terça-feira, 29 de novembro de 2022

A população da República Democrática do Congo de 1950 a 2100

Os cenários futuros indicam a necessidade de criar milhões de empregos anuais e elevar os níveis da renda per capita para reduzir a pobreza e elevar as condições de vida da população

A República Democrática do Congo (RDC) tem a segunda maior floresta tropical do mundo e é o país mais rico em reservas de cobalto, um metal essencial para a produção de turbinas de avião, baterias de celulares, computadores, carros, etc. Mas em termos de bem-estar da população, a RDC é um país pobre, com muitos emigrantes (que geralmente são vítimas da violência física e da xenofobia) e que está preso na armadilha da pobreza. A área da RD do Congo é de 2,4 milhões de km2 e tem uma densidade demográfica de 43 habitantes por km2 em 2022, maior do que a densidade brasileira (26 hab/km2).

A República Democrática do Congo tinha apenas 12,3 milhões de habitantes em 1950 (com uma densidade demográfica de 5,4 hab/km2), saltou para 99 milhões em 2022 (com densidade de 44 hab/km2) e deve atingir, na projeção média, 432 milhões em 2100 (com densidade demográfica de 191 hab/km2), como mostra o gráfico abaixo do painel da esquerda. A projeção alta da ONU aponta que a população da RD do Congo, caso não caiam as taxas de fecundidade, pode chegar a 1,4 bilhão de habitantes em 2100.

A população da RDC em idade ativa, de 15-59 anos, deu um salto de cerca de 6,3 milhões de pessoas em meados do século passado para 48 milhões em 2022 e deve atingir 267 milhões de pessoas no final do atual século. Portanto, a RDC terá uma grande necessidade de geração de emprego nas próximas 8 décadas (conforme mostra o gráfico abaixo, no painel da direita).

Os gráficos abaixo mostram a evolução das taxas de fecundidade total (TFT) e a expectativa de vida. A República do Congo manteve uma média de mais de 6 filhos por mulher entre 1950 e 2022 e é um dos países que ainda mantém taxas de fecundidade muito elevadas. Mas as projeções da Divisão de População da ONU indicam uma queda na TFT nas próximas 8 décadas até atingir o nível de reposição (2,1 filhos por mulher) em 2100, como mostra o gráfico abaixo, no painel da esquerda.

A expectativa de vida ao nascer, que estava abaixo de 40 anos em 1950, subiu nos anos seguintes (com algumas oscilações) e chegou a 60 anos em 2020. Houve uma queda em decorrência da pandemia. Na projeção média da ONU a expectativa de vida ao nascer, para ambos os sexos, deve ficar em torno de 70 anos em 2100 (como mostra o gráfico abaixo, painel da direita).

Em decorrência das altas taxas de fecundidade, a população jovem de 0-14 anos da RDC vai continuar crescendo até o final do século XXI, como mostra o gráfico abaixo (painel da esquerda). Já o número de idosos (gráfico da direita) cresceu lentamente entre 1950 e 2022 e deve acelerar o crescimento na segunda metade do século XXI.

A lenta mudança da estrutura etária tem mantido as pirâmides etárias da RDC com uma base larga e o topo estreito, conforme mostrado nos gráficos abaixo. As pirâmides etárias de 1950 e 2022 mantiveram o modelo clássico de estrutura rejuvenescida. Assim, o país mantém uma alta razão de dependência de jovens e uma baixa proporção de pessoas em idade ativa. Se a queda da fecundidade se aprofundar poderá haver o aproveitamento do 1º bônus demográfico, que é uma condição essencial para a redução da pobreza e o a melhoria do padrão de vida da população. A pirâmide de 2100 vai apresentar uma leve redução relativa da base e um crescimento do meio da distribuição etária. As faixas verdes e amarelas representam as possibilidades para os casos de lenta redução da fecundidade.

A RD do Congo terá uma situação demográfica favorável à oferta de força de trabalho no restante do século XXI, pois a razão de dependência vai diminuir de cerca de 100 atualmente para cerca de 60 entre 2070 e 2100, como mostra o gráfico abaixo. Se a economia reagir e conseguir gerar grande quantidade de emprego, a RDC poderá avançar no processo de desenvolvimento humano. Mas se a economia fracassar, o país terá uma bolha de jovens, que na falta de perspectivas de mobilidade social ascendente, poderá criar instabilidade política e grande anomia social.

RDC tinha uma participação no PIB global em torno de 0,15% em 1980 e caiu para 0,04% entre 2000 e 2010, apresentou aumento nos últimos anos e deve ficar com cerca de 0,09% em meados da atual década, conforme mostra o gráfico abaixo (lado esquerdo). A renda per capita da República do Congo (em preços correntes em poder de paridade de compra) era de apenas US$ 807 em 1980, bem abaixo da renda per capita mundial. Depois de uma queda acentuada na década de 1990, nos últimos anos a renda cresceu para US$ 1,3 mil em 2022 e deve chegar a US$ 1,6 mil em 2026, para uma renda média global de US$ 25 mil, conforme mostra o gráfico abaixo (lado direito). Portanto, a RDC tem renda bem abaixo da média mundial e é um dos países mais pobres do mundo.

A República Democrática do Congo tinha um dos maiores superávits ambientais do mundo. Segundo o Instituto Global Footprint Network a RDC tinha, em 1961, uma Pegada Ecológica per capita de 0,96 hectare global (gha) e uma Biocapacidade per capita de 13,51 gha. Mas com o alto crescimento demográfico, a Biocapacidade per capita caiu para 2,16 gha em 2018, a despeito da queda da Pegada Ecológica per capita que passou para 0,78 gha em 2018. Assim, a RDC ainda mantém superávit ecológico, mas em níveis cada vez menores, conforme mostra a figura abaixo.

Líderes dos países africanos estão se preparando para usar a próxima cúpula climática da ONU (a COP27 no Egito, em novembro/22) para pressionar por novos investimentos maciços em combustíveis fósseis, de acordo reportagem do jornal The Guardian (01/08/22). Um documento técnico preparado pela União Africana, indica uma posição comum para pressionar por uma expansão de produção de combustíveis fósseis em todo o continente. Ou seja, os países africanos exigem o “direito” de cometer o mesmo erro dos países desenvolvidos, às custas do aumento das emissões de CO2 e da possibilidade de um colapso ambiental ainda mais catastrófico.

Evidentemente, o caminho não pode ser este. A melhor alternativa para os países africanos é aprofundar na transição demográfica e na transição energética, visando lutar contra a pobreza sem comprometer ainda mais a sustentabilidade ambiental. Sem dúvida, a África precisa da ajuda internacional para aumentar o bem-estar humano e ecológico, sendo que as metas do Acordo de Paris devem ser seguidas e aprofundadas por todos.

Os cenários futuros da República Democrática do Congo indicam a necessidade de criar milhões de empregos anuais e elevar os níveis da renda per capita para reduzir a pobreza e elevar as condições de vida da população. Mas passar de cerca de 100 milhões de habitantes atualmente para mais de 400 milhões no final do século colocará uma grande pressão sobre o meio ambiente.

Em 2100, a RDC terá uma densidade demográfica de 191 hab/km2, muito superior à densidade chinesa que será de 80 hab/km2. Desta forma, aprofundar a transição demográfica e aproveitar a estrutura etária favorável do bônus demográfico é uma tarefa urgente e fundamental para garantir o desenvolvimento humano e a proteção ambiental. (ecodebate)

Aquecimento global aumenta megaincêndios no permafrost

O aquecimento global está exacerbando as condições que causam incêndios florestais em muitas regiões, incluindo o Ártico, onde extensas turfeiras contêm grandes quantidades de carbono.

No entanto, a extensão dos incêndios florestais está aumentando como seria de esperar, dadas as mudanças nas condições?

Descals et al, descobriram que durante o verão de 2020, que foi o mais quente em quatro décadas, os incêndios no Ártico queimaram uma área sem precedentes de solos ricos em carbono (veja a Perspectiva de Post e Mack).

Eles projetam que o aquecimento climático de curto prazo causará um aumento exponencial na área queimada em solos ricos em carbono do Ártico antes de meados do século.

Degelo do permafrost libera gases de efeito estufa do subsolo.

Após ondas de calor dos últimos anos, as concentrações de metano no ar da Sibéria apontam para a emissão de gás do calcário, como também de outros gases nocivos a saúde.

Os incêndios no Ártico podem liberar grandes quantidades de carbono das turfeiras do permafrost. Observações de satélite revelam que os incêndios queimaram ~ 4,7 milhões de hectares em 2019 e 2020, representando 44% da área total queimada no Ártico Siberiano durante todo o período 1982-2020.

O verão de 2020 foi o mais quente em quatro décadas, com incêndios queimando uma área sem precedentes de solos ricos em carbono. A pesquisa mostra que os fatores de incêndio associados à temperatura aumentaram nas últimas décadas e identifica uma relação quase exponencial entre esses fatores e a área queimada anual.

Grandes incêndios no Ártico provavelmente se repetirão com o aquecimento climático antes de meados do século, porque a tendência da temperatura está atingindo um limite nos quais pequenos aumentos na temperatura estão associados a aumentos exponenciais na área queimada.

Atividade de fogo sem precedentes acima do Círculo Polar Ártico ligada ao aumento das temperaturas, Science, DOI: 10.1126/science.abn9768. (ecodebate)

Temperaturas na Europa aumentam mais que o dobro da média global

Temperaturas na Europa aumentaram mais que o dobro da média global nos últimos 30 anos, as mais altas de qualquer continente do mundo.

À medida que a tendência de aquecimento continua, calor excepcional, incêndios florestais, inundações e outros impactos das mudanças climáticas afetarão a sociedade, as economias e os ecossistemas, de acordo com um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

O relatório Situação do Clima na Europa, produzido em conjunto com o Copernicus Climate Change Service da União Europeia, focado em 2021. Ele fornece informações sobre o aumento das temperaturas, ondas de calor terrestres e marinhas, clima extremo, mudança nos padrões de precipitação e recuo do gelo e da neve.

As temperaturas na Europa aumentaram significativamente no período 1991-2021, a uma taxa média de cerca de +0,5°C por década. Como resultado, as geleiras alpinas perderam 30 metros de espessura de gelo de 1997 a 2021. A camada de gelo da Groenlândia está derretendo e contribuindo para acelerar o aumento do nível do mar. No verão de 2021, a Groenlândia viu um evento de derretimento e a primeira chuva registrada em seu ponto mais alto, a estação Summit.

Anomalia de temperatura média anual para 1900-2021

Em 2021, eventos climáticos de alto impacto causaram centenas de mortes, afetaram diretamente mais de meio milhão de pessoas e causaram danos econômicos superiores a US$ 50 bilhões. Cerca de 84% dos eventos foram inundações ou tempestades.

Nem tudo são más notícias. Vários países da Europa têm sido muito bem sucedidos na redução das emissões de gases com efeito de estufa. Em particular, na União Europeia (UE), as emissões de gases de efeito estufa diminuíram 31% entre 1990 e 2020, com uma meta líquida de redução de 55% para 2030.

A Europa é também uma das regiões mais avançadas na cooperação transfronteiriça na adaptação às alterações climáticas, em particular nas bacias hidrográficas transnacionais. É um dos líderes mundiais no fornecimento de sistemas eficazes de alerta precoce, com cerca de 75% das pessoas protegidas. Os planos de ação para a saúde do calor salvaram muitas vidas do calor extremo.

Mas os desafios são formidáveis.

“A Europa apresenta uma imagem ao vivo de um mundo em aquecimento e nos lembra que mesmo sociedades bem preparadas não estão a salvo dos impactos de eventos climáticos extremos. Este ano, como 2021, grandes partes da Europa foram afetadas por extensas ondas de calor e seca, alimentando incêndios florestais. Em 2021, inundações excepcionais causaram morte e devastação”, disse o secretário-geral da OMM, Prof. Petteri Taalas.

“Do lado da mitigação, o bom ritmo de redução das emissões de gases de efeito estufa na região deve continuar e a ambição deve ser aumentada ainda mais. A Europa pode desempenhar um papel fundamental para alcançar uma sociedade neutra em carbono até meados do século para cumprir o Acordo de Paris”, disse o Prof. Taalas.

O Copernicus Climate Change Service (C3S) da UE, implementado pelo ECMWF em nome da Comissão Europeia, fornece dados e ferramentas de monitoramento climático de última geração para apoiar a mitigação e adaptação climática e iniciativas como o Pacto Verde Europeu.

“A sociedade europeia é vulnerável à variabilidade e mudança climática, mas a Europa também está na vanguarda do esforço internacional para mitigar as mudanças climáticas e desenvolver soluções inovadoras para se adaptar ao novo clima com o qual os europeus terão que conviver”, disse o Dr. Carlo Buontempo, Diretor, Copernicus Climate Change Service, Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF).

“À medida que os riscos e o impacto das mudanças climáticas se tornam cada vez mais aparentes na vida cotidiana, cresce a necessidade e o apetite por inteligência climática, e com razão. Com este relatório, pretendemos preencher a lacuna entre os dados e a análise para fornecer informações baseadas na ciência, mas acessíveis, ‘prontas para decisões’, em todos os setores, em todas as profissões”, disse ele.

O relatório State of the Climate in Europe baseia-se no C3S European State of the Climate publicado em abril e nas informações fornecidas pela WMO RA VI Regional Climate Center Network. É um de uma série de relatórios regionais compilados pela OMM para fornecer informações científicas localizadas aos formuladores de políticas. Foi apresentado em uma conferência regional de diretores de serviços meteorológicos e hidrológicos nacionais europeus.

O relatório e um roteiro que o acompanha incluem contribuições de serviços meteorológicos e hidrológicos nacionais, especialistas em clima, órgãos regionais e agências parceiras da ONU. Foi emitido antes das negociações anuais da ONU sobre Mudanças Climáticas, COP27, em Sharm-El Sheikh.

Desastres naturais relacionados ao clima, clima e água na Europa durante 2021.

Cenários Futuros

Prevê-se que os desastres climáticos e relacionados à água aumentem no futuro, de acordo com o 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Grupo de Trabalho I, IPCC AR6 WGI). Avaliou que havia “alta confiança” de que:

• Independentemente dos níveis futuros de aquecimento global, as temperaturas aumentarão em todas as áreas europeias a uma taxa superior às alterações da temperatura média global, semelhante às observações anteriores.

• A frequência e a intensidade de extremos quentes, incluindo ondas de calor marinhas, aumentaram nas últimas décadas e devem continuar aumentando, independentemente do cenário de emissões de gases de efeito estufa. Prevê-se que os limites críticos relevantes para os ecossistemas e os seres humanos sejam excedidos para um aquecimento global de 2°C e superior.

• As observações têm um padrão sazonal e regional consistente com o aumento projetado da precipitação no inverno no norte da Europa. Uma diminuição da precipitação é projetada no verão no Mediterrâneo, estendendo-se para as regiões do norte. Prevê-se que a precipitação extrema e as inundações pluviais aumentem em níveis de aquecimento global superiores a 1,5°C em todas as regiões, exceto no Mediterrâneo.

Impactos climáticos

Saúde: a saúde da população europeia é afetada pelas mudanças climáticas de várias maneiras, incluindo morte e doenças causadas por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes (ondas de calor), aumento de zoonoses e doenças transmitidas por alimentos, água e vetores e problemas de saúde mental.

Os eventos climáticos extremos mais mortais na Europa são as ondas de calor, particularmente no oeste e no sul da Europa. A combinação de mudanças climáticas, urbanização e envelhecimento da população na região cria e exacerbará ainda mais a vulnerabilidade ao calor.

Alterações induzidas pelas mudanças climáticas na produção e distribuição de pólens e esporos podem levar ao aumento de distúrbios alérgicos. Mais de 24% dos adultos que vivem na região europeia sofrem de várias alergias, incluindo asma grave, enquanto a proporção entre as crianças na região é de 30 a 40% e está aumentando. A mudança climática também afeta a distribuição de doenças transmitidas por vetores. Exemplos incluem carrapatos (Ixodes ricinus), que podem espalhar a doença de Lyme e encefalite transmitida por carrapatos.

De acordo com o Escritório Regional da OMS para a Europa, cerca de meio milhão de mortes prematuras na Região Europeia da OMS foram causadas pela poluição do ar ambiente por partículas finas antropogênicas em 2019, das quais uma parte importante estava diretamente ligada à queima de combustíveis fósseis. Estima-se que cerca de 138.000 mortes prematuras poderiam ser evitadas por ano por meio da redução das emissões de carbono, potencialmente resultando em economias de US$ 244–564 bilhões.

As crianças são mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas do que os adultos, tanto física quanto psicologicamente. De acordo com o Índice de Risco Climático Infantil da UNICEF (CCRI), quase 125 milhões de crianças na Europa vivem em países com países de risco ‘médio a alto’ (o terceiro dos cinco níveis de classificação usados globalmente).

Ecossistemas: Maioria dos danos causados por incêndios florestais é devido a eventos extremos para os quais nem os ecossistemas nem as comunidades estão adaptados. Alterações climáticas, os comportamentos humanos e outros fatores subjacentes estão a criar as condições para incêndios mais frequentes, intensos e devastadores na Europa, com consequências socioeconómicas e ecológicas significativas.

Transporte: A infraestrutura e as operações de transporte estão em risco tanto de mudanças climáticas incrementais quanto de eventos extremos (por exemplo, ondas de calor, chuvas fortes, ventos fortes e níveis e ondas extremas do mar). Muitas infraestruturas de transporte foram construídas com base em valores históricos para vários limites de fenômenos climáticos e, portanto, não são resilientes aos extremos atuais.

Exemplos dos impactos das mudanças climáticas nas afirmações e operações de transporte

Política Climática

As contribuições determinadas nacionalmente (NDCs) estão no centro do Acordo de Paris e na realização desses objetivos de longo prazo. As NDCs incorporam os esforços de cada país para reduzir as emissões nacionais e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. Em março/2022, 51 países europeus e a UE apresentaram uma NDC.

A mitigação das mudanças climáticas tem sido o foco principal de muitas Partes Europeias, conforme refletido em suas NDCs, destacando as seguintes áreas prioritárias: fornecimento de energia; agricultura; desperdício; e uso da terra, mudança no uso da terra e silvicultura como principais prioridades para mitigação.

Em 2021, a União Europeia (UE) em sua lei climática tornou a neutralidade climática, a meta de zero emissão líquidas até 2050, juridicamente vinculativa na UE. Estabeleceu uma meta provisória de 55% de redução de emissões até 2030. (ecodebate)

domingo, 27 de novembro de 2022

Impactos das mudanças climáticas

Embora muitas vezes pensemos nas mudanças climáticas induzidas pelo homem como algo que acontecerá no futuro, é um processo contínuo.

As temperaturas globais subiram cerca de 1,98°F (1,1°C) de 1901 a 2020, mas as mudanças climáticas referem-se a mais do que um aumento na temperatura. Também inclui o aumento do nível do mar, mudanças nos padrões climáticos, como secas e inundações, e muito mais.

Coisas das quais dependemos e valorizamos – água, energia, transporte, vida selvagem, agricultura, ecossistemas e saúde humana – estão sofrendo os efeitos de um clima em mudança.
Uma questão complexa

Os impactos das mudanças climáticas em diferentes setores da sociedade estão inter-relacionados. A seca pode prejudicar a produção de alimentos e a saúde humana. As inundações podem levar à propagação de doenças e danos aos ecossistemas e infraestrutura. Problemas de saúde humana podem aumentar a mortalidade, afetar a disponibilidade de alimentos e limitar a produtividade do trabalhador. Os impactos das mudanças climáticas são vistos em todos os aspectos do mundo em que vivemos. No entanto, os impactos das mudanças climáticas são desiguais em todo o país e no mundo – mesmo dentro de uma única comunidade, os impactos das mudanças climáticas podem diferir entre bairros ou indivíduos. Desigualdades socioeconômicas de longa data podem tornar os grupos carentes, que geralmente têm a maior exposição a riscos e menos recursos para responder, mais vulneráveis.

As projeções de um futuro impactado pelas mudanças climáticas não são inevitáveis. Muitos dos problemas e soluções são conhecidos por nós agora, e a pesquisa em andamento continua a fornecer novos. Especialistas acreditam que ainda há tempo para evitar os resultados mais negativos, limitando o aquecimento e reduzindo as emissões a zero o mais rápido possível. Reduzir nossas emissões de gases de efeito estufa exigirá investimentos em novas tecnologias e infraestrutura, o que estimulará o crescimento do emprego. Além disso, a redução das emissões diminuirá os impactos prejudiciais à saúde humana, salvando inúmeras vidas e bilhões de dólares em despesas relacionadas à saúde.

Nosso clima em mudança

Vemos as mudanças climáticas afetando nosso planeta de polo a polo. A NOAA monitora os dados climáticos globais e aqui estão algumas das mudanças registradas pela NOAA. Você pode explorar mais no Global Climate Dashboard.

• As temperaturas globais aumentaram cerca de 1,8°F (1°C) de 1901 a 2020.

• A elevação do nível do mar acelerou de 1,7 mm/ano durante a maior parte do século XX para 3,2 mm/ano desde 1993.

• As geleiras estão diminuindo: a espessura média de 30 geleiras bem estudadas diminuiu mais de 18 metros desde 1980.

• A área coberta por gelo marinho no Ártico no final do verão encolheu cerca de 40% desde 1979.

• A quantidade de dióxido de carbono na atmosfera aumentou 25% desde 1958 e cerca de 40% desde a Revolução Industrial.

• A neve está derretendo mais cedo em comparação com as médias de longo prazo.

Água

Mudanças nos recursos hídricos podem ter um grande impacto em nosso mundo e em nossas vidas.

As inundações são um problema crescente à medida que nosso clima está mudando. Em comparação com o início do século 20, há eventos de precipitação anormalmente fortes mais fortes e mais frequentes na maior parte dos Estados Unidos.

Por outro lado, a seca também está se tornando mais comum, principalmente no oeste dos Estados Unidos. Os seres humanos estão usando mais água, especialmente para a agricultura. Assim como suamos mais quando está quente, as temperaturas mais altas do ar fazem com que as plantas percam ou transpirem mais água, o que significa que os agricultores devem dar-lhes mais água. Ambos destacam a necessidade de mais água em locais onde os suprimentos estão diminuindo.

A neve é uma importante fonte de água doce para muitas pessoas. À medida que a neve derrete, a água doce fica disponível para uso, especialmente em regiões como o oeste dos Estados Unidos, onde não há muita precipitação nos meses mais quentes. Mas à medida que as temperaturas aumentam, há menos neve em geral e a neve começa a derreter no início do ano, o que significa que a neve pode não ser uma fonte confiável de água para todas as estações quentes e secas.

Comida

Nosso suprimento de alimentos depende do clima e das condições climáticas. Embora agricultores e pesquisadores possam adaptar algumas técnicas e tecnologias agrícolas ou desenvolver novas, algumas mudanças serão difíceis de gerenciar. O aumento das temperaturas, a seca e o estresse hídrico, as doenças e os extremos climáticos criam desafios para os agricultores e pecuaristas que colocam comida em nossas mesas.

Os trabalhadores agrícolas humanos podem sofrer de problemas de saúde relacionados ao calor, como exaustão, insolação e ataques cardíacos. O aumento das temperaturas e o estresse térmico também podem prejudicar o gado.

Saúde humana

A mudança climática já está impactando a saúde humana. Mudanças no clima e nos padrões climáticos podem colocar vidas em risco. O calor é um dos fenômenos climáticos mais mortais. À medida que as temperaturas dos oceanos aumentam, os furacões ficam mais fortes e úmidos, o que pode causar mortes diretas e indiretas. Condições secas levam a mais incêndios florestais, que trazem muitos riscos à saúde. Incidências mais altas de inundações podem levar à disseminação de doenças transmitidas pela água, lesões e riscos químicos. À medida que a distribuição geográfica de mosquitos e carrapatos se expande, eles podem levar doenças para novos locais.

Os grupos mais vulneráveis, incluindo crianças, idosos, pessoas com problemas de saúde preexistentes, trabalhadores ao ar livre, pessoas de cor e pessoas de baixa renda, correm um risco ainda maior por causa dos fatores agravantes das mudanças climáticas. Mas os grupos de saúde pública podem trabalhar com as comunidades locais para ajudar as pessoas a entender e construir resiliência aos impactos da mudança climática na saúde.

Exemplos de populações com maior risco de exposição a ameaças adversas à saúde relacionadas ao clima são mostrados juntamente com medidas de adaptação que podem ajudar a lidar com impactos desproporcionais. Ao considerar toda a gama de ameaças das mudanças climáticas, bem como outras exposições ambientais, esses grupos estão entre os mais expostos, mais sensíveis e têm menos recursos individuais e comunitários para se preparar e responder às ameaças à saúde. O texto branco indica os riscos enfrentados por essas comunidades, enquanto o texto escuro indica as ações que podem ser tomadas para reduzir esses riscos.

O ambiente

As alterações climáticas continuarão a ter um impacto significativo nos ecossistemas e organismos, embora não sejam igualmente impactados. O Ártico é um dos ecossistemas mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, pois está aquecendo pelo menos duas vezes a taxa da média global e o derretimento das camadas de gelo e geleiras contribuem dramaticamente externo aumento do nível do mar em todo o mundo.

Alguns seres vivos são capazes de responder às mudanças climáticas; algumas plantas estão florescendo mais cedo e algumas espécies podem expandir sua área geográfica. Mas essas mudanças estão acontecendo muito rápido para muitas outras plantas e animais, pois o aumento das temperaturas e a mudança dos padrões de precipitação estressam os ecossistemas. Algumas espécies invasoras ou incômodas, como peixes- leão e carrapatos, podem prosperar em ainda mais lugares por causa das mudanças climáticas.

Mudanças também estão ocorrendo no oceano. O oceano absorve cerca de 30% do dióxido de carbono que é liberado na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis. Como resultado, a água está se tornando mais ácida, afetando a vida marinha. O nível do mar está subindo devido à expansão térmica, além do derretimento das camadas de gelo e geleiras, colocando as áreas costeiras em maior risco de erosão e tempestades.

Os efeitos combinados das mudanças climáticas estão levando a muitas mudanças nos ecossistemas. Os recifes de coral são vulneráveis a muitos efeitos das mudanças climáticas: o aquecimento das águas pode levar ao branqueamento dos corais, furacões mais fortes podem destruir os recifes e o aumento do nível do mar pode fazer com que os corais sejam sufocados por sedimentos. Os ecossistemas de recifes de corais abrigam milhares de espécies, que dependem de recifes de corais saudáveis para sobreviver.

A infraestrutura

A infraestrutura física inclui pontes, estradas, portos, redes elétricas, internet de banda larga e outras partes de nossos sistemas de transporte e comunicação. Muitas vezes, é projetado para ser usado por anos ou décadas, e muitas comunidades têm infraestrutura que foi projetada sem o clima futuro em mente. Mas mesmo as infraestruturas mais novas podem ser vulneráveis às mudanças climáticas.

Eventos climáticos extremos que trazem chuvas fortes, inundações, vento, neve ou mudanças de temperatura podem sobrecarregar as estruturas e instalações existentes. O aumento das temperaturas exige mais resfriamento interno, o que pode sobrecarregar a rede de energia. Chuvas fortes repentinas podem levar a inundações que fecham rodovias e grandes áreas comerciais.

Quase 40% da população dos Estados Unidos vive em condados costeiros, o que significa que milhões de pessoas serão impactadas pelo aumento do nível do mar. A infraestrutura costeira, como estradas, pontes, abastecimento de água e muito mais, está em risco. O aumento do nível do mar também pode levar à erosão costeira e inundações na maré alta. Algumas comunidades são projetadas para possivelmente acabar no nível do mar ou abaixo do nível do mar até 2100 e enfrentarão decisões sobre retirada gerenciada e adaptação ao clima.

Muitas comunidades ainda não estão preparadas para enfrentar ameaças relacionadas ao clima. Mesmo dentro de uma comunidade, alguns grupos são mais vulneráveis a essas ameaças do que outros. No futuro, é importante que as comunidades invistam em infraestrutura resiliente que seja capaz de resistir a futuros riscos climáticos. Os pesquisadores estão estudando os impactos atuais e futuros das mudanças climáticas nas comunidades e podem oferecer recomendações sobre as melhores práticas. A educação para a resiliência é de vital importância para os planejadores de cidades, gerentes de emergência, educadores, comunicadores e todos os outros membros da comunidade se prepararem para as mudanças climáticas.

Impactos das mudanças climáticas para as pessoas. (ecodebate)

Soluções baseadas na natureza para as mudanças climáticas

Em meio às crises do clima e da biodiversidade, as soluções baseadas na natureza são cada vez mais vistas como importantes para reduzir os impactos das mudanças climáticas, bem como para proteger os ecossistemas e a biodiversidade.

O que exatamente são soluções baseadas na natureza e como elas estão fazendo a diferença? Pedimos a Garo Batmanian, Especialista Líder em Meio Ambiente do Banco Mundial, que explicasse.

O que são soluções baseadas na natureza?

As soluções baseadas na natureza são ações para proteger, gerenciar de forma sustentável ou restaurar ecossistemas naturais, que abordam desafios sociais como mudanças climáticas, saúde humana, segurança alimentar e hídrica e redução de risco de desastres de forma eficaz e adaptativa, proporcionando simultaneamente o bem-estar humano e a biodiversidade benefícios. Por exemplo, um problema comum são as inundações em áreas costeiras que ocorrem como resultado de tempestades e erosão costeira. Esse desafio, tradicionalmente enfrentado com infraestrutura artificial (cinza), como paredões ou diques, inundações costeiras, também pode ser enfrentado por ações que aproveitem os serviços ecossistêmicos, como o plantio de árvores.Plantar árvores que prosperam nas áreas costeiras – conhecidas como manguezais – reduz o impacto das tempestades nas vidas humanas e nos ativos econômicos e fornece um habitat para peixes, pássaros e outras plantas que sustentam a biodiversidade.

As soluções baseadas na natureza ajudam a combater as mudanças climáticas?

As estimativas sugerem que as soluções baseadas na natureza podem fornecer 37% da mitigação necessária até 2030 para atingir as metas do Acordo de Paris. Como isso pode ser feito? Se você plantar árvores, elas vão absorver carbono. Por exemplo, restaurar a mata nativa nas margens do rio para evitar deslizamentos de terra também pode atuar como sumidouro de carbono. A agricultura inteligente para o clima é outro exemplo que permite que os agricultores retenham mais carbono em seus campos à medida que produzem. Diminuir o desmatamento é outra maneira de se beneficiar de soluções baseadas na natureza – por exemplo, pagar aos agricultores para não derrubar a floresta preserva os serviços ecossistêmicos, como sequestro de carbono, fornecimento de água potável e redução da sedimentação do rio a jusante.

As soluções baseadas na natureza também desempenham um papel fundamental na adaptação às mudanças climáticas e na construção de resiliência em paisagens e comunidades. Várias soluções baseadas na natureza estão sendo usadas pelo Banco Mundial para ajudar a gerenciar o risco de desastres e reduzir a incidência e o impacto de inundações, deslizamentos de terra e outros desastres. Eles são uma maneira econômica de abordar as mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que abordam a biodiversidade e a degradação da terra. Você pode resolver vários problemas ao mesmo tempo.

Mas não é automático que tudo o que você planta se torne uma solução baseada na natureza que contribui para a biodiversidade – por exemplo, plantar árvores que não são da região e são tóxicas para os animais locais não geraria benefícios para a biodiversidade.

As estimativas sugerem que as soluções baseadas na natureza podem fornecer 37% da mitigação necessária até 2030 para atingir as metas do Acordo de Paris.

Onde estão os projetos do Banco Mundial incorporando soluções baseadas na natureza?

No EF20, o portfólio de soluções baseadas na natureza do Banco Mundial incluiu 70 projetos – muitos deles com foco na gestão de riscos hídricos e de desastres. Gostaríamos que mais projetos incluíssem soluções baseadas na natureza também em outras áreas temáticas. Para isso, estamos realizando treinamento para funcionários do Banco Mundial, com o objetivo de ampliar o apoio em nível de país. O Banco Mundial está empenhado em abordar as duas crises globais que se cruzam que o mundo está enfrentando: a crise climática e a crise da biodiversidade.

Deixem-me dar alguns exemplos: no Burundi, as florestas foram desmatadas e as colheitas foram cultivadas em encostas íngremes sem controlar a erosão. Como resultado, o país experimentou deslizamentos de terra e inundações mais frequentes, agravados pelas chuvas torrenciais e secas associadas às mudanças climáticas. Estamos apoiando um projeto que está construindo cerca de 8.000 hectares de terraços em encostas, usando vegetação em pontos críticos para controlar a erosão do solo, aumentar a umidade do solo e reduzir o escoamento. Os agricultores estão plantando árvores, gramíneas estabilizadoras do solo e culturas forrageiras para proteger o solo superficial e tornar a terra mais produtiva para a agricultura.

Em Colombo, Sri Lanka, estamos apoiando um projeto pioneiro no uso de zonas úmidas urbanas como uma solução baseada na natureza. As zonas húmidas reduzem o risco de inundação ao reter o excesso de água, mas a capacidade de retenção das zonas húmidas de Colombo caiu 40% ao longo de uma década. Ao mesmo tempo, as mudanças climáticas e o aumento do nível do mar aumentaram a vulnerabilidade da cidade às inundações. O projeto utilizou infraestrutura verde e cinza para restaurar e proteger o pantanal e manter sua integridade hidráulica. Isso reduziu o risco de inundação para mais de 200.000 moradores da cidade e proporcionou a toda a cidade uma melhor qualidade de vida. As áreas úmidas também sequestram carbono e regulam o clima local, o que tem ajudado a reduzir o uso de ar condicionado próximo às áreas úmidas. O projeto melhorou a qualidade da água e o tratamento de águas residuais, e o pântano de Beddagana da cidade foi transformado em um parque e santuário de vida selvagem.

No Lago Zhejiang Qiandao e na Bacia do Rio Xin’an, na China, estamos apoiando a gestão integrada da poluição e das bacias hidrográficas, para ajudar a aumentar o acesso a um melhor abastecimento de água. O lago é a principal fonte de água potável para muitas cidades ao longo da bacia hidrográfica, mas o rápido desenvolvimento, a produção agrícola e o crescimento do turismo aumentaram a poluição da água. O projeto está implementando soluções baseadas na natureza, como agricultura inteligente em termos climáticos, manejo florestal ambientalmente sustentável, restauração de áreas úmidas e florestas degradadas, como algumas das intervenções que buscam melhorar a qualidade da água no lago.

Todos os caminhos para alcançar o Acordo de Paris incluem proteção de florestas e conservação, restauração e uso sustentável de ecossistemas naturais. As soluções baseadas na natureza oferecem uma maneira de lidar com as crises climáticas e de biodiversidade de maneira sinérgica e econômica.
Como medimos os resultados de soluções baseadas na natureza?

Uma abordagem baseada em evidências para gerenciar e medir resultados de soluções baseadas na natureza é fundamental. Isso significa monitoramento e avaliação ao longo do ciclo de intervenção, com base na ciência e nos dados, bem como no conhecimento local e indígena. O que exatamente precisa ser medido? Isso depende dos desafios sociais que a solução baseada na natureza se propõe a enfrentar. Se o objetivo é mitigar as mudanças climáticas, as equações, os protocolos e os sistemas estão bem estabelecidos para medir os resultados – sendo o dióxido de carbono (CO2) a métrica básica utilizada. Uma tonelada de CO2 equivalente sequestrada em um projeto de restauração no Brasil tem o mesmo efeito na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera que uma tonelada de CO2 sequestrada em um projeto de reflorestamento na Rússia.

O que é fundamental é olhar além do clima e também medir (e monetizar – por exemplo, por meio de mercados ambientais) os outros benefícios que a solução baseada na natureza está oferecendo. Por exemplo, quando se trata de medir o impacto na biodiversidade, a tarefa é mais complicada e multidimensional. Os ecossistemas são sistemas altamente complexos e dinâmicos; e não há uma única métrica de alto nível ou uma meta global sobre biodiversidade equivalente a manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais no domínio climático. No entanto, os projetos têm uma série de indicadores disponíveis, como tendências nas populações de espécies (ameaçadas) e a prestação de serviços ecossistêmicos críticos – por exemplo, qualidade da água e previsibilidade em uma bacia hidrográfica que se beneficiou da restauração do reflorestamento.

Para o Banco Mundial, a perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos é uma questão de desenvolvimento e por isso a instituição investe na natureza há mais de três décadas. Atualmente, estamos trabalhando com outros bancos multilaterais de desenvolvimento para melhorar a forma como os benefícios da biodiversidade são avaliados nas carteiras de desenvolvimento e nos mercados financeiros mais amplos. As apostas são altas. Os riscos que as mudanças climáticas representam para o desenvolvimento global são significativos, assim como os riscos da biodiversidade global e da perda de ecossistemas. Todos os caminhos para alcançar o Acordo de Paris incluem proteção de florestas e conservação, restauração e uso sustentável de ecossistemas naturais. As soluções baseadas na natureza oferecem uma maneira de lidar com as crises climáticas e de biodiversidade de maneira sinérgica e econômica. (ecodebate)

Coisas que um cientista climático quer que os líderes mundiais saibam

Evidências das mudanças climáticas

Coisas que um cientista climático quer que os líderes mundiais saibam

Se a humanidade continuar em seu caminho atual, deixaremos um mundo mais quente e mortal para as crianças de hoje e todas as gerações futuras.

Líderes mundiais e especialistas em clima estão se reunindo para conversas cruciais sobre mudanças climáticas das Nações Unidas no Egito. Conhecida como COP27, a conferência terá como objetivo colocar a Terra no caminho para emissões líquidas zero e manter o aquecimento global bem abaixo de 2℃ neste século.

O mundo deve descarbonizar rapidamente para evitar os danos mais perigosos das mudanças climáticas. Os líderes mundiais sabem disso. Mas esse conhecimento deve se transformar urgentemente em compromissos e planos concretos.

Se a humanidade continuar em seu caminho atual, deixaremos um mundo mais quente e mortal para as crianças de hoje e todas as gerações futuras.

A Terra precisa desesperadamente da COP27 para ter sucesso. Sou um cientista climático e acredito que os líderes mundiais deveriam ter essas 3 coisas em mente antes da conferência.

1. Nosso planeta está inegavelmente em crise

Até agora, a Terra aqueceu pouco mais de 1℃ em relação aos níveis pré-industriais, o que significa que já danificamos o sistema climático. Nossas emissões de gases de efeito estufa já fizeram com que o nível do mar subisse, o gelo do mar encolhesse e o oceano se tornasse mais ácido.

Eventos extremos nos últimos anos – particularmente ondas de calor – têm as impressões digitais das mudanças climáticas em todos eles. O calor recorde no oeste da América do Norte em 2021 viu grandes incêndios florestais e sobrecarregando a infraestrutura. E no início deste ano, as temperaturas no Reino Unido atingiram 40℃ mortais pela primeira vez registrada.

O oceano também sofreu uma sucessão de ondas de calor marinhas que branquearam os recifes de coral e reduziram a diversidade de espécies que eles hospedam. As ondas de calor vão piorar enquanto continuarmos aquecendo o planeta.

Assustadoramente, corremos o risco de levar o clima a um novo regime perigoso, trazendo consequências ainda piores. Pesquisas de setembro descobriram que estamos à beira de passar por cinco grandes “pontos de inflexão” climáticos, como o colapso da camada de gelo da Groenlândia. Passar por esses pontos irá bloquear o planeta em danos contínuos ao clima, mesmo que todas as emissões de gases de efeito estufa cessem.

A saúde humana também está em jogo. Pesquisas realizadas no mês passado revelaram que a crise climática está prejudicando a saúde pública por meio, por exemplo, da maior disseminação de doenças infecciosas, poluição do ar e escassez de alimentos.

Entre suas descobertas preocupantes, as mortes relacionadas ao calor em bebês com menos de um ano e adultos com mais de 65 anos aumentaram 68% em 2017-2021, em comparação com 2000-2004.

As gerações futuras não podem se dar ao luxo de hesitar em ações para reduzir as emissões.

2. A redução de emissões é muito lenta

Alguns países, particularmente na Europa, estão conseguindo reduzir as emissões de gases de efeito estufa por meio da transição para energia renovável.

Mas globalmente isso não está acontecendo rápido o suficiente. Um relatório da ONU esta semana descobriu que se as nações cumprirem suas metas de ação climática para 2030, a Terra ainda aquecerá cerca de 2,5℃ neste século – superando a meta do Acordo de Paris de manter o aquecimento global bem abaixo de 2℃.

A elevação do nível do mar devido ao derretimento da calota de gelo da Groenlândia é agora considerada inevitável.

Esse aquecimento seria desastroso, especialmente nas partes mais pobres do mundo que pouco contribuíram para as emissões globais.

Por décadas, o mundo tem falado em reduzir as emissões de dióxido de carbono. Mas as emissões globais anuais aumentaram mais de 50% na minha vida, e desde a primeira COP em 1992. A ONU adverte que ainda não há “nenhum caminho crível” para limitar o aquecimento a 1,5℃.

Até chegarmos perto de emissões líquidas zero, a quantidade de CO2 em nossa atmosfera aumentará e o planeta aquecerá. Na nossa taxa atual, estamos aquecendo o planeta em cerca de 0,2℃ a cada década.

As emissões globais de dióxido de carbono permanecem próximas de recordes e quase quadruplicaram desde 1960.

3. A falta de progresso nas negociações climáticas globais deve terminar

Com tantos desafios que o mundo enfrenta, incluindo a invasão russa da Ucrânia e a crise do custo de vida, pode ser tentador ver as mudanças climáticas como um problema que pode esperar. Esta seria uma ideia terrível.

A mudança climática só vai piorar. Cada ano de atraso torna muito mais difícil impedir que as projeções climáticas mais perigosas se tornem realidade.

Somente esforços conjuntos de todas as nações evitarão a destruição de nossos ecossistemas mais sensíveis, como os recifes de coral. Devemos fazer tudo o que pudermos para impedir isso, abandonando os combustíveis fósseis. Qualquer novo desenvolvimento de combustível fóssil está apenas piorando o problema e custará muito mais à humanidade e ao meio ambiente no futuro.

E, no entanto, a Agência Internacional de Energia projetou na semana passada que a receita líquida dos produtores de petróleo e gás dobrará em 2022 “para US$ 4 trilhões sem precedentes”, um ganho inesperado de US$ 2 trilhões.

Não podemos, como a ativista climática Greta Thunberg disse, apenas ter mais “blá, blá, blá” dos líderes mundiais na COP27 – precisamos de ações concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

E agora?

A COP27 deve levar a uma rápida transição dos combustíveis fósseis, sem incluir novos desenvolvimentos de combustíveis fósseis, e mais apoio aos países que lidam com os maiores impactos das mudanças climáticas. Devemos estar em um caminho confiável para alcançar emissões líquidas globais zero nas próximas décadas.

A falta de progresso nas negociações climáticas globais anteriores significa que não estou otimista de que a COP27 alcançará o que é necessário. Mas espero que os líderes mundiais provem que estou errado e não decepcionem suas nações. (ecodebate)

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