sábado, 31 de dezembro de 2022

Até grandes economias sofrem com a crise climática

Europa, China e EUA: as grandes economias sofrem com a crise climática.
Mapa mostra temperaturas recordes em alguns países no verão de 2022 no Hemisfério Norte.

A seca histórica no Hemisfério Norte e seus efeitos

Situação de estiagem extrema afeta agricultura, indústria e comércio de importantes economias globais como EUA, Europa, China e Índia. Veja comparações de ANTES e DEPOIS que mostram a gravidade da situação e entenda as possíveis causas.

“O que estava em jogo no velho conflito industrial do trabalho contra o capital eram positividades: lucros, prosperidade, bens de consumo. No novo conflito ecológico, o que está em jogo são negatividades: perdas, devastação, ameaças” (Ulrich Beck, Sociedade de Risco).

A crise climática está afetando as grandes economias do mundo. A Europa, os EUA e a China enfrentam ondas letais de calor, agonia dos rios, secas e queimadas.

A civilização global, desde o início do uso dos combustíveis fósseis há 250 anos, conquistou inúmeras melhorias no padrão de vida da população. Houve redução das taxas de mortalidade infantil, aumento da expectativa de vida, elevação das taxas de escolaridade, avanços na qualidade das moradias e melhoria geral do padrão de consumo. Contudo, o enriquecimento humano ocorreu de forma socialmente divergente e às custas do empobrecimento do meio ambiente.

Como mostrou Ulrich Beck, no livro Sociedade de Risco, as primeiras fases do capitalismo foram marcadas por uma disputa pelo excedente da produção econômica entre o capital e o trabalho, o primeiro buscando aumentar os lucros e o segundo buscando aumentar os salários. Havia um conflito distributivo, mas o ambiente era de prosperidade geral, embora desigual e combinada.

Porém, o contínuo crescimento da população e da economia fez a humanidade ultrapassar a capacidade de carga da Terra e a Pegada Ecológica ultrapassou a Biocapacidade do Planeta, gerando um déficit ambiental crescente. Desta forma, a realidade mudou, a oferta de combustíveis fósseis chegou ao pico e os danos ambientais passaram a se sobrepor sobre a distribuição de ganhos, com o mundo entrando na Sociedade de Risco, onde: “o que está em jogo são negatividades: perdas, devastação, ameaças” (Beck, 2010, p.3).

Extensão da dor pode depender de quanto tempo duram as ondas de calor e a falta de chuva.

Calor extremo pressiona economia global ao atingir China, EUA e Europa.

Condições climáticas extremas agravam problemas para trabalhadores e empresas, em um momento em que o crescimento econômico já está desacelerando acentuadamente.

Esta nova realidade ficou evidente no verão de 2022 no hemisfério Norte. Não são apenas os países pobres que sofrem os efeitos da emergência climática. Além das ondas letais de calor que provocam a morte de milhares de pessoas, as queimadas têm destruído áreas verdes e propriedades, o baixo nível de água dos rios tem prejudicado o transporte fluvial, perda de colheitas, dificuldades no transporte fluvial e, na França, a restrição ao uso de água forçou o desligamento de usinas nucleares.

Na Alemanha, o rio Reno é uma grande artéria logística, mas o nível baixo da água obrigou as barcaças que o percorrem a adotarem uma capacidade de carga reduzida. Algumas empresas anunciaram que interromperão o transporte fluvial a partir da próxima semana no Alto e Médio Reno, da fronteira com a Suíça até Bonn. A indústria, o comércio e os serviços estão sendo prejudicados. Na Espanha, a imprensa destacou o surgimento de um círculo de pedra pré-histórico apelidado de “Stonehenge Espanhol”. O nível do rio Danúbio caiu e expôs os cascos de mais de 20 navios de guerra alemães afundadas durante a Segunda Guerra Mundial.

Reportagem da agência DW (13/08/2022) mostrou que o rio Danúbio também enfrentou baixos níveis de água, e o rio Tille secou completamente no sudoeste da França, na altura da vila de Lux, deixando milhares de peixes mortos. O rio Po, o mais longo da Itália, que fornece irrigação a cerca de um terço da produção agrícola do país, também sofreu com a pior seca do norte italiano em 70 anos. Na Espanha, a seca também tem afetado as plantações. Algumas fazendas de abacateiros estão removendo parte das árvores para que possa sobrar mais água para as demais. Milhões de oliveiras e girassóis secaram na região de Andaluzia, enquanto laranjeiras e limoeiros enfrentaram o mesmo em Valência.

A França registrou em três meses seu maior nível de emissão de gás carbônico a partir de incêndios florestais desde o início dos registros, em 2003. O mesmo ocorreu na Espanha em julho. A seca na Inglaterra levou à proibição do uso de mangueiras para regar jardins, lavar veículos, encher piscinas ou limpar casas, válida em diversas partes do país, e o Rio Tâmisa enfrentou também níveis muito baixos de água. O serviço meteorológico nacional do Reino Unido declarou no mês de julho como o mais seco da Inglaterra desde 1935.

Portanto, a Europa enfrenta mudanças climáticas que afetam a economia, a saúde da população e agravam os problemas ambientais. Nada disto deveria ser novidade, pois os estudos mostram que a Europa possui uma sobrecarga ambiental e um grande déficit ecológico, como mostra a figura abaixo. Segundo o Instituto Global Footprint Network, a Europa já tinha um grande déficit ambiental em 1961 e manteve o déficit nos últimos 60 anos.

A mudança ocorrida no início dos anos 1990 se deve à contabilidade da área da Rússia na estatística do continente. Em 2018, a Europa tinha uma Pegada Ecológica de 3,24 bilhões de hectares globais (gha) e uma Biocapacidade de 2 bilhões de gha. Isto significa um déficit absoluto de 1,24 bilhão de gha e um déficit relativo de 61%. Desta forma, a crise atual só agrava um problema que vem ocorrendo há várias décadas e que fica cada vez mais difícil de ser negado.

Na China, as mudanças climáticas catastróficas não são menos danosas, com crescentes custos econômicos e sociais. A China está enfrentando a onda de calor mais feroz em seis décadas, com temperaturas passando de 40º Celsius em dezenas de cidades. Na província chinesa de Sichuan, em agosto, todas as fábricas foram fechadas por seis dias para economizar energia, o que afetou a cadeia produtiva em diversas outras regiões e outros países. Segundo a emissora estatal CCTV, o nível da água do rio Yangtzé caiu rapidamente em meio à seca e a uma onda de calor na região sudoeste do país fez cerca de 66 rios em 34 condados de Chongqing secaram. Foram reveladas três estátuas budistas históricas, que podem ter sido construídas há 600 anos.

Em junho de 2022, sete províncias do sul enfrentam chuvas que provocaram as piores enchentes no país em décadas. Milhares ficaram desabrigados. Só na província de Guangdong, a mais populosa da China, as chuvas impactaram quase meio milhão de pessoas e provocaram o desmoronamento de 1.729 casas. Os estragos se estendem para a agricultura, com danos em 27,1 hectares de plantações e milhões de dólares de prejuízo. Em agosto, mais de 5 milhões de chineses têm sofrido com recorrentes cortes de energia devido a uma onda de calor que atinge o país e que tem paralisado a economia, já afetada pelos constantes lockdowns da covid-19. A China é considerada a “fábrica do mundo”, mas esta posição está ameaçada pela insustentabilidade ambiental.

A China tem o maior déficit ambiental do mundo. Segundo o Instituto Global Footprint Network, a China ainda tinha um pequeno superávit ambiental em 1961, mas se tornou o país mais poluidor do Planeta. Em 2018, a China tinha uma Pegada Ecológica de 5,54 bilhões de hectares globais (gha) e uma Biocapacidade de 1,35 bilhão de gha. Isto significa um déficit absoluto de 4,2 bilhões de gha e um déficit relativo de 310%. A China sozinha consome quase a metade da Biocapacidade da Terra.

Nos EUA a situação climática não é menos desastrosa. A Califórnia registrou o maior incêndio do ano em julho de 2022, sendo que duas pessoas morreram e 2.000 moradores foram obrigados a deixarem suas casas. A escassez hídrica se alastrou para a maioria do território. Por exemplo, o Lago Medow, que fornece água para cerca de 25 milhões de pessoas em todo o oeste americano, está em seu nível mais baixo desde que foi enchido, em 1937. Na medição feita no final de julho, possui apenas 25% de sua capacidade. As perdas agrícolas têm pressionado a inflação, que já está em alto patamar no país. No final de setembro de 2022 o furacão Ian deixou pelo menos 100 mortos no estado da Flórida, além de milhões de dólares em prejuízos, mostrando que não são apenas os países pobres que sobrem com as mudanças climáticas.

Os Estados Unidos possuem o segundo maior déficit ambiental do mundo. Segundo o Instituto Global Footprint Network, os EUA já tinham um déficit em 1961, que se ampliou com o crescimento demoeconômico do país. Em 2018, os EUA tinham uma Pegada Ecológica de 2,66 bilhões de hectares globais (gha) e uma Biocapacidade de 1,11 bilhão de gha. Isto significa um déficit absoluto de 1,55 bilhão de gha e um déficit relativo de 140%. A Pegada Ecológica per capita dos EUA é maior do que da China, mas como o gigante asiático possui uma população muito maior, a Pegada Ecológica total é menor nos EUA.

Em síntese, os desastres ambientais tendem a crescer com o aquecimento global provocando eventos extremos cada vez mais que são frequentes, mais letais e mais caros. O livro “Hothouse Earth: An Inhabitant’s Guide”, do professor Bill McGuire, argumenta que, depois de anos ignorando os avisos dos cientistas, é tarde demais para evitar os impactos catastróficos das mudanças climáticas. Ele diz que já é um mundo diferente lá fora e em breve será irreconhecível para todos nós, pois o colapso total do clima se tornou praticamente inevitável. As grandes economias do mundo não vão passar ilesas por este processo. Como disse Marília Mendonça: “Ninguém vai sofrer sozinho. Todo mundo vai sofrer”. (ecodebate)

Pan-Amazônia perdeu 9,7% da vegetação em 37 anos

Pan-Amazônia perdeu 9,7% de sua vegetação natural em 37 anos.
Os resultados das análises preliminares revelam uma transformação acelerada das florestas amazônicas. As perdas têm sido enormes, praticamente irreversíveis e sem perspectiva de reversão dessa tendência.

Os dados mais recentes do MapBiomas Amazônia reforçam a necessidade de uma ação internacional integrada para reverter a atual tendência de destruição que, se persistir, levará o bioma além de seu ponto sem retorno até o final desta década

Em 1985, apenas 6% (cerca de 50 milhões de hectares) da Amazônia haviam sido transformados em áreas antrópicas, como pastagens, lavouras, garimpos ou áreas urbanas. Em 2021, essa área quase triplicou, chegando a 15% (quase 125 milhões de hectares) de toda a região. Foi uma perda líquida de quase 10% de sua vegetação natural em apenas 37 anos.

A magnitude da destruição varia de um país para outro: no Suriname, na Guiana e na Guiana Francesa é de apenas 1,6%, mas no Brasil chega a 19%. Esse percentual está muito próximo do ponto de inflexão ou ponto sem retorno, calculado pelos cientistas na faixa entre 20% e 25% de perda da cobertura vegetal. Se a tendência atual verificada pelo MapBiomas Amazônia continuar, o bioma, que é um sumidouro de carbono de importância planetária, chegará a um ponto sem volta, afetando irreversivelmente seus serviços ecossistêmicos, e poderá se tornar uma savana.

As geleiras dos Andes amazônicos, que fornecem água para milhões de pessoas e alimentam as nascentes dos grandes rios da região, perderam 46% de seu gelo no período analisado. A atividade minerária expandiu-se 1107% (mais de 1.000 por cento, passando de 47 mil hectares em 1985 para mais de 570 mil hectares em 2021).

Como foi feita a medição em uma região tão heterogênea?

Os dados são resultados da Coleção MapBiomas Amazônia 4.0, iniciativa resultante da colaboração entre a RAISG (Rede Amazônica de Informações Socioambientais Georreferenciadas) e a Rede MapBiomas. A iniciativa mapeia com resolução de 30 metros a dinâmica, há mais de três décadas, de 18 classes diferentes de cobertura e uso do solo, como florestas, savanas, manguezais, áreas agrícolas, áreas urbanas, mineração e geleiras, dentro dos 8,4 milhões de km2 da região amazônica, que inclui a Cordilheira dos Andes, a planície amazônica e as transições com o Cerrado e o Pantanal.

Transformação acelerada das florestas amazônicas

Os resultados das análises preliminares revelam uma transformação acelerada das florestas amazônicas. Segundo os autores, as perdas têm sido enormes, praticamente irreversíveis e sem perspectiva de reversão dessa tendência. Os dados acendem a luz amarela e dão um sentido de urgência à necessidade de uma ação internacional integrada, decisiva e contundente.

“A Coleção MapBiomas Amazônia 4.0 é inestimável para o entendimento da dinâmica de uso dos recursos naturais da região, além de contribuir para a modelagem climática e o cálculo das emissões e remoções de gases de efeito estufa devido às mudanças no uso do solo na região.” , disse Tasso Azevedo, Coordenador Geral do MapBiomas.

Beto Ricardo, coordenador geral da RAISG, acrescenta que as informações geradas pelo MapBiomas Amazônia fortalecem a Rede com dados técnico- científicos, mensagens-chave sobre a importância da Amazônia, sua grande contribuição para o mundo na regulação do clima e armazenamento de carbono, ao tempo que alerta sobre as mudanças na cobertura natural causadas por diferentes atividades antrópicas realizadas entre 1985 e 2021. Ricardo destaca que essas atividades colocam em risco o equilíbrio natural dos ecossistemas e, com ele, a estabilidade do clima do planeta. “Publicar a Coleção 4.0 do MapBiomas Amazônia nos permite contribuir com o monitoramento da região com uma visão integral, ajudando-nos a construir e propor estratégias de conservação mais precisas com propostas e informações políticas compartilhadas entre outros países, bem como aspectos socioambientais da grande importância”.

Para María Olga Borja, coordenadora técnica do Equador, esses mapas representam uma grande contribuição para a região e para seu país: “O Equador não tem uma análise temporal tão detalhada. A periodicidade anual destes dados permite-nos medir o pulso das alterações que os ecossistemas estão sofrendo, algumas causadas diretamente pelas atividades humanas, como a conversão das florestas para a agricultura, mas outras que já apresentam sinais evidentes e mensuráveis das alterações climáticas, como a redução de geleiras e a expansão de lagos devido ao degelo, entre outros”.

Os autores destacam o contraste entre a dinâmica acelerada de mudança do uso da terra ocorrida na Amazônia no período estudado, e particularmente nos últimos trinta anos, com a lentidão que caracteriza o ritmo das negociações climáticas, que nas quase três décadas desde a primeira cúpula do clima fizeram progressos modestos.

Para Harlem Mariño, coordenador de um projeto sobre mudanças climáticas lideradas pela RAISG, a falta de acordos definitivos na COP27 sobre questões-chave para a mitigação das mudanças climáticas, como o abandono progressivo do uso de todos os combustíveis fósseis, terá repercussões na Amazônia: “Isso significa que as emissões de gases de efeito estufa provenientes do uso de combustíveis fósseis continuam pressionando os sumidouros de carbono, como a floresta amazônica. Além disso, essa falta de acordos pode implicar na continuidade do fomento às atividades de exploração de combustíveis fósseis na Amazônia, com a consequente redução da disponibilidade de sumidouros de carbono e o aumento das emissões de gases de efeito estufa decorrentes da mudança de uso da terra e a consequente queima desses combustíveis fósseis”, observa Mariño.

Sobre a plataforma Mapbiomas Amazônia

A plataforma MapBiomas Amazônia (http://amazonia.mapbiomas.org) é uma ferramenta que permite a qualquer pessoa com acesso à Internet entender as mudanças no uso da terra em toda a Amazônia e as pressões sobre suas florestas e ecossistemas naturais. A informação gerada é compatível para todos os países da região e permite conhecer a situação de 18 categorias de análise, denominadas “classes”, que incluem áreas cobertas por florestas, campos naturais, manguezais, agricultura e rios. As informações são gratuitas e estão disponíveis para download.

Ela permite explorar a mais recente coleção de mapas anuais, abrangendo o período entre 1985 e 2021, e identificar mudanças na cobertura e uso da terra em um local (regional, nacional e local) e um período (ano, quinquênio, décadas, etc.) determinado. A ferramenta também apresenta estatísticas em tabelas e gráficos dinâmicos, com as mudanças de uso no período que o usuário requer e permite entender a dinâmica das mudanças dentro e fora de um Território Indígena ou Área Protegida. A plataforma permite ainda explorar dados relacionados a vetores de pressão em coberturas naturais como concessões de mineração, lotes de petróleo, estradas e usinas hidrelétricas.

Sobre Mapbiomas Amazônia

MapBiomas Amazônia é uma iniciativa liderada pela RAISG com o apoio da Rede MapBiomas. A Primeira Coleção (2000–2017) foi publicada em 2019; 2020 trouxe a Segunda Coleção (1985–2018); em setembro de 2021 foi o lançamento da Terceira Coleção (1985–2020). A Quarta Coleção abrange o período de 1985 a 2021.

Inicialmente, a ferramenta de mapeamento de uso da terra foi desenvolvida pelo MapBiomas para ser aplicada no Brasil e foi necessário aprimorá-la com a contribuição de organizações associadas à RAISG para adequar os resultados e análises à geografia de cada país. Desta forma, o conhecimento existente a nível local permite melhorar a ferramenta e refinar a interpretação dos dados. O método utilizado nos permitiu padronizar os biomas incluídos na análise, de modo que os nove países amazônicos compartilham o Bioma Amazônia, enquanto Peru, Equador e Bolívia também compartilham o Bioma Andino.

MapBiomas Amazônia leva em consideração as variações altitudinais típicas da Amazônia andina, que vão desde as geleiras andinas até as formações florestais das planícies amazônicas. http://amazonia.mapbiomas.org

Sobre a RAIS

A RAISG é a Rede de Informação Socioambiental Georreferenciada da Amazônia, um consórcio de organizações da sociedade civil de países amazônicos voltados para a sustentabilidade socioambiental da Amazônia, com o apoio da cooperação internacional. A RAISG gera e dissemina conhecimento, dados estatísticos e informações socioambientais geoespaciais sobre a Amazônia, elaboradas com protocolos comunitários para todos os países da região; facilita a visualização da Amazônia como um todo, bem como das ameaças e pressões que pesam sobre ela. A RAISG é resultado da cooperação de oito organizações da sociedade civil que atuam em seis países amazônicos: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. https://www.raisg.org/

Sobre Mapbiomas

O MapBiomas surgiu no Brasil como uma iniciativa multi-institucional que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia que se unem para contribuir com o entendimento das transformações do território brasileiro a partir do mapa anual de cobertura e uso da terra no Brasil. Atualmente, esta rede reúne mais de 70 instituições da América Latina e Indonésia em 7 iniciativas e 14 países comprometidos com a geração de dados, métodos, ferramentas e informações que orientem a conservação e a tomada de decisões em torno dos recursos naturais. Em agosto/2021, o MapBiomas publicou a Coleção 7 de mapas de cobertura e uso da terra de solo do Brasil de 1985 a 2021. As ferramentas desenvolvidas pela rede MapBiomas para todas as suas iniciativas apresentam informações geradas com resolução espacial de no mínimo 30 metros. Os dados são processados usando algoritmos de classificação automática por meio das informações da nuvem do Google Earth Engine.

http://mapbiomas.org/ (ecodebate)

UE faz lei que impede importação de bens ligados a desmatamento

Reuters: UE fecha acordo sobre lei que impede importação de bens ligados a desmatamento.
União Europeia concordou em 06/12/22 com uma nova lei para impedir que empresas vendam para o mercado da UE café, carne bovina, soja e outras commodities ligadas ao desmatamento em todo o mundo.

A lei exigirá que as empresas apresentem uma declaração de diligência mostrando que suas cadeias de suprimentos não estão contribuindo para a destruição de florestas antes de venderem mercadorias para a UE --ou poderão enfrentar multas pesadas.

"Espero que esta regulamentação inovadora dê impulso à proteção das florestas em todo o mundo e inspire outros países", disse o principal negociador do Parlamento Europeu, Christophe Hansen.

O desmatamento é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa que impulsionam a mudança climática e estará em foco em uma conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre biodiversidade, em que os países buscarão um acordo global para proteger a natureza.

Negociadores de países da UE e o Parlamento Europeu fecharam o acordo sobre a lei.

Ela se aplicará a soja, carne bovina, óleo de palma, madeira, cacau e café, e a alguns produtos derivados, incluindo couro, chocolate e móveis. Borracha, carvão e alguns derivados de óleo de palma foram incluídos a pedido dos parlamentares da UE.

As empresas precisarão mostrar quando e onde as commodities foram produzidas e informações "verificáveis" de que não foram cultivadas em terras desmatadas após 2020.

O não cumprimento pode resultar em multas de até 4% do faturamento de uma empresa em um Estado-membro da UE.

Países afetados pelas novas regras, incluindo Brasil, Indonésia e Colômbia, dizem que elas são onerosas e caras. A certificação de fornecimento também é difícil de monitorar, especialmente porque algumas cadeias podem abranger vários países.

Embora os ativistas tenham saudado a lei como "histórica", eles também criticaram a exigência de que as empresas provem que respeitaram os direitos dos povos indígenas --mas apenas se esses direitos já estiverem legalmente protegidos no país produtor.

"A UE perdeu a chance de sinalizar ao mundo que a solução mais importante para impedir o desmatamento é defender os direitos indígenas", disse Nicole Polsterer, do grupo Fern.

Os países da UE e o Parlamento Europeu precisam agora aprovar formalmente a legislação. A lei pode entrar em vigor 20 dias depois, após os quais as grandes empresas têm 18 meses para se adequar e as pequenas empresas 24 meses.

A UE afirmou que trabalhará com os países afetados para aumentar sua capacidade de implementar as regras. (noticiasagricolas)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Consenso científico: o clima da Terra está aquecendo

Evidências científicas continuam a mostrar que as atividades humanas aqueceram a superfície da Terra e suas bacias oceânicas.
Dados de temperatura mostrando rápido aquecimento nas últimas décadas, os dados mais recentes indo até 2021. De acordo com dados da NASA, 2016 e 2020 empataram como o ano mais quente desde 1880, continuando uma tendência de longo prazo de aumento das temperaturas globais. Os 15 anos mais quentes já registrados ocorreram desde 2005, sendo os 8 anos mais recentes os mais quentes.

É importante lembrar que os cientistas sempre se concentram nas evidências, não nas opiniões. Evidências científicas continuam a mostrar que as atividades humanas (principalmente a queima humana de combustíveis fósseis) aqueceram a superfície da Terra e suas bacias oceânicas, que por sua vez continuaram a impactar o clima da Terra. Isso se baseia em mais de um século de evidências científicas que formam a espinha dorsal estrutural da civilização atual.

A NASA Global Climate Change apresenta o estado do conhecimento científico sobre a mudança climática, destacando o papel que a NASA desempenha na melhor compreensão do nosso planeta natal. Esse esforço inclui a citação de vários estudos revisados por pares de grupos de pesquisa em todo o mundo, 1 ilustrando a precisão e o consenso dos resultados da pesquisa (neste caso, o consenso científico sobre a mudança climática) consistente com o portfólio de pesquisa científica da NASA.

Com isso dito, vários estudos publicados em revistas científicas revisadas por pares mostram que as tendências de aquecimento climático ao longo do século passado são extremamente prováveis devido às atividades humanas. Além disso, a maioria das principais organizações científicas em todo o mundo emitiu declarações públicas endossando essa posição. A seguir está uma lista parcial dessas organizações, juntamente com links para suas declarações publicadas e uma seleção de recursos relacionados.

Novos estudos reforçam consenso de que a Terra está cada vez mais quente.

SOCIEDADES CIENTÍFICAS AMERICANAS

Declaração sobre Mudanças Climáticas de 18 Associações Científicas

“Observações em todo o mundo deixam claro que a mudança climática está ocorrendo, e pesquisas científicas rigorosas demonstram que os gases de efeito estufa emitidos pelas atividades humanas são o principal fator”. (2009)

• Associação Americana para o Avanço da Ciência

“Com base em evidências bem estabelecidas, cerca de 97% dos cientistas do clima concluíram que a mudança climática causada pelo homem está acontecendo”. (2014)

• American Chemical Society

“O clima da Terra está mudando em resposta ao aumento das concentrações de gases de efeito estufa (GEE) e material particulado na atmosfera, em grande parte como resultado das atividades humanas”. (2016-2019)

• União Geofísica Americana

“Com base em extensas evidências científicas, é extremamente provável que as atividades humanas, especialmente as emissões de gases de efeito estufa, sejam a causa dominante do aquecimento observado desde meados do século 20. Não há explicação alternativa apoiada por evidências convincentes.” (2019)

• Associação Médica Americana

“Nossa AMA… apoia as descobertas do quarto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e concorda com o consenso científico de que a Terra está passando por mudanças climáticas globais adversas e que as contribuições antropogênicas são significativas.” (2019)

• Sociedade Meteorológica Americana

“A pesquisa encontrou uma influência humana no clima das últimas décadas. O IPCC (2013), USGCRP (2017) e USGCRP (2018) indicam que é extremamente provável que a influência humana tenha sido a causa dominante do observado aquecimento desde meados do século XX.” (2019)

• American Physical Society

“A mudança climática da Terra é uma questão crítica e representa o risco de perturbações ambientais, sociais e econômicas significativas em todo o mundo. Embora as fontes naturais de variabilidade climática sejam significativas, várias linhas de evidência indicam que as influências humanas têm tido um efeito cada vez mais dominante no clima global aquecimento observado desde meados do século XX.” (2015)

• A Sociedade Geológica da América

“A Geological Society of America (GSA) concorda com as avaliações das National Academies of Science (2005), do National Research Council (2011), do Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC, 2013) e do US Global Change Research Program (Melillo et al., 2014) que o clima global esquentou em resposta ao aumento das concentrações de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa… (IPCC, 2013).” (2015)

ACADEMIAS DE CIÊNCIAS

Academias Internacionais: Declaração Conjunta

“A mudança climática é real. Sempre haverá incerteza na compreensão de um sistema tão complexo quanto o clima do mundo. No entanto, agora há fortes evidências de que um aquecimento global significativo está ocorrendo. As evidências vêm de medições diretas do aumento da temperatura do ar na superfície e nas temperaturas subsuperficiais do oceano. e de fenômenos como o aumento do nível médio global do mar, o recuo das geleiras e mudanças em muitos sistemas físicos e biológicos. É provável que a maior parte do aquecimento nas últimas décadas possa ser atribuída às atividades humanas (IPCC 2001).” (2005, 11 academias de ciências internacionais)

• Academia Nacional de Ciências dos EUA

“Os cientistas já sabem há algum tempo, a partir de várias linhas de evidência, que os humanos estão mudando o clima da Terra, principalmente por meio das emissões de gases de efeito estufa”.

AGÊNCIAS GOVERNAMENTAIS DOS EUA

• Programa de Pesquisa de Mudança Global dos EUA

“O clima da Terra agora está mudando mais rápido do que em qualquer outro ponto da história da civilização moderna, principalmente como resultado das atividades humanas”. (2018, 13 departamentos e agências governamentais dos EUA)

ÓRGÃOS INTERGOVERNAMENTAIS

• Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas

“É inequívoco que o aumento de CO2, metano e óxido nitroso na atmosfera durante a era industrial é resultado de atividades humanas e que a influência humana é o principal fator de muitas mudanças observadas na atmosfera, oceano, criosfera e biosfera”.

“Desde que as avaliações científicas sistemáticas começaram na década de 1970, a influência da atividade humana no aquecimento do sistema climático evoluiu da teoria para o fato estabelecido”. (ecodebate)

Argentina será local mais quente do mundo e agricultura sofre perdas

Argentina deverá ser local mais quente do mundo nos próximos dias (dez/2022) e agricultura sofre perdas.
O cenário climático da Argentina segue preocupando, vai se agravando e tirando, a cada dia, uma fatia grande do potencial produtivo das safras do país. Para a soja, de acordo com os especialistas, há regiões sofrendo com perdas de até uma tonelada por hectare, com espaço para que fiquem ainda mais severas. Afinal, os modelos meteorológicos sinalizam que, nos próximos 10 dias, áreas de produção no país poderão ser as mais quentes do planeta, reflexo do terceiro ano de La Niña, segundo um estudo desenvolvido pelo Instituto Climático da Universidade do Maine, nos Estados Unidos.
Mapa: Instituto Climática/Universidade do Maine, EUA.

As temperaturas em dezembro deverão ser muito elevadas, podendo superar os 45ºC em alguns pontos da Argentina, superando largamente as médias para dezembro. As projeções são de que o plantio tanto da soja, como do milho, seguirão bastante atrasados.

"Há altas chances de uma onda de calor em Córdoba entre 05/12/22 e 09/12/22, com possibilidade de um pico na quarta-feira. O alívio poderia vir apenas no final de semana. Atenção aos riscos de incêndio", informou o Grupo Radar Córdoba pelo Twitter. Todavia, o alívio deverá ser rápido e pouco expressivo, sem grandes mudanças expressivas para a segunda semana do mês, mantendo a seca.

No dia 1º de dezembro, um informe da Mesa Nacional de Monitoramento de Secas da Argentina apontou que 22 milhões de hectares estão sob severa estiagem, a maior parte deles na chamada Zona Núcleo, o principal centro de produção do país.

A falta de chuvas não só limita o avanço da semeadura, como já provoca perdas nas lavouras plantadas, em especial os campos de milho que foram plantados mais cedo. Áreas cultivadas com o cereal como norte de Buenos Aires, sul de Santa Fe, sul de Córdoba e oeste de Entre Rios são algumas das mais afetadas.

Além da soja e do milho, a conclusão da safra de trigo também segue registrando perdas expressivas. A imagem abaixo mostra lavouras do cereal sofrendo com a estiagem severa.

Na província de Buenos Aires, 13 municípios tiveram estado de emergência agropecuária declarado por conta dos danos causados pela falta de chuvas. Os distritos de San Pedro, Rojas, Salto, Ramallo, Junín, Arrecifes, Alberti, Chascomús, Suipacha, Lobos, San Vicente, Magdalena e Dolores são os municípios já declarados.

"Os municípios do nordeste de Buenos Aires estiveram envolvidos nos primeiros sete milhões de hectares afetados pela forte seca. Agora, essa área cobre mais províncias e chega a 23 milhões", informa o portal argentino Infocampo. No norte de Buenos Aires, os trabalhos de plantio estão totalmente paralisados.

Já a Comissão Provincial de Emergência Agropecuária de Córdoba pedirá ao governo que considere como áreas de desastre os locais em que foram registrados incêndios entre agosto e novembro. Em Córdoba são cerca de 35 mil hectares afetados.

Onde a emergência ou desastre estão declarados, os prazos de pagamentos, pagamentos de tributos, imposto de renda e demais despesas terão seus prazos prorrogados.

Previsão de safra de milho da Argentina pode cair por clima quente e seco, diz bolsa de grãos.

Os últimos números do Guia Estratégico para o Agro, da Bolsa de Comércio de Rosário, mostram que são cerca e 200 mil hectares de soja em condições ruins e cerca de 1,23 milhão em condições regulares. No milho, dos 200 mil hectares plantados, são cerca de 110 mil em situação ruim ou regular.

“Quando o plantio da soja é adiado de 25 de outubro/2022 para 25 de novembro na zona núcleo, estamos falando de uma perda de 25 quilos por hectare por dia. Mas quando o atraso ocorre entre os primeiros dias de dezembro até 10/12/22, já se fala em perdas de mais de 100 quilos por dia; a partir de dezembro/22 as perdas são abruptas”, disse Rodolfo Rossi, sojicultor e especialista na cultura, à Bolsa de Rosário.

Como explicou o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, "em 04/12/22 circularam alertas de temperaturas extremas para a Argentina, Paraguai e Rio Grande do Sul. As temperaturas podem passar de 40°C. Os seis modelos de clima concordam. O La Ninã vai perder força somente a partir de janeiro e fevereiro".

PECUÁRIA

Ao lado dos grãos, a pecuária também sofre na Argentina e a produção de bezerros poderia diminuir cerca de um milhão de cabeças até 2023, com 50% do rebanho nacional sob risco, segundo o mercado pecuário de Rosario (Rosgan) em apuração da mídia argentina. (noticiasagricolas)

Árvores antigas são mais tolerantes à seca do que as mais jovens

Análise de mais de 20.000 árvores em cinco continentes mostra que as árvores antigas são mais tolerantes à seca do que as árvores mais jovens e são mais capazes de resistir a extremos climáticos.

As descobertas destacam a importância de preservar as florestas primárias remanescentes do mundo, que são redutos da biodiversidade que armazenam grandes quantidades de carbono que aquece o planeta, de acordo com o ecologista florestal da Universidade de Michigan, Tsun Fung (Tom) Au, pós-doutorado no Instituto de Biologia da Mudança Global.

“O número de florestas primárias no planeta está diminuindo, enquanto a seca está prevista para ser mais frequente e mais intensa no futuro”, disse Au, principal autor do estudo publicado online em 1º de dezembro na revista Nature Climate Change.

“Dada sua alta resistência à seca e sua excepcional capacidade de armazenamento de carbono, a conservação de árvores mais velhas no dossel superior deve ser a principal prioridade de uma perspectiva de mitigação climática”.

Os pesquisadores também descobriram que as árvores mais jovens no dossel superior – se conseguirem sobreviver à seca – mostraram maior resiliência, definida como a capacidade de retornar às taxas de crescimento pré-seca.

Enquanto o desmatamento, a extração seletiva de madeira e outras ameaças levaram ao declínio global de florestas antigas, o reflorestamento subsequente – seja por sucessão natural ou por plantio de árvores – levou a florestas dominadas por árvores cada vez mais jovens.

Por exemplo, a área coberta por árvores mais jovens (<140 anos) na camada superior do dossel das florestas temperadas em todo o mundo já excede em muito a área coberta por árvores mais velhas. À medida que a demografia das florestas continua a mudar, espera-se que as árvores mais jovens desempenhem um papel cada vez mais importante no sequestro de carbono e no funcionamento do ecossistema.

“Nossas descobertas – que as árvores mais velhas no dossel superior são mais tolerantes à seca, enquanto as árvores mais jovens no dossel superior são mais resilientes à seca – têm implicações importantes para o futuro armazenamento de carbono nas florestas”, disse Au.

“Esses resultados indicam que, em curto prazo, o impacto da seca nas florestas pode ser severo devido à prevalência de árvores mais jovens e sua maior sensibilidade à seca. Mas, em longo prazo, essas árvores mais jovens têm maior capacidade de se recuperar da seca, o que pode ser benéfico para o estoque de carbono”.

Essas implicações exigirão mais estudos, de acordo com Au e seus colegas, uma vez que o reflorestamento foi identificado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas como uma potencial solução baseada na natureza para ajudar a mitigar as mudanças climáticas.

O Plano de Implementação de Sharm el-Sheikh publicado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 no Egito (COP27) também reafirmou a importância de manter a cobertura florestal intacta e o armazenamento de carbono associado como uma salvaguarda social e ambiental.

“Essas descobertas têm implicações sobre como manejamos nossas florestas. Historicamente, manejamos florestas para promover espécies de árvores com a melhor qualidade de madeira”, disse Justin Maxwell, da Universidade de Indiana, autor sênior do estudo.

“Nossas descobertas sugerem que o manejo das florestas por sua capacidade de armazenar carbono e ser resiliente à seca pode ser uma ferramenta importante na resposta à mudança climática, e pensar na idade da floresta é um aspecto importante de como a floresta responderá à seca”.

Maiores e mais antigas árvores do mundo estão morrendo, deixando as florestas mais jovens e menos resistentes.

Os pesquisadores usaram dados de anéis de árvores de longo prazo do Banco Internacional de Dados de Anéis de Árvores para analisar a resposta de crescimento de 21.964 árvores de 119 espécies sensíveis à seca, durante e após as secas do século passado.

Eles se concentraram nas árvores no dossel mais alto. O dossel da floresta é uma zona multicamadas, estruturalmente complexa e ecologicamente importante, formada por copas de árvores maduras e sobrepostas.

As árvores do dossel superior foram separadas em três grupos de idade – jovens, intermediárias e velhas – e os pesquisadores examinaram como a idade influenciava a resposta à seca para diferentes espécies de madeiras nobres e coníferas.

Eles descobriram que as folhosas jovens no dossel superior experimentaram uma redução de crescimento de 28% durante a seca, em comparação com uma redução de crescimento de 21% para as folhosas velhas. A diferença de 7% entre folhosas novas e velhas aumentou para 17% durante a seca extrema.

O maior trecho de floresta de sequoias que ainda resta está localizado no Parque Estadual de Humboldt Redwoods, na Califórnia, EUA. As maiores árvores do mundo estão morrendo, o que significa que estão liberando seu carbono de volta à atmosfera, em vez de armazená-lo. Isso tem repercussões ainda desconhecidas para as mudanças climáticas.

Embora essas diferenças relacionadas à idade possam parecer bastante pequenas, quando aplicadas em escala global, elas podem ter “impactos enormes” no armazenamento regional de carbono e no balanço global de carbono, de acordo com os autores do estudo. Isso é especialmente verdadeiro em florestas temperadas que estão entre os maiores sumidouros de carbono do mundo.

No estudo, as diferenças de resposta à seca relacionadas à idade nas coníferas foram menores do que nas folhosas, provavelmente porque as árvores com agulhas tendem a habitar ambientes mais áridos, dizem os pesquisadores.

O estudo atual fez parte da dissertação de doutorado na Universidade de Indiana, e ele continuou o trabalho depois de ingressar no Instituto de Biologia da Mudança Global da UM, que fica na Escola de Meio Ambiente e Sustentabilidade.

O novo estudo é uma síntese que representa os efeitos líquidos de milhares de árvores em diversas florestas nos cinco continentes, em vez de focar em tipos de floresta únicos. Além disso, o novo estudo é único em seu foco nas árvores do dossel superior da floresta, o que reduz os efeitos de confusão de altura e tamanho das árvores, de acordo com os autores.

Além de Au e Maxwell, os autores do estudo incluem Scott Robeson, Sacha Siani, Kimberly Novick e Richard Phillips, da Universidade de Indiana; Jinbao Li da Universidade de Hong Kong; Matthew Dannenberg da Universidade de Iowa; Teng Li da Universidade de Guangzhou; Zhenju Chen da Universidade Agrícola de Shenyang; e Jonathan Lenoir do UMR CNRS 7058 na Université de Picardie Jules Verne em Amiens, França.

Amazônia está chegando ao ponto de não se sustentar, estudos revelam alertas catastróficos.

Os autores do estudo receberam apoio da Universidade de Indiana, do Conselho de Bolsas de Pesquisa de Hong Kong e da Fundação Nacional de Ciências Naturais da China. A pesquisa foi apoiada em parte pela Lilly Endowment Inc., por meio de seu apoio ao Indiana University Pervasive Technology Institute. (ecodebate)

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Amazônia é o bioma com maior área de pastagens no Brasil

O principal uso dado ao solo brasileiro continua sendo a pastagem: de toda a área desmatada no Brasil, que já se aproxima dos 35% do território nacional, aproximadamente 90% foram ou continuam sendo pastagem.

Nas últimas 2 décadas, a área de pastagem cresceu 40% na Amazônia. No mesmo período, esse tipo de cobertura de solo diminuiu substancialmente na Mata Atlântica (28%) e no Cerrado (10%), onde 10,2 milhões de hectares foram transformados em lavouras temporárias.

O avanço das pastagens sobre a Amazônia a colocou no topo da lista dos biomas com maior área, em termos percentuais, com 36%. Cerrado (31%), Mata Atlântica (18%), Caatinga (12%) e Pantanal (2%) vêm na sequência. Com exceção de Minas Gerais, com 19,3 milhões de hectares, os outros dois estados líderes em área de pastagens no Brasil ficam na Amazônia Legal: Pará (21,1 milhões de hectares) e Mato Grosso (20,2 milhões de hectares).

Dados fazem parte de um mapeamento inédito do MapBiomas apresentado em 30/11/2022, pelo YouTube. Ele revela que o principal uso dado ao solo brasileiro continua sendo a pastagem: de toda a área desmatada no Brasil, que já se aproxima dos 35% do território nacional, aproximadamente 90% foram ou continuam sendo pastagem. Com presença nos seis biomas, ela ocupa atualmente algo em torno de 151 milhões de hectares de norte a sul do país. Mas a área total pode ser ainda maior porque esse número não integra parte dos campos naturais, principalmente no Pampa e Pantanal, que cobrem 12 milhões de hectares no país, e áreas de mosaico de usos, onde não é possível separar agricultura e pastagem (ou elas ocorrem de forma consorciada), e que cobrem 42 milhões de hectares.

A partir da análise de imagens de satélite é possível identificar uma intensa dinâmica quanto às áreas de pastagens no Brasil, marcada por momentos de expansão e retração territorial. Entre 1990 e 2000, 46,4 milhões de hectares de áreas naturais e antrópicas foram convertidas em pastagem, principalmente nos biomas Amazônia e Cerrado, enquanto 19,2 milhões de hectares de áreas de pastagem foram convertidos para outros usos ou abandonados, notadamente nos biomas Cerrado e Mata Atlântica.

Entre 2000 e 2021, as áreas naturais e antrópicas transformadas em pastagens totalizaram 47,1 milhões de hectares e, mais uma vez, Amazônia e Cerrado foram os principais alvos da conversão. Mas a conversão ou abandono das pastagens nesse mesmo período mais que dobrou em relação ao registrado nas duas décadas anteriores: 44,7 milhões de hectares, principalmente nos biomas Cerrado e Mata Atlântica.

Entre 1985 e 2021, a agricultura e pecuária ganharam 85 milhões de hectares — um crescimento de 47%. As atividades agropecuárias cresceram em cinco dos seis biomas brasileiros, com exceção da Mata Atlântica.

Pastagens brasileiras estocam mais de seis gigatoneladas de carbono

De forma inédita, a Coleção 7 do MapBiomas traz estimativas de estoques de carbono no solo associados às áreas de pastagens no Brasil. Considerando as pastagens de todo o Brasil (cultivadas e nativas), o estoque total de carbono orgânico no solo é de 6,43±1,79 gigatoneladas. Especificamente para o bioma Cerrado, a recuperação de cerca de 28 milhões de hectares de pastagens com algum nível de degradação pode resultar em um ganho de aproximadamente 6% nos estoques de carbono no solo até 2030.

Considerando estoques médios de carbono (toneladas por hectare), estes variam de 44 a 22 toneladas por hectare para a camada superficial do solo (0 a 20 cm) nas áreas de pastagens (nativas) do Pampa e Pantanal, respectivamente. Para os demais biomas – Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga e Cerrado – estes estoques ficam em torno de 41, 39, 36 e 33 toneladas por hectare, respectivamente.

“A recuperação de pastagens degradadas e adoção de boas práticas de manejo representam um verdadeiro ganha-ganha. Ganha o produtor, com o aumento da produtividade do rebanho. E ganha o país, haja vista o maior potencial de pastagens bem manejadas em sequestrar carbono, contribuindo para a redução das emissões e para tornar a atividade pecuária, como um todo, mais sustentável”, afirma Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador geral do mapeamento das pastagens.

Sobre MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra, em um país, disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa.

(ecodebate)

Governo Bolsonaro termina com aumento de 60% no desmatamento amazônico

 Governo Bolsonaro termina com aumento de 60% da taxa de desmatamento na Amazônia.

Desmatamento flagrado pelo IBAMA

INPE divulga estimativa de 11.568 km2 para 2022; mesmo com queda no último ano, mandato atual teve o maior aumento da devastação desde o início das medições por satélite.

Após 4 anos “passando a boiada” e metendo a “foice no IBAMA”, o governo de Jair Bolsonaro termina com um aumento de 59,5% da taxa de desmatamento na Amazônia em relação aos quatro anos anteriores (governos Dilma e Temer). É a maior alta percentual num mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988. Bolsonaro superou até mesmo o aumento visto no primeiro governo FHC, quando o forte aquecimento da economia no início do Plano Real causou o maior desmatamento da série histórica, de 29 mil km2, em 1995.

Em 30/11/22, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou a estimativa para o ano de 2022: 11.568 km2 devastados, área equivalente à da Jamaica. Apesar da queda de 11% em relação a 2021, há 13 anos não era registrada uma taxa tão alta nos nove Estados da Amazônia Legal. A média anual sob Bolsonaro foi de 11.396 km2, contra 7.145 km2 no período anterior (2015-2018).

“O regime Bolsonaro foi uma máquina de destruir florestas. Pegou o país com uma taxa de 7.500 km2 de desmatamento na Amazônia e o está entregando com 11.500 km2. A única boa notíca do governo atual é o seu fim“, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

4 anos de Bolsonaro: 60% de alta no desmatamento da Amazônia.

O dado do INPE está pronto desde 03/11/22, antes do início da COP27, a conferência do clima de Sharm El-Sheikh, no Egito. O governo, porém, optou por escondê-lo por 3 semanas. É o segundo ano consecutivo em que o ministro do Meio Ambiente vai à conferência do clima com os dados e deixa para divulgá-los depois.

No ano passado, na COP26, na Escócia, o ministro Joaquim Leite silenciou de forma constrangedora diante de perguntas de jornalistas sobre os dados do INPE — a pasta já sabia que a estimativa mostrava a maior alta em 15 anos. Neste ano, o governo se antecipou e vedou completamente qualquer debate sobre florestas no pavilhão oficial do Brasil. Governadores da Amazônia, que queriam falar do assunto, precisaram montar um stand próprio na COP.

Os dados de 2022 revelam uma explosão do desmatamento no Amazonas, o único a ter aumento no corte raso neste ano. Foram derrubados 2.607 km2, um incremento de 13% em relação a 2021. O Pará, mesmo com a redução de 21%, ainda lidera o ranking, com 4.141 km2 desmatados em 2022.

Além da inação do IBAMA, o aumento do corte raso no Amazonas é explicado pela expectativa de asfaltamento da BR-319 (Manaus-Porto Velho), rodovia que corta o maior bloco de florestas intactas da Amazônia. Em julho, o governo Bolsonaro concedeu licença prévia para a obra, atropelando pareceres de técnicos do próprio IBAMA.

A tendência atual no Amazonas, caso nada seja feito, é que se repita no eixo da BR-319 a tragédia ocorrida no entorno da BR-163 (Cuiabá-Santarém), no Pará, que se transformou no epicentro do desmatamento no começo do século, após o anúncio de sua pavimentação.

A taxa divulgada 30/11/22 é do sistema Prodes, que calcula o dado oficial de desmatamento a cada 12 meses (medidos sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte). Outro sistema do INPE, o Deter, que vigia as motosserras em tempo quase real, produz dados de alertas de desmatamento para orientar a fiscalização (que ficou essencialmente inoperante neste governo). De janeiro a meados de novembro a área de alertas já é 9% maior do que em todos os 12 meses do ano de 2019, então recordista da série do Deter. Os dados do Deter de agosto a outubro, que comporão a série de 2023, mostram um aumento de 45% na área de alertas em relação a igual período do ano passado. É também o recorde da série histórica iniciada em 2015.

“Números recentes do Deter indicam que a devastação continua fora de controle. Jair Bolsonaro deixará para seu sucessor uma herança maldita de desmatamento em alta e uma Amazônia conflagrada. Se quiser ver os números de destruição florestal diminuírem em 2023, Lula terá que ter tolerância zero com o crime ambiental desde o primeiro dia de seu governo. E isso inclui responsabilizar judicialmente aqueles que sabotaram a governança ambiental no país enquanto ocuparam o governo nos últimos quatro anos “, afirma Astrini.

Ele alerta que a situação pode ficar ainda pior caso o Congresso aprove ainda neste ano uma série de projetos de lei conhecidos como “Pacote da Destruição”, que visam a anistiar a grilagem de terras e a eliminar o licenciamento ambiental. “O governo Bolsonaro acabou, mas a aliança entre o bolsonarismo e a banda podre do ruralismo permanece no Congresso e no chão da floresta”, observa Astrini.

“Parte dessa redução pode ser explicada por ações de controle de órgãos estaduais de meio ambiente, mas parte também pode ser explicada pelo aumento das chuvas em Mato Grosso e Pará”, comenta Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima. “O consórcio MapBiomas encontrou indícios de ilegalidade em 98% dos desmatamentos em 2021, e os órgãos de controle só atuaram em 27% da área desmatada. A impunidade ainda predomina e precisa ser enfrentada com determinação no novo governo.”

Tabela: índices de desmatamento por mandato presidencial

 

Média anual período anterior/km2

Média anual mandato/km2

Variação

Itamar*

12.415 (1991-1992)

14.896

20%

FHC 1

13.652 (1991-1994)

19.457

42,5%

FHC 2

19.457 (1995-1998)

18.825

 -3,2%

Lula 1

18.825 (1999-2002)

21.617

14,8%

Lula 2

21.617 (2003-2006)

9.756

-54,8%

Dilma 1

9.756 (2007-2010)

5.473

-43,9%

Dilma 2**

5.451 (2013-2014)

7.050

29,3%

Temer

7.050 (2015-2016)

7.241

2,7%

Bolsonaro***

7.145 (2015-2018)

11.396

59,5%


*Sob Collor não há base de comparação, já que a série histórica começa em 1988.

**Para Itamar, Dilma 2 e Temer são considerados 2 anos de mandato em comparação com os 2 anos anteriores.

***O dado referente a 2022 é uma estimativa do INPE, a ser consolidado no primeiro semestre de 2023. (ecodebate)

Ondas de calor devem diminuir em 2025

Ondas de calor devem diminuir em 2025, aponta Climatempo. O pico de emissões em 2025 é uma boa notícia, decerto, mas a física é implacável...