terça-feira, 31 de janeiro de 2023

93% das bacias do Cerrado devem ter redução na disponibilidade de água

Alto Paraíso (GO) – Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no município de Alto Paraíso.

O desmatamento para monocultura e pastagem é o principal responsável pela diminuição de 34% da vazão dos rios do Cerrado até 2050.

No Cerrado, 93% das bacias devem ter redução na disponibilidade de água, é o que aponta o estudo The heavy impact of deforestation and climate change on the streamflows of the Brazilian Cerrado biome and a worrying future, apoiado pelo ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza).

Segundo a pesquisa, o bioma deve perder 34% da sua vazão de água nos próximos 28 anos. O estudo em fase de revisão pela revista científica Sustainability, concluiu que o desmatamento é a principal causa dessa diminuição, responsável por 56% do impacto. Devem ser perdidos 23.653 m³/s até 2050, só nos rios analisados no estudo, essa perda equivale à vazão de oito rios Nilo.

A situação é motivo de preocupação local, nacional e global. Os recursos hídricos do Cerrado estão cada vez mais escassos localmente e já apresentam perda de 15,4% da vazão dos rios. Ainda assim, água segue sendo exportada para China, União Europeia e Estados Unidos em forma de “água virtual”, ou seja, água consumida na produção dos grãos e carne (commodities).

A pesquisa analisou o comportamento de 81 bacias hidrográficas no Cerrado, em um período entre 1985 e 2022. Destas, 88% já apresentam diminuição da vazão devido às intensas mudanças do uso do solo na área de abrangência da bacia hidrográfica. O número alto indica tendência sistêmica de escassez de água e ampliação do estresse hídrico até 2050 em especial ocasionado pela ocupação agropecuária de larga escala, o agronegócio.

O estudo chama atenção para as mudanças no uso da terra pela expansão da agricultura e de pastagens, responsável por cerca de 46% da emissão de gases de efeito estufa (GEE) do país, o que é um dos fatores de impacto do agronegócio nas mudanças climáticas. Impacto esse que retorna, intensificando secas e impactando a própria agricultura e ampliando conflitos por água.

Mudança na governança das águas

A principal conclusão da análise é que a expansão da agricultura para commodities e a escassez de água estão intrinsecamente ligadas. Yuri Salmona, geógrafo, doutor em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília e responsável pela pesquisa, comenta que o aumento da exportação de commodities que consomem água mudou a governança das águas.

“Os controles local, regional e nacional das águas do Cerrado foram substituídos por atores que dominam a cadeia global de produtos agropecuários”, diz o especialista. Isso significa que a água do rio, em vez de beneficiar as comunidades locais ou a população brasileira, está sendo controlada por empresas do agronegócio que desviam o fluxo hídrico para irrigação e enviam água para importadores em forma de commodities. Salmona indica que o uso da água para produção agrícola no Brasil tem que ser monitorada e avaliada com rigor por órgãos governamentais que garantam o interesse coletivo em detrimentos a interesses particulares.

Mudanças climáticas

Apesar das mudanças no clima também interferirem na redução da vazão dos rios, a pesquisa mostra que o desmatamento é o grande fator isolado que interfere na segurança hídrica. Por meio de testes estatísticos, modelagens validadas e repetidas checagens para mapear a oscilação da vazão dos rios ao longo do tempo, Salmona e seus colegas conseguiram estabelecer projeções para as próximas décadas e analisá-las a partir do isolamento dos efeitos do desmatamento e das mudanças climáticas. O resultado mostrou que as mudanças climáticas contribuíram com 43% da redução da vazão, menos que o desmatamento, responsável por 56% do impacto negativo nas águas. E modelagens futuras produzidas pelo estudo indicam que o papel do uso do solo na redução da vazão dos rios do Cerrado deve ter peso ainda maior.

Essa conclusão foi alcançada a partir da observação do aumento da evapotranspiração potencial, associado ao aumento de temperatura e de radiação. Apesar de as mudanças climáticas terem sido sentidas com mais intensidade durante o período de seca, foi possível constatar que as alterações no regime de chuvas, não são protagonistas na redução das vazões.

Yuri Salmona comenta que o uso indevido do solo para a exploração agropecuária intensifica as consequências negativas da mudança no clima. “A gente está sobrepondo efeitos negativos às mudanças climáticas, por meio da ampliação do desmatamento e sobre uso da água para irrigar plantações em larga escala, estamos jogando contra nós mesmos. Estamos perdendo a chance de mitigar os efeitos do desequilíbrio climático e estamos aumentando a preocupação com a disponibilidade de água ”, lamenta.

Segundo a Agência Nacional de Águas, com base na conjuntura dos recursos hídricos no Brasil de 2018, 68% do consumo de água é feito pela agricultura. Somada à pecuária, 80% da água está comprometida ao agronegócio, que por si só, de acordo com o Mapbiomas, é responsável por 97% do desmatamento no Cerrado, principal emissor de carbono no país.

Cerrado pode perder um terço da água, aponta estudo.

O desmatamento para monocultura e pastagem é o principal responsável pela diminuição de 34% da vazão dos rios até 2050.

Conflitos socioambientais e monopólio da água

Das bacias analisadas, três rios apresentam casos emblemáticos cuja mudança de padrão da vazão se deu a partir de 1997. São eles o Rio Arrojado (BA), Rio de Ondas (BA) e Rio Corda (MA). Este último, cuja situação é a pior de todas, pode se tornar intermitente nos próximos anos se o ritmo do desmatamento seguir o ritmo atual. Os três rios abastecem comunidades tradicionais da região, mas também, o agronegócio que ocupa imensas áreas nestes territórios do MATOPIBA, sigla que define a porção de Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Por lá, o número de conflitos por água segue uma crescente.

No oeste da Bahia, por exemplo, desde de 2012 a indústria do agronegócio teve acesso irrestrito à água, em uma região de aumento da escassez e piora de conflitos sociais por insegurança hídrica. Lá, o setor tem avançado sobre rios que abastecem e territórios que abrigam comunidades de fecho de pasto, geraizeiros, agricultores familiares e pescadores com o objetivo de expandir plantações, gerando revoltas e protestos da população.

Segundo uma investigação da Agência Pública, no oeste baiano, o agronegócio capta 1,8 bilhão de litros de água por dia de maneira gratuita. Esse volume de água é o suficiente para abastecer cerca de 11,8 milhões de brasileiros, população maior que a de 22 estados brasileiros e do Distrito Federal. Parte dessa água é captada por meio de barramentos em riachos e veredas, captação direta de rios e por meio de poços que acessam água subterrânea que compõem o aquífero Urucuia.

Desmatamento e mudança climática reduzem vazão de rios do Cerrado brasileiro e podem afetar geração de energia.

Mantido atual ritmo de devastação do bioma, volume de águas pode diminuir 34% até 2050, diz estudo divulgado.

Importância hídrica e energética do Cerrado

Conhecido como “berço das águas”, o Cerrado abriga nascentes de 8 das 12 bacias hidrográficas mais importantes do país e o segundo maior reservatório subterrâneo de água do mundo, que são os aquíferos Guarani e Urucuia. Além disso, fornece 70% da água do Rio São Francisco, que abastece a região Nordeste brasileira, e 47% da água do Rio Paraná, que abastece a hidrelétrica de Itaipu. Suas águas são importantes também para Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai.

Além de saciar a sede, a ausência de água interfere diretamente na disponibilidade de energia elétrica no Brasil, cuja matriz energética é baseada nas hidroelétricas. Para Yuri Salmona, o futuro é preocupante. “Nossa análise indica que estamos abraçando um futuro de incertezas com relação à disponibilidade de água no bioma Cerrado. Os dados nos permitem prever uma diminuição crítica da disponibilidade de água e, consequentemente, aumento de conflitos por água”, afirma. Para o pesquisador, os mais prejudicados serão as comunidades tradicionais locais, mas também o próprio agronegócio e grande parte da população brasileira, que depende das águas do Cerrado.

Necessidade de conservação

Apoiador da pesquisa, o ISPN destaca a necessidade de implementação de políticas públicas específicas para o bioma Cerrado, que garantam a conservação ambiental e a proteção dos povos guardiões. O assessor de políticas públicas do Instituto, Guilherme Eidt, destaca que o Cerrado corre risco e precisa de atenção tanto quanto a Amazônia.

“Cerrado em pé é fundamental para a garantia de segurança alimentar, segurança hídrica, segurança energética, segurança climática global e manutenção da sociobiodiversidade. Os povos, as comunidades tradicionais e agricultores familiares são essenciais para a conservação do meio ambiente e equilíbrio climático”, aponta.

Para Eidt, é preciso valorizar os biomas não florestais e estimular uma política de transparência na cadeia de commodities, que permita rastrear os produtos até a origem. O advogado acrescenta ainda que os países importadores e legislações internacionais são tão importantes e responsáveis quanto o Brasil nesta tarefa.

“É importante que a normativa europeia garanta a inclusão de outros ecossistemas naturais no seu escopo. O Parlamento Europeu aprovou um texto ambicioso que deve ser garantido no diálogo com as demais instituições europeias. Acreditamos em outro modelo de desenvolvimento, que gere renda com conservação ambiental”, finaliza Eidt.

Rios do Cerrado perderam 15,4% de sua vazão de água entre 1985 e 2018, aponta estudo.

COP 27: cerrado desmatado pode reduzir águas nos rios em ⅓ e afetar geração de energia, indica estudo.

Sobre o ISPN

O ISPN é uma organização não governamental brasileira sem fins lucrativos, fundada em abril/1990 e sediada em Brasília. (ecodebate)


Mais de 20% do território amazônico se perdeu de forma irreversível

“A região amazônica é o principal reservatório global de carbono; suas florestas desempenham um papel fundamental no ciclo do carbono atmosférico e na manutenção do equilíbrio de CO2 na atmosfera do planeta.” (CEPAL 2013. Amazônia possível e sustentável).

Segundo dados da Organização Meteorológica Mundial, “o desmatamento na Amazônia brasileira dobrou em relação à média de 2009-2018 e atingiu seu maior nível desde 2009. No ano passado, houve um aumento de 22% de área florestal perdida em relação a 2020”.

Outras pesquisas indicam que no período 2010-2018 a Amazônia – especialmente a parte sudeste da selva brasileira – gerou 18% mais CO2 do que é capaz de transformar em oxigênio. Diante de um cenário tão crítico, é urgente que governos, corporações, financiadores e a comunidade internacional atuem para frear as causas por trás do avanço do desmatamento e da destruição do solo e dos bens comuns, reduzindo, principalmente o impacto das indústrias extrativas (petróleo, gás e mineral), de atividades ligadas à expansão do agronegócio e da pecuária.

É fundamental enfrentar o avanço da construção de grandes infraestruturas, como hidrelétricas ou rodovias que destroem reservas indígenas e naturais. Isso causa não apenas o fim das florestas, mas dinâmicas de violência particularmente graves para os povos indígenas e comunidades locais, que, em defesa de seus territórios, veem seus modos de vida e o exercício de seus direitos afetados.

Pedimos às autoridades presentes na COP 27 a passar do compromisso à ação, considerando a urgência de avançar em um quadro efetivo de ações para reduzir o desmatamento e consolidar programas que detenham a ameaça ao território amazônico e dignifiquem a vida nesta região. É fundamental eliminar progressivamente os combustíveis fósseis e evitar que os compromissos assumidos em termos de zero emissões líquidas de carbono sejam usados como “maquiagem verde” (greenwashing) para as corporações, gerando o aumento dos conflitos, da fome e o aprofundamento das desigualdades na região amazônica.

Às comunidades amazônicas é preciso garantir sua participação e o exercício efetivo aos seus direitos, em tudo relacionado às políticas e aos programas de ação climática e ao seu empoderamento. É fundamental que sejam implementados apoios à prevenção e resposta das populações locais face às emergências climáticas, respeitando a sua autonomia e garantindo um sistema de financiamento de perdas e danos, independentemente dos compromissos já assumidos na mitigação e adaptação dessas práticas.

Precisamos agir AGORA se quisermos impedir uma das maiores catástrofes do planeta. Sem a Amazônia não há FUTURO.

Veja a declaração da Oxfam sobre Amazônia e COP27.

Notas:

• O desmatamento na floresta amazônica brasileira dobrou em relação à média de 2009-2018 e atingiu seu nível mais alto desde 2009. Em 2021, 22% a mais de área florestal foi perdida em comparação com 2020. Organización Meteorológica Mundial (OMM) titulado “El estado del clima en América Latina y el Caribe 2021”.

https://public.wmo.int/en/our-mandate/climate/wmo-statement-state-of-global-climate/LAC

• Desde a aprovação da Moção 129 do Congresso da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN)24, a RAISG atualizou a série de dados de 36 anos (1985-2020) correspondente à mudança no uso da terra e cobertura florestal. O resultado é que, até 2020, 26% da Amazônia passou por uma transformação: 20% do território havia sofrido mudanças irreversíveis (164 milhões de hectares), e 6% da região passou por alta degradação (54 milhões de hectares). Amazonía Contrarreloj

https://ecociencia.org/amazonia-contrareloj/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=amazonia-contrareloj

• Sobre o impacto na fixação de CO2 na Amazônia, ver: Gatti, L. V., Basso et. al. (2021). Amazonia as a carbon source linked to deforestation and climate change. Nature Magazine, 595(7867), 388-393. https://doi.org/10.1038/s41586-021-03629-6.

A Amazônia se aproxima de um ponto sem retorno. Danos irreversíveis estão acontecendo agora, em escala planetária. (ecodebate)

49% das geleiras do mundo desaparecerão até 2100

Estudo estima que 49% das geleiras do mundo desapareceriam até 2100.
A geleira Wahlenberg

Aquecimento global vai acabar com metade de todas as geleiras da Terra até 2.100, alerta estudo.

Aquecimento Global – Pequenos glaciares (<1 km2) predominam em nosso planeta e são os mais afetados pela perda de massa.

Como nossas geleiras mudarão durante o século 21?

Em um novo estudo cujas descobertas foram publicadas na Science, uma equipe internacional, incluindo cientistas do CNRS e da Université Toulouse III–Paul Sabatier, demonstrou uma perda de massa glacial maior do que a projetada anteriormente – e especificamente, 11% para 44% acima das estimativas usadas no relatório mais recente do IPCC.

Pequenos glaciares (<1 km2) predominam em nosso planeta e são os mais afetados pela perda de massa. No cenário em que o aquecimento global é limitado a 1,5°C, espera-se que 49% das geleiras do mundo, a maioria das pequenas, desapareçam até 2100, provocando uma elevação de 9 cm no nível do mar. As maiores geleiras também seriam afetadas, mas não desapareceriam.

Estudo minucioso aponta que metade de todas as geleiras do planeta pode derreter até 2100.

Caso isso ocorra, o fenômeno contribuirá significativamente para o aumento do nível do mar, resultando em consequências catastróficas.

Se, por outro lado, as temperaturas subirem 4°C, não serão poupados nem pequenos nem grandes glaciares: desapareceriam 83% e haveria uma subida do nível do mar de 15,4 cm.

Para chegar às suas conclusões, a equipe de cientistas se baseou nas observações de um estudo que quantificou a perda acelerada e generalizada de massa glacial em todo o mundo entre 2000 e 2019. Esses dados anteriores permitiram calibrar seu modelo matemático, desenvolvido especialmente para o trabalho apresentado em sua publicação, para cada uma das 215 mil geleiras da Terra.

O modelo também considera processos não representados anteriormente, como a perda de massa devido ao desprendimento de icebergs e o efeito de uma camada de detritos na superfície de uma geleira. O encolhimento das maiores geleiras, como as do Alasca, do Ártico canadense e ao redor da Antártida, chave para o futuro aumento do nível do mar, ainda pode ser limitado se implementarmos medidas para mitigar o aquecimento global.

Projeções do desaparecimento das geleiras em 2100 segundo dois cenários de aumento da temperatura média global. Fundo, Glaciar Upsala, Patagônia. (ecodebate)

Benefícios das florestas para estabilizar o clima local e global

Relatório resume a ciência sobre os efeitos biofísicos do desmatamento na estabilidade climática e explora as implicações políticas dos impactos resultantes em três escalas: política climática global, cooperação regional na gestão de precipitação e políticas nacionais relacionadas à agricultura e saúde pública.

Para cada uma dessas arenas políticas, existem pontos de entrada promissores para abordar as lacunas atuais por meio de inovações em políticas e instituições.

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As florestas têm efeitos significativos – e extremamente positivos – na estabilidade climática por meio de processos biofísicos que afetam as transferências de energia e umidade na atmosfera, contribuindo para a segurança alimentar e hídricos, protegendo a saúde humana e aumentando nossa capacidade de adaptação a um planeta em aquecimento.

A contabilização desses processos pode afetar significativamente as estimativas dos impactos do desmatamento no clima global com base em sua interação apenas com o ciclo do carbono, tornando o efeito de resfriamento global de evitar o desmatamento tropical em até 50% maior.

A remoção da cobertura florestal, especialmente nos trópicos, aumenta as temperaturas locais e interrompe os padrões de chuva de forma a agravar os efeitos locais das mudanças climáticas globais, ameaçando graves consequências para a saúde humana e a produtividade agrícola.

Ao não levar em conta esses efeitos biofísicos, as políticas atuais subestimam sistematicamente os serviços climáticos das florestas, não antecipam toda a gama de riscos climáticos associados ao desmatamento e resultam em alocação desigual de responsabilidades e recursos dentro e entre as nações.

Os formuladores de políticas devem reconhecer e abordar urgentemente toda a gama de serviços de regulação climática das florestas por meio de instituições que operam em escalas relevantes, incluindo a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), instituições de cooperação regional e agências domésticas encarregadas de promover a produtividade agrícola e proteger saúde pública.

Florestas distantes é uma oportunidade inexplorada.

Como e por que as cidades devem proteger as florestas?

Em geral, as pessoas não costumam associar cidades e árvores, mas a verdade é que as áreas urbanas dependem de florestas saudáveis para sobreviver. (ecodebate)

sábado, 28 de janeiro de 2023

Aquecimento global pode interromper a circulação profunda do oceano

O aquecimento climático da água do mar está causando uma desaceleração dos padrões de circulação profunda nos oceanos Atlântico e Sul, de acordo com a Universidade da Califórnia, cientistas do sistema Irvine Earth, e se esse processo continuar, a capacidade dos oceanos de remover o dióxido de carbono da atmosfera será severamente limitada, agravando ainda mais o aquecimento global.

Em um estudo recente publicado na Nature Climate Change, pesquisadores analisaram projeções de três dúzias de modelos climáticos e descobriram que a Circulação Meridional do Atlântico e a Circulação Meridional do Sul diminuirão em até 42% até 2100.

As simulações sugerem que, nas piores condições, caso o aquecimento, o SMOC pode cessar totalmente por volta de 2300.

“A análise das projeções de 36 modelos de sistemas terrestres em uma variedade de cenários climáticos mostra que o aquecimento global descontrolado pode levar a um desligamento da circulação profunda do oceano”, disse o coautor J. Keith Moore, professor de ciência do sistema terrestre da UCI. “Isso seria um desastre climático semelhante em magnitude ao derretimento completo das camadas de gelo em terra”.

Os impactos das mudanças climáticas não se restringem à grandes secas e à cidades inundadas, o pior caso pode provocar uma extinção maciça da vida do planeta Terra.

A importância de inverter a circulação

No Atlântico, à medida que a água quente flui para o norte na superfície, ela esfria e evapora, tornando-a mais salgada e densa. Esta água mais pesada afunda no oceano profundo e segue para o sul, onde eventualmente sobe de volta, carregando das profundezas os nutrientes que são a base alimentar dos ecossistemas marinhos.

Além disso, a circulação oceânica global cria uma poderosa fábrica para o processamento do dióxido de carbono atmosférico. A interação física e química básica da água do mar e do ar – o que Moore e seus colegas chamam de “bomba de solubilidade” – atrai o CO2 para o oceano. Enquanto a circulação oceânica envia algum carbono de volta para o céu, a quantidade líquida é sequestrada nas profundezas do oceano.

Além disso, ocorre uma “bomba biológica” à medida que o fitoplâncton usa CO2 durante a fotossíntese e na formação de conchas carbonáticas. Quando o plâncton e os animais maiores morrem, eles afundam, decompondo-se lentamente e liberando o carbono e os nutrientes nas profundezas. Alguns voltam com circulação e ressurgência, mas uma parte permanece depositada sob as ondas.

“Uma interrupção na circulação reduziria a absorção de dióxido de carbono da atmosfera pelo oceano, intensificando e estendendo as condições climáticas quentes”, disse Moore. “Com o tempo, os nutrientes que sustentam os ecossistemas marinhos ficarão cada vez mais presos no oceano profundo, levando ao declínio da produtividade biológica do oceano global”.

Mapa simplificado do fluxo global de correntes marítimas.

Desaceleração de correntes oceânicas pode intensificar aquecimento global.

Estudo mostra que a velocidade das correntes varia naturalmente ao longo do tempo. Por anos, o ritmo rápido ajudou a conter o aquecimento do planeta, mas esse tempo acabou.

Os seres humanos dependem da bomba de solubilidade e da bomba biológica para ajudar a remover parte do CO2 emitido no ar por meio da queima de combustíveis fósseis, práticas de uso da terra e outras atividades, de acordo com Moore.

“Nossa análise também mostra que a redução das emissões de gases de efeito estufa agora pode evitar esse desligamento completo da circulação profunda no futuro”, disse ele.

Juntando-se a Moore neste projeto, que foi financiado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, estavam o principal autor Yi Liu, UCI Ph.D. estudante em ciência do sistema terrestre; Francois Primeau, professor e presidente do Departamento de Ciência do Sistema Terrestre da UCI; e Wei-Lei Wang, professor de ciências oceânicas e da Terra na Universidade de Xiamen, na China. O estudo dependeu substancialmente de simulações desenvolvidas pelo Projeto de Intercomparação de Modelo Acoplado fase 6 (CMIP6) usado para informar as avaliações climáticas do IPCC.

Linhas descendentes verdes denotam organismos mortos e moribundos afundando das águas superficiais nos oceanos do mundo. À medida que se decompõem, os nutrientes dos animais são liberados nas profundezas, para retornar à superfície por meio da circulação oceânica. Um estudo Nature Climate Change publicado recentemente por cientistas do sistema terrestre da UCI mostra como o aquecimento global diminuirá a circulação profunda, prendendo nutrientes perto do fundo do oceano. Os ecossistemas marinhos ficarão cada vez mais carentes de nutrientes ao longo do tempo. Retardar a circulação profunda também reduz a absorção de dióxido de carbono da atmosfera, resultando na extensão e intensificação das condições climáticas quentes. J. Keith Moore / UCI. (ecodebate)

Aquecimento aumentará número e intensidade de ciclones tropicais

Um clima mais quente aumentará o número de ciclones tropicais e sua intensidade no Atlântico Norte, potencialmente criando mais e mais fortes furacões, de acordo com simulações usando um modelo climático global de alta resolução.

“Infelizmente, não é uma boa notícia para as pessoas que vivem em regiões costeiras”, disse Christina Patricola, professora assistente de ciências geológicas e atmosféricas da Iowa State University, afiliada do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley do Departamento de Energia dos EUA na Califórnia e líder do estudo. “As temporadas de furacões no Atlântico se tornarão ainda mais ativas no futuro, e os furacões serão ainda mais intensos.”

A equipe de pesquisa executou simulações climáticas usando o modelo de sistema terrestre Exascale do Departamento de Energia e descobriu que a frequência de ciclones tropicais pode aumentar 66% durante as temporadas ativas de furacões no Atlântico Norte até o final deste século. (Essas estações são tipicamente caracterizadas por condições de La Niña – águas de superfície excepcionalmente frias no leste do Oceano Pacífico tropical – e a fase positiva do Modo Meridional do Atlântico – temperaturas de superfície mais quentes no norte do Oceano Atlântico tropical).

O número projetado de ciclones tropicais pode aumentar em 34% durante as temporadas inativas de furacões no Atlântico Norte. (Estações inativas geralmente ocorrem durante condições de El Niño com temperaturas de superfície mais quentes no leste do Oceano Pacífico tropical e a fase negativa do Modo Meridional do Atlântico com temperaturas de superfície mais frias no norte do Oceano Atlântico tropical).

Além disso, as simulações projetam um aumento na intensidade das tempestades durante as temporadas de tempestades ativas e inativas.

A revista científica Geophysical Research Letters publicou recentemente os resultados. Ana CT Sena, pesquisadora associada de pós-doutorado no estado de Iowa, é a primeira autora.

“No total, o aumento concomitante no número e na força (de ciclones tropicais) pode levar a um aumento do risco para o Atlântico Norte continental no clima futuro”, escreveram os pesquisadores.

Patricola acrescentou: “Qualquer coisa que possa ser feita para reduzir as emissões de gases de efeito estufa pode ser útil para reduzir esse risco”.

Histórico das tempestades tropicais, furacões e grandes furacões (Categoria 3+) no Atlântico Norte derivado da análise do National Hurricane Center, EUA (Global Warming Art).

Estudos de ciclones no país dos ciclones

O estado de Iowa é o lar dos ciclones e as sirenes de tempestade fazem parte do hype na maioria das competições atléticas. A conversa sobre os ciclones está em todo o campus. Mas ciclones tropicais do Atlântico Norte? O que eles são?

“Ciclone tropical é um termo mais genérico do que furacão”, disse Patricola. “Os furacões são ciclones tropicais relativamente fortes.”

Exatamente, diz a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica. Ciclone tropical é uma referência geral a um sistema de baixa pressão que se forma sobre águas tropicais com tempestades perto do centro de seus ventos ciclônicos fechados. Quando esses ventos rotativos excedem 63 km/h, o sistema se torna uma tempestade tropical nomeada. A mais de 120 km/h, torna-se um furacão nos oceanos Atlântico e Pacífico Leste, um tufão no norte do Pacífico Oeste.

Patricola cresceu no Nordeste e ainda pode contar histórias sobre o furacão Bob de 1991.

“Foi um grande problema para nós em Massachusetts”, disse ela. “Para mim, foi muito emocionante. Isso realmente me chamou a atenção.”

Ela era fanática pelo Weather Channel durante muitos furacões em meados da década de 1990. E isso levou a estudos de ciências geológicas e atmosféricas na Cornell University, em Nova York, seguidos de ciência atmosférica e pesquisa climática na Texas A&M University e Lawrence Berkeley National Laboratory. Patricola ingressou no corpo docente do estado de Iowa em agosto de 2020.

Especialistas apontam causas de recorde de furacões no Atlântico

A cada ano os furacões no Atlântico Norte estão cada vez mais violentos devido ao aquecimento global, um ano sem precedentes para a frequência desses fenômenos.

Os interesses de pesquisa de Patricola incluem dinâmica climática, variabilidade e mudança climática, eventos climáticos extremos, interações atmosfera-oceano, modelagem climática de alta resolução, interações terra-atmosfera, paleoclimas. E, ciclones tropicais.

Por que os números de ciclones tropicais são tão consistentes?

Patricola e outro grupo de colaboradores acabam de publicar um segundo trabalho de pesquisa sobre ciclones tropicais. Este também está em Geophysical Research Letters, com Derrick Danso, um associado de pesquisa de pós-doutorado do estado de Iowa, como primeiro autor. O artigo examina uma possível explicação para o número relativamente constante de ciclones tropicais observados globalmente de ano para ano. (Veja a barra lateral).

Será que as Ondas de Leste Africanas, sistemas de baixa pressão sobre a região do Sahel no norte da África que absorvem os ventos tropicais úmidos e os transformam em nuvens de tempestade, são a chave para a produção constante de tempestades?

Usando simulações de modelos regionais, os pesquisadores conseguiram filtrar as ondas africanas de Páscoa e ver o que acontecia. Como se viu, as simulações não alteraram o número sazonal de ciclones tropicais do Atlântico. Mas os ciclones tropicais foram mais fortes, a formação do pico das tempestades mudou de setembro para agosto e a região de formação mudou da costa do norte da África para o Golfo do México.

Portanto, as Ondas de Páscoa africanas não ajudam os pesquisadores a prever o número de ciclones tropicais do Atlântico todos os anos, mas parecem afetar características importantes das tempestades, incluindo intensidade e possivelmente onde atingem a costa.

Ambos os documentos pedem mais estudos.

“Estamos”, disse Patricola, “resolvendo o problema de prever o número de ciclones tropicais”.

Comparação de (a) número médio de ciclones tropicais (TC) do conjunto e (b) função de densidade de probabilidade de longitudes de gênese de TC no controle e simulações suprimidas da onda oriental africana (AEW), e trilhas e localizações de gênese (pontos azuis) de todos os ciclones dos três membros do conjunto do (c) controle e (d) simulação AEW suprimida de 1º de agosto a 31 de outubro. In Influence of African Easterly Wave Suppression on Atlantic Tropical Cyclone Activity in a Convection-Permitting Model. (ecodebate)

O papel das mudanças climáticas na desertificação

A desertificação tem sido descrita como “o maior desafio ambiental do nosso tempo” e as alterações climáticas estão a agravá-la.

Embora o termo possa trazer à mente as dunas de areia varridas pelo vento do Saara ou as vastas salinas do Kalahari, é uma questão que vai muito além daqueles que vivem nos desertos do mundo e ao redor deles, ameaçando a segurança alimentar e a subsistência de mais de 2 bilhões pessoas.

O impacto combinado das mudanças climáticas, da má gestão da terra e do uso insustentável de água potável tem degradado cada vez mais as regiões com escassez de água no mundo. Isso deixa seus solos menos capazes de sustentar colheitas, gado e vida selvagem.

Carbon Brief analisa o que é a desertificação, o papel que a mudança climática desempenha e qual o impacto que está tendo em todo o mundo.

• Definindo a desertificação

• Mistura de causas

• Impactos locais e globais

• Feedback do clima

• Problemas de mapeamento

• O futuro

• Soluções

Definindo a desertificação

Em 1994, a ONU estabeleceu a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) como o “único acordo internacional juridicamente vinculativo que vincula o meio ambiente e o desenvolvimento à gestão sustentável da terra”. A própria Convenção foi uma resposta a um chamado da Cúpula da Terra da ONU no Rio de Janeiro em 1992 para realizar negociações para um acordo legal internacional sobre a desertificação.

A UNCCD estabeleceu uma definição de desertificação em um tratado adotado pelas partes em 1994. Ele afirma que desertificação significa “degradação da terra em áreas áridas, semiáridas e sub úmidas secas resultante de vários fatores, incluindo variações climáticas e atividades humanas”.

Portanto, em vez de desertificação significar a expansão literal dos desertos, é um termo abrangente para a degradação da terra em partes do mundo com escassez de água. Essa degradação inclui o declínio temporário ou permanente da qualidade do solo, da vegetação, dos recursos hídricos ou da vida selvagem, por exemplo. Também inclui a deterioração da produtividade econômica da terra – como a capacidade de cultivar a terra para fins comerciais ou de subsistência.

Áreas áridas, semiáridas e sub secas são conhecidas coletivamente como “terras secas”. Estas são, sem surpresa, áreas que recebem relativamente pouca chuva ou neve a cada ano. Tecnicamente, eles são definidos pela UNCCD como “áreas diferentes das regiões polares e subpolares, nas quais a razão entre a precipitação anual e a evapotranspiração potencial cai na faixa de 0,05 a 0,65”.

Em termos simples, isso significa que a quantidade de chuva que a área recebe está entre 5-65% da água que ela tem potencial para perder por evaporação e transpiração da superfície terrestre e da vegetação, respectivamente (assumindo que haja umidade suficiente disponível). Qualquer área que receba mais do que isso é chamada de “úmida”.

Você pode ver isso mais claramente no mapa abaixo, onde as terras áridas do mundo são identificadas por diferentes graus de sombreamento laranja e vermelho. As terras secas abrangem cerca de 38% da área terrestre da Terra, cobrindo grande parte do norte e sul da África, oeste da América do Norte, Austrália, Oriente Médio e Ásia Central. As terras áridas abrigam aproximadamente 2,7 bilhões de pessoas (pdf) – 90% das quais vivem em países em desenvolvimento.

Distribuição observada dos diferentes níveis de aridez, baseada nos dados de 1981-2010.

As terras secas são particularmente susceptíveis à degradação do solo devido à escassa e variável precipitação, bem como à fraca fertilidade do solo. Mas como é essa degradação?

Existem inúmeras maneiras pelas quais a terra pode degradar. Um dos principais processos é a erosão – a degradação gradual e remoção de rocha e solo. Isso ocorre normalmente por alguma força da natureza – como vento, chuva e/ou ondas – mas pode ser exacerbado por atividades como lavoura, pastagem ou desmatamento.

A perda de fertilidade do solo é outra forma de degradação. Isso pode ocorrer pela perda de nutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio, ou pela diminuição da quantidade de matéria orgânica no solo. Por exemplo, a erosão do solo pela água causa perdas globais de até 42 milhões de toneladas de nitrogênio e 26 milhões de toneladas de fósforo todos os anos. Em terras cultivadas, isso inevitavelmente precisa ser substituído por fertilizantes a um custo significativo. Os solos também podem sofrer de salinização – um aumento no teor de sal – e acidificação devido ao uso excessivo de fertilizantes.

Depois, há muitos outros processos que são classificados como degradação, incluindo perda ou mudança no tipo e cobertura da vegetação, compactação e endurecimento do solo, aumento de incêndios florestais e declínio do lençol freático devido à extração excessiva de águas subterrâneas.

Mistura de causas

De acordo com um relatório recente da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), “a degradação da terra é quase sempre o resultado de múltiplas causas interativas”.

As causas diretas da desertificação podem ser amplamente divididas entre as relacionadas com a forma como a terra é – ou não – geridas e as relacionadas com o clima. O primeiro inclui fatores como desmatamento, pastoreio excessivo de gado, cultivo excessivo de safras e irrigação inadequada; o último inclui flutuações naturais no clima e aquecimento global como resultado das emissões de gases de efeito estufa causada pelo homem.

Depois, também existem causas subjacentes, observa o relatório do IPBES, incluindo “condutores econômicos, demográficos, tecnológicos, institucionais e culturais”.

Olhando primeiro para o papel do clima, um fator significativo é que a superfície terrestre está aquecendo mais rapidamente do que a superfície da Terra como um todo. (Pesquisas recentes mostram que isso ocorre porque a “taxa de lapso” – a taxa em que as temperaturas do ar diminuem com a altura através da atmosfera – está experimentando reduções maiores sobre o oceano do que sobre a terra. Isso resulta em aumentos menores nas temperaturas da superfície do oceano em comparação com a superfície da terra. à medida que as temperaturas globais aumentam). Portanto, enquanto as temperaturas médias globais estão cerca de 1,1°C mais altas agora do que nos tempos pré-industriais , a superfície terrestre aqueceu aproximadamente 1,7°C. O gráfico abaixo compara as mudanças nas temperaturas terrestres em quatro registros diferentes com uma temperatura média global desde 1970 (linha azul).

Temperaturas terrestres médias globais de quatro conjuntos de dados: CRUTEM4 (roxo), NASA (vermelho), NOAA (amarelo) e Berkeley (cinza) de 1970 até os dias atuais, em relação a uma linha de base de 1961-90. Também é mostrada a temperatura global do registro HadCRUT4 (azul). Gráfico por Carbon Brief usando Highcharts.

Embora esse aquecimento sustentado causado pelo homem possa, por si só, aumentar o estresse térmico enfrentado pela vegetação, ele também está relacionado ao agravamento de eventos climáticos extremos, explica o professor Lindsay Stringer, professor de meio ambiente e desenvolvimento da Universidade de Leeds e principal autor do estudo o capítulo sobre degradação da terra do próximo relatório de terras do IPCC. Ela diz ao Carbon Brief:

“A mudança climática afeta a frequência e a magnitude de eventos extremos como secas e inundações”. Em áreas naturalmente secas, por exemplo, uma seca pode ter um grande impacto na cobertura vegetal e na produtividade, principalmente se essa terra estiver sendo usada por um grande número de animais. À medida que as plantas morrem por falta de água, o solo fica nu e é mais facilmente erodido pelo vento e pela água quando as chuvas finalmente chegam.

(Stringer está comentando aqui em seu papel em sua instituição de origem e não em sua qualidade de autora do IPCC. Esse é o caso de todos os cientistas citados neste artigo).

Tanto a variabilidade natural do clima quanto o aquecimento global também podem afetar os padrões de chuva em todo o mundo, o que pode contribuir para a desertificação. A chuva tem um efeito de resfriamento na superfície da terra, portanto, um declínio na chuva pode permitir que os solos sequem com o calor e se tornem mais propensos à erosão. Por outro lado, chuvas fortes podem erodir o próprio solo e causar encharcamento e subsidência.

Por exemplo, a seca generalizada – e a desertificação associada – na região do Sahel na África na segunda metade do século 20 tem sido associada a flutuações naturais nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, enquanto pesquisas também sugerem uma recuperação parcial das chuvas pelo aquecimento das temperaturas da superfície do mar no Mediterrâneo.

A Dra. Katerina Michaelides, professora sênior do Drylands Research Group da Universidade de Bristol e autora colaboradora do capítulo sobre desertificação do relatório de terras do IPCC, descreve uma mudança para condições mais secas como o principal impacto do aquecimento do clima na desertificação. Ela diz ao Carbon Brief:

“O principal efeito da mudança climática é através da aridificação, uma mudança progressiva do clima para um estado mais árido – em que a precipitação diminui em relação à demanda evaporativa – pois isso afeta diretamente o abastecimento de água para a vegetação e os solos.”

A mudança climática também é um fator que contribui para os incêndios florestais, causando estações mais quentes – e às vezes mais secas – que fornecem condições ideais para o início dos incêndios. E um clima mais quente pode acelerar a decomposição do carbono orgânico nos solos, deixando-os esgotados e menos capazes de reter água e nutrientes.

Além dos impactos físicos na paisagem, as mudanças climáticas podem impactar os seres humanos “porque reduzem as opções de adaptação e meios de subsistência e podem levar as pessoas a superexplorar a terra”, observa Stringer.

Essa superexploração refere-se à maneira como os humanos podem administrar mal a terra e causar sua degradação. Talvez a forma mais óbvia seja através do desmatamento. A remoção de árvores pode perturbar o equilíbrio de nutrientes no solo e retirar as raízes que ajudam a manter o solo unido, deixando-o sob o risco de sofrer erosão, ser lavado ou levado pelo vento.

As florestas também desempenham um papel significativo no ciclo da água – particularmente nos trópicos. Por exemplo, pesquisas publicadas na década de 1970 mostraram que a floresta amazônica gera cerca de metade de sua própria chuva. Isso significa que desmatar as florestas corre o risco de secar o clima local, aumentando o risco de desertificação.

A produção de alimentos também é um importante fator de desertificação. A crescente demanda por alimentos pode fazer com que as terras agrícolas se expandam para florestas e pastagens e o uso de métodos agrícolas intensivos para maximizar os rendimentos. O sobrepastoreio do gado pode privar as pastagens de vegetação e nutrientes.

Essa demanda geralmente pode ter motivadores políticos e socioeconômicos mais amplos, observa Stringer:

“Por exemplo, a demanda por carne na Europa pode levar ao desmatamento de florestas na América do Sul. Assim, embora a desertificação ocorra em locais específicos, seus fatores são globais e vêm em grande parte do sistema político e econômico global predominante”.

Impactos locais e globais

Claro, nenhum desses drivers atua isoladamente. A mudança climática interage com os outros fatores humanos de degradação, como “manejo insustentável da terra e expansão agrícola, causando ou piorando muitos desses processos de desertificação”, diz Alisher Mirzabaev, pesquisador sênior da Universidade de Bonn e autor principal coordenador sobre o capítulo sobre desertificação do relatório de terras do IPCC. Ele diz ao Carbon Brief:

“O [resultado é] declínio na produtividade agrícola e pecuária, perda de biodiversidade, aumento das chances de incêndios florestais em certas áreas. Naturalmente, isso terá impactos negativos na segurança alimentar e nos meios de subsistência, especialmente nos países em desenvolvimento”.

Stringer diz que a desertificação muitas vezes traz consigo “uma redução na cobertura vegetal, portanto, mais solo nu, falta de água e salinização do solo em áreas irrigadas”. Isso também pode significar uma perda de biodiversidade e cicatrizes visíveis na paisagem devido à erosão e à formação de ravinas após fortes chuvas.

“A desertificação já contribuiu para a perda global de biodiversidade”, acrescenta Joyce Kimutai, do Departamento Meteorológico do Quênia. Kimutai, que também é o principal autor do capítulo sobre desertificação do relatório de terras do IPCC, disse ao Carbon Brief:

“A vida selvagem, especialmente os grandes mamíferos, tem capacidade limitada de adaptação oportuna aos efeitos combinados da mudança climática e da desertificação”.

Por exemplo, um estudo (pdf) da região do deserto de Cholistan, no Paquistão, descobriu que “a flora e a fauna estão diminuindo gradualmente com o aumento da severidade da desertificação”. E um estudo da Mongólia descobriu que “todos os indicadores de riqueza e diversidade de espécies diminuíram significativamente” por causa do pastoreio e do aumento das temperaturas nas últimas duas décadas.

A degradação também pode abrir a terra para espécies invasoras e menos adequadas para pastagem de gado, diz Michaelides:

“Em muitos países, a desertificação significa um declínio na fertilidade do solo, uma redução na cobertura vegetal – especialmente a cobertura de gramíneas – e espécies arbustivas mais invasivas. Em termos práticos, as consequências disso são menos terras disponíveis para pastagem e solos menos produtivos. Os ecossistemas começam a parecer diferentes à medida que arbustos mais tolerantes à seca invadem o que costumavam ser pastagens e mais solo descoberto é exposto.”

Isso tem “consequências devastadoras para a segurança alimentar, meios de subsistência e biodiversidade”, explica ela:

“Onde a segurança alimentar e os meios de subsistência estão intimamente ligados à terra, as consequências da desertificação são particularmente imediatas. Exemplos são muitos países na África Oriental – especialmente Somália, Quênia e Etiópia – onde mais da metade da população são pastores que dependem de pastagens saudáveis para sua subsistência. Só na Somália, a pecuária contribui com cerca de 40% do PIB [Produto Interno Bruto].”

A UNCCD estima que cerca de 12 milhões de hectares de terra produtiva são perdidos para a desertificação e a seca a cada ano. Esta é uma área que poderia produzir 20 milhões de toneladas de grãos por ano.

Isso tem um impacto financeiro considerável. No Níger, por exemplo, os custos da degradação causada pela alteração do uso da terra ascendem a cerca de 11% do seu PIB . Da mesma forma, na Argentina, a “perda total de serviços ecossistêmicos devido à mudança no uso/cobertura da terra, degradação de áreas úmidas e uso de práticas de manejo degradantes da terra em pastagens e áreas de cultivo selecionadas” é equivalente a cerca de 16% de seu PIB .

A perda de gado, a redução do rendimento das colheitas e o declínio da segurança alimentar são impactos humanos muito visíveis da desertificação, diz Stringer:

“As pessoas lidam com esses tipos de desafios de várias maneiras – pulando refeições para economizar comida; comprando o que podem – o que é difícil para quem vive na pobreza com poucas opções de subsistência – coletando alimentos silvestres e, em condições extremas, muitas vezes combinadas com outros motoristas, as pessoas se afastam das áreas afetadas, abandonando a terra.”

As pessoas são particularmente vulneráveis aos impactos da desertificação onde têm “direitos de propriedade inseguros, onde há poucos apoios econômicos para os agricultores, onde há altos níveis de pobreza e desigualdade e onde a governança é fraca”, acrescenta Stringer.

Outro impacto da desertificação é o aumento das tempestades de areia e poeira. Esses fenômenos naturais – conhecidos como “sirocco”, “haboob”, “poeira amarela”, “tempestades brancas” e “harmattan” – ocorrem quando ventos fortes sopram areia solta e sujeira de solos nus e secos. A pesquisa sugere que as emissões globais anuais de poeira aumentaram 25% entre o final do século XIX e hoje, com as mudanças climáticas e a mudança no uso da terra como principais impulsionadores.

Tempestades de poeira no Oriente Médio, por exemplo, “estão se tornando mais frequentes e intensas nos últimos anos”, segundo um estudo recente. Isso foi impulsionado por “reduções de longo prazo na precipitação, promovendo menor umidade do solo e cobertura vegetal”. No entanto, Stringer acrescenta que “mais pesquisas são necessárias para estabelecer as ligações precisas entre mudança climática, desertificação e poeira e tempestades de areia”.

Tempestades de poeira podem ter um grande impacto na saúde humana, contribuindo para distúrbios respiratórios, como asma e pneumonia, problemas cardiovasculares e irritações da pele, além de poluir fontes de água abertas. Eles também podem causar estragos na infraestrutura, reduzindo a eficácia de painéis solares e turbinas eólicas, cobrindo-os de poeira e causando interrupções em estradas, ferrovias e aeroportos.

Feedback do clima

Adicionar poeira e areia à atmosfera também é uma das maneiras pelas quais a própria desertificação pode afetar o clima, diz Kimutai. Outros incluem “mudanças na cobertura vegetal, albedo superficial (refletividade da superfície da Terra) e fluxos de gases de efeito estufa”, acrescenta ela.

Partículas de poeira na atmosfera podem espalhar a radiação recebida do sol, reduzindo o aquecimento localmente na superfície, mas aumentando-o no ar acima. Eles também podem afetar a formação e o tempo de vida das nuvens, potencialmente tornando a chuva menos provável e, assim, reduzindo a umidade em uma área já seca.

Os solos são uma reserva muito importante de carbono. Os 2 metros superiores do solo nas terras secas globais, por exemplo, armazenam cerca de 646 bilhões de toneladas de carbono – aproximadamente 32% do carbono contido em todos os solos do mundo.

Pesquisas mostram que o teor de umidade do solo é a principal influência na capacidade dos solos secos de “mineralizar” o carbono. Este é o processo, também conhecido como “respiração do solo”, onde os micróbios quebram o carbono orgânico no solo e o convertem em CO2. Esse processo também disponibiliza nutrientes no solo para as plantas usarem à medida que crescem.

A respiração do solo indica a capacidade do solo de sustentar o crescimento das plantas. E, normalmente, a respiração diminui com a diminuição da umidade do solo até um ponto em que a atividade microbiana efetivamente cessa. Embora isso reduza a liberação de CO2 dos micróbios, também inibe o crescimento das plantas, o que significa que a vegetação absorve menos CO2 da atmosfera por meio da fotossíntese. No geral, os solos secos são mais propensos a serem emissores líquidos de CO2.

Assim, à medida que os solos se tornam mais áridos, eles tendem a ser menos capazes de sequestrar carbono da atmosfera e, assim, contribuir para as mudanças climáticas. Outras formas de degradação geralmente também liberam CO2 na atmosfera, como o desmatamento, o pastoreio excessivo – despojando a terra da vegetação – e os incêndios florestais.

Problemas de mapeamento

“A maioria dos ambientes de terras secas em todo o mundo está sendo afetada pela desertificação até certo ponto”, diz Michaelides.

Mas chegar a uma estimativa global robusta para a desertificação não é simples, explica Kimutai:

“As estimativas atuais da extensão e gravidade da desertificação variam muito devido à falta de informações e/ou não confiáveis. A multiplicidade e complexidade dos processos de desertificação tornam ainda mais difícil a sua quantificação. Estudos têm usado métodos diferentes com base em diferentes definições”.

E a identificação da desertificação é dificultada porque ela tende a surgir de forma relativamente lenta, acrescenta Michaelides:

“No início do processo, a desertificação pode ser difícil de detectar e, por ser lenta, pode levar décadas para perceber que um lugar está mudando”. No momento em que for detectado, pode ser difícil parar ou reverter.

A desertificação na superfície da Terra foi mapeada pela primeira vez em um estudo publicado na revista Economic Geography em 1977. Ele observou que: “Para grande parte do mundo, há pouca informação boa sobre a extensão da desertificação em países individuais”. O mapa – mostrado abaixo – classificou as áreas de desertificação como “leve”, “moderada”, “grave” ou “muito severa” com base em uma combinação de “informações publicadas, experiência pessoal e consulta a colegas”.

Situação da desertificação em regiões áridas do mundo. Extraído de Dregne, HE (1977) Desertificação de terras áridas, Geografia Econômica, vol. 53(4): pp.322-331. © Clark University, reimpresso com permissão da Informa UK Limited, comercial como Taylor & Francis Group, www.tandfonline.com em nome da Clark University.

Em 1992, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicou seu primeiro “Atlas Mundial da Desertificação” (WAD). Ele mapeou a degradação global da terra causada pelo homem, baseando-se fortemente na “Avaliação Global da Degradação do Solo Induzida pelo Homem” (GLASOD), financiada pelo PNUMA. O próprio projeto GLASOD foi baseado no julgamento de especialistas, com mais de 250 cientistas ambientais e de solo contribuindo para avaliações regionais que alimentaram seu mapa global, publicado em 1991.

O mapa GLASOD, mostrado abaixo, detalha a extensão e o grau de degradação da terra em todo o mundo. Ele categorizou a degradação em química (sombreamento vermelho), vento (amarelo), física (roxo) ou água (azul).

Embora o GLASOD também tenha sido usado para o segundo WAD, publicado em 1997, o mapa foi criticado por falta de consistência e reprodutibilidade. Conjuntos de dados subsequentes, como a “Avaliação Global da Degradação e Melhoria da Terra ” (GLADA), se beneficiaram da adição de dados de satélite .

No entanto, quando o terceiro WAD – produzido pelo Joint Research Centre da Comissão Europeia – surgiu duas décadas depois, os autores “decidiram seguir um caminho diferente”. Como diz o relatório:

“A degradação da terra não pode ser mapeada globalmente por um único indicador ou por qualquer combinação aritmética ou modelada de variáveis. Um único mapa global da degradação da terra não pode satisfazer todas as visões ou necessidades”.

Em vez de uma única métrica, o atlas considera um conjunto de “14 variáveis frequentemente associadas à degradação da terra”, como aridez, densidade de gado, perda de árvores e diminuição da produtividade da terra.

Assim, o mapa abaixo – retirado do Atlas – não mostra a degradação do solo em si, mas a “convergência de evidências” de onde essas variáveis coincidem. As partes do mundo com os maiores problemas potenciais (mostrado por sombreamento laranja e vermelho) – como Índia, Paquistão, Zimbábue e México – são identificadas como particularmente em risco de degradação.

O futuro

Como a desertificação não pode ser caracterizada por uma única métrica, também é complicado fazer projeções de como as taxas de degradação podem mudar no futuro.

Além disso, existem inúmeros fatores socioeconômicos que contribuirão. Por exemplo, é provável que o número de pessoas diretamente afetadas pela desertificação aumente puramente por causa do crescimento populacional. A população que vive em terras áridas em todo o mundo está projetada para aumentar em 43%, para quatro bilhões até 2050.

O impacto das mudanças climáticas na aridez também é complicado. Um clima mais quente geralmente é mais capaz de evaporar a umidade da superfície da terra – potencialmente aumentando a secura em combinação com temperaturas mais quentes.

No entanto, a mudança climática também afetará os padrões de chuva, e uma atmosfera mais quente pode reter mais vapor de água, aumentando potencialmente as chuvas médias e fortes em algumas áreas.

Há também uma questão conceitual de distinguir mudanças de longo prazo na secura de uma área com a natureza relativamente de curto prazo das secas.

Em geral, espera-se que a área global de terras áridas se expanda à medida que o clima esquenta. As projeções sob os cenários de emissões RCP4.5 e RCP8.5 sugerem que as terras áridas aumentarão em 11% e 23% , respectivamente, em comparação com 1961-90. Isso significaria que as terras áridas poderiam representar 50% ou 56%, respectivamente, da superfície terrestre da Terra até o final deste século, acima dos 38% atuais.

Essa expansão das regiões áridas ocorrerá principalmente “no sudoeste da América do Norte, na orla norte da África, no sul da África e na Austrália”, diz outro estudo, enquanto “grandes expansões das regiões semiáridas ocorrerão no lado norte do Mediterrâneo, no sul da África, América do Norte e América do Sul”.

A pesquisa também mostra que a mudança climática já está aumentando a probabilidade e a gravidade das secas em todo o mundo. É provável que esta tendência continue. Por exemplo, um estudo, usando o cenário intermediário de emissões “RCP4.5”, projeta “grandes aumentos (até 50%–200% em um sentido relativo) na frequência de futuras secas moderadas e severas na maior parte das Américas, Europa, África Austral e Austrália”.

Outro estudo observa que as simulações de modelos climáticos “sugerem secas severas e generalizadas nos próximos 30 a 90 anos em muitas áreas de terra resultantes da diminuição da precipitação e/ou aumento da evaporação”.

No entanto, deve-se notar que nem todas as terras áridas devem ficar mais áridas com as mudanças climáticas. O mapa abaixo, por exemplo, mostra a mudança projetada para uma medida de aridez (definida como a razão entre precipitação e evapotranspiração potencial, PET) até 2100 sob simulações de modelos climáticos para RCP8.5. As áreas sombreadas em vermelho são as que devem ficar mais secas – porque o PET aumentará mais do que a precipitação – enquanto as em verde devem ficar mais úmidas. Este último inclui grande parte do Sahel e da África Oriental, bem como a Índia e partes do norte e oeste da China.

Simulações de modelos climáticos também sugerem que as chuvas, quando ocorrerem, serão mais intensas em quase todo o mundo, aumentando potencialmente os riscos de erosão do solo. As projeções indicam que a maior parte do mundo verá um aumento de 16 a 24% na intensidade da precipitação pesada até 2100.

Soluções

Limitar o aquecimento global é, portanto, uma das principais formas de ajudar a interromper a desertificação no futuro, mas que outras soluções existem?

A ONU designou a década de janeiro/2010 a dezembro/2020 como a “Década das Nações Unidas para os desertos e a luta contra a desertificação”. A década seria uma “oportunidade de fazer mudanças críticas para garantir a capacidade de longo prazo das terras áridas de fornecer valor para o bem-estar da humanidade”.

O que está muito claro é que prevenir é melhor – e muito mais barato – do que remediar. “Depois que a desertificação ocorre, é muito difícil reverter”, diz Michaelides. Isso porque, uma vez iniciada a “cascata de processos de degradação, é difícil interrompê-los ou detê-los”.

Parar a desertificação antes que ela comece requer medidas para “proteger contra a erosão do solo, prevenir a perda de vegetação, prevenir o sobre pastoreio ou a má gestão da terra”, explica ela:

“Todas essas coisas exigem esforços e políticas conjuntas de comunidades e governos para administrar os recursos terrestres e hídricos em larga escala. Mesmo a má gestão da terra em pequena escala pode levar à degradação em escalas maiores, então o problema é bastante complexo e difícil de administrar”.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro em 2012, as partes concordaram em “lutar para alcançar um mundo neutro em relação à degradação da terra no contexto do desenvolvimento sustentável”. Este conceito de “neutralidade da degradação da terra” (LDN) foi posteriormente adotado pela UNCCD e também formalmente adotado como Meta 15.3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pela Assembleia Geral da ONU em 2015.

A ideia da LDN, explicada em detalhes no vídeo abaixo, é uma hierarquia de respostas: primeiro para evitar a degradação da terra, segundo para minimizá-la onde ela ocorre e, em terceiro lugar, compensar qualquer nova degradação restaurando e reabilitando a terra em outro lugar. O resultado é que a degradação geral entra em equilíbrio – onde qualquer nova degradação é compensada com a reversão da degradação anterior.

“Gestão sustentável da terra” (SLM) é a chave para atingir a meta de LDN, diz a Dra. Mariam Akhtar-Schuster, Copresidente da interface ciência-política da UNCCD e editora de revisão do capítulo sobre desertificação do relatório de terras do IPCC. Ela diz ao Carbon Brief:

“Práticas sustentáveis de manejo da terra, baseadas nas condições socioeconômicas e ecológicas locais de uma área, ajudam a evitar a desertificação em primeiro lugar, mas também a reduzir os processos de degradação em andamento”.

SLM significa essencialmente maximizar os benefícios econômicos e sociais da terra, ao mesmo tempo em que mantém e aumenta sua produtividade e funções ambientais. Isso pode incluir toda uma gama de técnicas, como pastoreio rotativo de gado, aumento de nutrientes do solo deixando resíduos de colheita na terra após a colheita, retenção de sedimentos e nutrientes que de outra forma seriam perdidos pela erosão e plantio de árvores de crescimento rápido para fornecer abrigo do vento.

Solo e vegetação secos em área ameaçada de desertificação.

A desertificação é um processo que e intensifica a aridez dos solos em áreas áridas, semiáridas e subsumidas. Este processo ocorre em razão das atividades humanas ou de fatores de ordem natural – como as mudanças climáticas. Em diferentes graus de intensidade, há o comprometimento da fertilidade e uso dos solos. (ecodebate)

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