Vidro

Nós já usamos, por séculos, uma embalagem sustentável de muita qualidade: o vidro. Apesar de ser produzido a partir de mineral (a areia), o vidro é infinitamente reutilizável quando higienizado corretamente. São um material tão nobre que vinhos e uísques bem lacrados duram décadas armazenados em vidro. E mesmo quando o vidro se quebra, quando descartado corretamente, ele pode ser reciclado em quase toda sua integralidade.

Por essas propriedades, a escolha do vidro em um programa de sustentabilidade de seu estabelecimento, pode representar também um dos mais antigos programas de fidelização de um cliente: a embalagem retornável.

Alumínio

Por incrível que pareça, o alumínio também pode ser considerado uma embalagem sustentável, ainda que sua origem esteja na mineração extrativista. O alumínio é reciclável com custos muito mais baixos que sua extração. Saiba que no Brasil (que é um campeão absoluto em reciclagem de alumínio), 90% da matéria-prima utilizada do metal são provenientes da reciclagem. Conta a favor do alumínio, ainda, o fato de não ser nocivo à saúde humana e acomodar perfeitamente os mais variados produtos comestíveis.

Papel

Se formos pensar no papel, temos uma embalagem sustentável, à base de celulose, criada e utilizada por mais de 10 mil anos. E trata-se de uma opção que abrange dois ideais: é biodegradável e reciclável. Isso significa que, mesmo que você ou seus consumidores não tenham uma forma de direcioná-las para compostagem, elas podem ser direcionadas para reciclagem através da coleta seletiva.

Dentre as embalagens sustentáveis tradicionais, uma delas sempre surpreende: o celofane. Ainda que tenha aspecto plástico, o celofane é produzido a partir da celulose, sendo uma fonte totalmente vegetal. Por esse motivo, é biodegradável e também compostável, podendo ser utilizado para embalar alimentos, cosméticos secos, lembrancinhas e muito mais. Porém, a sua desvantagem é que não pode ser utilizado para embalar substâncias aquosas e não pode ser reciclado, caso seja colocado na coleta seletiva.

A natureza também reserva boas surpresas

Com o passar dos anos, os tipos de embalagens criadas a partir de resíduos vegetais se multiplicou. Do bagaço da cana de açúcar a embalagens feitas com cogumelo, atualmente é possível encontrar muitas opções.

Porém, deve-se considerar com cuidado seu uso. Ainda que tragam consigo certo charme na sua utilização, cada uma delas possui características físicas (resistência, tolerância ao calor e permeabilidade) únicas. Mas, de modo geral, podemos afirmar que ao não serem misturadas a outros tipos de compostos, elas se configuram como embalagens biodegradáveis e compostáveis. Assim, sua maior vantagem é a neutralização do impacto no planeta quando descartadas corretamente, mas o seu custo costuma ser maior do que as embalagens convencionais.

Por exemplo, as embalagens de fécula de mandioca estão incluídas na categoria de embalagens sustentáveis, já que são compostáveis, biocompatíveis e recicláveis. No entanto, o custo é mais que o dobro do que se paga pelo isopor. E elas só podem ser utilizadas para alimentos secos ou de consumo imediato. Do contrário, em contato com umidade por muito tempo, se desmancham.

Outro insumo que tem sido explorado é o bagaço da cana-de-açúcar. Alguns testes mostraram seu potencial para produzir um material que se decompõe em apenas um mês. Mas, seus custos e potencialidade de ser implementada em larga escala, no entanto, ainda não foram contabilizados.

Embalagens sustentáveis de fibra de coco foram especialmente projetadas para embalar alimentos. Diferente de alguns tipos de plástico, as embalagens de fibra de coco não são nocivas ao organismo humano, já que não contém bisfenóis, por exemplo, (também conhecidos pela sigla BPA, Bisfenol A é um tipo de resina usada na maioria dos plásticos e em embalagens metálicas. Esse composto orgânico sintético é sólido, incolor e pouco solúvel em água). São embalagens sustentáveis, já que não demandam alta tecnologia para serem desenvolvidas. Com matéria-prima nacional, podem voltar para a fábrica para serem recicladas e permitem ser biodegradadas, se descartadas no solo.

Importante lembrar que até sua aparência combina com a comercialização de frutas, verduras e outros alimentos naturais.
Embalagens sustentáveis plásticas

Embalagem de plástico de milho e bactérias é um plástico feito por meio da biossíntese de carboidratos da cana-de-açúcar, do milho, ou de óleos vegetais de soja e palma. Embalagens biodegradáveis de PLA (poliácido lático), as embalagens sustentáveis feitas a partir do milho e da biossíntese das bactérias são biocompatíveis (não promovem reações tóxicas e imunológicas) e biodegradáveis.

Porém, esse tipo de plástico não pode ser utilizado em embalagens de prateleira, pois podem contaminar alimentos, a não ser que seja para servir comida na hora. Outra desvantagem desse tipo de embalagem é que ela é, em média, 40% mais cara do que as embalagens convencionais.

Já o PLA ou poliácido lático é um tipo de plástico biodegradável criado para substituir os plásticos convencionais. Tem como maiores diferenciais, além da biodegradação, a reciclabilidade, a vantagem de ser compostado e a possibilidade de ser utilizado para diversas finalidades (embalagens de alimentos, de cosméticos, sacolas e outros). Porém, cuidado! Não é resistente a altas temperaturas e a fortes impactos. Vale ressaltar que sua degradação ocorre de seis meses a dois anos e, depois de ser dissolvido, ele vira ácido lático, substância química não tóxica, produzida naturalmente por mamíferos.

Cabe destacar que sua decomposição só ocorre quando ele é descartado corretamente para a compostagem, pois necessita de condições específicas – bem diferentes das propiciadas em aterros ou lixões.

Como escolher sua embalagem sustentável para seu estabelecimento

Sabendo os tipos de embalagem sustentável, você deve sempre considerar sua adequação ao produto que está comercializando. Afinal, a relação entre a embalagem e o conteúdo irá determinar a durabilidade. Por outro lado, também deve ser considerada a relação com o cliente, já que algumas embalagens precisam ser destinadas de forma adequada para a compostagem ou para a reciclagem e, portanto, é necessário educar o consumidor.

Independentemente da sua escolha, o importante é saber que a tendência é que, em determinados segmentos da alimentação, a adoção das embalagens sustentáveis é quase uma imposição do consumidor e, mesmo que implique em elevação de custos, uma boa campanha de sustentabilidade pode até mesmo gerar aumento de vendas e fortalecer a sua marca.
Alumínio é considerado uma opção sustentável, assim como o vidro, ele tem a capacidade de ser reciclado diversas vezes sem perder suas propriedades.

Informação interessante é que se 1 kg de alumínio for reciclado, 1 kg de alumínio será recuperado no processo, assim, além de manter os alimentos aquecidos e resfriados, ele se mostra uma boa opção de embalagem sustentável para restaurantes e lanchonetes.

A perda está na parte da personalização, já que o material não pode passar por processo de customização, o que impede a marca de utilizar sua identidade visual nas embalagens e de se comunicar com o cliente através da caixinha de comida. (blog.alelo)

A população brasileira se preocupa com o meio ambiente

A população brasileira tem preocupação em relação ao meio ambiente.

Levantamento mostra ainda que consumidores e eleitores já fazem escolhas cada vez mais coerentes com seus valores ambientais.

4 em cada 5 brasileiros acham que as queimadas na Amazônia prejudicam a imagem do Brasil no exterior e 78% entendem que elas podem prejudicar também as relações comerciais com outros países. Para 77% dos brasileiros, proteger o meio ambiente é mais importante, ainda que isso signifique menos crescimento econômico. Entre os brasileiros, é praticamente uma unanimidade que o aquecimento global está acontecendo (92%) e já pode prejudicar – e muito – a atual geração (72%). E a relação entre queimadas e clima é percebida por quase todos os brasileiros: 90% concordam que as queimadas na Amazônia são uma ameaça para o clima e o meio ambiente do planeta e 92% acreditam que elas prejudicam a qualidade de vida da população.

Conclusões da pesquisa IBOPE Inteligência encomendada pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade – ITS Rio em parceria com o Programa de Comunicação de Mudança Climática da Universidade de Yale (Yale Program on Climate Change Communication) com brasileiros de todas as regiões, classes e níveis de escolaridade, refletindo o perfil da população brasileira acima dos 18 anos. Ela mostrou percepções e opiniões da sociedade, que de forma geral vão no sentido contrário a algumas das políticas ambientais do país.

A pesquisa traz também um recado importante para políticos e empresários: quase metade dos brasileiros (42%) declarou já ter votado em algum político em razão de suas propostas para defesa do meio ambiente e mais da metade (59%) deixou de comprar ou usar algum produto que prejudique o meio ambiente.

“Atual política ambiental do Brasil nos isola no cenário internacional e pode custar empregos e atrasar nossa recuperação pós-Covid. O Brasil caminha na direção contrária do que esperam os investidores e líderes internacionais, bem no momento em que o mundo se realinha para combater o problema das mudanças climáticas”, analisa Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Quando perguntados sobre quem pode contribuir para resolver o problema das mudanças climáticas, os governos e as empresas foram os mais citados, por 35% e 32% dos entrevistados, respectivamente. “O entendimento dos brasileiros reflete o que desejam consumidores e investidores. As empresas devem buscar desempenhar um papel mais estratégico no desenvolvimento sustentável. Várias corporações já se uniram nesse esforço, mas precisamos avançar mais se quisermos permanecer relevantes nas cadeias econômicas globais”, completa Marcello Brito, representante da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento que reúne mais de 270 organizações do setor privado, financeiro, sociedade civil e academia.

A ação humana é vista como a principal causa das queimadas na Amazônia para 77% dos brasileiros. Na questão sobre quem causa as queimadas, os entrevistados podiam apontar mais que um responsável. Os mais citados foram madeireiros (76%), agricultores (49%), pecuaristas (48%) e garimpeiros (41%). Mesmo quando se considera apenas o indicado em primeiro lugar, estes atores continuam sendo os mais citados. Perguntados sobre de quem é a responsabilidade em contribuir para resolver o problema, mais da metade da população (54%) entende que a responsabilidade é do governo.

Segundo Anthony Leiserowitz, diretor do Yale Program on Climate Change Communication, há semelhanças e diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos: “Os resultados são fascinantes – eles nos ajudam a entender a opinião pública brasileira e fornecem um contraste muito interessante com a opinião pública nos Estados Unidos. Por exemplo, 92% dos brasileiros entendem que o aquecimento global está acontecendo. Nos Estados Unidos, esse percentual é de apenas 73%. Da mesma forma, 78% dos brasileiros dizem que o aquecimento global é uma questão muito importante, em comparação com apenas 37% dos americanos. Ao mesmo tempo, também vemos padrões semelhantes entre os dois países. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, os jovens, aqueles que se declaram mais à esquerda no espectro político, com ensino superior e as mulheres, afirmam conhecer mais e estar mais preocupados com as mudanças climáticas, o desmatamento e o meio ambiente do que os entrevistados mais velhos, que se declaram mais à direita politicamente, com menor grau de instrução e homens. Esperamos que esses resultados sejam úteis para muitos atores no Brasil, como funcionários do governo, líderes empresariais e organizações da sociedade civil”.

Para Rosi Rosendo, diretora de contas na área de Opinião Pública, Política e Comunicação do IBOPE Inteligência, “Os resultados da pesquisa apontam para uma grande preocupação da população brasileira em relação ao meio ambiente, pauta que tem tomado conta dos noticiários nos últimos anos, principalmente em função das queimadas que ocorreram na Amazônia em 2019 e no Pantanal e no Cerrado no segundo semestre de 2020, ambos acontecimentos tiveram forte repercussão internacional. As queimadas foram percebidas pelos brasileiros como acontecimentos que prejudicam a imagem do Brasil no exterior e que podem até impactar negativamente a relação comercial com outros países. No entanto, ainda que a população considere importante a preservação do meio ambiente, há muito que se avançar em termos de educação e disseminação de conhecimento sobre as mudanças climáticas e o aquecimento global, já que apenas um em cada cinco brasileiros declarou saber muito sobre o assunto, resultados que devem ser levados em conta tanto pelo governo quanto pelas empresas em ações de preservação do meio ambiente”, acrescenta Rosendo.

Fabro Steibel, diretor do ITS, explica que novas rodadas da pesquisa serão realizadas e que o objetivo é medir a percepção do brasileiro sobre o clima ao longo dos anos. “Nós percebemos que há pesquisas sobre a percepção de clima, mas elas não têm continuidade. Dando continuidade, poderemos acompanhar se haverá evolução da preocupação”.

A relação entre o meio ambiente e as empresas.

“Mudanças Climáticas: a Percepção dos Brasileiros” é uma pesquisa quantitativa realizada pelo IBOPE Inteligência com uma amostra de 2.600 entrevistas, representativa da população brasileira com 18 anos ou mais em todas as regiões do Brasil. O período de campo foi de 24/09 à 16/10/2020, após o qual o ITS se dedicou à análise dos dados em conjunto com os seus parceiros. A margem de erro é de 2% para o total da amostra, considerando-se um nível de confiança de 95%. (ecodebate)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Impactos dos incêndios na condição da água do Pantanal

Pesquisa avalia impactos dos incêndios na condição da água do Pantanal.
RPPN SESC Pantanal.

Parte da pesquisa é realizada na maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do país, a RPPN SESC Pantanal.

Avaliar como os recentes incêndios, ocorridos em 2020, irão afetar as condições físicas, químicas e biológicas do ecossistema pantaneiro é o objetivo da pesquisa realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com o apoio do Polo Socioambiental SESC Pantanal, ao longo do rio Cuiabá. Na semana em que se comemora o Dia Mundial das Áreas Úmidas (02/01), instituições atuantes no Pantanal destacam a importância do estudo na maior planície inundável do mundo para a proposição de ações de prevenção e manejo do fogo.

O projeto de pesquisa realizado em um dos limites da maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do país, a RPPN SESC Pantanal, é coordenado pelo Instituto de Biociências da UFMT. Conforme o pesquisador Ibraim Fantin da Cruz, doutor em Recursos Hídricos da UFMT, serão avaliadas as possíveis consequências dos incêndios sobre a estrutura e composição dos micro-organismos aquáticos, base da cadeia alimentar dos peixes e, com isso, contribuir para a gestão dos recursos hídricos e pesqueiros no Pantanal, bem como para a proposição de ações de prevenção e manejo do fogo e para as mudanças climáticas na região.

De acordo com Ibraim, a porção baixa da bacia do rio Cuiabá, localizada no Pantanal, entre os municípios de Poconé e Barão de Melgaço, foi uma das mais afetadas e é justamente onde vivem muitas comunidades tradicionais que dependem da pesca para a sua sobrevivência, além de ser uma região ecoturística.

Apesar da escassez de estudos, algumas pesquisas científicas têm apontado que a presença das cinzas dos incêndios altera a composição química do solo e, quando ocorre o escoamento superficial, após as primeiras chuvas, substâncias presentes nelas atingem as águas dos rios, contaminando-as.

Compostos nitrogenados e potássio, especialmente, ao atingir a água em altas concentrações, se tornam tóxicos às espécies aquáticas e aos organismos do solo e também afetam a qualidade da água, podendo causar mortandade ou redução da população de peixes e, possivelmente, alterar a comunidade de micro-organismos aquáticos, fundamentais para a alimentação dos peixes.

Também estão sendo investigados os impactos do fogo sobre a fauna e flora terrestres, como forma de conhecer e quantificar os prejuízos dos incêndios florestais ao Pantanal, bem como responder aos anseios e demandas da sociedade e da comunidade científica, para criar mecanismos de proteção e de subsidiar ações emergenciais e preventivas no futuro.

Ibraim explica que a pesquisa é baseada em coletas de água do rio Cuiabá realizadas em duas campanhas. 1ª coleta foi realizada antes das primeiras chuvas. 2ª ocorrerá após o início das chuvas, quando o rio Cuiabá começa a aumentar o volume de água pelo escoamento superficial da bacia. Estão sendo amostrados 30 pontos de coleta, que foram marcados através de imagens de satélite das áreas mais afetadas pelo fogo, compreendendo o trecho de cerca de 300 km do rio Cuiabá entre Santo Antônio do Leverger e Porto Jofre.
RPPN SESC Pantanal.

Parte da pesquisa é realizada na maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do país, a RPPN SESC Pantanal.

Avaliar como os recentes incêndios, ocorridos em 2020, irão afetar as condições físicas, químicas e biológicas do ecossistema pantaneiro é o objetivo da pesquisa realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com o apoio do Polo Socioambiental SESC Pantanal, ao longo do rio Cuiabá. Na semana em que se comemora o Dia Mundial das Áreas Úmidas (02/01), instituições atuantes no Pantanal destacam a importância do estudo na maior planície inundável do mundo para a proposição de ações de prevenção e manejo do fogo.

O projeto de pesquisa realizado em um dos limites da maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do país, a RPPN SESC Pantanal, é coordenado pelo Instituto de Biociências da UFMT. Conforme o pesquisador Ibraim Fantin da Cruz, doutor em Recursos Hídricos da UFMT, serão avaliadas as possíveis consequências dos incêndios sobre a estrutura e composição dos micro-organismos aquáticos, base da cadeia alimentar dos peixes e, com isso, contribuir para a gestão dos recursos hídricos e pesqueiros no Pantanal, bem como para a proposição de ações de prevenção e manejo do fogo e para as mudanças climáticas na região.

De acordo com Ibraim, a porção baixa da bacia do rio Cuiabá, localizada no Pantanal, entre os municípios de Poconé e Barão de Melgaço, foi uma das mais afetadas e é justamente onde vivem muitas comunidades tradicionais que dependem da pesca para a sua sobrevivência, além de ser uma região ecoturística.

Apesar da escassez de estudos, algumas pesquisas científicas têm apontado que a presença das cinzas dos incêndios altera a composição química do solo e, quando ocorre o escoamento superficial, após as primeiras chuvas, substâncias presentes nelas atingem as águas dos rios, contaminando-as.

Compostos nitrogenados e potássio, especialmente, ao atingir a água em altas concentrações, se tornam tóxicos às espécies aquáticas e aos organismos do solo e também afetam a qualidade da água, podendo causar mortandade ou redução da população de peixes e, possivelmente, alterar a comunidade de micro-organismos aquáticos, fundamentais para a alimentação dos peixes.

Também estão sendo investigados os impactos do fogo sobre a fauna e flora terrestres, como forma de conhecer e quantificar os prejuízos dos incêndios florestais ao Pantanal, bem como responder aos anseios e demandas da sociedade e da comunidade científica, para criar mecanismos de proteção e de subsidiar ações emergenciais e preventivas no futuro.

Ibraim explica que a pesquisa é baseada em coletas de água do rio Cuiabá realizadas em duas campanhas. 1ª coleta foi realizada antes das primeiras chuvas. 2ª ocorrerá após o início das chuvas, quando o rio Cuiabá começa a aumentar o volume de água pelo escoamento superficial da bacia. Estão sendo amostrados 30 pontos de coleta, que foram marcados através de imagens de satélite das áreas mais afetadas pelo fogo, compreendendo o trecho de cerca de 300 km do rio Cuiabá entre Santo Antônio do Leverger e Porto Jofre.
Benefícios das áreas úmidas

As áreas úmidas geram inúmeros benefícios aos seres vivos, incluindo os seres humanos. São um dos maiores estoques terrestres de carbono do planeta, atuam na redução de poluentes, amenizam processos erosivos, produzem biodiversidade e variabilidade genética e dão suporte às atividades culturais como o lazer, turismo, contemplação e como territórios de comunidades rurais e urbanas. A condição sazonal do Pantanal implica em dois períodos hidrológicos distintos, cheia e estiagem. Na época de estiagem, grande parte da planície, antes inundada, passa a ser um ambiente terrestre, onde a escassez de água pode inclusive afetar o abastecimento de comunidades que vivem na planície.

Em “A Bacia do Rio Cuiabá, Uma abordagem Socioambiental”, publicado por cientistas da UFMT e da Unemat, pesquisadores como a bióloga Daniela Maimoni de Figueiredo afirmam que as mudanças naturais e antrópicas do pulso de inundação têm efeitos grandes para a estrutura e funcionamento dos ecossistemas e afetam os benefícios prestados à paisagem e às populações humanas.

Daniela ressalta que o Pantanal depende fundamentalmente das águas oriundas dos Cerrados do Brasil Central, das Matas Chiquitanas da Bolívia e áreas do Chaco Paraguaio. É de grande diversidade de espécies, possui elevadas densidades populacionais de diversas espécies ameaçadas tais como a onça-pintada (Panthera onca) e a anta (Tapirus terrestris), além de uma grande variedade de macro-habitats que desperta o interesse de cientistas e turistas do mundo inteiro. É também o lugar de populações tradicionais adaptadas ao ritmo das águas pantaneiras.

“Diante de toda a rica complexidade, importância e beleza do Pantanal, esforços coletivos como estes têm buscado maneiras de compreender melhor a região e contribuir para a sustentabilidade nos diferentes usos da planície, para que se mantenha sua função essencial de garantir a sobrevivência humana e de outras espécies”, destaca a superintendente do SESC Pantanal, Christiane Caetano.

Áreas úmidas

As áreas úmidas são complexos ecossistemas que englobam desde as áreas marinhas e costeiras até as continentais e as artificiais. São classificados 42 diferentes tipos de zonas úmidas, entre eles lagos, manguezais, pântanos, áreas irrigadas para agricultura e reservatórios de hidrelétricas.

A definição do conceito de área úmida surgiu na Convenção de Ramsar. O tratado intergovernamental celebrado no Irã, em 1971, marcou o início das ações nacionais e internacionais para a conservação e o uso sustentável das zonas úmidas e de seus recursos naturais. Atualmente, 150 países são signatários do tratado, incluindo o Brasil.

A convenção classificou as áreas úmidas de importância mundial, os chamados Sítios Ramsar. Existem 1.556 sítios Ramsar reconhecidos mundialmente por suas características, biodiversidade e importância estratégica para as populações locais. No Brasil, são sete sítios Ramsar.

Importância das áreas úmidas para o planeta

As áreas úmidas existem em todos os tipos de ecossistemas e são importantes para a manutenção da biodiversidade. Situadas em uma interface entre a água e o solo, as áreas úmidas são ecossistemas complexos, pressionados não somente pela ação direta do homem, mas também pelos impactos sobre ecossistemas terrestres, marinhos e de água doces adjacentes.

Áreas úmidas abrigam enorme variedade de espécies endêmicas e também, periodicamente, espécies terrestres e de águas profundas e, portanto, contribuem substancialmente para a biodiversidade ambiental. Além disso, têm papel importante no ciclo hidrológico, ampliando a capacidade de retenção de água da região onde se localiza, promovendo o múltiplo uso das águas pelos seres humanos.

Amostras serão recolhidas periodicamente para análise.

Amostras são coletadas para detectar impacto de incêndios em rios do Pantanal.

Fase preliminar indicou que água do rio Paraguai e afluentes ainda se apresentava preservada. (ecodebate)

Bill Gates investe em projeto para "escurecer" o Sol contra o aquecimento global

O fundador da Microsoft, Bill Gates, vem sendo motivo de discussão nos últimos dias, dessa vez por um tema sem relação com a pandemia da COVID-19. O bilionário anunciou que está financiando um projeto ambicioso da Universidade de Harvard para tentar enfrentar o aquecimento global e, consequentemente, as mudanças climáticas.

O projeto, que se chama Experimento de Perturbação Controlada Estratosférica (SCoPEx), tem o objetivo de reduzir a luz solar que incide no planeta Terra, borrifando na atmosfera poeira atóxica de carbonato de cálcio (CaCO3), fazendo com que a radiação volte ao espaço. Basicamente, o método de geoengenharia solar "escureceria" o Sol.

O primeiro teste será realizado ainda em junho na Suécia, com os pesquisadores enviando ao céu um balão com equipamentos científicos que irão testar a capacidade de operação e comunicação do projeto. A iniciativa já vem sendo debate de ambientalistas que temem que o efeito seja oposto, com a estratégia deixando o entendimento de que há um "sinal verde" para continuar com as emissões de gases nocivos, sem trazer mudanças de comportamento.

Cientistas também se preocupam com os efeitos do projeto, citando situações que aconteceram no passado, quando erupções vulcânicas que liberaram aerossóis na atmosfera e não só resfriaram a Terra como acabaram trazendo devastações duradouras (secas).

Os cientistas ainda não sabem qual quantidade de CaCO3 precisa ser liberada na atmosfera para o resfriamento do planeta, tampouco se essa poeira é a melhor opção para cumprir o trabalho com a eficácia desejada. Estudos anteriores, no entanto, já sugeriram que essa substância seja a melhor opção para reduzir o aquecimento estratosférico.

Assim que houver a confirmação de que a substância é segura, o balão será enviado novamente para liberar os aerossóis e fazer o registro em tempo real dos resultados. Segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o SCoPEx pode reduzir as temperaturas globais em 1,5°C, mas com o investimento de entre US$ 1 a US$ 10 bilhões ao ano.

Bill Gates financia projeto de proporções catastróficas: quer escurecer o Sol para “salvar” a Terra.

O bilionário e fundador da Microsoft, Bill Gates, está financiando um projeto que pretende escurecer o Sol, espalhando milhões de toneladas de poeira na estratosfera para impedir a fábula globalista do “aquecimento global” na Terra. No entanto, especialistas temem que isso possa, na verdade, provocar uma calamidade global. (canaltech)

Reino Unido lança iniciativa internacional para proteção de florestas

Ministros de mais de 18 países se reúnem para desenvolver roteiro de comércio internacional que promova cadeias de abastecimento alimentar sustentáveis e proteja as florestas.

Mais de 10 milhões de hectares de floresta, associados à produção global de commodities, são destruídos a cada ano.

Uma nova iniciativa para proteger as florestas tropicais do desmatamento, garantindo que o desenvolvimento e o comércio sejam sustentáveis, foi lançada ontem pelo Reino Unido, anfitrião da COP26, conferência de cúpula do clima que acontece em novembro. Trata-se do Diálogo sobre Florestas, Agricultura e Comércio de Commodities (FACT, na sigla em inglês para Forest, Agriculture and Commodity Trade), que reunirá os principais países exportadores e consumidores de produtos agrícolas na busca de soluções que tornem este processo mais verde e sustentável.

O anúncio foi realizado em 02/02/2021 por Alok Sharma, presidente da COP26, e mais 18 ministros de diferentes países.

Comércio internacional de commodities como óleo de palma, soja e carne bovina movimenta mais de US$ 80 bilhões/ano em receitas de exportação para os países produtores e contribui para a segurança alimentar e o crescimento econômico nos países consumidores. O setor provê trabalho e subsistência para cerca de 1,5 bilhão de pessoas, a maioria delas em países em desenvolvimento. No entanto, ao mesmo tempo, as florestas continuam desaparecendo em um ritmo alarmante e em alguns casos, o desmatamento está aumentando.

A iniciativa FACT visa acordar princípios para a ação colaborativa em um roteiro compartilhado para a transição em direção a cadeias de abastecimento e a um comércio internacional sustentáveis, tomando medidas agora para proteger as florestas enquanto promove o desenvolvimento e o comércio.

“Tenho orgulho em reunir os países que podem tornar o comércio global mais sustentável para todos”, destacou Alok Sharma, presidente da COP26. “Trata-se de trabalhar em conjunto para proteger nossas preciosas florestas, melhorando a subsistência e apoiando o desenvolvimento econômico e a segurança alimentar, que é uma de nossas principais prioridades para a COP26”.

Também no evento de ontem, a TFA (Tropical Forest Alliance), parceira da iniciativa FACT, anunciou a criação de uma Força-Tarefa Multilateral Global voltada para o comércio de commodities. O grupo de trabalho reunirá mais de 25 personalidades que trabalham com sustentabilidade, que irão canalizar sua expertise e assessorar os diálogos governamentais ao longo do ano.

“Esta ousada iniciativa é uma certeza de que todas as vozes relevantes serão ouvidas, conforme os países se unem para garantir um uso mais sustentável da terra”, comentou Justin Adams, diretor executivo da TFA. “A ação para proteger a diversidade do planeta e estabelecer um futuro sustentável exigirá a colaboração global de toda a sociedade, desde os legisladores e produtores até os consumidores individuais. Esta parceria com a COP26 para a viabilização do FACT é motivo de grande orgulho para nós”.

A 26ª Conferência sobre Mudança Climática da ONU (COP26) acontecerá em Glasgow, de 1º a 12 de novembro de 2021. Sua principal meta é acelerar a ação em direção aos objetivos do Acordo de Paris e da Agenda da ONUA relativa às Mudanças Climáticas.

O evento de pode ser assistido no endereço https://bit.ly/FACTDialogueLive.

Sobre a TFA

A Tropical Forest Alliance (TFA), ou Aliança para as Florestas Tropicais, é uma rede que reúne múltiplos parceiros em torno do objetivo comum da busca e da implementação de soluções para o combate ao desmatamento resultante de atividades comerciais em áreas de florestas tropicais. (ecodebate)

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Níveis de dióxido de carbono em 2021 serão 50% maiores do que no século 18

Serviço meteorológico do Reino Unido prevê que a concentração de CO2 deste ano seja em torno de 2,29 partes por milhão (ppm) maior do que em 2020.
Níveis de dióxido de carbono de 2021 são 50% maiores do que do século 18.

Neste ano, os níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera alcançarão níveis 50% maiores do que os do século 18, antes da Revolução Industrial. Esta é a previsão do Britain's Met Office, serviço meteorológico do Reino Unido, divulgada em janeiro.

De acordo com os especialistas, a estimativa é que, em 2021, a média anual de concentração de dióxido de carbono seja em torno de 2,29 partes por milhão (ppm) maior do que em 2020 — mesmo com a pandemia, que desacelerou as emissões. A medição desses níveis é feita continuamente pelo Observatório Mauna Loa, localizado no Havaí, desde 1958.

Em algum momento entre abril e junho/21, espera-se que a concentração ultrapasse 417 ppm, o que pode representar um aumento em 50% dos níveis registrados no início da era industrial, no século 18. Segundo o serviço meteorológico britânico, foram necessários dois séculos para que os níveis aumentassem 25%, mas apenas 30 anos para que chegassem aos 50%.

"Como o dióxido de carbono permanece na atmosfera por muito tempo, as emissões de cada ano se somam às dos anos anteriores e fazem com que a quantidade de CO2 na atmosfera continue aumentando", explica Richard Betts, produtor líder da previsão anual do Met Office, à agência de notícias AFP.

Para conter esse cenário, a Organização das Nações Unidas (ONU) estipula que os países que assinaram o Acordo de Paris diminuam a produção de emissões de CO2 de setores como energia, alimentos, transporte e indústria em 7% a cada ano da próxima década. A meta é manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC acima da época da Revolução Industrial. Com o aumento de 1ºC que já foi observado até agora, a Terra já tem apresentado episódios extremos de inundações, tempestades tropicais e aumento do nível do mar.

Emissão de CO2 na atmosfera deve bater recorde em 2021 (revistagalileu.globo)

Impacto da evaporação de água em pequenas barragens no Cerrado

Pequenos reservatórios de água ou barragens desempenham um papel fundamental no desenvolvimento agrícola da região do Cerrado brasileiro, contribuindo para garantir a disponibilidade hídrica durante períodos de escassez. No entanto, o impacto causado por essas estruturas no sistema hídrico precisa ser mais bem quantificado e considerado nos planos de recursos hídricos.

As implicações de mudanças climáticas no ciclo hidrológico podem tornar necessárias alterações nas atuais políticas de gerenciamento de recursos hídricos. Nesse contexto, merecem atenção especial os pequenos reservatórios de armazenamento de água, que são estruturas importantes para adaptação às mudanças climáticas.

Nas últimas décadas, centenas de pequenos reservatórios foram construídos no Cerrado com a finalidade de armazenar água nos períodos de chuva e disponibilizá-la localmente para usos domésticos e agropecuários no período de estiagem. Para regiões como a bacia do Rio Preto, responsável por cerca de 80% de toda a produção agrícola do Distrito Federal, os reservatórios apresentam papel fundamental no fornecimento seguro e contínuo de água, principalmente para fins de irrigação.

As alterações esperadas em variáveis climáticas como precipitação (chuvas) e temperatura poderão resultar em mudanças no regime hidrológico e, consequentemente, na forma como os reservatórios devem ser manejados. Embora diversos trabalhos científicos relatem os potenciais impactos das mudanças climáticas na operação de grandes reservatórios, estudos em pequenos reservatórios ainda são escassos e praticamente inexistentes para a região do Cerrado.

Apesar da relevância estratégica dessas estruturas, os impactos ambientais causados principalmente por reservatórios mal dimensionados têm dificultado a construção de novas barragens na região. Os problemas de dimensionamento se devem, em sua maior parte, à falta de informação.

Portanto, é cada vez mais importante gerar informações que subsidiem a alocação e a construção de novos reservatórios no Cerrado. Para isso, é crucial compreender melhor o comportamento das diferentes variáveis que interferem na dinâmica de água de um pequeno reservatório, especialmente a evaporação.

O levantamento de estimativas de perdas por evaporação é primordial para o desenvolvimento de estratégias e políticas eficientes de gestão de recursos hídricos. Além disso, essas estimativas para áreas rurais remotas, ainda predominantes na região do Cerrado e que contam com poucas informações, são de especial interesse para hidrólogos e meteorologistas.

A evaporação representa uma perda efetiva de água do sistema hidrológico que não deve ser negligenciada, já que é um dos principais constituintes do balanço hídrico de reservatórios sob diferentes regimes climáticos.

As perdas afetam diretamente a eficiência de armazenamento do reservatório, o uso produtivo de água, a economia e a qualidade de vida das pessoas. O processo de evaporação se torna ainda mais importante quando se consideram os efeitos de mudanças climáticas, com o aumento da temperatura ameaçando reduzir a disponibilidade hídrica, levando-se em conta especialmente o armazenamento superficial de reservatórios.

Obter estimativas de perdas por evaporação mais precisas é essencial. Contudo, a quantificação mais representativa dessa variável para pequenos reservatórios é um grande desafio, uma vez que a variabilidade da temperatura e da pressão de vapor do ar próximo às margens pode diferir consideravelmente das condições internas do reservatório e influenciar a magnitude da evaporação real.

Os efeitos da evaporação são geralmente considerados durante o projeto e gerenciamento de reservatórios, porém há uma grande incerteza associada aos valores atualmente adotados pelos gestores, uma vez que poucos estudos foram conduzidos na região para determinar a magnitude da evaporação. Daí a relevância da obtenção de estimativas mais precisas dessa variável, uma vez que isso afeta o dimensionamento e a operação dos reservatórios.

Diversas pesquisas em diferentes regiões do mundo foram realizadas visando obter estimativas ou aprimorar métodos de estimativas de evaporação de água em reservatórios. Apesar da importância para o planejamento e a gestão de recursos hídricos, não se tem conhecimento de estudos buscando estimar a evaporação de água em pequenos reservatórios para as condições de Cerrado brasileiro.

Apesar da existência de uma grande diversidade de modelos para estimativa de evaporação, a carência de dados requeridos por alguns desses modelos tem dificultado a utilização em diferentes regiões do Cerrado brasileiro, sendo conveniente avaliar outras técnicas conhecidas pelos profissionais da área de recursos hídricos, como as de aprendizagem de máquina, tais como redes neurais artificiais, máquinas de vetores suporte e árvores de regressão, usadas com sucesso na modelagem de evaporação, mesmo a partir de um número limitado de variáveis.

Em decorrência de questões ambientais e de segurança hídrica e considerando a importância das pequenas barragens para o desenvolvimento econômico da região do Cerrado brasileiro, é crucial que os novos reservatórios sejam alocados, construídos e gerenciados de forma adequada. Assim, é fundamental gerar informações mais representativas da evaporação, o que implica, entre outras ações, avaliar o desempenho de métodos de simulação.

Uma das iniciativas nesse sentido é o estudo desenvolvido pela Embrapa em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) com os objetivos de avaliar o desempenho de métodos de estimativa da evaporação em pequenos reservatórios na região do Cerrado brasileiro; aprimorar métodos para estimativa da evaporação em pequenos reservatórios de armazenamento de água localizados na região do cerrado brasileiro; e avaliar o impacto das mudanças climáticas na evaporação de água em pequenas reservatórios localizados no Cerrado brasileiro.

Os resultados obtidos indicaram que no início do período seco, logo após um período chuvoso com chuvas acima da média, os pequenos reservatórios da bacia do Rio Preto encontram-se na capacidade máxima de armazenamento, equivalendo a aproximadamente 16,1 milhões de m3. Desprezando-se todas as entradas e saídas de água nos reservatórios, com exceção da evaporação, observou-se que no fim do período seco (30/09), para o período de 1961 a 2005 (período histórico), a disponibilidade de água armazenada nos reservatórios representava 65,2% da capacidade total de armazenamento. Fazendo-se a mesma análise para o período de 2007 a 2040, considerando um cenário de emissão de gases otimista, a disponibilidade nesses reservatórios foi estimada em 63,3%, e em 62,7% num cenário pessimista.

Com base nesse resultado e considerando um reservatório com volume igual a 60.000 m3 e área de espelho de água igual a 6 hectares, se levarmos em conta a situação no período de 2007 a 2040, em um cenário otimista, a evaporação provável a 60% de probabilidade, para o mês de maio, seria igual a 3,44 mm/dia, o que representaria um volume evaporado de 206,4 m3. Caso o espelho de água desse reservatório fosse igual a 4 hectares, o volume evaporado seria 137,6 m3, ou seja, 33% menor.

Ainda considerando um reservatório de 6 hectares de espelho de água e o mesmo mês, período e probabilidade, mas agora num cenário pessimista, espera-se uma evaporação de 3,55 mm/dia, equivalente a um volume de 213,0 m3. Já para o período de 2071 a 2100, a evaporação provável a 60% de probabilidade equivalerá a 208,8 m3, para o cenário otimista, e 228,6 m3, no pessimista.

Esses resultados reforçam a importância da correta escolha do local para a construção de novos reservatórios. Essa decisão terá impacto diretamente na viabilidade do reservatório em armazenar água, sendo decisivo na gestão dessas estruturas. O local onde o reservatório é instalado tem influência direta na relação entre o tamanho do espelho de água e a capacidade total de armazenamento de água do reservatório, que influenciam na quantidade de água evaporada. (ecodebate)

Degradação florestal na Amazônia afeta área três vezes maior que desmatamento

Entre março de 2023 e de 2024, INPE detectou aviso de degradação para 20,4 mil km², maior que os 18 mil km² do período anterior. É necessári...