segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Mudança climática, perda de florestas e incêndios

Mudança climática, perda de florestas e incêndios – a floresta amazônica está presa em um círculo vicioso.
A Amazônia experimenta incêndios sazonais a cada ano. Mais de 90% dos incêndios estão distribuídos na fronteira sul da Bacia Amazônica, onde a vegetação dominada por savanas é inflamável na estação seca. Nas últimas décadas, no entanto, mais incêndios foram relatados nas florestas amazônicas. Os incêndios na Amazônia 2019 subiram de forma recorde.

Um novo estudo, publicado na Global Change Biology, mostrou como a expansão do fogo é atribuída à mudança de regime climático e à perda de florestas. O estudo foi liderado por cientistas do Instituto de Física Atmosférica da Academia Chinesa de Ciências.

“Eu não estive na floresta amazônica, mas tirei uma foto do meu assento na janela quando estava em um avião sobrevoando a Amazônia na temporada de incêndios de 2018. Dói-me pensar que um intenso verde e frescor possam ter sido chamuscados”, disse o professor JIA Gensuo, um dos autores do estudo.

A mudança climática global e o desmatamento local foram os principais responsáveis por intensificar o incêndio. “No entanto, mecanismos e efeitos interativos são amplamente ignorados e não compreendidos”, disse JIA.

De acordo com este estudo, o regime de incêndios na Amazônia vem se expandindo das savanas inflamáveis para florestas tropicais úmidas e a estação de incêndios é iniciada muito antes de duas décadas atrás.
Perda de floresta acumulada durante 2001-2017 e mudança de regime de incêndio durante a estação de transição (maio-julho).

“A expansão do fogo é resultado de eventos climáticos mais extremos que tornaram a floresta mais vulnerável e a perda intensiva de florestas que aqueceu e secou a atmosfera mais baixa, portanto aumentou a suscetibilidade ao fogo”, disse o Dr. XU Xiyan, o primeiro autor do estudo, “o fogo exacerba a perda de florestas e resulta em um ciclo vicioso”.

Dados de queima de fogo derivados da observação de satélites indicaram mais incêndios ocorrendo ao longo do “Arco do Desmatamento”, uma curva no extremo sudeste da floresta, onde o desmatamento é mais rápido. No estudo, eles usaram vários produtos de dados de satélite e reanálise climática para garantir consistência e confiabilidade.

As florestas amazônicas estão ficando mais secas e mais suscetíveis ao fogo devido a mudanças na sazonalidade do clima, perda de florestas e incêndios florestais. Esse feedback positivo mina muito a sustentabilidade da região amazônica.

“A mitigação das mudanças climáticas e o gerenciamento sustentável da terra são fundamentais para evitar ou pelo menos adiar o ‘ponto de inflexão’ da floresta amazônica”, disse XU. O “ponto de inflexão” é um limite quando a perda de floresta causa uma mudança abrupta ou irreversível em partes do sistema terrestre. (ecodebate)

Quantidade de plástico nos oceanos aumentará 4 vezes até 2040

Quantidade de plástico nos oceanos pode aumentar quatro vezes até 2040.
Oceanos em 2050 vão ter mais plástico do que peixes, alerta Fórum de Davos.

Até 2040, o volume de plásticos no mercado dobrará, o volume anual de plásticos que entra no oceano quase triplicará (de 11 milhões de toneladas em 2016 para 29 milhões de toneladas em 2040) e a quantidade de plástico nos oceanos quadruplicará (atingindo mais de 600 milhões de toneladas) caso não sejam tomadas medidas urgentes.

É o que revela o estudo Breaking the Plastic Wave, um dos mais completos e analiticamente robustos já publicados sobre plásticos no oceano, publicado hoje pela Pew Charitable Trusts e a SYSTEMIQ – junto com a Fundação Ellen MacArthur, Universidade de Oxford, Universidade de Leeds e Common Seas, seus parceiros de conhecimento. Para saber mais, o documento anexo descreve o posicionamento da Fundação Ellen MacArthur, incluindo as principais descobertas do estudo e um chamado à ação para a indústria e os atores públicos.

Em seu posicionamento, a Fundação Ellen MacArthur estabelece ações claras e urgentes, que incluem:

• Eliminar os plásticos dos quais não precisamos – não só removendo os canudos e sacolas, mas também ampliando modelos de entrega inovadores que levem os produtos aos clientes sem embalagem ou utilizando embalagens retornáveis e estabelecendo metas ambiciosas para reduzir o uso de plástico virgem. O uso de plásticos deve ser reduzido em quase 50% até 2040 em comparação ao cenário atual. Isso equivale a um crescimento líquido nulo no uso de plásticos para o período.

• Projetar todos os itens plásticos para que sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis. Também é crucial financiar a infraestrutura necessária a fim de ampliar a nossa capacidade de coletar e circular esses itens. No melhor cenário, isso demandará cerca de US? 30 bilhões em financiamento anual recorrente. Por isso, mecanismos que melhorem as condições econômicas da reciclagem e forneçam fluxos de financiamento recorrente estáveis com contribuições justas da indústria, tal como a Responsabilidade estendida do produtor (REP) ou outras iniciativas equivalentes lideradas pela indústria, deve ser implementadas globalmente com urgência.

• Inovar a uma velocidade e escala sem precedentes em direção a novos modelos de negócio, design de produtos, materiais, tecnologias e sistemas de coleta para acelerar a transição para uma economia circular. Se as indústrias do plástico e de gestão de resíduos intensificassem as suas atividades de pesquisa e desenvolvimento para alcançar um nível equivalente à da indústria de maquinário, por exemplo, isso criaria uma agenda de P&D de US? 100 bilhões até 2040 – quadruplicando seu investimento em P&D em comparação aos níveis atuais.

Em comparação com o cenário atual, a abordagem abrangente de economia circular descrita neste estudo tem o potencial de gerar uma economia anual de US$ 200 bilhões, reduzir em 25% as emissões de gases de efeito estufa e criar um saldo líquido de 700 mil empregos adicionais até 2040.

“O estudo Breaking the Plastic Wave traz um nível de detalhes sem precedentes sobre o sistema global de plásticos e confirma que, sem que haja uma mudança fundamental, até 2050 os oceanos podem conter mais plásticos do que peixes. Para combater o desperdício e a poluição por plástico, temos que intensificar os nossos esforços radicalmente e acelerar a transição para uma economia circular. Precisamos eliminar os plásticos dos quais não precisamos e reduzir significativamente o uso de plástico virgem. Precisamos inovar para criar novos materiais e modelos de reuso. E precisamos de melhor infraestrutura para garantir que todos os plásticos que nós usamos circulem na economia e nunca se tornem resíduo ou poluição. A questão não é se uma economia circular para o plástico é possível, mas sim o que faremos juntos para que se torne realidade”, afirma Ellen MacArthur, fundadora da Fundação Ellen MacArthur.
Na Inglaterra, onde 4.7 bilhões de canudos plásticos, 316 milhões de mexedores de café e 1.8 bilhões de cotonetes são usados a cada ano, a secretaria do meio ambiente lançou uma consulta com a proposta de banir canudos plásticos e cotonetes. O Parlamento Europeu votou a favor da proibição de plásticos descartáveis por toda a União Europeia até 2021. (ecodebate)

sábado, 29 de agosto de 2020

Pesquisas apontam influência do aquecimento global no Ciclone Bomba

Ciclone Bomba no sul do Brasil: Pesquisas apontam influência do aquecimento global.
Defesa Civil de Santa Catarina Geral.

As chuvas torrenciais e os ventos que varreram o Sul do Brasil em 30/6/20 se devem à nova dinâmica climática provocada pelo aquecimento global. Essa é a principal conclusão das análises do climatologista Francisco Eliseu Aquino*, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo ele, o aumento de 1°C na temperatura média do Brasil de norte a sul tem fortalecido o contraste trópico-polo, e agora toda a circulação atmosférica do nosso continente está sob influência desse reordenamento do sistema climático.

A água da tempestade provocada pelo ciclone bomba do dia 30/06 foi coletada pelos estudiosos, e os dados estão sendo processados. Segundo Aquino, uma análise preliminar dessas informações parece fortalecer a seguinte hipótese: as duas importantes fontes de umidade para formação de chuvas na região, que são a Amazônia e o Atlântico Sul, podem estar acompanhadas de uma terceira, que seria o Mar de Wendel, no oceano Antártico (atlântico sul em direção à Antártica). A mudança nas relações entre as massas de ar das regiões amazônica e polar já vinham chamando a atenção dos estudiosos desde a tempestade de 2016 no Rio Grande Sul, classificada como uma micro explosão. Uma análise da água daquela chuva mostrou que o DNA do evento — ou seja, a composição isotópica da chuva — era totalmente antártico.

Segundo o professor, se existe uma região que é excepcionalmente sensível à mudança climática global é exatamente o Sul do Brasil. “Isso já estava descrito na literatura científica muito antes de eu iniciar meus estudos de graduação em geografia. Já se sabia que quando essa região começasse a dar sinais, os eventos saltariam muito rapidamente de intensidade”, diz.

A Bacia do Prata já é uma região ciclogenética [propícia a ciclone] nativa da América do Sul, de acordo com o professor. “O que nós estamos suspeitando é que esses ciclones estão ficando mais bem formados, mais profundos e, por isso, mais perigosos”, explica. “Tanto é que nós tivemos dois ciclones bomba em menos de dez dias, com valor expressivo de precipitação e rompendo com a circulação atmosférica Amazônia-Sul da América do Sul por completo.” O segundo ciclone bomba, mencionado pelo professor, ocorreu no dia 8/7 no oceano e somente os ventos chegaram ao continente.

“Lamentavelmente nós tivemos esses dois ciclones bomba, com altíssimo impacto e mais de 2 mil desabrigados, justo no auge da pior das pandemias da nossa história”, ressalta o professor, que avalia que será necessário sofisticar os mecanismos de alerta para esses eventos em parceria com a defesa civil.

O professor lembra que o Rio Grande do Sul acaba de sair de sua estiagem mais intensa, iniciada em 2019 e que superou muito a de 2012. “Estamos falando de prejuízos de mais de R$ 40 bilhões pela falta de precipitação na Bacia do Prata”, avalia. Ele explica que essa seca tem conexões com eventos meteorológicos regulares, mas que o desmatamento na Amazônia e no Cerrado está diminuindo a umidade do solo e a capacidade da atmosfera de manter os ecossistemas “Isso também atua para a variabilidade extrema das precipitações no Sul”.

Os dados da pesquisa foram apresentados à comunidade científica e ao público em geral em webinar realizado esta semana pelo Instituto ClimaInfo, com apoio da jornalista Silvia Marcuzzo.

A íntegra do webinar pode conferida aqui: http://www.youtube.com/watch?v=h3pEsyPTVrg

Centro Polar e Climático – CPC / UFRGS:

Aquino é coordenador do Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia, Diretor do Centro Polar e Climático (CPC) e Coordenador da Divisão de Climatologia Polar e Subtropical da UFRGS. (ecodebate)

Aquecimento global aumenta hospitalizações relacionadas ao calor

Aquecimento global aumenta hospitalizações cardiovasculares relacionadas ao calor.
O impacto das altas temperaturas nas hospitalizações por doenças cardiovasculares aumentou nas últimas duas décadas em Queensland, na Austrália, de acordo com um novo estudo publicado esta semana na PLOS Medicine por Shanshan Li e Yuming Guo da Monash University, Austrália, e colegas.

Temperaturas extremas – tanto frias quanto quentes – são fatores de risco conhecidos para morbimortalidade cardiovascular. As mudanças climáticas globais estão aumentando a duração e a intensidade dessas temperaturas extremas. Estudos anteriores descobriram uma diminuição na associação entre temperaturas quentes e mortes cardiovasculares, sugerindo que as pessoas podem ter se adaptado ao clima quente. No novo estudo, os pesquisadores usaram dados de 1.855.717 hospitalizações cardiovasculares em Queensland, Austrália, entre 1995 e 2016, para estudar a associação entre temperatura e hospitalizações.

Entre 1995 e 2016, a temperatura média diária em Queensland aumentou de 20,9°C para 21,7°C e o número anual de hospitalizações cardiovasculares aumentou de 46.730 para 123.477. Em todas as idades, sexos e zonas climáticas, o risco relativo de hospitalizações cardiovasculares associadas a altas temperaturas aumentou ao longo do tempo, mas o impacto das baixas temperaturas diminuiu ao longo do tempo. A magnitude crescente dos impactos do calor foi maior nos homens do que nas mulheres (p = 0,002) e maior nas pessoas com menos de 70 anos em comparação com as pessoas com 70 anos ou mais (p <0,001).

“Dada a crescente associação entre temperaturas quentes e hospitalização cardiovascular e a aceleração do aquecimento global, destacamos uma tendência preocupante de que o ônus dos serviços de saúde cardiovascular é aumentar com o tempo em dias de alta temperatura”, afirmam os autores. (ecodebate)

Ursos polares podem desaparecer em 80 anos

Ursos polares podem desaparecer em 80 anos, diz pesquisa.

 “Se de alguma forma mágica as camadas de gelo pudessem ser mantidas, mesmo com o aumento da temperatura, os ursos-polares estariam bem. O problema é que seu habitat está literalmente derretendo”, diz pesquisador.
Ursos polares podem ser extintos até 2100, segundo pesquisa.

Os ursos polares podem desaparecer até 2.100. A informação foi publicada em estudo da revista científica Nature Climate Change em 20/07/20.

São 25 mil ursos polares espalhados em 19 subpopulações, atualmente, segundo registro. A pesquisa foi feita em 13 destas. Em 12, deve haver a extinção da espécie, se o ritmo de aquecimento global continuar, concluiu a pesquisa.

Ainda conforme apontado no estudo, o derretimento das camadas de gelo do Polo Norte impactam diretamente a espécie, uma vez que reduz o tempo deles para caçar focas – estas, por sua vez, diminuem a quantidade pela falta de camadas de gelo na região ártica.

Com isso, pesquisadores apontam o fim de quase todas as populações destes ursos em 80 anos, se as emissões responsáveis pelo efeito estufa mantiverem o ritmo.

Bola de neve

As regiões árticas, com temperaturas de até -40ºC, são o habitat dos ursos. O aquecimento global afeta o Ártico duas vezes mais rápido que o resto do mundo, o que atrasa a formação de camadas de gelo, diminuindo a presença das focas, na região.

Desta forma, os ursos precisam ir mais longe a busca de alimentos. Com menos peso corporal, os animais que normalmente podem jejuar por vários meses, veem reduzida a chance de sobreviver no inverno ártico.

A conclusão de Steven Amstrup, principal autor do estudo, é que os ursos enfrentam um período de jejum cada vez maior antes do gelo voltar a congelar e poderem voltar a se alimentar. De acordo com a análise, a temperatura média global pode subir 3,3°C em relação à registrada na era pré-industrial.

Detalhes

No estudo foram verificados o peso máximo e mínimo dos animais. Eles verificaram, ainda, o gasto de energia e, então, calcularam o número limite de dias de jejum que um urso polar aguenta antes que a taxa de sobrevivência comece a cair.

A pesquisa realizou, também, projeções de mudanças climáticas, bem como do derretimento das camadas de gelo na região. Uma das verificações da pesquisa aponta que um urso polar macho da subpopulação de Hudson Bay – 20% menos pesado que o normal no início do jejum – vai sobreviver apenas 125 dias em vez dos 200, caso estivesse no seu peso normal.

As fêmeas, por sua vez, entram no outono em seus abrigos para dar à luz no meio do inverno. Desta forma, elas precisam de focas suficientes para economizar gordura e produzir leite para os filhotes. A situação delas, conforme pesquisado, é ainda mais delicada.

“Se de alguma forma mágica as camadas de gelo pudessem ser mantidas, mesmo com o aumento da temperatura, os ursos-polares estariam bem. O problema é que seu habitat está literalmente derretendo”, lamentou Amstrup. (emaisgoias)

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Urso polar deve ser extinto até 2100 devido ao aquecimento global

O futuro do nosso planeta não parece promissor, infelizmente, e já estamos recebendo esse alerta há bastante tempo. Quem mais sente o impacto das mudanças climáticas na Terra acabam sendo os animais, que, ao contrário dos humanos, não conseguem se adaptar tão facilmente às alterações do meio ambiente em que vivem, e acabam correndo um risco grave de extinção.

Entre esses animais estão os ursos polares, que podem acabar deixando de existir antes de 2100, caso nada seja feito até lá. O que vem causando essa ameaça é o derretimento do gelo, uma vez que a previsão é que as temperaturas do mundo todo aumentem em até 4°C no final do século. Esses animais dependem do gelo para caçar focas, que são o seu principal alimento, mas cerca de 26 mil deles estão sofrendo com alterações fisiológicas, pois em épocas de calor no Ártico já jejuam pelo máximo de tempo que conseguem.

A previsão vem de estudo da equipe do cientista Péter Molnár, da Universidade de Toronto, no Canadá, publicado em 20/07/20 na revista científica Nature. Por faltar dados da demografia das 19 subpopulações de ursos polares, era difícil fornecer prazos de duração de vida dos ursos polares no futuro. A fim de mudar esse cenário, os pesquisadores imitaram uma abordagem usada por cientistas climáticos para prever as mudanças do futuro.

Para cada um dos 19 subgrupos de ursos polares foram combinadas estimativas da extensão de gelo em suas áreas do Ártico com a quantidade de gordura que precisa ser ingerida pelos ursos polares antes de entrar em jejum, e com isso foi criado um modelo computacional que calcula o tempo em que eles poderão continuar sobrevivendo e reproduzindo.

O modelo criado pelos cientistas foi comparado com projeções para o passado e observações históricas reais, como o aumento e redução de ursos em áreas de Hudson Bay, no Canadá, entre as décadas de 1980 e 1990. Foi possível, no entanto, modelar 13 dos 19 grupos por não haver modelos climáticos que fossem suficientes para os outros seis. Porém, para Molnár, não há indícios de que os resultados seriam diferentes aos grupos faltantes.

Ainda de acordo com o estudo, mesmo que a emissão de gases de efeito estufa sejam cortadas de forma drástica e o aquecimento global seja mantido a menos de 2°C, muitos dos grupos de ursos polares continuarão sendo forçados contra os seus próprios limites físicos. Com isso, alguns deles ainda podem sobreviver e o resultado ser um pouco menos pior, pelo menos ainda neste século.

Ursos polares são incapazes de encontrar alimento em terra e dependem do gelo marinho para caçar.

Ursos polares serão praticamente extintos até 2100, prevê estudo.

Pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, projetam que ursos do Ártico enfrentarão falhas reprodutivas devido ao derretimento de calotas polares. (canaltech)

Pesquisadores alertam para a sobrevivência de ursos polares até 2100

Mudanças Climáticas: Pesquisadores alertam para a sobrevivência de ursos polares até o final do século.
Prevê-se que a perda de gelo do mar, devido às mudanças climáticas, ameace a sobrevivência de populações de ursos polares no Ártico até o final do século, mostram novas pesquisas.

Por que importa: “Os ursos polares são considerados mensageiros dos sintomas da mudança climática, que afetarão toda a vida, inclusive os humanos”, diz Steven Amstrup, cientista chefe da Polar Bears International.

“Os impactos podem ocorrer mais cedo – e, de fato, no Alasca, eles já estão ocorrendo antes do que projetamos”.

– Steven Amstrup, da Polar Bears International

O que há de novo: o novo estudo, em coautoria de Amstrup e publicado na revista Nature Climate Change, marca a primeira vez que os cientistas foram capazes de prever quando, onde e como os ursos polares provavelmente desaparecerão. Os modelos anteriores não foram avaliaram as diferentes condições de vida no Ártico e os níveis de subpopulações de gelo marinho.

A extinção dos ursos-polares já tem data prevista para acontecer: muito em breve.

# O professor da Universidade de Wyoming, Merav Ben-David, que estuda ursos polares com Amstrup há 20 anos, mas não participou deste trabalho, disse que a modelagem seria uma ferramenta essencial para a conservação.

Antecedentes: Os ursos polares dependem do gelo marinho para caçar presas. O gelo está desaparecendo em regiões como o Alasca, que no ano passado viu uma perda de gelo sem precedentes no mar de Bering e uma rápida redução nos mares de Chukchi e Beaufort.

# Os cientistas reconheceram mudanças significativas no gelo do mar Ártico no final dos anos 90, disse Ben-David. “Desde então, começamos a ver os efeitos das mudanças climáticas nos ursos polares”.

# As fêmeas podem se reproduzir sem o gelo. Mas, com acesso limitado a alimentos, Ben-David disse que eles não têm nutrientes para alimentar os filhotes e energia para caçar – deixando-os “incapazes de nutri-los e criá-los na idade adulta”.

O que eles fizeram: “Ao estimar quão magros e quão gordos os ursos polares podem ser, e modelar seu uso de energia, conseguimos calcular o número limite de dias que os ursos polares podem jejuar antes que as taxas de sobrevivência de filhotes e / ou adultos comecem a declinar, disse o autor do estudo Péter Molnár, da Universidade de Toronto Scarborough”, em comunicado.

# O artigo explora o que está reservado para os ursos polares em dois cenários diferentes de emissão de gases de efeito estufa.

# Em um cenário de emissões moderadas (conhecido como) caminho representativo da concentração 4.5, eles encontraram ursos polares no mar de Laptev, norte da Rússia, e no mar de Beaufort, norte do Alasca, enfrentariam “possível” colapso reprodutivo até 2080. Subpopulações em outros lugares também seria ameaçado.

# Sob um cenário de crescimento de emissões muito alto (RCP 8.5), as ilhas Queen Elizabeth do Canadá “podem ser o único lugar em que os ursos polares podem continuar a prosperar” até 2080, disse Amstrup.

# Outras subpopulações enfrentariam algum nível de ameaça de falha reprodutiva – com esse resultado “inevitável” para aqueles no mar de Barents, entre a Rússia e a Noruega, e a baía de Hudson, no sul do Canadá.

Sim, mas: alguns pesquisadores acreditam que o cenário é improvável porque o custo das tecnologias de baixo carbono está caindo e o uso global de carvão também.

# Amstrup disse que é importante considerar, pois alguns líderes ainda estão pressionando pelo uso de combustíveis fósseis e “ainda temos que ver muita mudança na taxa de aumento das concentrações de CO2”.

O que prestar atenção: Movimentos como os 2019 e greves climáticas têm motivados governos para agirem, com vários países europeus prometendo grandes cortes e emissões e iniciativas verdes, diz o cientista climático Robert McLachlan, do New Zealand Centre for Planetary Ecology.

# Isso poderia ajudar a mitigar a ameaça às populações de ursos polares.

Urso-polar é visto bem magro perto de Tilichiki, na Rússia, a centenas de quilômetros de seu habitat natural, em foto de 16/04/2019.

Mudanças climáticas podem levar ursos polares à extinção em menos de 80 anos, diz estudo.

Cientistas alertam para riscos de se manter as emissões de gases estufa no ritmo atual: queda na reprodução colocará em risco a permanência da espécie até 2100. (ecodebate)

Efeitos das mudanças no clima global e a ocorrência do novo coronavírus

Efeitos das mudanças no clima global e a ocorrência do novo coronavírus: teria uma coisa a ver com a outra?
Os últimos 5 anos foram os mais quentes do registro histórico. O volume de gelo no Ártico no verão é, hoje em dia, 70% menor do que há apenas 4 décadas. Tempestades, como furacões e chuvas extremas, têm se intensificado, em paralelo com ondas de calor, secas e incêndios florestais, como o que transformou a Austrália recentemente num inferno, ceifando a vida não apenas de seres humanos, mas de cerca de um bilhão de animais. O avanço do nível do mar também já produz efeitos visíveis na linha de costa em vários locais do mundo. Corais estão sofrendo com eventos de branqueamento cada vez mais frequentes e a acidificação dos oceanos avança, ameaçando a biota marinha.

Sabe-se, pelo menos desde o final do século passado, que o aumento incessante das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera do nosso planeta iriam produzir esses efeitos, e que os mesmos se agrava ano após ano, especialmente se nada fosse feito. Os cientistas alertaram sucessivamente, através dos relatórios produzidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) que a única saída seria reduzir as emissões de gases de efeito estufa, especialmente o CO proveniente da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento.

Há pelo menos 3 décadas, no esforço construído em torno do IPCC, a comunidade científica internacional vem somando esforços para entender as bases físicas das alterações climáticas, identificar potenciais impactos e vulnerabilidades de sistemas naturais e humanos, propor soluções para conter o aumento da temperatura média global, e reduzir os seus efeitos negativos sobre o meio ambiente e o modo de vida das pessoas. Em 08/10/2018, na Coréia do Sul, o IPCC divulgou um relatório, considerado o mais importante já publicado abordando as mudanças climáticas, no qual avalia as perspectivas globais de limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação ao Período Pré-Industrial. No referido documento, o IPCC ressalta o aprimoramento e a urgência nas tomadas de decisões dos governos em relação ao Acordo de Paris, deixando claro que um cenário de 1,5°C é mais seguro que 2°C no que diz respeito à impactos climáticos. De fato, as estimativas científicas apontam que caso as temperaturas globais aumentem 2°C acima dos níveis pré-industriais, as consequências serão ainda mais catastróficas, incluindo a escassez de alimento e de água, e desastres naturais potencializados pela ação humana, por exemplo, aqueles que causam impactos diretos na saúde. Em suma, todas essas questões, no fim das contas, envolvem saúde pública.

Projeções científicas apontam ainda que as mudanças no clima devem implicar no aumento tanto na quantidade quanto na diversidade dessas epidemias, principalmente de doenças infecciosas transmitidas por vetores, como a malária, dengue e Zika. Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia publicado um relatório Investing to overcome the global impact of neglected tropical diseases, o qual alertava para o perigo da relação entre o aquecimento global e doenças tropicais negligenciadas. Segundo esse documento, com o aumento da temperatura, a zona de clima tropical do planeta deverá se expandir paulatinamente, ampliando também as áreas acometidas por doenças. Esse relatório conclui que as mudanças climáticas constituem a maior ameaça à saúde mundial do século XXI, cujas estimativas apontam 250 mil mortes por ano até 2030.
Estudos diversos apontam que ecossistemas modificados pela intervenção humana, além de potencializarem a disseminação de doenças emergentes, podem também contribuir para a propagação de outras doenças associadas, que podem afetar o sistema imunológico e atingir a saúde humana como um todo. Além disso, sabe-se que os impactos antrópicos associados a crise climática também leva à insegurança alimentar, e como resposta à nova realidade ambiental, as pessoas tendem a buscar fontes alternativas de alimento, tais como a inserção de animais silvestres na sua dieta. É exatamente em cenários como estes que emergem as chamadas pandemias, doenças infecciosas cuja ocorrência extrapola fronteiras geográficas, atingindo pessoas ao redor do mundo. Entre 1918 e 1920, por exemplo, estima-se que de 50 a 100 milhões de pessoas tenham morrido na pandemia da Gripe Espanhola, um número superior a quantidade de civis e militares que morreram durante a 1ª Guerra Mundial (aproximadamente 17 milhões de vítimas); e em 2009, especialistas apontam que milhões de pessoas ao redor do mundo tenham sido infectadas – e centenas delas tenham sido mortas – pela Gripe Suína, pandemia causada pelo vírus Influenza H1N1.

De acordo o último Relatório Anual sobre Preparação Global para Emergências em Saúde (2019), “doenças propensas a epidemias, como gripe, doenças respiratórias agudas graves (SARS), Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), Ebola, Zika, febre amarela e outros, são precursores de uma nova era de alto impacto, surtos potencialmente de rápida disseminação que são mais frequentemente detectados e cada vez mais difícil de gerenciar”. A passagem desses vírus para o ser humano é facilitada quando travamos contato mais frequente com espécies silvestres por conta do desmatamento e degradação ambiental em associação principalmente com a expansão da fronteira agrícola e quando mantemos bilhões de animais geneticamente similares em confinamento (“gripe suína”, “gripe aviária” etc.). Além disso, a rápida disseminação de vírus perigosos só é possível graças à hipermobilidade produzida por nosso modo de vida intensivo em carbono.

Atualmente, enfrentamos o preocupante novo coronavírus (SARS-COV-2), pandemia que já soma mais de 1 milhão mortes em todo o mundo. Para este caso, há indícios de que o vírus pode ter “saltado” de determinados grupos de animais silvestres para as pessoas, a partir do momento que estes foram inseridos como alimentação alternativa para alguns grupos humanos, bem como os locais insalubres onde tais animais eram mantidos para venda e posterior abate. Em se confirmando tais indícios, ficará evidenciado, mais uma vez, que determinadas atitudes humanas – tais como invadir ambientes habitados por milhares de outros organismos, bem como utilizá-los como alternativa à mudanças provocadas por nós mesmos – têm efeitos nocivos à natureza em geral, com implicações diretas a nossa própria saúde.

Esse cenário de pandemia do SARS-COV-2 está imprimindo à sociedade uma mudança emergencial introduzindo novos hábitos, que poderão constituir em longo prazo para minimizar a crise climática, como trabalhar de casa, videoconferências, jornadas semanais mais breves ou horários de escritório alternados para reduzir o tráfego. Mostra também que boa parcela da produção e circulação de bens materiais é supérflua, predatória e perfeitamente dispensável e revela que mecanismos de proteção social como a renda universal pode proteger trabalhadores de setores cujas atividades precisam ser ou drasticamente reduzida ou encerrada (petróleo, mineração de carvão, etc). Mas estamos longe de resolver a crise climática, tendo em vista que para isso somente uma mudança de atitude global poderia resolver o problema. Mesmo considerando uma projeção de queda de 8% nas emissões ao final deste ano, o aumento da concentração de CO2 na atmosfera seria apenas ligeiramente freado, sendo necessários cortes da ordem dessa porcentagem por anos a fio para mantermos chances de conter o aquecimento global.

Que legado deixaremos às futuras gerações? Um mundo ingovernável, com eventos extremos, milhões de refugiados climáticos e pandemias frequentes? Em que não saberemos se devemos dizer “fique em casa” (para evitar contágio numa pandemia) ou “evacuem suas casas” (diante de um furacão ou incêndio florestal)? É preciso afirmar com todas as letras: como solução consistente e de longo prazo para essas duas crises – climática e sanitária – não há outro “medicamento” ou “vacina” senão mudanças de atitudes, o que exige uma autocrítica profunda acerca do nosso papel enquanto “seres pensantes” na manutenção do equilíbrio ecológico-social-econômico do nosso Planeta, cuja dinâmica sistêmica é limitada – atuando à base de fluxos (de matéria e energia) e de ciclos (carbono, nitrogênio, etc.) – em um sistema capitalista expansionista, cuja lógica é baseada na geração, concentração e acumulação de bens e riqueza em curto prazo. Nossa percepção no que diz respeito a centralidade do colapso ecológico tem que ser ampliada e a mudança no nosso modo de nos relacionarmos com a natureza, radicalmente alterada. Já! (ecodebate)

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Desmatamento na Amazônia cresce 24% no 1º semestre/2020

Desmatamento na Amazônia cresce 24% no primeiro semestre de 2020.
É o segundo maior índice de desmatamento na Amazônia em seis meses desde 2010.

De acordo com dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon, no primeiro semestre deste ano, a Amazônia totalizou 2.544 km² de área desmatada, um aumento de 24% comparado ao primeiro semestre do ano passado. É o segundo maior valor acumulado em um semestre desde 2010. Só no último mês de junho, a Amazônia perdeu 822 km² de floresta, uma área equivalente a duas vezes o tamanho da cidade de Belo Horizonte.

O Pará lidera o ranking dos estados que mais desmataram a Amazônia com 43% do total. Em seguida estão Amazonas (21%), Mato Grosso (14%), Rondônia (14%), Acre (7%) e Roraima (1%). Ainda segundo o monitoramento, apenas dez municípios foram responsáveis por metade de todo o desmatamento na Amazônia em junho. Altamira, no Pará, encabeça a lista dos municípios campeões de derrubada de floresta. Na sequência estão Porto Velho/RO, Novo Progresso/PA e Itaituba/PA.

Em junho, o desmatamento também avançou por Unidades de Conservação na Amazônia. A Florex Rio-Preto Jacundá/RO foi a mais desmatada no mês de junho com 47 km² de área destruída. Em seguida, vem a APA Triunfo do Xingu/PA, com 27 km², e Flona do Jamanxim/PA, com 23 km². As Terras Indígenas que mais foram alvo do desmatamento ilegal são Apyterewa, Mundurucu e Kayapó, todas no Pará.

Degradação – Em junho deste ano, foram detectados 213 km² de área degradada na Amazônia: Mato Grosso aparece no topo da lista de estados com 73%, seguido por Pará (25%), Rondônia (1%) e Roraima (1%). A degradação é caracterizada pela extração seletiva.

(ecodebate)

Amazônia tem aumento de 24% em alertas de desmatamento no 1º semestre/2020

Amazônia tem aumento de 24% nos alertas de desmatamento no primeiro semestre de 2020, indica Imazon.

São 2.544 km² com sinais de desmatamento, o segundo maior valor acumulado em um semestre desde 2010.
A Amazônia teve um aumento de 24% nos alertas de desmatamento medidos pelo sistema do Imazon no primeiro semestre de 2020, se comparado ao mesmo período de 2019.

São 2.544 km² com sinais de desmatamento, o segundo maior valor acumulado em um semestre desde 2010, de acordo com a entidade. Em junho, a Amazônia perdeu 822 km² de floresta, uma área equivalente a duas vezes o tamanho da cidade de Belo Horizonte.

O número se aproxima à análise de dados do governo divulgado em 10/07/20, mas há diferenças devido à metodologia (leia abaixo).

Amazônia bate novo recorde nos alertas de desmatamento em junho; sinais de devastação atingem mais de 3 mil km² no semestre, aumento de 25%.

Estados e municípios

Entre os estados, o Pará foi o que mais desmatou a Amazônia, com 43% do total.

De acordo com o Imazon, dez municípios foram responsáveis por metade de todo o desmatamento na Amazônia em junho. Pela ordem, são: Altamira (PA), Porto Velho (RO), Novo Progresso (PA) e Itaituba (PA).

Veja 10 motivos de preocupação com o desmatamento na Amazônia em alta em meio à pandemia.

Alertas de desmatamento na Amazônia, por estado.

Pará lidera, com 43% dos alertas no primeiro semestre de 2020.
Desmatamento na Amazônia atinge nível recorde no 1º trimestre de 2020.

Aumento em relação ao mesmo período de 2019 chega a 51% e atinge áreas protegidas.

O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon foi criado em 2008. Ele se baseia em imagens de satélites para captar a mudança do uso do solo. Com isso, afirma o Imazon, é possível detectar desmatamentos a partir de 1 hectare, mesmo sob condição de nuvens.

O sistema de alertas do governo, chamado de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), usa imagens de satélite de 6 hectares.

As imagens são captadas e analisadas pela ferramenta de monitoramento do instituto. O Imazon afirma que, atualmente, o SAD utiliza os satélites Landsat 7 (sensor ETM+), Landsat 8 (OLI), Sentinel 1A e 1B, e Sentinel 2A e 2b (MSI) com os quais é possível detectar desmatamentos a partir de 1 hectare mesmo sob condição de nuvens.

Entenda as diferenças entre os sistemas que monitoram o desmatamento na Amazônia.

Sistemas de monitoramento da Amazônia têm objetivos e metodologias diferentes. (ecodebate) 

As projeções demográficas e o futuro da população mundial

“A população mundial precisa ser estabilizada e, idealmente, reduzida gradualmente”.

Alerta dos cientistas mundiais sobre a emergência climática (05/11/2019).

A revista The Lancet publicou em 14/07/2020 um artigo que apresenta novas projeções para a população mundial e para os diversos países. Os pesquisadores do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington (IHME, na sigla em inglês) apresentam números para a população humana do Planeta em 2100 que são menores do que o cenário médio apresentado ano passado pela Divisão de População da ONU (que é a referência maior nesta área de projeções demográficas). Para Vollset, et. al. (14/07/2020) o maior nível educacional das mulheres e o maior acesso aos métodos contraceptivos acelerarão a redução das taxas de fecundidade, gerando um crescimento demográfico global mais lento.

Se este cenário acontecer de fato será um motivo de comemoração, pois a redução do ritmo de crescimento demográfico não aconteceria pelo lado da mortalidade, mas sim pelo lado da natalidade e, principalmente, em decorrência do empoderamento das mulheres, da universalização dos direitos sexuais e reprodutivos e do aumento do bem-estar geral dos cidadãos e cidadãs da comunidade internacional.

De modo geral, a imprensa tratou as novas projeções como uma grande novidade dizendo que a população mundial não ultrapassará 10 bilhões de pessoas até o final do século e que, no caso do Brasil a população apresentará uma queda de 50 milhões de pessoas na segunda metade do corrente século.

Na verdade nada disto é novidade, pois a possibilidade de uma população bem abaixo de 10 bilhões já estava presente. Diante das incertezas, normalmente, se elabora cenários para o futuro com amplo leque de variação. A Divisão de População da ONU tem vários números para o montante de habitantes em 2100, que variam entre 7 bilhões e 16 bilhões. O gráfico abaixo, apresentado no Twitter, pelo demógrafo Patrick Gerland, da ONU, faz uma comparação entre os diferentes cenários da ONU, do IIASA e do IHME.
Projeções do IHME não trazem nada de novo em relação aos cenários mais baixos das projeções da ONU, apenas assumem, que os cenários de maior queda das taxas de fecundidade são as hipóteses mais prováveis. Os autores (Vollset, et. al. 2020) assumem que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU serão efetivos para melhorar a qualidade de vida em geral e que haverá um amplo avanço da educação e da saúde no mundo. Seria ótimo se isto se tornar verdadeiramente uma realidade.

Mas o fato é que os cenários demográficos para 2100 apresentados pela Divisão de População da ONU são mais bem elaborados do que as projeções do IHME. No cenário mais provável da Divisão de População, o número de habitantes ficaria em torno de 9 bilhões em 2100, mas na hipótese baixa seria algo em torno de 7 bilhões de habitantes no final do século.

Do ponto de vista da qualidade de vida humana e ambiental, quanto menos gente houver no mundo melhor. Como disse o respeitado ambientalista David Attenborough: “Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis de resolver com menos gente e mais difíceis e, em última instância, impossíveis de resolver com cada vez mais pessoas”.

A questão é que não vai ser fácil colocar em prática os ODS da Agenda 2030 da ONU, pois há uma tendência de estagnação secular na economia e existem muitas forças pronatalistas que atuam junto ao conservadorismo moral e o fundamentalismo religioso no sentido de barrar os direitos sexuais e reprodutivos. O Brasil, do governo Bolsonaro, tem atuado nos fóruns internacionais no sentido de restringir os direitos reprodutivos e os direitos das mulheres.

Por conta disto, 11 mil cientistas divulgaram ano passado o documento “World Scientists’ Warning of a Climate Emergency” (BioScience, 05/11/2019) onde afirmam: “O crescimento econômico e populacional está entre os mais importantes fatores do aumento das emissões de CO2 em decorrência da combustão de combustíveis fósseis”(RIPPLE, WJ. et. al. 05/11/2019).

Felizmente, o Brasil apresenta um cenário médio de redução da população em 2100. O gráfico abaixo mostra que na hipótese alta (pouco provável) a população brasileira chegaria a 273 milhões em 2100. Na hipótese média (a mais provável) a população chegaria a 181 milhões. E na hipótese baixa (também menos provável) chegaria a 114 milhões.
Em síntese, o cenário de decrescimento da população é positivo. O documento dos cientistas diz: “Ainda crescendo em torno de 80 milhões pessoas por ano, ou mais de 200.000 por dia, a população mundial precisa ser estabilizada – e, idealmente, reduzida gradualmente – dentro de uma estrutura que garante a integridade social. Existem políticas comprovadas e eficazes que fortalecem os direitos humanos enquanto diminui as taxas de fecundidade e diminui os impactos do crescimento populacional sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e sobre a perda de biodiversidade. Estas políticas devem tornar os serviços de planejamento familiar disponíveis para todas as pessoas, removendo barreiras ao seu acesso e buscando alcançar equidade total de gênero, inclusive estabelecendo o ensino primário e secundário como uma norma para todas as pessoas, especialmente meninas e mulheres jovens”

Desta forma, as projeções que indicam uma redução da população trazem alguma esperança para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e das demais espécies vivas da Terra. Porém, isto só vai ocorrer, na prática, se houver esforço geral e consciência da necessidade do respeito aos direitos humanos e dos direitos ambientais. (ecodebate)

domingo, 23 de agosto de 2020

Desmatamento é um 'mau negócio' do ponto de vista das exportações brasileiras

Desmatamento é um 'mau negócio' do ponto de vista das exportações brasileiras, diz especialista.
Uma pesquisa divulgada em 16/07/20 mostrou que 20% das importações de soja da União Europeia (UE) vindas do Brasil podem ter origem de terras ilegalmente desmatadas.

O estudo, publicado na revista Science, destaca também que 17% das exportações brasileiras de carne bovina para a UE estão ligadas ao desmatamento.

O professor de Relações Internacionais da ESPM/SP, Leonardo Trevisan, em entrevista à Sputnik Brasil, afirmou que este artigo "coloca lenha na fogueira" nas expectativas daqueles que apoiam o acordo entre o Mercosul e a União Europeia.

"A contaminação da imagem dos produtos agrícolas brasileiros pela questão ambiental não atingirá apenas a questão da soja", disse.

O especialista destacou que a expectativa brasileira de expansão do agronegócio "é muito real", tendo em vista que a porcentagem brasileira de soja obtida por hectare implantado é muito grande e a produção brasileira tem muita tecnologia e produtividade.

Leonardo Trevisan faz a ressalva, entretanto, que o Brasil não pode ignorar a questão ambiental ao ter a garantia da demanda chinesa.

"Se nós observarmos que apenas 20% das nossas exportações de soja tomam o rumo da União Europeia, e imaginarmos que estamos tranquilos, porque 64% dessa exportação toma o rumo da China, que teoricamente não estaria contaminada por essa questão ambiental, é um ledo engano", disse.

De acordo com ele, a China usará as pressões internacionais quanto à questão ambiental para definir preços em relação ao Brasil.

"O prejuízo maior na relação com a China será isso. Se nós perdermos a difusão de vendas, o nosso único comprador fixará o preço. Estas regras são inevitáveis", destacou.

"A questão ambiental, portanto, quando todos os nossos empresários chamam a atenção para o cuidado com este fato, não é apenas porque um investidor externo irá olhar com mais cautela este investimento para um país que não cuida da questão ambiental, mas é porque isto incidirá diretamente no preço. Será um mau negócio", acrescentou o especialista.

Ao comentar o artigo que destaca que importações de soja da União Europeia (UE) vindas do Brasil pode ter origem de terras ilegalmente desmatadas, o especialista comenta que "esta informação tem um peso comercial, é este o maior dano".

"Não é por outra razão que a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, afirma que o Brasil se comunica mal nesta questão agrícola. A comunicação não é apenas o fato de que nós nos escondemos do desmatamento, é o fato que nós não fazemos nada sobre o desmatamento", completa. (sputniknews) 

20% da soja e carne exportadas para UE estão ligadas ao desmatamento ilegal

20% da soja e carne exportadas para a UE podem estar vinculadas ao desmatamento ilegal.

Estudo identifica propriedades que exportam soja e carne ‘contaminadas’ pelo desmatamento ilegal.

Em artigo na Science, pesquisadores sugerem que União Europeia pode ajudar o Brasil a combater destruição da Amazônia e do Cerrado.
Representação das propriedades e situação do desmatamento. Acervo do estudo.

O governo brasileiro e parceiros do Mercosul e da União Europeia (UE) já dispõem de dados concretos à mesa para as discussões sobre as exportações de soja e carne do Brasil para os países do bloco europeu, tendo em vista as restrições dos compradores à produção agropecuária contaminada pelo desmatamento ilegal. Grupo de pesquisadores da UFMG, liderado pelos professores Raoni Rajão e Britaldo Soares-Filho, produziu, com instituições parceiras no Brasil e no exterior, estudo em que identifica as propriedades que desmataram ilegalmente, entre 2008 e 2018, para ampliar plantações e pastagens. Os resultados do trabalho serão publicados nesta sexta-feira, 17 de julho, pela revista Science.

No artigo The rotten apples of Brazil’s agribusiness (Maçãs podres do agronegócio brasileiro), os cientistas demonstram que pelo menos cerca de 20% das exportações do país estão potencialmente vinculadas ao desmatamento à margem da lei – e, pela primeira vez, são identificados os produtores responsáveis. Os pesquisadores desenvolveram um software de alta performance para analisar 815 mil propriedades rurais individuais.

“O debate tem sido intenso entre pesquisadores e sociedade civil, de um lado, e produtores, de outro. Mas não havia dados suficientes para embasá-lo”, afirma Raoni Rajão, que coordena o Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais, vinculado ao Departamento de Engenharia de Produção, da Escola de Engenharia. O laboratório trabalha em conjunto com o Centro de Sensoriamento Remoto (CSR), do Instituto de Geociências.

Rajão ressalta que a produção agrícola brasileira livre de desmatamento está ao alcance de líderes políticos e do agronegócio. “Passa a ser viável monitorar a cadeia de suprimentos e distinguir o desflorestamento legal do ilegal”, ele afirma, lembrando que a UE e o Mercosul encaminham as negociações para ratificação de acordo de comércio. O bloco europeu segue políticas que proíbem a importação de commodities provenientes de áreas desmatadas ilegalmente.

2 milhões de toneladas

De acordo com o estudo, um quinto das 53 mil propriedades que produzem soja na Amazônia e no Cerrado cultivaram em terras desmatadas após 2008, desrespeitando as normas, ou seja, ilegalmente – ações anteriores foram perdoadas –, e a estimativa é de que metade dessa soja tenha sido produzida em terras recentemente desmatadas de forma irregular. Os pesquisadores concluíram que cerca de 2 milhões de toneladas de soja contaminada podem ter tido como destino os mercados da União Europeia no período contemplado pelo estudo. O bloco compra do Brasil 41% (13,6 milhões de toneladas) de toda a soja que importa, e quase 70% desse volume são provenientes das regiões amazônica e do Cerrado.

A UE importa do Brasil quase 190 mil toneladas de carne bovina por ano. Os pesquisadores da UFMG e parceiros constataram que pelo menos uma em cada oito das 4,1 milhões de cabeças negociadas em matadouros, a cada ano, têm origem direta em propriedades que podem ter desmatado ao arrepio da lei. Isso representa 2% da carne produzida na Amazônia e 13% da produção do Cerrado. Eles alertam, no entanto, que é necessário monitorar também os fornecedores indiretos de gado, e isso não é feito pelos grandes matadouros e tampouco pelo governo. Os cálculos feitos para o estudo, que abrangeram as diversas etapas do processo, geraram a estimativa de que por volta de 60% das cabeças abatidas são potencialmente contaminadas pelo desmatamento em algum ponto da cadeia produtiva.

Dados e modelagem espacial

O estudo cruzou dados de uso e cobertura da terra obtidos de diferentes fontes, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR) – que reúne seis milhões de imóveis individuais –, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o projeto MapBiomas. As imagens de satélite foram submetidas à modelagem espacialmente explícita, desenvolvida pelo professor Britaldo Soares-Filho, que integra informações relacionadas aos imóveis e realiza cálculos baseados em parâmetros definidos pelas regras de uso do solo, o que determina se a produção está contaminada ou não.

Os imóveis são então vinculados às cadeias produtivas, e também é possível medir a capacidade de produção, no caso de soja. Quando se trata do gado, o processo é mais complexo e demanda análise de rede, segundo Raoni Rajão. “O caminho dos rebanhos é longo, do nascimento ao abatedouro. Conseguimos determinar os deslocamentos de uma fazenda para outra”, explica o pesquisador. Ele informa ainda que o estudo traçou a trajetória internacional de venda das commodities, o que foi feito por meio da plataforma Trase, desenvolvida pelo Stockholm Environmental Institute, da Suécia.

De acordo com Raoni Rajão, o trabalho não teria sido possível se não fosse a qualidade dos dados disponíveis no Brasil. “Dispomos de sistemas muito confiáveis, de excelência. Mesmo países mais ricos não contam com estruturas tão avançadas. E nosso estudo passa a integrar esse conjunto”, afirma.

Pesquisadores mapearam trajetória das exportações. Acervo do estudo.

‘Ponto de ruptura’

Os autores ressaltam que a União Europeia ocupa posição de liderança global no que se refere a esforços para garantir importações de produtos que não se beneficiem do desmatamento, agente de destruição das florestas tropicais. Iniciativas com esse propósito integram o Acordo Verde Europeu, ao lado, entre outras, de uma política alimentar que visa reduzir as distâncias para o transporte de animais e produtos agrícolas. Essa preocupação dá base a gestões para que o bloco diminua as importações de soja do Brasil.

O professor Britaldo Soares-Filho diz que as florestas do Brasil estão “em ponto de ruptura”, ameaçadas por uma política que incentiva sua derrubada, principalmente para a apropriação de terras. Para ele, é fundamental que a Europa use seu poder comercial e de compra para ajudar a “reverter o desmantelamento da proteção ambiental no Brasil”. “Bruxelas [cidade-sede da União Europeia] finalmente tem as informações necessárias sobre a extensão do problema relacionado à soja e à carne bovina”, enfatiza o professor, que há 20 anos desenvolve agenda de pesquisa sobre agropecuária sustentável, políticas de proteção de florestas, desmatamento e mudanças climáticas. O grupo da UFMG – que lança mão de conhecimentos da geografia, geologia, engenharia, ciência da computação, ciências sociais e economia – é referência global e ajuda a assegurar soberania do Brasil nesse campo.

Raoni Rajão, que se juntou aos pesquisadores do Centro de Sensoriamento Remoto do IGC há cerca de uma década, defende ação transparente do Brasil, para abolir a exportação de carne e soja produzida às custas do desmatamento ilegal. “Podemos ter uma agricultura pujante e, ao mesmo tempo, proteger nossas florestas e estar efetivamente engajados no combate às mudanças climáticas”.

O grupo da Universidade é formado, além de Raoni Rajão e Britaldo Soares-Filho, pelos pesquisadores Felipe Nunes, Danilo Figueira, Lilian Machado, Débora Assis e Amanda Oliveira, as três últimas doutorandas em Geografia no IGC.

A UFMG teve como parceiros a Universidade de Bonn (Alemanha), a Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas/Ipê), o Stockholm Environmental Institute (Suécia) e a University of Wisconsin (EUA). O estudo teve apoio do CNPq, da Fapemig, Climate and Land Use Alliance (Clua), Gordon and Betty Moore Foundation, Alexander von Humboldt Foundation e do Ministério da Educação e Pesquisa da Alemanha.

Artigo: The rotten apples of Brazil’s agribusiness.

Autores: Raoni Rajão, Britaldo Soares-Filho, Felipe Nunes, Jan Börner, Lilian Machado, Débora Assis, Amanda Oliveira, Luís Pinto, Vivian Ribeiro, Lisa Rausch, Holly Gibbs, Danilo Figueira. Publicação: Science Magazine, em 17 de julho de 2020.

Cores nos mapas indicam áreas da cultura da soja que podem estar ilegais. (ecodebate)

Ondas de calor devem diminuir em 2025

Ondas de calor devem diminuir em 2025, aponta Climatempo. O pico de emissões em 2025 é uma boa notícia, decerto, mas a física é implacável...