quarta-feira, 29 de junho de 2022

80% dos municípios que mais emitem gases são amazônicos

80% dos municípios que mais emitem gases de efeito estufa estão na Amazônia.
Desmatamento flagrado pelo IBAMA.

A maior parte dessas emissões é resultado do desmatamento — segundo o MapBiomas Alerta, 98% do desmatamento na região tem indícios de ilegalidade

Segunda edição do SEEG Municípios revela quanto cada cidade emitiu e em quais setores; os dez maiores emissores no setor agropecuário não estão entre aqueles com maior PIB.

Oito dos dez municípios que mais emitem gases de efeito estufa no país estão na Amazônia, onde o desmatamento é a principal fonte de emissões. Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, lideram a lista, seguidos por Porto Velho (RO) e Lábrea (AM). São Paulo e Rio de Janeiro são os únicos de fora da Amazônia entre os campeões de emissões, na quinta e oitava posições, respectivamente. Em 2019, os dez municípios emitiram juntos 198 milhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e), mais do que todas as emissões de países como Peru e Holanda. É o que revela a segunda edição do SEEG Municípios, uma iniciativa do Observatório do Clima.

O SEEG calculou as emissões de gases de efeito estufa de todos os 5.570 municípios brasileiros. O levantamento cobre duas décadas (2000-2019) e inclui mais de uma centena de fontes de emissão nos setores de energia, indústria, agropecuária, tratamento de resíduos e mudança de uso da terra e florestas.

As emissões em Altamira (PA), líder do ranking, atingiram 35,2 MtCO2e em 2019. Se fosse um país, o município do Pará seria o 108º do mundo em emissões, à frente de Suécia e Noruega, segundo dados do CAIT, o ranking global de emissões do World Resources Institute.

O estudo mostra que, na última década, as emissões na Amazônia se concentraram no sudoeste do Pará, em Porto Velho (RO) e Lábrea (AM). A maior parte dessas emissões é resultado do desmatamento — segundo o MapBiomas Alerta, 98% do desmatamento na região tem indícios de ilegalidade.

A Amazônia encabeça o ranking de emissões per capita. Dos dez municípios com mais emissões por habitante, 6 são de Mato Grosso, 3 do Pará e 1 do Amazonas. Em Novo Progresso (PA), por exemplo, epicentro do desmatamento no eixo da BR-163, foi registrada a décima maior emissão por habitante do país: 580 toneladas de CO2e por ano, ou seja, 14 vezes a emissão de um cidadão do Qatar, o país com maior quantidade de carbono per capita do planeta. É como se cada morador de Novo Progresso tivesse mais de 500 carros rodando 20 km por dia com gasolina. A média global é de 7 toneladas de CO2e ao ano por habitante.

Por outro lado, municípios amazônicos extensos com muitas áreas protegidas também têm grandes remoções de carbono — quando subtraídas as remoções das emissões totais, chega-se às chamadas emissões líquidas. O campeão de remoções é Altamira, o maior município do país em área, que teve remoções de 25,7 MtCO2e em 2019. O levantamento destaca a importância de criar e manter Unidades de Conservação (UC) e Terras Indígenas (TI).

Emissões x PIB Agropecuário

Em 2019, o setor agropecuário foi o maior emissor em 67% dos municípios brasileiros, com destaque para a fonte gado de corte.

Nesta edição, o SEEG cruzou dados de emissão com o valor do PIB Agropecuário nos municípios, levantado pelo IBGE. O levantamento mostra que os dez municípios mais emissores em 2019 não estão entre aqueles com maior PIB Agropecuário. Ou seja: as emissões não resultam em ganhos econômicos para os municípios.

Os dez com maior PIB Agropecuário possuem o perfil de emissões e de uso do solo mais relacionados com atividades de produção agrícola, diferentemente dos dez que mais emitem, que têm atividades relacionadas com a pecuária. Isso demonstra como as escolhas de uso da terra influenciam as emissões nos municípios.

O levantamento também aponta que, de 2000 a 2019, entre os dez municípios mais emissores, houve aumento de 2,13 milhões de hectares de pastagem (em vez do aproveitamento de áreas já abertas). Mais da metade (56%) encontra-se em algum estágio de degradação. Isso indica o potencial de recuperação dessas áreas, que podem se tornar mais produtivas e contribuir para a remoção de carbono, quando bem manejadas e sem a abertura de novos pastos.

Dos dez municípios que mais emitiram no setor em 2019, a maior parte das emissões foi gerada no bioma Amazônia (64%), seguido por Pantanal (18%), Cerrado (11%) e Pampa (7%). No Pantanal, apenas dois municípios, Corumbá (MS) e Cáceres (MT), são responsáveis, juntos, por 49% das emissões no bioma.

Os municípios que mais emitiram no setor são os que apresentam os maiores rebanhos bovinos (corte e leite): o processo de digestão dos animais — a chamada fermentação entérica — maior responsável pelas emissões de metano (CH4), principal gás de efeito estufa do setor.

São Félix do Xingu, no Pará, que tem o maior rebanho do país, foi o que mais emitiu em 2019, totalizando 4,5 MtCO2e, seguido por Corumbá (MS) e Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), com 3,6 MtCO2e e 2,4 MtCO2e, respectivamente.

Energia

O setor de energia, em especial por causa dos transportes, se destaca como maior fonte de emissão nas grandes cidades, principalmente as capitais.

São Paulo lidera as emissões, com 11,9 MtCO2e, seguido por Manaus (7,5 MtCO2e) e Rio de Janeiro (5,6 MtCO2e).

Florianópolis é a capital do carro: apresenta a maior taxa por habitante de emissões derivadas do transporte rodoviário individual (774 kg de CO2e), seguida por Campo Grande (665 kg de CO2e) e Brasília (636 kg de CO2e). São Paulo tem mais carros circulando, mas apresenta também grande malha de transporte coletivo (dois terços da população paulistana usam transporte coletivo ou se deslocam a pé), o que reduz as emissões per capita.

Município com o maior número de termelétricas no país, Manaus é o que mais emite no recorte por energia elétrica, com 5,02 MtCO2e.

Levantamento do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente) mostra que em Macaé (RJ), uma das cidades onde está prevista a expansão de termelétricas, a qualidade do ar já é inadequada, com concentração de poluentes como o ozônio acima do nível recomendado pela OMS.

O estudo também mostra que Cuiabá é a cidade com maior capacidade instalada para geração de energia solar no país, seguida por Brasília. No caso de processos industriais, o município capixaba de Serra, que abriga uma siderúrgica, lidera as emissões que puderam ser alocadas nos municípios, com 9 MtCO2e, seguido por Ipatinga (MG), com 4,5 MtCO2e.

Resíduos

O setor de resíduos, embora represente apenas 5% das emissões brutas do Brasil, é uma fonte de emissões importante para as cidades — especialmente as mais populosas. O Rio lidera esse setor, com 5,5 MtCO2e, seguido por São Paulo, que, apesar de ter quase o dobro da população, emite 4,6 MtCO2e, devido ao aproveitamento energético do biogás que é gerado em aterros sanitários.

“Esta segunda edição dos dados de emissões dos municípios brasileiros consolida o entendimento da dinâmica das emissões de gases de efeito estufa no nível local no Brasil e o enorme desafio que será reverter as emissões de forma que sejam negativas nas próximas décadas. Sem os municípios e políticas locais de redução de emissões não há esperança para a meta de limitar o aquecimento global em 1,5°C até o final do século”, afirma Tasso Azevedo, coordenador geral do SEEG.

Os dados completos estão disponíveis na plataforma seeg.eco.br. A seguir, destaques do SEEG Municípios.

SETOR DE MUDANÇA DE USO DA TERRA E FLORESTAS

Os dez maiores emissores (todos da Amazônia) representam 21% das emissões nacionais do setor.

A região Norte é responsável por 60% das emissões brutas nacionais do setor, mas é a que apresenta maior queda por conta das remoções em áreas protegidas.

A região Centro-Oeste é responsável por 21% das emissões brutas nacionais do setor, mas lidera o ranking em emissão líquida com 27 MtCO2e a mais que a região Norte e é responsável por 49% das emissões líquidas no setor.

A queima de resíduos florestais representa 8% das emissões brutas nacionais do setor. A maior parte das emissões é proveniente do desmatamento de vegetação nativa primária em todas as regiões do país.

A Amazônia do Maranhão e a região do Matopiba se destacam no Nordeste: os 10+ representam 18% das emissões brutas da região. Matopiba é a região de expansão da agropecuária no Cerrado (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

A perda de campos sulinos no bioma Pampa é responsável pela maior parte das emissões brutas na região Sul.

SETOR DE AGROPECUÁRIA

Em 2019, o setor foi a maior fonte emissora de gases de efeito estufa em 67% dos municípios brasileiros.

Dos dez municípios que mais emitiram em 2019, sete estão na Amazônia.

A fonte mais emissora no setor foi o gado de corte: isso ocorreu em 89% dos municípios.

Dos dez municípios que mais emitiram em 2019, a maior parte das emissões foi gerada no bioma Amazônia (64%), seguido por Pantanal (18%), Cerrado (11%) e Pampa (7%).

Apenas dois municípios, Corumbá (MS) e Cáceres (MT), representam sozinhos 49% das emissões no bioma do Pantanal.

São Félix do Xingu (PA) foi o que mais emitiu em 2019, totalizando 4,51 MtCO2e.

Os municípios que mais emitem no setor agropecuário são os que apresentam os maiores rebanhos bovinos (corte e leite). Houve aumento da área de pastagem entre os mais emissores.

No quesito emissões acumuladas no período 2000-2019, o município de Corumbá (MS) é o primeiro do ranking, com total acumulado de 74,5 MtCO2e, seguido por São Félix do Xingu (PA) e Ribas do Rio Pardo (MS), com 73,7 e 49,9 MtCO2e, respectivamente.

Os dez municípios que mais emitiram no setor em 2019 não estão entre aqueles com maior valor de PIB Agropecuário. Os dez municípios com maior PIB Agropecuário apresentam emissões mais relacionadas com a agricultura, diferentemente dos dez que mais emitem, com atividades de pecuária. Sinal do potencial para produzir com baixas emissões nesses locais.

SETORES DE ENERGIA E DE PROCESSOS INDUSTRIAIS

São Paulo lidera as emissões no setor de energia com 11,9 MtCO2e, seguido por Manaus (7,5 MtCO2e) e Rio de Janeiro (5,6 MtCO2e).

Municípios mais populosos, como as capitais, têm no setor de energia sua principal fonte de emissão, sobretudo devido ao consumo de combustíveis fósseis nos transportes.

Florianópolis apresenta a maior taxa de emissões por habitante derivadas do transporte rodoviário individual (774 kg de CO2e), seguida por Campo Grande (665 kg de CO2e) e Brasília (636 kg de CO2e).

Município com o maior número de termelétricas no país (a gás e a diesel), Manaus é o que mais emite no subsetor de geração de energia elétrica.

Cuiabá é a cidade com maior capacidade instalada para geração de energia solar no país, seguida por Brasília.

Em Macaé (RJ), uma das cidades onde está prevista a expansão de termelétricas, a qualidade do ar é inadequada, com concentração de poluentes como ozônio acima do nível recomendado pela OMS.

O setor de processos industriais é marcado pela escassez de dados de atividades que permitam estimativas mais precisas de suas emissões associadas. Serra (ES), que abriga uma siderúrgica, lidera as emissões que puderam ser alocadas nos municípios neste setor, com 9 MtCO2e, seguido por Ipatinga (MG), com 4,5 MtCO2e.

SETOR DE RESÍDUOS

As emissões do setor se concentram em capitais e cidades mais populosas: 50 municípios contribuem com 38% das emissões (são aqueles com emissão maior do que 200 mil toneladas de CO2e). RJ e SP lideram o ranking.

A principal fonte de emissão no setor é a disposição final de resíduos sólidos em aterros sanitários, “controlados” ou lixões: foram 56 MtCO2e em 2019. Rio de Janeiro lidera disparado o ranking, com 701 kg de CO2e por habitante, seguido por Fortaleza (530 kg de CO2e), Manaus (464 kg de CO2e) e Recife (453 kg de CO2e). No país, a emissão média per capita foi de 271 kg de CO2e em 2019.

Uma importante medida para a redução de emissões no setor é a captura do biogás gerado em aterros sanitários, No Brasil, de acordo com projetos reportados na plataforma de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), apenas 49 aterros sanitários apresentam recuperação de metano — responsável pela captura de 418 mil toneladas de CH4 (11,7 MtCO2e), que representa cerca de 12% das emissões totais do setor.

Vinte dois municípios apresentam emissões negativas no setor: isso ocorre porque a estimativa de emissão é realizada com base na quantidade de resíduos gerados em cada cidade, enquanto a recuperação de metano (seja por meio de queima ou aproveitamento energético em aterros sanitários) é baseada na localização do aterro. No geral, são municípios que integram regiões metropolitanas e recuperam o metano proveniente da disposição final de municípios vizinhos.

Outro subsetor de destaque no setor de resíduos é o de tratamento de efluentes líquidos domésticos, com a emissão de 25 MtCO2e. Assim como apresentado para a disposição final, as cidades mais populosas também são as que mais contribuem para as emissões neste subsetor. Destaca-se que, apesar de Fortaleza, Manaus, Recife e Belém apresentarem uma contribuição significativa nas emissões pelo tratamento de efluentes domésticos (4ª, 6ª, 9ª e 11ª posição no ranking, respectivamente), essas cidades apresentam baixa taxa de acesso aos serviços de saneamento.

Outro aspecto importante em termos de redução é a recuperação de metano em estações de tratamento de esgoto: houve destruição ou aproveitamento de cerca de 94 mil toneladas de CH4, com destaque para Curitiba, Brasília, Belo Horizonte, Campinas, Uberlândia, Recife e Londrina, que investem em rotas de tratamento por meio de reatores anaeróbios.

Sobre o SEEG: O Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa foi criado em 2012 para atender a uma determinação da PNMC (Política Nacional de Mudanças Climáticas). O decreto que regulamenta a PNMC estabeleceu que o país deveria produzir estimativas anuais de emissão, de forma a acompanhar a execução da política. O governo, porém, não as produziu. Os inventários nacionais, instrumentos fundamentais para conhecer em detalhe o perfil de emissões do país, são publicados apenas de cinco em cinco anos.

O SEEG (seeg.eco.br) foi a primeira iniciativa nacional de produção de estimativas anuais para toda a economia. Ele foi incorporado ao Observatório do Clima em 2013. Hoje, é uma das maiores bases de dados nacionais sobre emissões de gases estufa do mundo, compreendendo as emissões brasileiras de cinco setores (Agropecuária, Energia, Mudança de Uso da Terra e Florestas, Processos Industriais e Resíduos).

As estimativas são geradas segundo as diretrizes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), com base nos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações).

Sobre o Observatório do Clima

– Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil. (ecodebate)

Os eventos climáticos extremos já se acumulam

Alagamentos, deslizamentos de terra, incêndios florestais, secas e desertificação: há relação entre esses eventos?

As alterações do clima do planeta são conhecidas como mudanças climáticas e ocorrem devido ao conjunto de fatores naturais ou antrópicos que provocam o aquecimento global, que é real e já está acontecendo.

Embora há muito tempo já se discuta sobre o aquecimento global em reuniões internacionais e intergovenamentais e vários acordos já tenham sido feitos, pouco se nota quanto às ações práticas e visíveis. Muitos de nós esperamos atuação dos governantes e esquecem que o planeta também é nossa casa e precisa do nosso cuidado enquanto cidadão. Menos danos e mais cura.

Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), painel das Nações Unidas (ONU), as ações humanas são as principais causas da mudança do clima e seus efeitos são extremos. A queima de combustíveis fósseis libera grandes quantidades de gases poluentes que intensificam o efeito estufa, o que eleva a temperatura, alterando o clima em todo o planeta.

De acordo com o IPCC, com o aumento da temperatura em 1,5ºC, nós enfrentaremos impactos relacionados à água, à energia e ao solo, o que se torna mais intenso em áreas que já enfrentam eventos naturais de seca. Essas terras secas abrigam cerca de 35% dos hotspots de biodiversidade do mundo. Em regiões áridas e semiáridas, por exemplo, o aumento de temperatura associado a secas mais prolongadas e chuvas mais escassas empobrecem o solo, deixando-o mais exposto e suscetível às intempéries. Há perda de biodiversidade, degradação de habitat, empobrecimento do solo, rompimento de cadeias alimentares e alteração no ecossistema.

Dessa forma, observa-se um processo ocorrendo com mais intensidade em áreas mais secas da Terra, a desertificação. Eventos de seca são temporários e também ocorrem em áreas úmidas, porém no processo de desertificação, as terras secas são degradadas física, química e biologicamente. Pesquisas apontam que 6% das terras secas entraram em desertificação e 20% estão em risco no mundo, o que pode prejudicar até 3,2 bilhões pessoas. A desertificação é uma questão ambiental e um dos maiores desafios atuais.

Alguns fatores impulsionam a desertificação sob as mudanças climáticas, como a erosão causada por lavouras e expansão da terra cultivada de modo não sustentável, desmatamento, expansão urbana, extrativismo, aumento da temperatura superficial dos oceanos que altera o regime de chuvas e incêndios que reduzem a cobertura florestal.

Como este processo nos atinge? 94% do nordeste brasileiro é suscetível à desertificação. Estima-se que 50% da área foi degradada devido às secas prolongadas e ao desmatamento para agricultura, o que aumenta o risco de extinção de diversas espécies da fauna e da flora brasileira, além de impactar a demanda por comida. Entretanto, outras áreas, até mesmo no nordeste, podem experimentar alagamentos e deslizamentos de terra. Esse contraste se deve ao agravamento dos fenômenos meteorológicos extremos e ao solo pobre sem cobertura vegetal.

Em 1995, a ONU criou o Dia Mundial de combate à Desertificação e à Seca (17 de junho), a fim de conscientizar a população internacional sobre os efeitos danosos que a seca pode provocar a nível regional e global. Reduzir o consumo de produtos, comprar alimentos de produtores locais, melhorar o processo de produção/transporte de alimentos e evitar o uso de automóveis são algumas ações simples que contribuem para redução do consumo de água, do desperdício de comida, do avanço de grandes monoculturas e redução da emissão de gases do efeito estufa.

Neste dia internacional, vamos refletir sobre como nossas ações impactam o nosso planeta. Não há mais tempo de espera. O secretário-geral da ONU, António Guterres, reafirma: “a biodiversidade está em declínio, as concentrações de gases de efeito estufa aumentam e a nossa poluição pode ser encontrada desde as ilhas mais remotas até aos picos mais altos. Temos de fazer as pazes com a natureza”. (ecodebate)

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Degelo global já segue os piores cenários de aquecimento climático

A velocidade com que o gelo está desaparecendo em todo o planeta está se acelerando, de acordo com novas pesquisas. E as descobertas também revelam que a Terra perdeu 28 trilhões de toneladas de gelo entre 1994 e 2017 – o equivalente a uma camada de gelo de 100 metros de espessura cobrindo todo o Reino Unido.
Canal criado pelo fluxo de gelo derretido na Groenlândia.

Cientistas liderados pela Universidade de Leeds descobriram que a taxa de perda de gelo da Terra aumentou acentuadamente nas últimas três décadas, de 0,8 trilhões de toneladas por ano na década de 1990 para 1,3 trilhões de toneladas por ano em 2017.

A pesquisa é a primeira do tipo a fazer um levantamento da perda global de gelo usando dados de satélite.

O derretimento do gelo em todo o mundo eleva o nível do mar, aumenta o risco de inundações para as comunidades costeiras e ameaça destruir os habitats naturais dos quais a vida selvagem depende.

As descobertas da equipe de pesquisa, que inclui a Universidade de Edimburgo, a University College London e os especialistas em ciência de dados Earthwave, foram publicadas na revista The Cryosphere da European Geosciences Union.

Financiada pelo Conselho de Pesquisa do Meio Ambiente do Reino Unido, a pesquisa mostra que, em geral, houve um aumento de 65% na taxa de perda de gelo durante os 23 anos de pesquisa. Isso foi causado principalmente por aumentos acentuados nas perdas dos mantos de gelo polares na Antártica e na Groenlândia.

O autor principal, Dr. Thomas Slater, pesquisador do Centro de Observação e Modelagem Polar de Leeds, disse: “Embora todas as regiões que estudamos tenham perdido gelo, as perdas nas camadas de gelo da Antártica e da Groenlândia foram as que mais se aceleraram”.

“Os mantos de gelo estão agora seguindo os piores cenários de aquecimento climáticos definidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. O aumento do nível do mar nesta escala terá impactos muito sérios nas comunidades costeiras neste século”.

O Dr. Slater disse que o estudo foi o primeiro desse tipo a examinar todo o gelo que está desaparecendo na Terra, usando observações de satélite.

Ele acrescentou: “Nas últimas três décadas, tem havido um grande esforço internacional para entender o que está acontecendo com os componentes individuais do sistema de gelo da Terra revolucionados por satélites que nos permitem monitorar rotineiramente as vastas e inóspitas regiões onde o gelo pode ser encontrado”.

“Nosso estudo é o primeiro a combinar esses esforços e observar todo o gelo que está sendo perdido em todo o planeta”.
A pesquisa cobre 215.000 geleiras de montanhas espalhadas ao redor do planeta, os mantos de gelo polares na Groenlândia e na Antártica, as plataformas de gelo flutuando ao redor da Antártica e o gelo do mar flutuando nos oceanos Ártico e Meridional.

O aumento da temperatura atmosférica tem sido o principal fator para o declínio do gelo marinho do Ártico e das geleiras das montanhas em todo o mundo, enquanto o aumento da temperatura do oceano aumentou o derretimento da camada de gelo da Antártica. Para o manto de gelo da Groenlândia e as plataformas de gelo da Antártica, as perdas de gelo foram desencadeadas por uma combinação da elevação do oceano e das temperaturas atmosféricas.

Durante o período da pesquisa, todas as categorias perderam gelo, mas as maiores perdas foram do gelo do Mar Ártico (7,6 trilhões de toneladas) e das plataformas de gelo da Antártica (6,5 trilhões de toneladas), ambos os quais flutuam nos oceanos polares.

A Dra. Isobel Lawrence, pesquisadora do Centro de Observação e Modelagem Polar de Leeds, disse: “A perda de gelo marinho não contribui diretamente para o aumento do nível do mar, mas tem uma influência indireta”. Uma das principais funções do gelo marinho do Ártico é refletir a radiação solar de volta para o espaço, o que ajuda a manter a temperatura do Ártico.

“À medida que o gelo marinho encolhe, mais energia solar é absorvida pelos oceanos e pela atmosfera, fazendo com que o Ártico aqueça mais rápido do que em qualquer outro lugar do planeta.

“Isso não apenas está acelerando o derretimento do gelo marinho, mas também exacerbando o derretimento das geleiras e mantos de gelo, que fazem com que o nível do mar suba.”

Metade de todas as perdas foram causadas pelo gelo em terra – incluindo 6,1 trilhões de toneladas de geleiras de montanha, 3,8 trilhões de toneladas da camada de gelo da Groenlândia e 2,5 trilhões de toneladas da camada de gelo da Antártica. Essas perdas elevaram o nível global do mar em 35 milímetros.

Estima-se que, para cada centímetro de elevação do nível do mar, cerca de um milhão de pessoas correm o risco de ser deslocadas de suas terras natais baixas.

Apesar de armazenar apenas 1% do volume total de gelo da Terra, as geleiras contribuíram para quase um quarto das perdas globais de gelo durante o período de estudo, com todas as regiões glaciais ao redor do mundo perdendo gelo.

O coautor do relatório e pesquisador PhD Inès Otosaka, também do Centro de Observação Polar e Modelagem de Leeds, disse: “Além de contribuir para o aumento do nível do mar global, as geleiras das montanhas também são essenciais como recurso de água doce para as comunidades locais”.

“O recuo das geleiras ao redor do mundo é, portanto, de importância crucial em escalas local e global”.
Pouco mais da metade (58%) da perda de gelo foi do hemisfério norte, e o restante (42%) foi do hemisfério sul. (ecodebate)

Soluções baseadas na natureza para as mudanças climáticas

Em meio às crises do clima e da biodiversidade, as soluções baseadas na natureza são cada vez mais vistas como importantes para reduzir os impactos das mudanças climáticas, bem como para proteger os ecossistemas e a biodiversidade.

O que exatamente são soluções baseadas na natureza e como elas estão fazendo a diferença? Pedimos a Garo Batmanian, Especialista Líder em Meio Ambiente do Banco Mundial, que explicasse.

O que são soluções baseadas na natureza?

As soluções baseadas na natureza são ações para proteger, gerenciar de forma sustentável ou restaurar ecossistemas naturais, que abordam desafios sociais como mudanças climáticas, saúde humana, segurança alimentar e hídrica e redução de risco de desastres de forma eficaz e adaptativa, proporcionando simultaneamente o bem-estar humano e a biodiversidade benefícios. Por exemplo, um problema comum são as inundações em áreas costeiras que ocorrem como resultado de tempestades e erosão costeira. Esse desafio, tradicionalmente enfrentado com infraestrutura artificial (cinza), como paredões ou diques, inundações costeiras, também pode ser enfrentado por ações que aproveitem os serviços ecossistêmicos, como o plantio de árvores. Plantar árvores que prosperam nas áreas costeiras – conhecidas como manguezais – reduz o impacto das tempestades nas vidas humanas e nos ativos econômicos e fornece um habitat para peixes, pássaros e outras plantas que sustentam a biodiversidade.

As soluções baseadas na natureza ajudam a combater as mudanças climáticas?

As estimativas sugerem que as soluções baseadas na natureza podem fornecer 37% da mitigação necessária até 2030 para atingir as metas do Acordo de Paris. Como isso pode ser feito? Se você plantar árvores, elas vão absorver carbono. Por exemplo, restaurar a mata nativa nas margens do rio para evitar deslizamentos de terra também pode atuar como sumidouro de carbono. A agricultura inteligente para o clima é outro exemplo que permite que os agricultores retenham mais carbono em seus campos à medida que produzem. Diminuir o desmatamento é outra maneira de se beneficiar de soluções baseadas na natureza – por exemplo, pagar aos agricultores para não derrubar a floresta preserva os serviços ecossistêmicos, como sequestro de carbono, fornecimento de água potável e redução da sedimentação do rio a jusante.

As soluções baseadas na natureza também desempenham um papel fundamental na adaptação às mudanças climáticas e na construção de resiliência em paisagens e comunidades. Várias soluções baseadas na natureza estão sendo usadas pelo Banco Mundial para ajudar a gerenciar o risco de desastres e reduzir a incidência e o impacto de inundações, deslizamentos de terra e outros desastres. Eles são uma maneira econômica de abordar as mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que abordam a biodiversidade e a degradação da terra. Você pode resolver vários problemas ao mesmo tempo.

Mas não é automático que tudo o que você planta se torne uma solução baseada na natureza que contribui para a biodiversidade – por exemplo, plantar árvores que não são da região e são tóxicas para os animais locais não geraria benefícios para a biodiversidade.

As estimativas sugerem que as soluções baseadas na natureza podem fornecer 37% da mitigação necessária até 2030 para atingir as metas do Acordo de Paris.

Onde estão os projetos do Banco Mundial incorporando soluções baseadas na natureza?

No EF20, o portfólio de soluções baseadas na natureza do Banco Mundial incluiu 70 projetos – muitos deles com foco na gestão de riscos hídricos e de desastres. Gostaríamos que mais projetos incluíssem soluções baseadas na natureza também em outras áreas temáticas. Para isso, estamos realizando treinamento para funcionários do Banco Mundial, com o objetivo de ampliar o apoio em nível de país. O Banco Mundial está empenhado em abordar as duas crises globais que se cruzam que o mundo está enfrentando: a crise climática e a crise da biodiversidade.

Deixem-me dar alguns exemplos: no Burundi, as florestas foram desmatadas e as colheitas foram cultivadas em encostas íngremes sem controlar a erosão. Como resultado, o país experimentou deslizamentos de terra e inundações mais frequentes, agravados pelas chuvas torrenciais e secas associadas às mudanças climáticas. Estamos apoiando um projeto que está construindo cerca de 8.000 hectares de terraços em encostas, usando vegetação em pontos críticos para controlar a erosão do solo, aumentar a umidade do solo e reduzir o escoamento. Os agricultores estão plantando árvores, gramíneas estabilizadoras do solo e culturas forrageiras para proteger o solo superficial e tornar a terra mais produtiva para a agricultura.

Em Colombo, Sri Lanka, estamos apoiando um projeto pioneiro no uso de zonas úmidas urbanas como uma solução baseada na natureza. As zonas húmidas reduzem o risco de inundação ao reter o excesso de água, mas a capacidade de retenção das zonas húmidas de Colombo caiu 40% ao longo de uma década. Ao mesmo tempo, as mudanças climáticas e o aumento do nível do mar aumentaram a vulnerabilidade da cidade às inundações. O projeto utilizou infraestrutura verde e cinza para restaurar e proteger o pantanal e manter sua integridade hidráulica. Isso reduziu o risco de inundação para mais de 200.000 moradores da cidade e proporcionou a toda a cidade uma melhor qualidade de vida. As áreas úmidas também sequestram carbono e regulam o clima local, o que tem ajudado a reduzir o uso de ar condicionado próximo às áreas úmidas. O projeto melhorou a qualidade da água e o tratamento de águas residuais, e o pântano de Beddagana da cidade foi transformado em um parque e santuário de vida selvagem.

No Lago Zhejiang Qiandao e na Bacia do Rio Xin’an, na China, estamos apoiando a gestão integrada da poluição e das bacias hidrográficas, para ajudar a aumentar o acesso a um melhor abastecimento de água. O lago é a principal fonte de água potável para muitas cidades ao longo da bacia hidrográfica, mas o rápido desenvolvimento, a produção agrícola e o crescimento do turismo aumentaram a poluição da água. O projeto está implementando soluções baseadas na natureza, como agricultura inteligente em termos climáticos, manejo florestal ambientalmente sustentável, restauração de áreas úmidas e florestas degradadas, como algumas das intervenções que buscam melhorar a qualidade da água no lago.

Todos os caminhos para alcançar o Acordo de Paris incluem proteção de florestas e conservação, restauração e uso sustentável de ecossistemas naturais. As soluções baseadas na natureza oferecem uma maneira de lidar com as crises climáticas e de biodiversidade de maneira sinérgica e econômica.

Como medimos os resultados de soluções baseadas na natureza?

Uma abordagem baseada em evidências para gerenciar e medir resultados de soluções baseadas na natureza é fundamental. Isso significa monitoramento e avaliação ao longo do ciclo de intervenção, com base na ciência e nos dados, bem como no conhecimento local e indígena. O que exatamente precisa ser medido? Isso depende dos desafios sociais que a solução baseada na natureza se propõe a enfrentar. Se o objetivo é mitigar as mudanças climáticas, as equações, os protocolos e os sistemas estão bem estabelecidos para medir os resultados – sendo o dióxido de carbono (CO2) a métrica básica utilizada. Uma tonelada de CO2 equivalente sequestrada em um projeto de restauração no Brasil tem o mesmo efeito na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera que uma tonelada de CO2 sequestrada em um projeto de reflorestamento na Rússia.

O que é fundamental é olhar além do clima e também medir (e monetizar – por exemplo, por meio de mercados ambientais) os outros benefícios que a solução baseada na natureza está oferecendo. Por exemplo, quando se trata de medir o impacto na biodiversidade, a tarefa é mais complicada e multidimensional. Os ecossistemas são sistemas altamente complexos e dinâmicos; e não há uma única métrica de alto nível ou uma meta global sobre biodiversidade equivalente a manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais no domínio climático. No entanto, os projetos têm uma série de indicadores disponíveis, como tendências nas populações de espécies (ameaçadas) e a prestação de serviços ecossistêmicos críticos – por exemplo, qualidade da água e previsibilidade em uma bacia hidrográfica que se beneficiou da restauração do reflorestamento.

Para o Banco Mundial, a perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos é uma questão de desenvolvimento e por isso a instituição investe na natureza há mais de três décadas. Atualmente, estamos trabalhando com outros bancos multilaterais de desenvolvimento para melhorar a forma como os benefícios da biodiversidade são avaliados nas carteiras de desenvolvimento e nos mercados financeiros mais amplos. As apostas são altas. Os riscos que as mudanças climáticas representam para o desenvolvimento global são significativos, assim como os riscos da biodiversidade global e da perda de ecossistemas. Todos os caminhos para alcançar o Acordo de Paris incluem proteção de florestas e conservação, restauração e uso sustentável de ecossistemas naturais. As soluções baseadas na natureza oferecem uma maneira de lidar com as crises climáticas e de biodiversidade de maneira sinérgica e econômica. (ecodebate)

sábado, 25 de junho de 2022

Mudanças climáticas estão alterando as florestas tropicais

Estudo revela fatores que tornam as florestas tropicais mais resilientes a mudanças no clima.

As mudanças climáticas – principalmente o aumento das temperaturas e a diminuição das chuvas – aparentemente são os principais impulsionadores dessas mudanças.

Caros colegas,

O artigo Climate Change Affects Reproductive Phenology in Lianas of Australia’s Wet Tropics, indicado abaixo, acaba de ser publicado, resumindo as principais descobertas de um estudo de 15 anos nas florestas tropicais da Austrália tropical.

Ele fornece evidências de que as assembleias de lianas na Austrália tropical estão mudando de maneira importante ao longo do tempo, especialmente em termos de aumentar sua frutificação e floração.

Isso é altamente relevante porque as lianas, como principais parasitas estruturais das árvores, influenciam fortemente a composição, dinâmica e armazenamento de carbono da maioria das florestas tropicais.

Mudanças climáticas estão a desidratar as florestas tropicais: taxa de mortalidade das árvores duplica desde a década de 1980, alerta estudo.

As mudanças climáticas – principalmente o aumento das temperaturas e a diminuição das chuvas – aparentemente são os principais impulsionadores dessas mudanças.

Também estou anexando dois documentos de nosso trabalho de longo prazo na Amazônia, pois também encontramos evidências de que as comunidades de cipós também estão mudando ao longo do tempo, novamente evidentemente em resposta aos impulsionadores da mudança global.

Se possível, sugerimos que estes artigos sejam indicados e compartilhados com colegas e alunos interessados.
Árvores de florestas tropicais úmidas estão morrendo mais rápido em todo o planeta.

Tudo de bom a todos (as),

Bill (ecodebate)

Desmatamento continua avançando sobre as florestas públicas da Amazônia

Apesar da desaceleração em maio, no acumulado do ano, houve elevação de quase 13% na área sob alerta de desmatamento na Amazônia.

Dados do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) evidenciam uma redução na área sob alerta de desmatamento na Amazônia em maio de 2022. Entretanto, apesar da pontual redução de 35,2% em comparação com o mesmo mês do ano passado, nada menos que 900 km² da Amazônia estiveram sob alerta de desmatamento em maio 2022, corroborando para que no acumulado de janeiro a maio deste ano, haja um acréscimo de quase 13% em relação ao mesmo período em 2022. Os dados evidenciam que a economia da destruição segue avançando na Amazônia, especialmente sobre as florestas públicas não destinadas, sobretudo no estado do Amazonas.

Área dos alertas de desmatamento do programa Deter-B mostra o agregado do ano (Janeiro – Maio).

“Apesar da desaceleração para o mês de maio, A Amazônia não tem motivos para celebrar, afinal a curva do desmatamento segue apontada pra cima, sem perspectiva de redução, haja vista que quem deveria controlá-la segue ignorando a realidade e produzindo um faz de conta que coloca em risco o presente e o futuro dos mais de 30 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, bem como dos demais brasileiros que indiretamente se beneficiam dos serviços ambientais prestados pela maior floresta tropical do mundo. Zerar o desmatamento deve ser o horizonte da política ambiental brasileira, não podemos mais conviver com essa economia que consome florestas e viola os direitos humanos na Amazônia.”, afirma André Freitas, coordenador da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.

A destruição da Amazônia é resultado de um projeto político que, ao longo dos últimos três anos, vem promovendo e legitimando os recordes no desmatamento na Amazônia, a proliferação de garimpos ilegais, a invasão de terras públicas, Unidades de Conservação (UC) e de Terras Indígenas (TI). Soma-se a isso o alastramento da violência e do crime organizado. O recente desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips é um dos tantos exemplos que escancaram o descaso, a omissão e a ausência do Estado brasileiro na Amazônia, que atinge também àqueles que defendem a floresta.

Desmatamento numa região entre a Amazônia e o Cerrado: destruição florestal foi 20% maior em janeiro.

Mais da metade do desmatamento na Amazônia ocorre em terras públicas.

Estudo inédito revela que o perfil da devastação mudou e as derrubadas estão concentradas em terras indígenas, unidades de conservação e florestas públicas não destinadas. (ecodebate)

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Desmatadores são cobrados na justiça por R$ 247 mi de dano climático

Observatório do Clima se uniu à Advocacia-Geral da União contra réus processados pelo IBAMA por desmatar 14 mil hectares da Amazônia.

O Observatório do Clima (OC) protocolou em 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, três manifestações em cortes do Pará e do Amazonas, cobrando R$ 247,3 milhões de grandes desmatadores da Amazônia pelo dano causado ao clima em desmatamentos realizados entre 2004 e 2017. É o maior pedido de indenização do gênero já feito no país.

Os réus já estão sendo processados pelo IBAMA pelo desmatamento ilegal de cerca de 14 mil hectares de floresta em propriedades rurais nos dois Estados. Eles foram multados várias vezes pelo órgão ambiental e, no conjunto dos processos, são demandados a ressarcir a União em cerca de R$ 357 milhões por diversos crimes.

Agora, o OC aponta que — além do dano ambiental causado pelo desmatamento e pelas queimadas praticados pelos réus — a União precisa cobrar também pelos gases de efeito estufa emitidos na conversão dessas áreas para pastagem e lavoura. A rede pediu para entrar nos processos como amicus curiae da Advocacia-Geral da União, que representa o Estado brasileiro nas ações contra os desmatadores. Isso significa que o OC está apoiando o governo federal na Justiça, entregando dados complementares, que colaboraram com os pedidos de indenização feitos pela União em cada uma das ações.

Um cálculo realizado pela equipe do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) mostra que o desmatamento, a queima dos resíduos da floresta e o impedimento da regeneração das áreas desmatadas emitiram um total de 10,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e).

Para comparação, esse é o volume de gases de efeito estufa emitidos em um ano pela Armênia e mais do que é emitido pela Costa Rica, segundo dados do ClimateWatch. Ao converter essas emissões em valor monetário, usando como referência o preço pago ao Brasil pelo desmatamento reduzido no âmbito do Fundo Amazônia (US$ 5 por tonelada), a equipe do OC chegou ao valor total de R$ 247,3 milhões a ser exigido nas ações. A única ação desse tipo impetrada no país antes destas, em 2021 pelo Ministério Público Federal do Amazonas em parceria com o Ipam, havia exigido R$ 44 milhões em dano climático.

O desmatamento é a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa do país. Em 2020, último ano para o qual há dados disponíveis, o SEEG estimou que a devastação das florestas, principalmente na Amazônia e no Cerrado, responde por 46% das emissões brasileiras dos gases que causam o aquecimento da atmosfera. Somente a destruição da Amazônia emite mais que a Espanha e o Reino Unido somados.

Nas petições, o OC argumenta que, ao desmatar ilegalmente a floresta, os réus tornaram-se perpetradores diretos das mudanças do clima, que afetam um número cada vez maior de pessoas, em sua maioria pobres — vide as 129 mortes registradas no fim de maio na Grande Recife.

“O dano ambiental é gênero, do qual o dano climático é espécie. Não se trata, então, apenas de desmatamento; se trata de desmatamento ilegal com a consequência concreta de aumentar a liberação de [gases de efeito estufa] e gerar desequilíbrio ecológico que se perpetuará por gerações”, afirmam as petições do OC.

“Entramos como amicus curiae do governo Bolsonaro, o que demonstra que até um relógio quebrado marca a hora certa duas vezes por dia”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Há funcionários do Estado brasileiro que, à revelia do seu presidente, que apoia explicitamente a destruição, buscam fazer a coisa certa e responsabilizar os criminosos que destroem o patrimônio dos brasileiros e põem toda a humanidade em perigo. São esses servidores públicos que nós apoiaremos nos tribunais.”

Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. (ecodebate)

Degelo da Antártida é sem precedentes nos últimos 5 mil anos

O atual recuo acelerado das geleiras pode levar a uma recessão cada vez maior do manto de gelo da Antártida Ocidental, com implicações consequentes para o nível global do mar.

Duas grandes geleiras na Antártida Ocidental podem estar perdendo gelo mais rapidamente do que nos últimos 5.000 anos, segundo um estudo da Universidade do Maine. O rápido derretimento das geleiras pode levar a uma grande elevação do nível do mar nos próximos séculos.

Nas últimas décadas, o manto de gelo da Antártida Ocidental recuou e diminuiu a taxas aceleradas. As geleiras Thwaites e Pine Island, que se estendem profundamente no coração da camada de gelo, são particularmente preocupantes. Essas geleiras são suscetíveis ao derretimento rápido porque ficam em um leito inclinado para o interior, onde a água quente do oceano pode fluir sob partes flutuantes das línguas das geleiras e erodir a camada de gelo de sua base, o que pode levar à perda de gelo descontrolada.

O recuo descontrolado dessas duas geleiras pode reduzir o tamanho do manto de gelo da Antártida Ocidental, contribuindo potencialmente em até 3,4 metros para o aumento global do nível do mar nos próximos séculos.

No entanto, há a hipótese de que as geleiras podem ter sido muito menores no passado geologicamente recente – ou seja, durante o Holoceno médio, uma era há mais de 5.000 anos que era ainda mais quente do que a atual. Se fossem menores, devem ter crescido novamente, aumentando a esperança de que poderiam fazer isso novamente no futuro.

Uma equipe internacional de pesquisadores liderada pela Universidade do Maine analisou a mudança relativa do nível do mar perto das geleiras durante os últimos 5.000 anos como uma maneira indireta de determinar se elas eram substancialmente menores do que as atuais no meio do Holoceno e, em seguida, reexpandido. O nível relativo do mar em um local depende da quantidade de água no oceano, mas também, principalmente, das mudanças locais na forma da crosta terrestre devido ao carregamento e descarregamento do gelo das geleiras. Assim, reconstruções do nível do mar relativo ao longo do tempo podem ser usadas para identificar mudanças em grande escala no avanço e recuo das geleiras.

A equipe, liderada por Scott Braddock, University of Maine Ph.D., usou a datação por radiocarbono de conchas de praias antigas que agora estão elevadas acima do nível do mar moderno para reconstruir as mudanças no nível relativo do mar ao longo do tempo. A forma da curva resultante está relacionada ao crescimento e recuo das geleiras.

“A mudança relativa do nível do mar permite que você veja o carregamento e o descarregamento da crosta em grande escala pelo gelo”, diz Brenda Hall, autora correspondente do estudo e professora da Escola de Ciências da Terra e do Clima e do Instituto de Mudanças Climáticas. “Por exemplo, o avanço das geleiras, que resultaria em carregamento crustal, diminuiria a taxa de queda relativa do nível do mar ou potencialmente até causaria a submersão da terra abaixo do nível do mar”.

Os resultados mostraram uma queda constante no nível relativo do mar nos últimos 5.000 anos. Esse padrão é consistente com o comportamento relativamente estável das geleiras, sem evidências de recuo ou avanço em larga escala das geleiras. Além disso, os pesquisadores descobriram que a taxa de queda relativa do nível do mar registrada pelas conchas foi quase cinco vezes menor do que a medida hoje. A razão mais provável para uma diferença tão grande é a recente e rápida perda de gelo na região.

“Nosso trabalho sugere que essas geleiras vulneráveis foram relativamente estáveis durante os últimos milênios, mas sua taxa atual de derretimento está acelerando e elevando o nível global do mar”, diz o coautor Dylan Rood, professor sênior do Imperial College London. “Essas taxas atualmente elevadas de derretimento do gelo podem sinalizar que essas artérias vitais do coração do manto de gelo da Antártida Ocidental estouraram, levando a um fluxo acelerado para o oceano que é potencialmente desastroso para o futuro nível global do mar em um mundo em aquecimento”.

Os pesquisadores também compararam seus resultados com modelos existentes da dinâmica entre o gelo e a crosta terrestre. Eles descobriram que os modelos não representavam com precisão a história do nível do mar revelada por seus dados. Este estudo ajuda a traçar um retrato mais preciso da história da região e sugere que os modelos precisam ser refinados.

Embora as novas evidências não excluam a possibilidade de pequenas flutuações das geleiras Thwaites e Pine Island nos últimos 5.000 anos, os pesquisadores concluíram que a interpretação mais simples de seus dados é que essas geleiras têm sido relativamente estáveis desde meados do Holoceno, até tempos recentes – e que a taxa atual de recuo das geleiras pode ser sem precedentes nos últimos 5.000 anos.

Sem nenhuma evidência dos dados relativos ao nível do mar de que as geleiras se recuperaram de uma configuração menor do que a atual nos últimos milhares de anos, permanece a possibilidade de que o atual recuo acelerado dessas geleiras possa levar a uma recessão cada vez maior do manto de gelo da Antártida Ocidental, com implicações consequentes para o nível global do mar.

Mapa do Mar de Amundsen, Antártica, mostrando os locais mencionados no texto.

Locais de estudo são mostrados em negrito. O cinza texturizado representa a superfície atual do manto de gelo (do Reference Elevation Model of Antarctica 35). As áreas cinzas sombreadas delineadas em azul representam as plataformas de gelo. As linhas azuis tracejadas indicam as direções do fluxo de gelo anterior através do Pine Island Trough (PIT). A batimetria (tons de azul e branco) é do conjunto de dados global GEBCO2019 36. O mapa base foi criado a partir do SCAR Antarctic Digital Database. (ecodebate)

terça-feira, 21 de junho de 2022

68% dos paulistanos se dizem muito preocupados com as mudanças climáticas

Pesquisa Viver em SP: Meio Ambiente revela percepção dos paulistanos sobre os maiores problemas ambientais e os impactos das mudanças climáticas na cidade

Em sua 4ª edição, a Pesquisa Viver em SP: Meio Ambiente apresenta a percepção da população paulistana acerca de diferentes aspectos relacionados ao tema, como os maiores problemas ambientais que afligem a cidade, seu grau de preocupação em relação às mudanças do clima e as medidas mais efetivas para combatê-las.

O levantamento realizado pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o IPEC Inteligência, também abordou o papel da ação humana na piora dos problemas ambientais locais.

Os dados indicam que os paulistanos compreendem que as ações humanas são as maiores causadoras dos problemas ambientais e que já percebem efeitos negativos destes em sua qualidade de vida, constatação de ¾ dos entrevistados. Merece destaque também uma maior percepção de que é necessária uma articulação entre políticas municipais, estaduais e federais para dar conta dos desafios ambientais da cidade de São Paulo (86%). O índice chega a 93% na região central da cidade.

Confira mais destaques:

Questões ambientais na cidade de São Paulo

Em continuidade aos dados de 2021, a poluição do ar, dos rios e as enchentes permanecem como os problemas ambientais mais percebidos pela população. Dentre os nove itens avaliados, estes são mencionados por 57%, 57% e 42% das pessoas, respectivamente.

Analisando os dados por região, na comparação com o total da amostra, nota-se que a poluição do ar é mais percebida na Região Norte, a poluição dos rios é mais citada na Região Oeste e Centro, enquanto as enchentes ganham destaque para uma maior parcela os habitantes da Região Leste.

69% acreditam que os problemas ambientais de São Paulo são causados pelas ações humanas, percentual que chega a 80% na Região Norte da amostra geral afirma acreditar que são causados tanto pela ação humana, quanto por mudanças naturais.

Apesar do recuo em relação à 2021, 52% dos paulistanos continuam indicando que o aumento de doenças cardiorrespiratórias são as principais consequências individuais dos problemas ambientais da cidade. 44% dos entrevistados citam ainda o aumento na ocorrência de doenças como dengue, zika e chikungunya.

Os responsáveis pelo combate aos problemas ambientais

Para a população paulistana, as três esferas do governo têm responsabilidade na busca por soluções para os problemas ambientais da cidade — governo municipal apontado por 88%; governo estadual por 87% e governo federal por 85% dos participantes da pesquisa. Para mais da metade destes, as empresas e indústrias (69%) e a população de maior renda (53%) têm muita responsabilidade na busca por soluções para os problemas ambientais.

Pensando nas soluções ambientais, a despoluição dos rios e córregos foi apontada por 41% dos entrevistados como medida mais eficiente, enquanto 36% citou uma maior fiscalização e aplicação de multas pelo Poder Público sobre o lançamento de esgotos nos rios e nos córregos de São Paulo.

Preocupados com as consequências dos problemas ambientais, 83% acreditam que seus impactos contribuirão para a falta de alimentos básicos, água, energia, etc; enquanto 81% enxergam ainda maiores riscos para a população mais pobres, os moradores de periferias e aqueles em situação de rua.

Aquecimento global e mudanças climáticas

Tema em alta por todo o mundo, as mudanças do clima também já estão na pauta dos paulistanos. ¾ dos moradores de São Paulo sentem que as mudanças climáticas afetam muito sua qualidade de vida (índice chega a 79% no Centro) e 68% declaram ter muita preocupação com o tema, um aumento de 6 pontos em relação ao último levantamento.

A percepção de que existem problemas efetivos em decorrência da crise ambiental, como as mudanças repentinas de temperatura, extinção de florestas, alagamentos/enchentes e a baixa umidade do ar, são citados por cerca de quatro em cada dez moradores da capital paulista. 76% afirmam ainda que o Brasil está perdendo credibilidade internacional por sua atuação em relação ao combate às mudanças do clima e ao aquecimento global.

4 em cada 10 entrevistados apontou ações relacionadas à preservação das florestas e áreas verdes como as ações mais efetivas para combater as mudanças climáticas, seguindo de perto pelo plantio de árvores (39%). Em proporção semelhante, a falta de recursos financeiros e de incentivo à instalação de sistemas de energia renovável seriam as principais barreiras para que a população contribua para a diminuição dos efeitos do aquecimento global (42% e 41%).

Analisando os dados por região da cidade, no Centro a principal barreira apontada foi a falta de um bom sistema de transporte público, enquanto na Região Oeste o destaque é para a ausência de coleta seletiva e na Zona Norte a maior parte dos entrevistados citou incentivos à indústria para a produção de embalagens menos poluentes.

Metodologia

A pesquisa foi realizada entre os dias 04 e 28/12/2021. Foram 800 entrevistas online e domiciliares com questionário estruturado e o público foram pessoas maiores de 16 anos que moram na cidade de São Paulo. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A série histórica da pesquisa Viver em São Paulo: Meio Ambiente pode ser conferida no Link. (ecodebate)

Ondas de calor devem diminuir em 2025

Ondas de calor devem diminuir em 2025, aponta Climatempo. O pico de emissões em 2025 é uma boa notícia, decerto, mas a física é implacável...