quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Grandes propriedades lideram desmatamento no Cerrado

No primeiro semestre de 2023, 48% de todo o desmate em áreas privadas ocorreu em grandes propriedades; em Mirador (MA), 20 fazendas concentraram 68% de toda a perda de vegetação nativa.

O desmatamento no Cerrado atingiu 491 mil hectares no primeiro semestre de 2023, área sete vezes maior que a cidade de Salvador. Esse número representa um aumento de 28% em relação ao mesmo período no ano passado, quando foram desmatados quase 383 mil hectares, segundo dados detectados e confirmados pelo SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) divulgados em 18/07/23 pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Além disso, foram confirmados 126 mil hectares de desmatamento no mês de junho, um aumento 20,6% em relação ao ano passado. Estados do Matopiba – fronteira agrícola composta por áreas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – responderam por 74,7% de todo o desmatamento no bioma, cerca de 367 mil hectares.

De acordo com levantamento realizado pelo SAD Cerrado, o desmatamento tem sido caracterizado por grandes áreas desmatadas rapidamente dentro de propriedades privadas observadas nos últimos meses. Grandes propriedades concentraram 48% (ou 193 mil hectares) do desmatamento ocorrido dentro de áreas privadas nesse primeiro semestre de 2023, seguido por propriedades médias (33%, por volta de 133 mil hectares) e pequenas (19%, 76 mil hectares).

O perfil de desmatamento também foi marcado pelas grandes áreas desmatadas dentro de poucas propriedades. Em São Desidério, município líder de desmatamento no primeiro semestre de 2023, apenas 30 propriedades foram responsáveis pelo desmatamento de 18,2 mil hectares – cerca de 76% de tudo que foi desmatado pelo município no semestre.

Em Mirador, cidade que mais desmatou o Cerrado em junho deste ano, 68% de todo o desmatamento se concentrou em apenas 20 propriedades. O município maranhense havia desmatado apenas 3,5 mil hectares entre janeiro e maio, mas seus números dispararam, chegando a 6 mil hectares perdidos apenas no mês passado, um aumento de 188,5% em apenas 30 dias.

O SAD é um sistema de monitoramento desenvolvido por pesquisadores do IPAM que fornece alertas de desmatamento de vegetação nativa em todo o Cerrado. O projeto faz uso de imagens do satélite Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia, e técnicas avançadas de processamento de imagem.

Chegada da seca

Dados para o primeiro semestre confirmam o aumento acelerado do desmatamento observado no início do ano. Com a chegada do período seco no Cerrado, pesquisadores do SAD também alertam para a possibilidade de números ainda maiores nos próximos meses. Para Tarsila Andrade, pesquisadora do IPAM, o volume de desmatamento, ainda no início da seca, tem sido alarmante.

“Durante o período da seca, a expansão agropecuária tende a aumentar devido às condições climáticas propícias para as atividades agrícolas. No entanto, os índices de desmatamento no Cerrado estão alcançando níveis recordes já nos primeiros meses da estação seca deste ano. Esse aumento evidencia a intensidade e velocidade do processo de destruição do bioma. Por isso é fundamental o estabelecimento de políticas e ações efetivas que visem à proteção e preservação do Cerrado, considerando seus ecossistemas únicos, a biodiversidade e o papel crucial que desempenham na mitigação das mudanças climáticas”, destacou.

Maiores desmatadores

O município de São Desidério, no oeste da Bahia, liderou o ranking de desmatamento no Cerrado durante o primeiro semestre de 2023, seguido por Balsas, no sul do Maranhão, e Correntina, também na Bahia. Juntos, os três municípios totalizaram 51,5 mil hectares desmatados. Os municípios da Bahia e do Maranhão ocupam 8 das 10 primeiras posições do ranking de desmatamento nos primeiros seis meses do ano.

“Nos últimos meses, temos visto um aumento da expansão do agronegócio em diferentes regiões do Matopiba, onde também estão concentrados os últimos grandes remanescentes de vegetação nativa do Cerrado. O aumento repentino do desmatamento em Mirador pode ser parcialmente explicado pela expansão agrícola em direção aos últimos remanescentes, juntamente com outros fatores locais”, destacou Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM.

Apesar do domínio de São Desidério, que liderava os relatórios mensais desde fevereiro, o mês de julho foi marcado por um novo líder para a lista de maiores derrubadores de Cerrado: Mirador. O crescimento do desmatamento no município acompanha um aumento das detecções de novas áreas abertas na região sul do Maranhão, estado que liderou a lista no último mês com 45,7 mil hectares perdidos. No mês de junho, 6 dos 10 municípios que mais perderam vegetação nativa estão no Maranhão.

Sobre o SAD Cerrado

O Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado é um projeto de monitoramento mensal e automático que utiliza imagens de satélites ópticos do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia. O SAD Cerrado é uma ferramenta analítica que fornece alertas de supressão de vegetação nativa para todo o bioma, trazendo informações sobre desmatamento no bioma desde agosto de 2020.

A confirmação de um alerta de desmatamento é realizada a partir da identificação de ao menos dois registros da mesma área em datas diferentes, com intervalo mínimo de dois meses entre as imagens de satélite. A metodologia é detalhada no site do SAD Cerrado.

Relatórios de alertas para o mês de abril e períodos anteriores estão disponíveis neste link. No painel interativo, é possível selecionar estados, municípios, categorias fundiárias e o intervalo temporal para análise.

O objetivo do sistema é fornecer alertas de desmatamentos maiores de 1 hectare, atualizados mês a mês. Pesquisadores entendem que o SAD Cerrado pode se constituir como uma ferramenta complementar a outros sistemas de alerta de desmatamento no bioma, como o DETER Cerrado, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), otimizando o processo de detecção em contextos visualmente complexos.

Acesse os dados georreferenciados clicando aqui. (ecodebate)

Onda de calor extremo na Europa

Europa têm marcado temperaturas superiores a 40ºC, o que pode se repetir nos próximos anos.

As altas temperaturas marcadas recentemente nos termômetros da Europa chamaram a atenção de todo o planeta. São números históricos, que ultrapassaram os 40ºC em diversas cidades e chegaram a modificar o funcionamento de aeroportos e estações de trem.

No Reino Unido, por exemplo, a principal linha da Costa Leste chegou a ter sua circulação suspensa por conta do calor extremo, pois o calor poderia expandir os trilhos e tornar o transporte inseguro. E o Aeroporto de Luton, em Londres, precisou suspender seus voos por alguns dias, após as temperaturas danificarem as pistas.

O calor extremo também causou incêndios em diversos países da região, como Espanha, Portugal, França, Itália, Grécia e o próprio Reino Unido. Com o fogo, também agrava-se a seca. Um levantamento do Observatório Europeu da Seca (EDO) apontou que, em agosto, 47% da União Europeia estavam em risco de seca, com 17% da área em estado de alerta, e prejuízos para a vegetação e as colheitas agrícolas.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão de ciência climática da Organização das Nações Unidas (ONU), explicou que aquele foi o período mais quente da história dos últimos 125 mil anos.

Uma onda de calor extremo está atingindo o Sul da Europa nesta semana e está deixando as autoridades em alerta. São esperadas temperaturas acima de 40°C em ao menos cinco países – Espanha, França, Grécia, Croácia e Turquia.

Este cenário deixa cada vez mais claro que os efeitos do aquecimento global estão cada vez mais recorrentes e intensos, causando danos severos. “Com certeza o aquecimento global está relacionado às ondas de calor e outras alterações de temperatura do planeta. Por exemplo, os fatores relativos ao Efeito Estufa com a grande quantidade de CO2 na atmosfera, atrelados à grande emissão de combustíveis fósseis”, diz a professora Carla Suelânia, mestre em Geografia e docente dos cursos de Engenharia do Centro Universitário Tiradentes (Unit Pernambuco).

Além disso, a Europa está passando por um fenômeno chamado de sistema de alta pressão atmosférica. Esses sistemas se deslocam de acordo com a estação do ano, principalmente inverno e verão, como são dispersores de ar, não ocorre a formação de nuvens em seu centro. “Esse sistema de alta pressão vem persistindo na região, proporcionando um tempo seco, um céu com poucas nuvens e sem chuva. Devido a insistência dele, é causada uma área de bloqueio, ou seja, impedindo que as frentes frias cheguem até a Europa, consequentemente ocorre a elevação da temperatura”, afirma Carla.

Toda essa situação, de acordo com especialistas, irá se repetir ao longo dos próximos anos e pode, em longo prazo, causar problemas à população. Os países europeus não possuem estrutura para aguentar o calor intenso, por exemplo, metrôs e ônibus não têm ar condicionado, além disso, a população é composta por um grande número de idosos, que não estão acostumados com o calor e mudanças drásticas de temperatura.

Em 2022, um guarda real precisa de ajuda para se refrescar durante onda de calor na Europa, sendo que em 2023 está sendo ainda pior.

Mais de 61 mil pessoas morreram de calor no verão de 2022 na Europa.

No futuro, de acordo com Carla Suelânia, a população poderá sofrer com desidratação, insolação e, em alguns casos, a morte será inevitável. “São necessárias medidas urgentes, para que os danos e emissão de poluentes sejam reduzidos, visando o futuro do planeta”. (ecodebate)

Cidades enfrentam risco crescente de ondas de calor extremas

As cidades estão particularmente em maior risco de estresse térmico e os idosos são mais vulneráveis à exposição.

Resumo: Um estudo publicado na revista Urban Sustainability revelou que as cidades em todo o mundo estão enfrentando um risco crescente de exposição a ondas de calor extremo. O estudo analisou dados de modelos climáticos e socioeconômicos para examinar a evolução espaço-temporal do risco de exposição futura em mais de 9 mil assentamentos urbanos entre 2020 e 2100. Os resultados mostraram que o risco de exposição a ondas de calor urbanas aumenta em 619% e 1.740% para o cenário moderado (SSP2–4.5) e o cenário extremo (SSP5–8.5), respectivamente, e em 1.642% a 5.529% para os idosos. O estudo destacou que países de renda média e baixa particularmente vulneráveis devido ao rápido envelhecimento de suas populações.

Um estudo publicado na revista Urban Sustainability revelou a crescente desigualdade do risco composto de envelhecimento e exposição extrema a ondas de calor de cidades globais em cenários futuros.

O trabalho analisou dados de modelos climáticos e socioeconômicos para examinar a evolução espaço-temporal do risco de exposição futura em mais de 9 mil assentamentos urbanos entre 2020 e 2100.

Segundo os autores, eventos de temperaturas extremas têm se tornado mais frequentes nos últimos anos devido às mudanças climáticas, aumentando o risco de exposição da população ao calor extremo. As cidades estão particularmente em maior risco de estresse térmico e os idosos são mais vulneráveis à exposição.

Os efeitos combinados da mudança climática, da rápida urbanização, do efeito da ilha de calor urbana e do envelhecimento intensificam ainda mais a disparidade no risco global de exposição ao calor urbano.

Os resultados mostraram que o risco de exposição a ondas de calor urbanas aumenta em 619% e 1.740% para o cenário moderado (SSP2–4.5) e o cenário extremo (SSP5–8.5), respectivamente, e em 1.642% a 5.529% para os idosos. Os pesquisadores avaliaram ainda mais a contribuição dos efeitos das mudanças climáticas, urbanização e envelhecimento, com o objetivo de fornecer aos formuladores de políticas estratégias de adaptação às mudanças climáticas urbanas.

Eles destacaram que cidades em todo o mundo estão enfrentando um risco crescente de exposição a ondas de calor extremo, com países de renda média e baixa particularmente vulneráveis devido ao rápido envelhecimento de suas populações.

a , b Distribuição espacial da tendência de exposição ao risco de idosos em municípios sob ( a ) SSP2-4.5 e ( b ) SSP5-8.5. Uma regressão linear OLS da tendência de risco de exposição. As estimativas pontuais são estatisticamente significativas em p < 0,05. (ecodebate)

Ondas de calor aumentam a demanda por energia

Devido às mudanças climáticas, ondas de calor mais frequentes aumentarão a demanda global por eletricidade em 7% até 2050 e em 18% até 2100, exigindo investimentos consideráveis em energia ou fortes estratégias de mitigação.

Um estudo publicado na Nature Communications por pesquisadores do Centro Euro-Mediterrâneo de Mudanças Climáticas, da Universidade Ca’ Foscari de Veneza, do Instituto Europeu de Economia e Meio Ambiente e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres conclui que a adaptação às mudanças climáticas exigirá mais energia do que o estimado anteriormente, levando a maiores investimentos e custos de energia.

Evitar essa carga energética adicional é outro benefício importante da mitigação ambiciosa que até agora permaneceu negligenciada na academia, no debate público e nas negociações internacionais.

Este novo estudo lança luz sobre um ponto cego da transição energética e da implementação de políticas climáticas: as necessidades de adaptação reduzirão a eficácia da política de mitigação do clima, sendo, portanto, necessário rever essas políticas levando em conta as mudanças evidentes nas condições climáticas.

Os pesquisadores envolvidos examinaram como as respostas às mudanças climáticas afetarão os sistemas de energia e, portanto, o alcance das metas de mitigação, incluindo seus custos econômicos. Estimar o tamanho das necessidades futuras de energia para adaptação às mudanças climáticas tem implicações importantes para a transição para a sustentabilidade e economias descarbonizadas.

Francesco Pietro Colelli, principal autor do estudo, destaca que “a adaptação às mudanças climáticas por meio de ajustes nos hábitos energéticos, como fizemos no passado, aumentará a demanda global por eletricidade em 7% até 2050 e em 18% em 2100”.

“Como grande parte de nossa energia ainda vem de carvão, gás e petróleo, existe o risco de que esse aumento leve a que mais capital físico seja bloqueado em combustíveis fósseis, correspondendo a cerca de 30 a 35 novas grandes usinas a gás e 10-15 novas grandes usinas a carvão e óleo a cada ano entre agora e 2050”.

Na Europa, o aumento da procura de eletricidade para arrefecimento será mais do que compensado pela diminuição da procura de combustíveis para aquecimento, conduzindo a uma redução de 6% na procura final de energia até ao final do século.

Ainda assim, entre agora e 2050, sob as atuais políticas climáticas, são necessários € 235 bilhões adicionais em investimentos e despesas operacionais em geração e transmissão de energia para fornecer a eletricidade adicional necessária para resfriamento.

Enrica De Cian, coautora do estudo e líder de um projeto ERC europeu dedicado à crise de resfriamento, ENERGYA, explica que “a adaptação através do ar condicionado também exigiria mais recursos para investimentos na rede e geração de energia”.

Os custos gerais de geração de eletricidade, incluindo investimentos em capacidade, redes, combustível, custos de operação e manutenção, aumentarão 21% ao longo do século. Os custos adicionais do lado da oferta serão repassados aos consumidores por meio de aumentos no preço da eletricidade em torno de 2%-6% devido ao feedback de adaptação-energia em diferentes regiões.

Políticas ambiciosas de mitigação podem reduzir em mais da metade o aumento dos custos do sistema energético induzido pela adaptação, dependendo do rigor da meta climática.

“Por causa dos benefícios em termos de necessidades de adaptação reduzidas, os custos para descarbonizar o sistema elétrico em cenários ambiciosos de mitigação seriam menores do que as estimativas anteriores, e se tornariam negativos em cenários bem abaixo de 2°C, apontando para ganhos líquidos em termos dos custos do sistema de energia”.

Colelli salienta por fim que “a adaptação induz variações nos mercados de energia que acabam por resultar em uma mudança nas emissões globais e regionais de gases de efeito estufa de cerca de 7% cumulativamente de 2020 a 2100”.

Como consequência da variação nas emissões, caminhos de mitigação ambiciosos veem um aumento no preço global do carbono entre 5% e 30%”. Esse aspecto pode e deve ter implicações importantes para as negociações internacionais sobre mudanças climáticas.

Detalhes técnicos

Ao integrar o “loop de feedback de adaptação-energia” no modelo Híbrido de Mudança Técnica Induzida pelo Mundo – WITCH, o estudo é um dos primeiros a integrar totalmente as necessidades de energia para adaptação endogenamente nas vias de mitigação, de modo que o desenho da política climática seja diretamente influenciado por necessidades de energia de adaptação. Os resultados indicam que a adaptação climática pode levar a uma maior demanda de energia, custos do sistema de energia e preços de carbono, com os benefícios da mitigação compensando os custos de descarbonização. (ecodebate)

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Mudança climática intensifica as secas e seus impactos

Com os efeitos das mudanças climáticas em curso, a seca está se tornando um problema crescente em muitas partes do mundo.

Com os efeitos das mudanças climáticas em curso, a seca está se tornando um problema crescente em muitas partes do mundo. Michael Bahn, pesquisador do Departamento de Ecologia da Universidade de Innsbruck, esteve envolvido em vários estudos sobre o impacto da seca nos ecossistemas.

Esses estudos, publicados recentemente em importantes revistas científicas, fornecem informações sobre a complexidade dos processos subjacentes às respostas dos ecossistemas à seca. Eles destacam a importância da biodiversidade para permitir que os sistemas naturais resistam à seca.

O recente relatório do IPCC apresenta um forte argumento de que, com as mudanças climáticas em curso, os eventos climáticos extremos ocorrerão com mais frequência e os períodos secos serão cada vez mais intensos. O professor Bahn e seus colegas publicaram recentemente vários estudos abordando diferentes aspectos dos efeitos da seca nos ecossistemas.

Olhando para a máquina do tempo

“Para explorar como os ecossistemas são afetados pela seca, instalamos abrigos contra a chuva em pastagens e florestas. O objetivo é entender como todo um ecossistema com suas inúmeras interações reage à seca”, explica Bahn. “Ao aquecer seções de pastagem com aquecedores e adicionar CO2 à sua atmosfera, podemos imitar os efeitos da seca em um mundo futuro”.

Enquanto o aquecimento aumenta tanto a seca quanto o estresse por calor, o CO2 elevado ajuda a planta a economizar água, reduzindo a perda de água nas folhas. Os experimentos multifatoriais de Bahn sugerem que sob condições climáticas futuras os impactos da seca serão mais severos, mas que a recuperação da seca também será mais rápida. “Com esta abordagem experimental podemos prever as condições futuras hoje. É como uma máquina do tempo”, diz Bahn.

Esses estudos são inestimáveis para testar e melhorar os modelos de ecossistemas. Isso permite que os cientistas antecipem mudanças no ambiente dos ecossistemas e como essas mudanças afetam o clima. Esse feedback é mediado principalmente por gases de efeito estufa, que incluem CO2 e óxido nitroso (N2O). “Nossos estudos mostram que a seca reduz muito a absorção de CO2 pelos ecossistemas. Ao mesmo tempo, as chuvas que se seguem à seca muitas vezes levam a um aumento da emissão de gases de efeito estufa. Esses ‘momentos quentes’ são particularmente críticos para as emissões de N2O, especialmente de solos fertilizados”, explica Bahn.

Um estudo de síntese em muitos estudos experimentais e observacionais publicados no início deste ano na Nature Ecology & Evolution revelou que a perda de produtividade induzida pela seca pode ser até 50% maior do que a sugerida pelos experimentos. Consequentemente, modelos e avaliações em larga escala devem considerar também observações de campo de longo prazo e análises de dados de satélite em grande escala.

Em outro artigo recente na mesma revista, os cientistas sugerem que, à medida que as mudanças climáticas progridem, os mecanismos que operam nas terras secas globais podem desempenhar um papel crescente em muitas das regiões atualmente mais úmidas.

Resiliência através da diversidade

Os pesquisadores também começaram a investigar como os futuros aumentos projetados na frequência de secas podem afetar os ecossistemas. “Nosso recente artigo de revisão na Global Change Biology destaca que a seca pode ter fortes legados nos ecossistemas, o que pode mudar a maneira como os ecossistemas respondem às secas subsequentes”, diz Bahn. Por exemplo, em um experimento de seca de longo prazo implementado por Bahn, observou-se que a seca recorrente alterou a composição da comunidade microbiana do solo e, inesperadamente, tornou o solo menos suscetível à seca.

Os autores concluíram em seu artigo na Nature Communications que a seca recorrente altera a memória ecológica do solo. Isso poderia aumentar a resiliência dos ecossistemas em face de futuras secas. Em outro artigo publicado recentemente na Science Advances , os pesquisadores mostraram que a seca afeta bactérias e fungos do solo de maneira diferente e que favorece os patógenos do solo. Os cientistas mostraram que essa mudança nas comunidades do solo pode mudar a maneira como a biodiversidade amortece os efeitos da seca na produtividade do ecossistema.

Efeitos das mudanças climáticas na biodiversidade

A biodiversidade aumenta a estabilidade do ecossistema porque diversas espécies têm diferentes formas de lidar com os estresses ambientais. Por exemplo, Bahn e colegas observaram que em pastagens de montanha as espécies de plantas de crescimento rápido tendem a ser mais sensíveis à seca, mas também se recuperam rapidamente; plantas de crescimento lento são mais resistentes, mas se recuperam mais lentamente. No solo, são os fungos que são mais resistentes, enquanto as bactérias podem se recuperar rapidamente após a seca. Ao reumedecer, as bactérias liberam nitrogênio, o que beneficia as plantas de crescimento rápido.

“As interações planta-solo são mecanismos importantes subjacentes às respostas dos ecossistemas à seca”, explica Bahn. Ele também enfatiza a importância de apoiar a biodiversidade ao gerenciar ecossistemas: “Para fortalecer a resiliência dos ecossistemas diante das mudanças climáticas, precisamos deixar de favorecer as monoculturas, como as amplas florestas de abetos na Áustria”.

A neutralidade climática é a medida mais importante

Bahn esteve recentemente envolvido no conselho consultivo científico do Conselho Climático Austríaco. 100 cidadãos, selecionados para representar estatisticamente a população austríaca, identificaram possíveis medidas para alcançar a neutralidade climática até 2040. Bahn observou que os cidadãos tinham um forte interesse em abordar ativa e construtivamente a questão das mudanças climáticas e da adaptação.

“Os políticos não devem subestimar a disposição dos cidadãos de apoiar medidas para mitigar a crise climática”, diz Bahn. “Embora as medidas de proteção e melhoria da biodiversidade sejam passos importantes para aumentar a resiliência climática, há uma necessidade premente de tomar medidas rápidas para desacelerar as mudanças climáticas. Este é o principal fator dos aumentos recentes e futuros na frequência e intensidade das secas”.

Processos e feedbacks desencadeados por eventos climáticos extremos. Os eventos extremos considerados são secas e ondas de calor, fortes tempestades, fortes precipitações e geadas extremas. As setas sólidas mostram impactos diretos; as setas tracejadas mostram impactos indiretos. A importância relativa da relação de impacto é mostrada pela largura da seta (setas mais largas são mais importantes). (ecodebate)

O colapso ecológico do futuro já chegou

O acúmulo de evidências trágicas, contra todas as narrativas negacionistas, torna inegável que a crise climática já está aqui, entre nós.

Nos últimos meses, foram registradas diferentes anomalias climáticas que estabeleceram novos recordes históricos na trágica progressão da mudança climática global.

Em junho, a temperatura da superfície no Atlântico Norte atingiu o aumento máximo de 1,3°C em relação aos valores pré-industriais e em sentido semelhante – embora em valores mais baixos – a temperatura média dos mares aumentou em escala global. Por outro lado, a retração do gelo antártico atingiu um novo limite, atingindo a diminuição histórica de 2016, mas vários meses antes em plena estação fria.

A combinação desses registros levou os cientistas que acompanham esses processos a alertar para o perigo de estar diante de uma mudança profunda nas correntes que regulam a temperatura e a vida nos oceanos e em escala global. As ondas de calor registradas nas últimas semanas nas costas de grande parte do mundo (Irlanda, México, Equador, Japão, Mauritânia, Islândia, etc.) podem, por sua vez, ser uma prova disso.

Esses fenômenos, é claro, não se limitam aos mares. Em 04/07/23 a temperatura global da atmosfera atingiu os 17,18°C (temperatura global de 2m, medida a 2 metros do solo) pela primeira vez na história dos últimos séculos. Enquanto isso, a temperatura nos continentes, principalmente no Norte, também bateu recordes: 40ºC na Sibéria, 50ºC no México, o junho mais quente na Inglaterra na série histórica iniciada em 1884.

E sua contrapartida, temos as secas, como a que assola o Uruguai, onde a escassez de água doce desde maio obrigou a utilizar crescentes fontes salobras, tornando a água potável imprópria para os habitantes da área metropolitana de Montevidéu, onde se concentra 60% da população do país. Uma seca que, se persistir, pode deixar diretamente aquela região do país sem água potável, tornando-a a primeira cidade do mundo a sofrer esta catástrofe.

Mas o calor sufocante e as secas também trazem consigo incêndios vorazes como o da floresta boreal que há semanas percorrem o Canadá com mais de 500 focos espalhados por diversas regiões do país, muitos deles incontroláveis, e as imagens divulgadas de uma Nova York apocalíptica escurecida e tingida de vermelho sob um manto de cinzas.

Esse acúmulo de evidências trágicas, contra todas as narrativas negacionistas, torna inegável que a crise climática já está aqui, entre nós – José Seoane.

Esse acúmulo de evidências trágicas, contra todas as narrativas negacionistas, torna inegável que a crise climática já está aqui, entre nós. Da mesma forma, indica o fracasso absoluto das políticas e iniciativas adotadas para reduzir a emissão ou a presença de gases de efeito estufa na atmosfera. Nesse sentido, em maio deste ano, os níveis de dióxido de carbono (CO2) medidos no observatório de referência global NOAA, no Havaí, atingiram o máximo histórico de 424 partes por milhão (ppm), chegando a ser 50% mais altas do que antes do início da era industrial e, os do período de janeiro a maio de 2023, 0,3% superiores aos do mesmo período de 2022 e 1,6% em relação a 2019 (Carbon Monitor, 2023).

De acordo com o último relatório de 2023 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, a temperatura da superfície global aumentou mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos durante pelo menos os últimos 2.000 anos, o mesmo período em que acordos internacionais e iniciativas locais foram implantados para combater as causas das mudanças climáticas (IPCC, 2023).

O fracasso dessas políticas aparece também, em nosso presente, na persistência e força de um capitalismo fóssil e sua pilhagem e destruição socioambiental; marcado por uma guerra regional global e pelos avanços do extrativismo extremo, principais dimensões da crise civilizatória do capital que hoje ameaça a vida no planeta com sua Sexta Extinção (Seoane, 2023).

Fracassaram não apenas as chamadas políticas de mitigação, mas também são fracas ou totalmente ausentes as chamadas políticas de adaptação que visam minimizar os impactos previsíveis das mudanças climáticas. Suas consequências, que sobrecarregam principalmente os setores populares, suscitam não apenas a urgência de uma transição socioecológica, mas também a necessidade de elaborar, a partir desses setores, seus próprios planos de adaptação social.

Nesta mesma direção, o relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM, Global Annual to Decadal Climate Update), divulgado em maio de 2023, alertou que muito provavelmente (66% de probabilidade) a temperatura média global anual superará o 1,5°C em pelo menos um ano dos próximos cinco (2023-2027), é possível (32% de probabilidade) que a temperatura média dos próximos cinco anos ultrapasse o 1,5°C e é quase certo (98% de probabilidade) que pelo menos um dos próximos cinco anos, ou mesmo os cinco anos como um todo, será o mais quente já registrado (OMM, 2023). Vale lembrar que o IPCC estimou sérias consequências no caso da superação permanente dessa temperatura.

Este conjunto de evidências da atualidade e gravidade da crise climática que apontamos também nos alerta para a proximidade em que nos encontramos de ultrapassar um ponto de inflexão a partir do qual estes processos se retroalimentam e escapem a todo o controle ou moderação.

Este conjunto de evidências da atualidade e gravidade da crise climática que apontamos também nos alerta para a proximidade em que nos encontramos de ultrapassar um ponto de inflexão – José Seoane

Quão perto deste ponto nos levará o fenômeno El Niño neste ano e possivelmente nos próximos? O El Niño é um evento de origem climática que se expressa no aquecimento do Oceano Pacífico equatorial e oriental e se manifesta em ciclos de entre três e oito anos. Com antecedentes que remontam ao século XIX, em 1924 o climatologista Gilbert Walker cunhou o termo “Oscilação Sul” para identificá-lo e em 1969 o meteorologista Jacob Bjerknes sugeriu que esse aquecimento incomum no Pacífico oriental poderia desequilibrar os ventos alísios e aumentar as águas quentes em direção ao leste, ou seja, em direção às costas intertropicais da América do Sul.

Mas não se trata simplesmente um fenômeno meteorológico tradicional que se repete em períodos anuais irregulares. Não se trata de um fenômeno natural; não importa quantas tentativas sejam feitas, repetidas vezes, para invisibilizar ou negar suas causas sociais. Pelo contrário, nas últimas décadas, a dinâmica da crise climática aumentou tanto sua frequência quanto sua intensidade. No início de 2023, terminou o terceiro episódio contínuo do La Niña, a terceira vez desde 1950 que durou três anos e cada vez com maior intensidade. Da mesma forma, em 2016, o El Niño levou ao recorde de temperatura média alcançado pelo planeta. E vários cientistas estimam hoje que este super–Niño pode se repetir com consequências desconhecidas, dados os níveis de gases de efeito estufa e a dinâmica da atual crise climática.

Tornam-se hoje mais imperiosas e urgentes as bandeiras de uma mudança inspirada na justiça social e climática e os caminhos dessa transição socioecológica propostos pelos movimentos populares – José Seoane

Tornam-se hoje mais imperiosas e urgentes as bandeiras de uma mudança inspirada na justiça social e climática e os caminhos efetivos dessa transição socioecológica propostos pelos movimentos populares. É possível propor um plano popular de mitigação e adaptação das emergências. Mas para tornar socialmente audíveis estas alternativas, para romper com a cegueira ecológica que se quer impor, é preciso primeiro quebrar a construção epistemológica que pretende inscrever estas catástrofes, de forma repetitiva e persistente, num mundo de natureza supostamente pura, em um campo supostamente externo, alheio e fora do controle social humano.

Trata-se de uma matriz de naturalização que, ao mesmo tempo em que exclui os grupos sociais e o modo de organização socioeconômico de qualquer responsabilidade nas crises atuais, quer transformá-los em acontecimentos imprevisíveis e incognoscíveis que só deixam a opção da resignação, da alienação religiosa ou da resiliência individual.

Planeta TERRA rolando ladeira a baixo!!!

Os questionamentos a estes olhares inserem-se não apenas nos discursos, mas também nas práticas e emoções, na resposta à catástrofe com a (re) construção de laços solidários, coletivos, comunitários e sociais, suportes indispensáveis da mudança emancipatória. (ecodebate)

Fatos e a ciência da Mudança Climática

Conheça os fatos e a ciência da Mudança Climática.
Neste artigo explicamos como clima da Terra está mudando e porque o clima global deverá continuar a mudar ao longo deste século e além.

A magnitude das mudanças climáticas para além das próximas décadas dependerá principalmente da quantidade de gases de efeito estufa (que retêm o calor) emitidos globalmente e da incerteza remanescente na sensibilidade do clima da Terra a essas emissões.

Com reduções significativas nas emissões de gases de efeito estufa (GEEs), o aumento médio anual da temperatura global pode ser limitado a 2°C ou menos. No entanto, sem grandes reduções nessas emissões, o aumento das temperaturas globais médias anuais, em relação aos tempos pré-industriais, pode chegar a 5°C ou mais até o final deste século.

O clima global continua a mudar rapidamente em comparação com o ritmo das variações naturais do clima que ocorreram ao longo da história da Terra. Tendências na temperatura média global, aumento do nível do mar, conteúdo de calor no alto do oceano, derretimento do gelo terrestre, gelo do mar ártico, profundidade do degelo sazonal do permafrost e outras variáveis climáticas fornecem evidências consistentes de um planeta em aquecimento. Essas tendências observadas são robustas e confirmadas por vários grupos de pesquisa independentes em todo o mundo.

As observações do sistema climático são baseadas em medições físicas e biogeoquímicas diretas e sensoriamento remoto de estações terrestres e satélites. Informações derivadas de arquivos paleoclimáticos fornecem um contexto de longo prazo dos climas passados.

Diferentes tipos de evidências ambientais são usados para entender como era o clima do passado da Terra e por quê. Registros de condições climáticas históricas são preservados em anéis de árvores, trancados em esqueletos de recifes de corais tropicais, selados em geleiras e calotas polares e enterrados em sedimentos laminados de lagos e oceanos.

Os cientistas podem usar esses registradores ambientais para estimar condições passadas, estendendo nossa compreensão do clima de centenas a milhões de anos. As observações em escala global da era instrumental começaram em meados do século XIX, e reconstruções paleoclimáticas estendem o registro de algumas quantidades de centenas a milhões de anos. Juntos, isso fornece uma visão abrangente da variabilidade e das mudanças de longo prazo na atmosfera, no oceano, na criosfera e na superfície terrestre.

Paleoclima

Reconstruções de arquivos paleoclimáticos permitem que mudanças atuais na composição atmosférica, nível do mar e sistemas climáticos (incluindo eventos extremos como secas e inundações), bem como projeções de climas futuros, sejam colocadas em uma perspectiva mais ampla da variabilidade climática passada.

As informações climáticas passadas também documentam o comportamento de componentes lentos do sistema climático, incluindo o ciclo do carbono, as camadas de gelo e o oceano profundo, para os quais os registros instrumentais são curtos em comparação com suas escalas de tempo características de respostas a perturbações, informando assim sobre mecanismos de mudanças abruptas e irreversíveis e mudanças.

Registros climáticos nos últimos séculos e milênios indicam que as temperaturas médias nas últimas décadas em grande parte do mundo foram muito mais altas e aumentaram mais rapidamente durante esse período.

O paleoclima pode nos ajudar a entender as mudanças climáticas em uma escala de tempo geológica, em vez de algumas gerações humanas. A Figura 1 apresenta a reconstrução paleoclimática para o Hemisfério Norte (NH), que revela as temperaturas médias anuais, para o período 1983-2012 foram muito provavelmente os períodos de 30 anos mais quente dos últimos 800, anos e provavelmente os períodos de 30 anos mais quente dos últimos 1400 anos.  a) mostra o forçamento radiativo devido a gases de efeito estufa vulcânicos, solares e bem misturado (WMGHGs). Cores diferentes ilustram os dois conjuntos de dados existentes para forçamento vulcânico e quatro estimativas de forçamento solar e a linha cinza representa WMGHGs para o período 850-2000. b)representa as anomalias de temperatura simuladas (vermelho) e reconstruídas (sombreadas) do Hemisfério Norte. A linha vermelha grossa representa a média multimodelo, enquanto as linhas vermelhas finas mostram a faixa multimodelo de 90%. A sobreposição das temperaturas reconstruídas é mostrada pelo sombreamento cinza.

Figura 1. a) Forçante radiativo (W/m2) devido a gases de efeito estufa vulcânicos, solares e bem misturados para o período 850-2000. b) Anomalias de Temperatura do Hemisfério Norte reconstruídas (cinza) e simuladas (vermelhas) para o período 850-2000.

As projeções do modelo (Figura 2) indicam que o aquecimento médio global do século XXI excederá substancialmente o período do Último Máximo Glacial e até mesmo as condições mais quentes do Holoceno; produzindo um estado climático não experimentado anteriormente.

Figura 2.   Anomalias de temperatura global simuladas por modelo para o Último Máximo Glacial (21.000 anos atrás), o Holoceno médio (6.000 anos atrás) e projeção para 2071–2095, sob RCP8.5

O que isto significa

O clima da Terra está mudando mais rápido do que em qualquer ponto da história conhecida do clima, principalmente como resultado das atividades humanas. Existe um consenso científico de que as emissões não mitigadas de carbono levarão ao aquecimento global de pelo menos vários graus Celsius até 2100, resultando em altos impactos de riscos locais, regionais e globais para a sociedade humana e os ecossistemas naturais. A mudança climática global já resultou em uma ampla gama de impactos em todas as regiões da Terra, bem como em muitos setores econômicos.

Os impactos relacionados às mudanças climáticas são evidentes em todas as regiões e em muitos setores importantes para a sociedade, como saúde humana, agricultura e segurança alimentar, abastecimento de água, transporte, energia, biodiversidade e ecossistemas; Espera-se que os impactos se tornem cada vez mais disruptivos nas próximas décadas. Existe uma confiança muito alta de que a frequência e a intensidade de eventos de calor extremo e precipitação pesada estão aumentando na maioria das regiões continentais do mundo. Essas tendências são consistentes com as respostas físicas esperadas para um clima em aquecimento. A frequência e a intensidade dos eventos de temperaturas extremamente altas provavelmente aumentarão no futuro à medida que a temperatura global aumentar. Existe uma grande confiança de que os eventos extremos de precipitação muito provavelmente continuarão a aumentar em frequência e intensidade na maior parte do mundo.

O que é Mudança Climática

As mudanças observadas ao longo do século 20 incluem aumentos na temperatura global do ar e do oceano, aumento do nível do mar global, redução generalizada sustentada de longo prazo da cobertura de neve e gelo e mudanças na circulação atmosférica e oceânica, bem como padrões climáticos regionais, que influenciam as chuvas sazonais. condições.

Essas mudanças são causadas pelo calor extra no sistema climático devido à adição de gases de efeito estufa à atmosfera. Esses gases de efeito estufa adicionais são gerados principalmente por atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), desmatamento, agricultura e mudanças no uso da terra. Essas atividades aumentam a quantidade de gases de efeito estufa ‘retentores de calor’ na atmosfera.

O padrão de mudanças observadas no sistema climático é consistente com um aumento do efeito estufa.

Clima, refere-se à média regional ou global de longo prazo de temperatura, umidade e padrões de precipitação ao longo de estações, anos ou décadas.

Enquanto o clima pode mudar em apenas algumas horas, o clima muda em prazos mais longos. A mudança climática é a variação significativa das condições climáticas médias tornando-se, por exemplo, mais quentes, mais úmidas ou mais secas – ao longo de várias décadas ou mais. É a tendência de longo prazo que diferencia as mudanças climáticas da variabilidade natural do clima.

A atividade humana leva a mudanças na composição atmosférica diretamente (via emissões de gases ou partículas) ou indiretamente (via química atmosférica). As emissões antrópicas impulsionaram as mudanças nas concentrações de WMGHG durante a Era Industrial. O forçamento radiativo (RF) é uma medida da mudança líquida no balanço de energia do sistema terrestre em resposta a alguma perturbação externa; RF positivo leva a um aquecimento e RF negativo a um resfriamento. O conceito de RF é valioso para comparar a influência na temperatura média global da superfície da maioria dos agentes individuais que afetam o balanço de radiação da Terra. A Figura 3 mostra o Forçamento Radiativo e o Forçamento Radiativo Efetivo (ERF), por variação de concentração, entre 1750 e 2011, com faixa de incerteza associada.
Figura 3. Forçante Radiativa (RF) e Forçante Radiativa Efetiva (ERF) das mudanças climáticas durante a Era Industrial, 1750-2011. As barras sólidas são ERF, as barras hachuradas são RF, os losangos verdes e as incertezas associadas são para RF.

Figura 4.  Total anual de emissões antropogênicas de gases de efeito estufa (GEE) (gigatonelada de CO2 -equivalente por ano, GtCO2  -eq/ano) no período de 1970 a 2010, por gases.

Figura 4. Total anual de emissões antrópicas de GEE por gases no período 1970-2010. Gás: CO2 da combustão de combustíveis fósseis e processos industriais; CO2 de Silvicultura e Outros Usos do Solo (FOLU); metano (CH4); óxido nitroso (N2O); gases fluorados abrangidos pelo Protocolo de Quioto (gases F).

Compreendendo Cenários Climáticos Futuros

Compreender nosso clima atual e futuro são questões muito grandes e complexas para serem abordadas por um único país, agência ou disciplina científica. Por meio de cooperação científica internacional e parcerias, o World Climate Research Program (WCRP) apoia a coordenação para a produção de compilações de modelos climáticos globais e regionais, que avançam nossa compreensão das interações dinâmicas em várias escalas entre sistemas naturais e sociais que afetam o clima. Esses esforços produzem os Projetos de Intercomparação de Modelos Acoplados, ou CMIPs.

A comunidade científica do clima depende de modelos para entender os feedbacks do ciclo de carbono da Terra em resposta às emissões antropogênicas, que levam a mudanças nas concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa e aerossóis e, portanto, resultam em forçantes radiativas que impulsionam as mudanças no sistema climático. Os CMIPs fornecem uma estrutura de coordenação para esses estudos, definindo um conjunto de experimentos de modelo para a circulação geral atmosférica-oceânica e modelos do sistema terrestre. Ao lado de estudos mais orientados para o processo, um conjunto de experimentos no CMIP está sempre focado na resposta climática a diferentes histórias plausíveis de desenvolvimento social futuro e vias de emissão contrastantes associadas (cenários). O objetivo desses ‘cenários’ é delinear como futuras emissões e mudanças no uso da terra podem se traduzir em respostas no sistema climático. Embora independente dos Relatórios de Avaliação do IPCC-UNFCCC produzidos regularmente, os resultados do CMIP são coordenados e informam diretamente as Avaliações. CMIP fase 5 (CMIP5) forneceu a base para o 5º Relatório de Avaliação lançado em 2013 e 2014, e o 6º Relatório de Avaliação lançado em 2021 e 2022, baseia-se no CMIP6, a mais recente coleção de simulações feitas pela comunidade científica do clima em todo o mundo.

A abordagem de cenário é usada para caracterizar a gama de futuros climáticos plausíveis e para ilustrar as consequências de diferentes caminhos (escolhas de políticas, mudanças tecnológicas, etc.). Eles são escolhidos para abranger uma ampla gama sem qualquer vínculo com a probabilidade; os cenários servem como casos ‘e se’. Nas últimas três décadas, a abordagem para formular os diferentes ‘cenários’ evoluiu de um conceito centrado no clima para um conceito cada vez mais centrado no desenvolvimento social, embora com o mesmo objetivo subjacente de fornecer informações sobre uma série de resultados climáticos plausíveis. Para distinguir a magnitude do forçamento climático, a numeração reflete uma quantidade designada de forçamento radiativo medido em watts por metro quadrado (W/m2) alcançado por 2100 (ou seja, 2,6, 4,5, 6,0 e 8,5 W/m2 de mudança em relação ao pré-industrial, respectivamente). O CMIP6 apresenta 1,9 W/m2  para oferecer uma visão da resposta climática que pode refletir a meta do Acordo de Paris. Os resultados do modelo CMIP, orientados por cenários, tornaram-se entradas de referência padrão para trabalhos relacionados à ciência, impactos, vulnerabilidade, adaptação e mitigação das mudanças climáticas. Os cenários devem ser usados como ferramentas para ajudar a entender as características e a magnitude dos sinais climáticos emergentes para informar as decisões. Concentrar-se apenas nos resultados do final do século é uma maneira inadequada de avaliar a utilidade de um determinado cenário. Para fins de informar as decisões da sociedade, horizontes de tempo mais curtos são altamente relevantes.

CMIP5

Os Caminhos de Concentração Representativos (RCPs), apresentados no CMIP5, descrevem quatro caminhos diferentes do século XXI. Os RCPs incluem um cenário de mitigação rigoroso (RCP2.6), dois cenários intermediários (RCP4.5 e RCP6.0) e um cenário com altas emissões de GEE (RCP8.5). Cenários sem esforços adicionais para restringir as emissões (‘cenários de linha de base’) levam a caminhos que variam entre RCP6.0 e RCP8.5. Cada RCP mostra o planeta capturando progressivamente maiores quantidades de energia de RCP2.6 (o mais baixo) para RCP8.5 (o mais alto). A Figura 5 mostra as vias de emissão de GEE para cada RCP até o final do século.

Figura 5. Caminhos de Emissão de GEE para cada RCP de 2000-2100.

Os cenários RCP são descritos abaixo.

• Cenário de mitigação rigoroso (RCP2.6): Um cenário de “pico e declínio”; seu nível de forçamento radiativo atinge primeiro um valor de cerca de 3,1 W/m2 em meados do século e retorna a 2,6 W/m2 em 2100. Para atingir esses níveis de forçamento radioativo, as emissões de GEE (e indiretamente as emissões de poluentes atmosféricos) são reduzido substancialmente ao longo do tempo. RCP2.6 é representativo de um cenário que visa manter o aquecimento global provavelmente abaixo de 2°C acima das temperaturas pré-industriais

• Cenário de emissões médias-baixas (RCP4.5): Um cenário de estabilização que pressupõe a adoção de medidas para conter as mudanças climáticas por todos os países, resultando em um aumento da temperatura média global não superior a 2ºC e 3ºC acima dos níveis de temperatura pré-industriais pelo ano 2100.

• Cenário de emissão média-alta (RCP6.0): Um cenário de estabilização em que o forçamento radiativo total é estabilizado logo após 2100, sem overshoot pela aplicação de uma série de tecnologias e estratégias para reduzir as emissões de GEE

• Cenário de emissões de alto nível (RCP8.5): Este cenário representa o extremo extremo da mudança climática plausível, proporcionando um aumento estimado da temperatura média global de aproximadamente 5°C-6ºC até 2100, em relação aos níveis de temperatura pré-industriais. O RCP8.5 é comumente reconhecido como ‘business as usual’.

CMIP6

As narrativas socioeconômicas associadas a cada cenário RCP são chamadas de Caminhos Socioeconômicos Compartilhados (SSPs), que foram introduzidos no CMIP6. Eles representam possíveis caminhos de desenvolvimento social e política para atender às forças radiativas designadas até o final do século. O CMIP6 inclui cenários com emissões de GEE altas e muito altas (SSP3-7.0 e SSP5-8.5) e emissões de CO2 que praticamente dobram dos níveis atuais até 2100 e 2050, respectivamente, cenários com emissões intermediárias de GEE (SSP2-4.5) e emissões de CO2 permanecendo em torno dos níveis atuais até meados do século, e cenários com emissões de GEE muito baixas e baixas e emissões de CO2 caindo para zero líquido por volta de ou após 2050, seguidos por níveis variados de CO2 líquido negativo emissões (SSP1-1.9 e SSP1-2.6). As emissões variam entre os cenários, dependendo de premissas socioeconômicas, níveis de mitigação das mudanças climáticas e, para aerossóis e precursores de ozônio não metano, controles de poluição do ar. Suposições alternativas podem resultar em emissões e respostas climáticas semelhantes, mas as suposições socioeconômicas e a viabilidade ou probabilidade de cenários individuais não fazem parte da avaliação. A Figura 6 apresenta emissões futuras e causas adicionais de aquecimento para cada um dos SSPs.

Figura 6. a) apresenta as emissões antropogênicas anuais (causadas pelo homem) no período 2015–2100. São mostradas as trajetórias de emissões de dióxido de carbono (CO2) de todos os setores (GtCO2/ano) (gráfico à esquerda) e para um subconjunto de três principais fatores não-CO2 considerados nos cenários: metano (CH4, MtCH4/ano) ; óxido nitroso (N2O, MtN2O/ano); e dióxido de enxofre (SO2, MtSO2/ano), contribuindo para aerossóis antropogênicos no painel (b). b) demonstra a mudança na temperatura da superfície global (°C) em 2081–2100 em relação a 1850–1900 dadas as contribuições de aquecimento por grupos de fatores antropogênicos e por cenário, com indicação do aquecimento observado até o momento. Barras e bigodes representam valores medianos e o intervalo muito provável, respectivamente. Dentro de cada gráfico de barras de cenário, as barras representam: aquecimento global total (°C); contribuições de aquecimento de mudanças no CO2; gases de efeito estufa não-CO2 e resfriamento líquido de outros fatores antropogênicos (barra ‘aerossóis e uso da terra’).

Descrições narrativas para os Caminhos Socioeconômicos Compartilhados:

SSP1 “Sustentabilidade” (Baixos desafios para mitigação e adaptação)

O mundo muda gradualmente, mas de forma generalizada, em direção a um caminho mais sustentável, enfatizando o desenvolvimento mais inclusivo que respeita os limites ambientais percebidos. A gestão dos bens comuns globais melhora lentamente, os investimentos em educação e saúde aceleram a transição demográfica e a ênfase no crescimento econômico muda para uma ênfase mais ampla no bem-estar humano. Impulsionada por um compromisso cada vez maior de alcançar as metas de desenvolvimento, a desigualdade é reduzida tanto entre os países quanto dentro deles. O consumo é orientado para baixo crescimento material e menor intensidade de recursos e energia. A combinação de desenvolvimento direcionado de tecnologias ecologicamente corretas, perspectivas favoráveis para energia renovável, instituições que podem facilitar a cooperação internacional, e a demanda de energia relativamente baixa resulta em desafios relativamente baixos para a mitigação. Ao mesmo tempo, as melhorias no bem-estar humano, juntamente com instituições globais, regionais e nacionais fortes e flexíveis, implicam baixos desafios à adaptação.

SSP2 “Middle of the Road” (Desafios médios para mitigação e adaptação)

O mundo segue um caminho no qual as tendências sociais, econômicas e tecnológicas não se afastam acentuadamente dos padrões históricos. O desenvolvimento e o crescimento da renda prosseguem de forma desigual, com alguns países fazendo progressos relativamente bons, enquanto outros ficam aquém das expectativas. Instituições globais e nacionais trabalham para alcançar as metas de desenvolvimento sustentável, mas fazem progressos lentos. Os sistemas ambientais sofrem degradação, embora haja algumas melhorias e, em geral, a intensidade do uso de recursos e energia diminui. O crescimento da população global é moderado e estabiliza na segunda metade do século. A desigualdade de renda persiste ou melhora apenas lentamente e os desafios para reduzir a vulnerabilidade às mudanças sociais e ambientais permanecem. Essas tendências de desenvolvimento moderado deixam o mundo, em média.

SSP3 “Rivalidade Regional” (Altos desafios para mitigação e adaptação)

Um nacionalismo ressurgente, preocupações com competitividade e segurança e conflitos regionais levam os países a se concentrar cada vez mais em questões domésticas ou, no máximo, regionais. As políticas mudam ao longo do tempo para se tornarem cada vez mais orientadas para questões de segurança nacional e regional. Os países se concentram em alcançar metas de segurança energética e alimentar em suas próprias regiões em detrimento de um desenvolvimento mais amplo. Os investimentos em educação e desenvolvimento tecnológico diminuem. O desenvolvimento econômico é lento, o consumo é material-intensivo e as desigualdades persistem ou pioram ao longo do tempo. O crescimento populacional é baixo nos países industrializados e alto nos países em desenvolvimento. Uma baixa prioridade internacional para abordar as preocupações ambientais leva a uma forte degradação ambiental em algumas regiões. A crescente intensidade de recursos e a dependência de combustíveis fósseis, juntamente com a dificuldade em alcançar a cooperação internacional e a lenta mudança tecnológica, implicam em grandes desafios para a mitigação. O progresso limitado no desenvolvimento humano, o crescimento lento da renda e a falta de instituições eficazes, especialmente aquelas que podem atuar em todas as regiões, implicam em grandes desafios de adaptação para muitos grupos em todas as regiões.

SSP5 “Desenvolvimento de combustíveis fósseis” (altos desafios para mitigação, baixos desafios para adaptação)

Este mundo coloca cada vez mais fé em mercados competitivos, inovação e sociedades participativas para produzir rápido progresso tecnológico e desenvolvimento do capital humano como o caminho para o desenvolvimento sustentável. Os mercados globais estão cada vez mais integrados. Há também fortes investimentos em saúde, educação e instituições para aumentar o capital humano e social. Ao mesmo tempo, o impulso para o desenvolvimento econômico e social está associado à exploração de recursos abundantes de combustíveis fósseis e à adoção de estilos de vida intensivos em recursos e energia em todo o mundo. Todos esses fatores levam ao rápido crescimento da economia global, enquanto a população global atinge picos e declínios no século XXI. Problemas ambientais locais, como a poluição do ar, são gerenciados com sucesso. Há fé na capacidade de gerir eficazmente os sistemas sociais e ecológicos, inclusive por geoengenharia, se necessário. Embora os impactos ambientais locais sejam tratados de forma eficaz por soluções tecnológicas, há relativamente pouco esforço para evitar possíveis impactos ambientais globais devido a uma compensação percebida com o progresso no desenvolvimento econômico. A forte dependência de combustíveis fósseis e a falta de preocupação ambiental global resultam em desafios potencialmente altos para a mitigação. A consecução de metas de desenvolvimento humano, crescimento econômico robusto e infraestrutura altamente projetada resultam em desafios relativamente baixos para a adaptação a qualquer potencial mudança climática para todos, exceto para alguns, há relativamente pouco esforço para evitar potenciais impactos ambientais globais devido a uma percepção de compensação com o progresso no desenvolvimento econômico. A forte dependência de combustíveis fósseis e a falta de preocupação ambiental global resultam em desafios potencialmente altos para a mitigação. A consecução de metas de desenvolvimento humano, crescimento econômico robusto e infraestrutura altamente projetada resultam em desafios relativamente baixos para a adaptação a qualquer potencial mudança climática para todos, exceto para alguns. há relativamente pouco esforço para evitar potenciais impactos ambientais globais devido a uma percepção de compensação com o progresso no desenvolvimento econômico. A forte dependência de combustíveis fósseis e a falta de preocupação ambiental global resultam em desafios potencialmente altos para a mitigação. A consecução de metas de desenvolvimento humano, crescimento econômico robusto e infraestrutura altamente projetada resultam em desafios relativamente baixos para a adaptação a qualquer potencial mudança climática para todos, exceto para alguns.

Para uma descrição completa das Narrativas SSP, veja O’Neill et al. 2017

Modelos Individuais vs. Conjuntos de Vários Modelos

Os modelos climáticos são representações matemáticas de processos importantes no sistema climático da Terra. Quando um modelo climático é executado, ele produz uma ‘simulação’ do clima futuro. Várias simulações formam um conjunto. Um multi-model ensemble (MME), portanto, é um grande número de simulações de modelos climáticos. O CCKP prioriza o uso de MMEs para suas projeções, pois os conjuntos multimodelo são mais robustos e comprovadamente mais bem-sucedidos na representação da gama de mudanças esperadas.

As diferenças entre a estrutura espacial dos dados e a estrutura da realidade que eles representam também devem ser compreendidas e consideradas para modelar adequadamente o impacto da incerteza espacial nas aplicações do modelo. Enquanto os modelos individuais são mais barulhentos, às vezes, eles podem refletir melhor a faixa de variabilidade em comparação com o conjunto multimodelo que geralmente é muito suave.

Modelos individuais também podem ter vieses sistemáticos que se apresentam como fortes outliers. Uma comparação com o conjunto multimodelo é útil para identificar esses possíveis vieses e discrepâncias.

Variabilidade, Tendências, Incerteza

Existe variabilidade decenal, interanual e intersazonal em todo o sistema climático. A variabilidade interna pode diminuir a relevância das tendências em períodos tão curtos quanto 10 a 15 anos de mudanças climáticas de longo prazo. Um esforço crítico de projetar a mudança climática é entender se a ‘mudança’ é parte da variabilidade natural ou se a mudança projetada revela tendências que são estatisticamente significativas da variabilidade natural. Devido a isso, as tendências de variabilidade natural baseadas em registros curtos são muito sensíveis às datas de início e término e, em geral, não refletem tendências climáticas de longo prazo.

A incerteza existe para qualquer projeção futura. Embora os avanços continuem a ser feitos na compreensão da física climática e na resposta do sistema climático ao aumento dos gases de efeito estufa, muitas incertezas provavelmente persistirão. A taxa de aquecimento global futuro depende de emissões futuras, processos de feedback que amortecem ou reforçam distúrbios no sistema climático e influências naturais imprevisíveis no clima, como erupções vulcânicas. Processos incertos que afetarão a rapidez com que o mundo aquece para um determinado caminho de emissões são dominados pela formação de nuvens, mas também incluem feedbacks de vapor de água e gelo, mudanças na circulação oceânica e ciclos naturais de gases de efeito estufa. Embora as informações de mudanças climáticas passadas corroborem amplamente os cálculos do modelo. (ecodebate)

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