domingo, 31 de outubro de 2021

50 mil brasileiros hospitalizados ao ano por exposição à poluição de incêndios florestais

Mais de 48 mil brasileiros são hospitalizados anualmente por exposição à poluição de incêndios florestais.
Queimada.

O maior e mais abrangente estudo até hoje sobre os efeitos dos incêndios florestais na saúde no Brasil revela as graves consequências dessas queimadas para a saúde, relacionando a exposição aos poluentes dos incêndios florestais ao aumento da hospitalização.

No ano passado, o número de incêndios florestais no Brasil aumentou 12,7% para o máximo de uma década. Agora, o maior e mais abrangente estudo até hoje sobre os efeitos dos incêndios florestais na saúde no Brasil revela as graves consequências dessas queimadas para a saúde, vinculando a exposição aos poluentes dos incêndios florestais ao aumento da hospitalização.

Este ano, 260 grandes incêndios foram detectados na Amazônia, queimando mais de 105.000 hectares (260.000 acres) – uma área aproximadamente do tamanho de Los Angeles, Califórnia.

Mais de 75% desses incêndios ocorreram na Amazônia brasileira, em áreas onde as árvores foram cortadas para dar lugar à agricultura, apesar da proibição de 27/06/21 de incêndios ao ar livre não autorizados pelo governo brasileiro.

O professor Yuming Guo e o Dr. Shanshan Li, da Escola de Saúde Pública e Preventiva da Monash University em Melbourne, Austrália, conduziram um estudo internacional sobre os efeitos desses incêndios na saúde. Resultados foram publicados em 09/09/21 no The Lancet Planetary Health.

O estudo constatou entre 01/01/2000 e 31/12/2015, um aumento de 10 ug/m3 nas partículas finas relacionadas ao incêndio florestal (PM 2,5) no ar foi associado a um aumento nas hospitalizações gerais de 0,53% diretamente relacionado à exposição a poluentes de incêndios florestais. Isso corresponde a 35 casos por 100.000 habitantes anualmente, o que significa mais de 48.000 brasileiros hospitalizados anualmente pela poluição por incêndios florestais, principalmente nas cidades das regiões Norte, Sul e Centro-Oeste. As regiões Nordeste do país apresentaram as taxas mais baixas.

O estudo constatou que as hospitalizações em geral foram “particularmente altas em crianças de 4 anos ou menos, em crianças de 5 a 9 anos e em pessoas com 80 anos ou mais”.

O estudo analisou mais de 143 milhões de hospitalizações de 1.814 municípios cobrindo quase 80% da população brasileira durante os 16 anos do estudo até o final de 2015, comparando esses dados aos níveis diários de PM 2,5 relacionados a incêndios florestais no ar em cada um dos esses municípios. Mesmo a exposição de curto prazo ao PM 2,5, as pequenas partículas dentro da fumaça do incêndio, pode desencadear asma, ataque cardíaco, derrame, diminuição da função pulmonar, hospitalização e morte prematura.

“Esses dados revelam impactos significativos de incêndios florestais na saúde, em um momento antes dos incêndios de 2019 em todo o Brasil chamarem a atenção global, seguido por um período de incêndios igualmente intenso no ano passado”, disse o professor Guo.

Tem havido um aumento de incêndios em todo o Brasil desde a década de 1990, em grande parte devido ao desmatamento e degradação florestal de atividades humanas, como mineração, extração de madeira e agricultura. Embora as atividades de fogo geralmente ocorram durante a estação seca, de agosto a novembro, a duração da estação seca está aumentando, de acordo com estudos anteriores.

Enquanto a maioria dos incêndios florestais ocorre em áreas remotas do Brasil, “a fumaça tóxica desses incêndios florestais na região amazônica pode subir de 2.000 a 2.500 km na atmosfera e viajar grandes distâncias, ameaçando pessoas a milhares de quilômetros de distância”, disse o professor Guo.

Número de internações hospitalares associadas a PM 2 · 5 relacionado a incêndios florestais em 1.814 municípios brasileiros por região, sexo e idade, 2000–15. (ecodebate)

Estudo global de poluição por incêndios florestais revela aumento na taxa de mortalidade

O primeiro estudo sobre o impacto global da poluição e mortes relacionadas a incêndios florestais relaciona de forma abrangente a exposição de curto prazo a partículas finas relacionadas a incêndios florestais

O primeiro estudo sobre o impacto global da poluição e mortes relacionadas a incêndios florestais relaciona de forma abrangente a exposição de curto prazo a partículas finas relacionadas a incêndios florestais (PM 2,5) no ar e mortalidade por todas as causas, respiratória e cardiovascular em cidades e regiões ao redor do globo.

O estudo marcante, publicado hoje no The Lancet Planetary Health, analisou dados de mais de 65,6 milhões de mortes, por todas as causas, em 749 cidades em 43 países e regiões de 01/01/2000 a 31/12/2016, referência cruzada para concentrações diárias de concentrações de PM 2,5 de incêndio florestal.

A pesquisa de uma equipe internacional, liderada pelo professor Yuming Guo e pelo Dr. Shanshan Li, da Escola de Saúde Pública e Medicina Preventiva da Monash University em Melbourne, Austrália, descobriu que mais de 33.500 mortes ocorreram a cada ano diretamente atribuíveis à poluição por incêndios florestais, em todo o ano 749 cidades em estudo.

De acordo com os dados, os países com mais mortes relacionadas à fumaça de incêndios florestais incluem o Japão, com mais de 7.000 mortes anuais em 47 cidades, México, mais de 3.000 em 10 cidades, China, mais de 1.200 em 15 cidades, África do Sul, mais de 5.200 em 52 cidades, Tailândia, quase 5300 em 62 cidades, e os EUA, com quase 3200 mortes anuais em 210 cidades relacionadas com o incêndio florestal PM 2.5.

Nos últimos anos, tem havido devastação generalizada de incêndios florestais – desde os 45 milhões de hectares queimados durante a temporada de incêndios de 2019-2020 da Austrália, os mais de 1,2 milhões de hectares queimados na Califórnia desde o início de 2019, até a quantidade recorde de dióxido de carbono liberado de mais de 190 incêndios florestais em toda a Sibéria, que agora representam mais do que o resto dos incêndios florestais do mundo juntos.

De acordo com o professor Guo, os incêndios florestais podem ter impactos diretos na saúde, como lesões e consequências para a saúde mental. “No entanto, a poluição da fumaça dos incêndios florestais pode se espalhar até 1000 quilômetros de distância e o risco de incêndios florestais é projetado para aumentar à medida que as mudanças climáticas pioram”, disse ele.

Um dos poluentes da fumaça dos incêndios florestais mais preocupantes são as partículas finas, PM 2,5, pois as partículas dessa faixa de tamanho entram nos pulmões, através dos alvéolos nas paredes pulmonares e na circulação. O Wildfire PM 2. é mais tóxico do que o de incêndios urbanos devido à sua composição química, menor tamanho de partícula e altas temperaturas associadas, afirmam os autores no artigo.

Os dados de mortalidade foram obtidos do Estudo Colaborativo Multi-City Multi-Country (MCC) e as estimativas para as concentrações diárias de PM 2,5 foram modeladas por aprendizado de máquina, saídas do modelo de transporte químico, medições de monitores de solo de PM 2,5 e dados meteorológicos.

Os autores concluem que: “os formuladores de políticas e profissionais de saúde pública devem aumentar a conscientização sobre a poluição por incêndios florestais para orientar as respostas imediatas do público e tomar medidas para reduzir a exposição. Políticas e práticas eficazes de manejo florestal devem ser implementadas para manejar a vegetação e mitigar as mudanças climáticas, tanto quanto possível”. (ecodebate)

Mudanças climáticas impactam cada vez mais nossas vidas

Recentemente foi divulgado novo relatório pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima/IPCC informando que a mudança do clima já está acontecendo e de forma mais rápida e intensa do que se imaginava, como resultado da ação humana (antrópica).

O IPCC também lançou um Atlas Interativo em que se pode visualizar a projeção do clima futuro com relação às temperaturas e à precipitação, a partir dos cenários de aquecimento de aumento da temperatura média global em 1,5°C, 2°C e 4°C.

O relatório indica que as ondas de calor e ciclones tropicais das categorias três a cinco (os mais intensos) estão se tornando mais frequentes, e adverte a ocorrência de eventos extremos associados, como a sobreposição de ondas de calor e de seca ou de chuvas intensas que podem resultar em desastres.

Para exemplificar, a temperatura do oceano tem aumentado constantemente desde 1970 e o aumento do nível do mar foi de cerca de 20 cm no período entre 1901 e 2018. Por ano, o aumento médio foi de 1,3 mm entre 1901 e 2018, 1,9 mm entre 1971 e 2006, e 3,7 mm entre 2006 e 2018.

Muito se discute internacionalmente: Protocolo de Kyoto, Acordo de Paris e agora a preparação para a COP-26.

O fato é que os países não conseguem cumprir as metas acordadas. Nesse sentido, observamos algumas posições internacionais contrárias, inclusive, como a da China, que tem priorizado a sua retomada econômica em detrimento da preservação ambiental, com a utilização do carvão mineral como sua principal fonte energética.

De fato, se as previsões se concretizarem, teremos o colapso de alguns ecossistemas com a consequente extinção de espécies e mudança em todo o equilíbrio planetário; o aumento do nível e aquecimento de oceanos; seca e calor extremo em algumas regiões como temos percebido recentemente, provocando o aumento da fome e disseminação de doenças, inclusive com maiores chances de novas epidemias.

No Brasil, considerando um aumento da temperatura maior do que o limite estabelecido pelo Acordo de Paris, poderemos ter a redução de área agricultável e de pastagens com impacto direto no preço que nós, consumidores, pagamos pelos alimentos. Isso ocorrerá para a carne, milho, soja, algodão, arroz, feijão, açúcar e etanol. A carne bovina, por exemplo, pode ficar até 25% mais cara.

Entre 2002 e 20126, eventos climáticos extremos causaram uma perda econômica média de 0,68% no PIB (R$ 278 bilhões no período). Até 2050, se o aquecimento global superar 1,4 °C, o PIB pode diminuir até 2,3% a cada ano, totalizando R$ 3,6 trilhões até lá. Além da questão da perda do PIB, cidades como Rio de janeiro e Santos seriam um risco para vários empreendimentos industriais e de atividades químicas.

O Brasil se tornaria um lugar ainda mais propício para disseminação do Aedes aegypti – mosquito vetor de doenças como dengue, chikungunya e zika. Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo passariam a ter ambientes favoráveis para a proliferação de um dos mosquitos transmissores da leishmaniose.

Sob o ponto de vista jurídico, as consequências dessa alteração no clima e dos resultados desse relatório poderão trazer reflexos práticos imediatos nas demandas ambientais e climáticas. Um princípio que hoje já é muito utilizado (e combatido) no direito ambiental é a aplicação da precaução e da prevenção pelos juízes.

Esse princípio certamente será fortalecido, principalmente em virtude das evidências científicas trazidas, em especial, os riscos iminentes de catástrofes e de desastres nos próximos anos.

Além disso, esses resultados podem tornar tangível a verificação do nexo de causalidade jurídica nas demandas, deixando mais claras as relações de causa (emissões) e efeitos (danos) nos eventos climáticos extremos, justificando demandas como perda de produtividade, descumprimento de contrato, etc., por questões relacionadas ao clima, por exemplo.

Ainda, reforça a discussão já existente de um direito fundamental e humano ao clima estável, defendido pelo jurista Ingo Wolfgang Sarlet e até mesmo a questão dos refugiados do clima diante de temas como aumento do nível dos oceanos e desastres ocasionados por eventos extremos. Outras discussões que devemos ver com maior frequência é sobre a cobertura de seguros diante desses eventos.

Embora os dados do relatório do IPCC demonstrem que as consequências pelo aumento da temperatura serão muito maiores e mais sérios do que imaginamos, o tema não deve se resumir a discussão entre diplomatas, políticos e cientistas. Na verdade, ele deve servir como um norte nos processos de tomada de decisão.

Assim, o envolvimento de toda a sociedade é imprescindível, além da adoção de uma política nacional ambientalmente adequada e que proporcione a redução necessária para o controle dos GEE, com mecanismos de incentivo econômico e fiscais, inclusive.

Além disso, práticas de ESG e compliance devem incorporar as questões de GEE e aquecimento global. (ecodebate)

Infraestrutura verde e a sustentabilidade hídrica

Infraestrutura verde: um caminho para a sustentabilidade hídrica.
Infraestrutura verde é um instrumento que permite obter benefícios ecológicos, econômicos e sociais através de soluções baseadas na natureza, podendo assegurar múltiplas funções e benefícios num mesmo espaço.

Na gestão dos recursos hídricos, por exemplo, as florestas são capazes de filtrar sedimentos, nutrientes e resíduos sólidos, impedindo que cheguem aos cursos d’água. A incorporação da infraestrutura natural — ou infraestrutura verde — nos planos de gestão hídrica pode potencializar a eficiência, o desempenho e a resiliência das estruturas convencionais, reabilitando a paisagem a ofertar água de melhor qualidade às próprias estações de tratamento. Um estudo realizado pela WRI Brasil em parceria com a TNC e a Fundação O Boticário, concluiu que o estado do Rio de Janeiro pode economizar R$ 156 milhões em 30 anos no tratamento de água, se investir em infraestrutura verde, realizando a restauração de três mil hectares de áreas com alto potencial de erosão.

Sabendo dos benefícios dessa ferramenta o Comitê Guandu é pioneiro na implementação de projetos que são fundamentados na infraestrutura verde, buscando serviços hidrológicos e impactos ambientais e sociais. Para fomentar essa iniciativa o Comitê conta hoje com o Grupo de Trabalho de Infraestrutura Verde (GTIV). Segundo o Engenheiro Agrônomo Hendrik Mansur (TNC), Coordenador do Grupo, o objetivo do GTIV é contribuir para elaboração e implantação de soluções baseadas na natureza, visando restaurar o ambiente rural das bacias e assim contribuir para a melhoria da qualidade e quantidade de água, bem como preservar a biodiversidade.

Um programa do Comitê Guandu-RJ, baseado em soluções na natureza, que é exemplo e alvo de estudos dentro e fora do país, é o Produtores de Água e Floresta (PAF). O PAF é desenvolvido há 10 anos pelo Colegiado, com coordenação técnica da AGEVAP e parceria com prefeituras municipais e instituições como a TNC. Atualmente com execução da ONG Crescente Fértil e do Consórcio Técnico Água e Solo/ABG, o programa já resultou, em uma década, na conservação e restauração de mais de 5 mil hectares de mata atlântica, além de beneficiar produtores locais com retribuições financeiras, através do pagamento por serviços ambientais (PSA), ou seja, gerando benefícios ambientais, econômicos e sociais.

O PAF já beneficiou mais de cem produtores que contribuiram de forma direta para os seus resultados.“Além do benefício social, o projeto incentiva os produtores na adoção de boas práticas em suas propriedades, o que, aliado às atividades de conservação e restauração florestal desenvolvidas, contribuem para melhoria da qualidade e garantia da disponibilidade dos recursos hídricos. As florestas desempenham um papel fundamental no ciclo hidrológico. Durante o processo de fotossíntese, a vegetação retira água do solo através de suas raízes e a libera para atmosfera na forma de vapor. Esse processo, denominado evapotranspiração, é responsável por mais da metade do aporte de umidade atmosférica derivada da terra.

Soluções baseadas na natureza podem tornar infraestruturas urbanas mais verdes e resilientes.

Estudos recentes mostram que 65% da precipitação que ocorre na superfície terrestre são oriundas da evapotranspiração ocorrida no próprio ambiente terrestre, destacando a importância das florestas para o ciclo hidrológico global. Adicionalmente, a presença de cobertura florestal aumenta o aporte de matéria orgânica no solo, o que, aliado a outros fatores, aumenta sua taxar de infiltração, contribuindo para o abastecimento de nossos mananciais. São inúmeros os benefícios hidrológicos promovidos pelas florestas, explicou Gabriela Teixeira, Engenheira Florestal e Especialista em Recursos Hídricos da AGEVAP, delegatária do Comitê Guandu-RJ.

Hoje, os Produtores de Água e Floresta é desenvolvido nos municípios de Rio Claro, Mendes, Engenheiro Paulo de Frontin e Vassouras, conservando e restaurando os biomas de nascentes e sub bacias contribuintes à bacia do Guandu, que abastece cerca de 9 milhões de pessoas na Baixada Fluminense.

Outra iniciativa do GTIV é a elaboração dos Planos Municipais de Mata Atlântica (PMMA) para os municípios da bacia. Trata-se de um instrumento de gestão territorial, no qual são indicadas as estratégias prioritárias tanto para Conservação como para Recuperação da Mata Atlântica local. O PMMA é um instrumento legal de planejamento importante para o município, que contribuirá para elaboração/aperfeiçoamento de políticas publicas para a área rural do município. Em um processo participativo o PMMA deve conter, pelo menos:

• Diagnóstico da vegetação nativa;

• Indicação dos principais vetores de desmatamento;

• Áreas prioritárias para conservação e recuperação da vegetação nativa;

• Indicação de ações preventivas ao desmatamento e de conservação;

• Utilização sustentável da Mata Atlântica no município.

“Os PMMA serão elaborados por uma empresa contratada pelo Comitê Guandu, através da AGEVAP”. Por meio de um acordo de cooperação, os municípios participarão de todas as etapas da elaboração do plano, o que permitirá integração de Políticas Públicas de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos. Com base nas informações dos PMMA será elaborado o Plano Diretor Florestal da Região Hidrográfica do Guandu, com base nas informações levantadas nos municípios’, explicou Hendrick Mansur (TNC).

Com as recomendações de distanciamento social da OMS, e os decretos do Estado do Rio de Janeiro, em enfrentamento a pandemia do COVID-19, o grupos seguem seus trabalhos de forma remota, para que o avanços nos projetos baseados em infraestrutura verde continuem, e é claro, seus benefícios ambientais e sociais.

(ecodebate)

Limitar extração de combustível fóssil e manter aquecimento global abaixo de 1,5°C

Limitar a extração de combustível fóssil para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.
Quase 60% do petróleo e do gás metano fóssil e quase 90% do carvão devem permanecer no solo até 2050 para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, constata um estudo de pesquisadores da UCL.

A produção global de petróleo e gás deve cair 3% ao ano até 2050 para atingir essa meta. Muitos projetos de extração de combustível fóssil, tanto planejados quanto operacionais, não são conducentes ao cumprimento dos limites da meta acordados internacionalmente sobre o aquecimento global, conforme estabelecido pelo Acordo do Clima de Paris em 2015. Um número significativo de regiões, portanto, já atingiu o pico de produção de combustível fóssil, e qualquer aumento na produção de uma região deve ser compensado por um maior declínio da produção em outro lugar.

As descobertas, publicadas na Nature, são baseadas em uma probabilidade de 50% de limitar o aquecimento a 1,5°C neste século, o que significa que aumentar a probabilidade de atingir essa meta exigiria um declínio ainda mais rápido na produção e mais combustíveis fósseis deixados no solo.

Os pesquisadores usaram um modelo de sistema de energia global para avaliar a quantidade de combustíveis fósseis que precisariam ser deixados não extraídos regional e globalmente.

As reservas não extraídas necessárias são estimadas como o percentual da base de reserva de 2018. Isso precisa ser 58% para o petróleo, 59% para o gás metano fóssil e 89% para o carvão até 2050.

O autor principal Dan Welsby (UCL Institute for Sustainable Resources) disse: “Em 2015, 196 partes assinaram o Acordo do Clima de Paris, com o objetivo de manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C, com 1,5°C a meta desejada. Desde então, o Relatório Especial do IPCC em 1,5°C, sucessivos Relatórios de Gap de Produção e o Relatório de Zero Líquido da IEA indicaram, sem dúvida, que cortes dramáticos na produção de combustível fóssil são necessários imediatamente para avançar para as emissões líquidas zero, e que os atuais e indicados as trajetórias de produção de combustíveis fósseis estão nos levando na direção errada.

“Nosso novo trabalho acrescenta peso à pesquisa recente, indicando que a produção global de petróleo e gás metano fóssil já atingiu o pico. De uma perspectiva regional, nossos resultados sugerem risco de transição significativo para grandes produtores de combustíveis fósseis. A produção de petróleo no Oriente Médio, por exemplo, cai quase pela metade entre 2020 e 2050, sugerindo que a diversificação das economias longe da dependência das receitas de hidrocarbonetos é absolutamente crítica”.

O trabalho se baseia em pesquisas anteriores em 2015, que descobriram que, para limitar o aquecimento a 2°C, um terço das reservas de petróleo, quase metade das reservas de gás metano fóssil (49%) e mais de 80% das reservas de carvão devem permanecer no chão.

Os pesquisadores usaram o Modelo de Avaliação Integrado TIMES na UCL (TIAM-UCL). O modelo captura fontes de energia primária – petróleo, gás metano fóssil, carvão, nuclear, biomassa e renováveis – desde a produção até a conversão (por exemplo, produção de eletricidade, hidrogênio e biocombustível ou refino de petróleo) e distribuição para atender a um conjunto de demandas em cada extremidade - setor de uso.

Os países do mundo são representados em 16 regiões, o que permite uma caracterização detalhada dos setores regionais de energia. O modelo avaliou diferentes cenários, incluindo menores demandas nos principais setores intensivos em carbono (aviação e produtos químicos) e incerteza em torno da disponibilidade e implantação de captura, utilização e armazenamento de carbono chave (CCUS) e tecnologias de emissões negativas (NETs).

Em termos de distribuição regional das reservas não extraíveis de combustíveis fósseis, os pesquisadores descobriram que o Oriente Médio deve deixar cerca de 60% das reservas de petróleo e gás no solo, o que, devido ao grande tamanho de sua base de reservas, também resulta em enormes volumes absolutos. Além disso, as regiões com altas concentrações de custo relativamente alto e depósitos intensivos em carbono de petróleo dentro da base de reserva mostram altas proporções de reservas não extraíveis, incluindo as areias betuminosas no Canadá (83%) e petróleo ultra pesado na América Central e do Sul (73%) As diferenças regionais na proporção de combustíveis fósseis que devem permanecer não extraídos se devem a uma combinação de fatores, incluindo custos de extração, a intensidade de carbono da produção e os custos de tecnologias alternativas aos combustíveis fósseis.

O Sr. Welsby continuou: “Ressaltamos que nossas estimativas de reservas não extraíveis e taxas de declínio de produção são provavelmente subestimadas, dado que usamos um orçamento de carbono consistente com apenas 50% de chance de atingir 1,5°C e a enorme incerteza em torno da implantação de tecnologias de emissão negativa. Supondo que haja vontade política para cumprir os compromissos assumidos em Paris, as reduções de combustíveis fósseis sugeridas em nosso trabalho são totalmente viáveis”.

A pesquisa foi apoiada pela European Climate Foundation (ECF) e pelo UK Energy Research Centre (UKERC). Os autores também agradecem o apoio de Damian Carrington, Editor de Meio Ambiente do The Guardian por seu papel inicial em ajudar a moldar a pesquisa e o financiamento. (ecodebate)

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Oceano Ártico no verão provavelmente estará livre de gelo antes de 2050

Emergência Climática: Oceano Ártico no verão provavelmente estará livre de gelo antes de 2050.
Ártico está morrendo e tem o menor nível de gelo em outubro/20

A eficácia das medidas de proteção climática determinará com que frequência e por quanto tempo. Estes são os resultados de uma nova pesquisa envolvendo 21 institutos de pesquisa de todo o mundo, coordenados por Dirk Notz, da Universidade de Hamburgo, Alemanha.

A equipe de pesquisa analisou resultados recentes de 40 modelos climáticos diferentes. Usando esses modelos, os pesquisadores consideraram a evolução futura da cobertura de gelo marinho do Ártico em um cenário com altas emissões futuras de CO2 e pouca proteção climática.

Como esperado, o gelo do mar Ártico desapareceu rapidamente no verão nessas simulações. No entanto, o novo estudo constata que o gelo marinho do verão no Ártico também desaparece ocasionalmente se as emissões de CO2 forem reduzidas rapidamente.

“Se reduzirmos as emissões globais rápida e substancialmente e, assim, mantivermos o aquecimento global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, o gelo do Ártico provavelmente desaparecerá ocasionalmente no verão antes de 2050. Isso realmente nos surpreendeu”, disse Dirk Notz, que lidera o grupo de pesquisa sobre gelo marinho na Universidade de Hamburgo, Alemanha.

Gelo no Ártico desaparecerá completamente até 2050, dizem cientistas.

Atualmente, o Polo Norte é coberto pelo gelo marinho durante todo o ano. A cada verão, a área da cobertura de gelo marinho diminui, no inverno cresce novamente. Em resposta ao aquecimento global em curso, a área geral do Oceano Ártico coberta por gelo marinho foi rapidamente reduzida nas últimas décadas. Isso afeta substancialmente o ecossistema e o clima do Ártico: a cobertura de gelo marinho é um local de caça e habitat para ursos polares e focas, e mantém o Ártico fresco, refletindo a luz do sol.

A frequência com que o Ártico perderá sua cobertura de gelo marinho no futuro depende criticamente das futuras emissões de CO2, mostra o estudo. Se as emissões são reduzidas rapidamente, os anos sem gelo ocorrem apenas ocasionalmente. Com emissões mais altas, o Oceano Ártico se tornará livre de gelo na maioria dos anos. Portanto, os humanos ainda têm um impacto na frequência com que o Ártico perde sua cobertura de gelo marinho durante o ano todo.

Aquecimento global já atinge até as regiões mais frias do planeta.

Detalhes técnicos: As simulações usadas neste estudo são baseadas nos chamados cenários de SSP (caminhos socioeconômicos compartilhados), que também serão usados no próximo relatório do IPCC. Os cenários SSP1-1.9 e SSP1-2.6 são usados para simular uma rápida redução das emissões futuras de CO2, enquanto o cenário SSP5-8.5 é usado para simular emissões futuras de CO2 praticamente inalteradas. O estudo é baseado em simulações da geração mais recente de modelos climáticos, coletados na Fase 6 do projeto de intercomparação de modelos acoplados (CMIP6). (ecodebate)

Aquecimento do clima está fazendo com que os animais ‘mudem de forma’

Troca de calor de (a) Geospiza fortis e (b) Geospiza fuliginosa. A temperatura do ar (Ta) e a temperatura medida na superfície do bico, da perna e da asa são mostradas. Barra de escala de 15°C (preto) a 40°C (branco). Reproduzido, com permissão, de Tattersall G.J. et al. Thermoregulatory windows in Darwin’s finches. Funct. Ecol. 2018; 32: 358-368.

A mudança climática não é apenas um problema humano; os animais também precisam se adaptar a ela.

Alguns animais de “sangue quente” estão mudando de forma e ganhando bicos, pernas e orelhas maiores para regular melhor a temperatura do corpo conforme o planeta fica mais quente.

A pesquisadora Sara Ryding, da Deakin University, na Austrália, descreve essas mudanças numa revisão publicada em 07/09/21 na revista Trends in Ecology and Evolution.

“Muitas vezes, quando as mudanças climáticas são discutidas na mídia tradicional, as pessoas se perguntam ‘os humanos podem superar isso’, Ou ‘que tecnologia pode resolver isso’. É hora de reconhecer que os animais também precisam se adaptar a essas mudanças, mas isso está ocorrendo em uma escala de tempo muito mais curta do que teria ocorrido na maior parte do tempo evolutivo”, diz Ryding. “A mudança climática que criamos está acumulando muita pressão sobre eles e, embora algumas espécies se adaptem, outras não”.

Ryding observa que a mudança climática é um fenômeno complexo e multifacetado que vem ocorrendo progressivamente, então é difícil apontar apenas uma das causas da mudança de forma. Mas essas mudanças têm ocorrido em amplas regiões geográficas e entre uma ampla gama de espécies, portanto, há pouco em comum além das mudanças climáticas.

Além das mudanças físicas dos animais, o aquecimento global confunde relógio biológico de seres vivos, sejam eles, plantas e animais.

Mudanças de forma fortes têm sido relatadas principalmente em pássaros. Várias espécies de papagaios australianos mostraram, em média, um aumento de 4% a 10% no tamanho do bico desde 1871, e isso está positivamente correlacionado com a temperatura do verão a cada ano. Os juncos de olhos escuros norte-americanos, um tipo de pequeno pássaro canoro, tinham uma ligação entre o aumento do tamanho do bico e os extremos de temperatura de curto prazo em ambientes frios. Também foram relatadas mudanças em espécies de mamíferos. Os pesquisadores relataram aumentos no comprimento da cauda em ratos de madeira e aumentos no tamanho da cauda e das pernas em musaranhos mascarados.

“Os aumentos no tamanho do apêndice que vimos até agora são muito pequenos – menos de 10% – portanto, é improvável que as mudanças sejam imediatamente perceptíveis”, diz Ryding. “No entanto, prevê-se que apêndices proeminentes, como orelhas, aumentem, então podemos acabar com um Dumbo de ação em um futuro não muito distante.”

Em seguida, Ryding pretende investigar a mudança de forma em pássaros australianos em primeira mão, digitalizando em 3D espécimes de pássaros de museu nos últimos 100 anos. Isso dará a sua equipe uma melhor compreensão de quais pássaros estão mudando o tamanho do apêndice devido às mudanças climáticas e por quê.

As corujas-do-mato da Finlândia são cada vez mais ruivas, em vez de cinza claro, o que pode ser resultado de um clima mais quente.

A mudança climática tornará os animais mais escuros – ou mais claros?

“A mudança de forma não significa que os animais estão lidando com as mudanças climáticas e que tudo está ‘bem’, diz Ryding. Significa apenas que eles estão evoluindo para sobreviver – mas não temos certeza de quais são as outras consequências ecológicas dessas mudanças, ou mesmo se todas as espécies são capazes de mudar e sobreviver”. (ecodebate)

Perda de superfície de água no Brasil não é culpa da ausência de chuva

As crises ambientais, hídrica e econômica que já passamos e estamos passando, demonstram a necessidade urgente deste novo modelo de desenvolvimento

Por que estamos perdendo a superfície de água no Brasil?

Não se pode colocar culpa na ausência de chuva pela perda de superfície de água no Brasil, o desmatamento na Amazônia e nos outros biomas tem efeitos claros sobre esta situação, escreve Angelo José Rodrigues Lima, doutor em Geografia em Análise Ambiental e Dinâmica Territorial pela Unicamp, em artigo publicado por A Terra é Redonda, 03/09/2021.
Seca em reservatório Sabesp.

“Meu amor, olha só, hoje o sol não apareceu, é o fim da aventura humana na Terra” - Banda Rádio Táxi, Eva.

Estamos em agosto de 2021 e o país está repleto de notícias sobre crise hídrica, crise energética, aumento da fome e miséria, 15 milhões de trabalhadores (as) desempregados (as), aumento do desmatamento em todos os biomas brasileiros (Amazônica, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e Pampa) e aumento das queimadas nos Biomas Amazônico e Pantanal.

Mas o que estão questões tem em comum?

Basicamente são comuns por dois motivos: grande parte desta situação tem relação com o atual modelo de desenvolvimento e a forma ainda inadequada de realizar a gestão ambiental e das águas; com pouco investimento na governança (=estrutura administrativa) dos estados e municípios, ausência ou pouco planejamento, pouco fortalecimento da participação social e sem a integração com outras políticas públicas, já que ações oriundas de outras áreas (planejamento, obras etc.) podem impactar sobre o ambiente e as águas conforme já acontece.

O que está acontecendo com a Terra e com o Brasil?

Conforme Relatório de 2019 do Institute for Public Policy Research (IPPR), de Londres, “os impactos humanos negativos no meio ambiente vão além das mudanças climáticas para abranger a maioria dos outros sistemas naturais, conduzindo um processo complexo e dinâmico de desestabilização ambiental que atingiu níveis críticos. Esta desestabilização está ocorrendo em velocidades sem precedentes na história humana e em consequência disso entramos na idade do colapso ambiental”.

Este relatório demonstra que “os sistemas naturais globais estão sofrendo desestabilização em uma escala sem precedentes, como por exemplo; os 20 anos mais quentes desde o início dos registros, em 1850, foram nos últimos 22 anos, sendo os últimos quatro anos os mais quentes já registrados; a população de vertebrados caiu em média 60% desde a década de 1970 e mais de 75% da terra da Terra está substancialmente degradada”.

E o relatório do IPCC de agosto deste ano, comprova esta situação, onde são apresentados os seguintes dados:

• É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, os oceanos e a superfície terrestre. Mudanças rápidas e disseminadas ocorreram. Do aquecimento de 1,09°C observado atualmente (2011-2020) em comparação com o período pré-industrial (1850- 1900), 1,07°C provavelmente deriva de ações humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento. Cada uma das quatro últimas décadas foi mais quente que todas as anteriores desde 1850. Entre 2011-2020, o aquecimento da temperatura sobre os continentes é de 1,59°C em média, contra 0,88°C sobre o oceano.

• A influência humana provavelmente contribuiu para o aumento da umidade na atmosfera. A precipitação provavelmente aumentou desde os anos 1950, e mais aceleradamente a partir dos anos 1980.

• As concentrações de CO2 (gás carbônico), CH4 (metano) e N2O (óxido nitroso), os três principais gases de efeito estufa em mistura na atmosfera, são as maiores em 800 mil anos, e as concentrações atuais de CO2 não são vistas desde 2 milhões de anos atrás pelo menos.

• A temperatura global subiu mais rápido desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos nos últimos dois milênios. As temperaturas desde 2011 excedem as do último período quente longo, 6.500 anos atrás, e se igualam às do período quente anterior, 125 mil anos atrás, quando o manto de gelo da Groenlândia desapareceu quase totalmente.

Segundo o relatório do MapBiomas Água lançado neste mês de agosto:

► O Brasil está perdendo superfície coberta com água desde os anos 90. A perda foi de 15,7%, caindo de quase 20 milhões de hectares para 16,6 milhões de hectares em 2020.

►A perda de 3,1 milhões de hectares em 30 anos equivale a uma vez e meia a superfície de água de toda região nordeste em 2020. Todos os Biomas tiveram redução da superfície de água.

► O Brasil está dividido em 12 regiões hidrográficas, destas, 9 regiões hidrográficas perderam superfície de água entre 1990 e 2020, sendo que boa parte destas regiões hidrográficas são exatamente onde estão o maior contingente populacional do país e é importante dizer que mesmo a Região Hidrográfica Amazônica diminuiu cerca de 12% de sua massa de água.

► 54 das 76 sub-bacias hidrográficas perderam superfície de água nas últimas 3 décadas e 23 Estados tiveram redução de superfície de água entre 1990 e 2020. Nos estados do Mato Grosso e Roraima a redução alcançou 50% e o Mato Grosso do Sul foi o Estado com a maior perda absoluta (e relativa) de superfície de água em uma série histórica de 36 anos, passando de 1.371.069 de hectares de superfície de água em 1985, para 589.378 hectares em 2020.

Mas porque estamos perdendo a superfície de água no Brasil?

Um dos aspectos que explicam a perda de superfície de água são o manejo e uso do solo inadequado na área urbana e rural, o modelo atual de produção agrícola, a forma e a concentração de ocupação na área urbana e o desmatamento.

Não se pode colocar culpa na ausência de chuva pela perda de superfície de água no Brasil, o desmatamento na Amazônia e nos outros biomas tem efeitos claros sobre esta situação.

Em relação ao desmatamento, os mapas e dados atualizados do MapBiomas mostram que o Brasil perdeu 87,2 milhões de hectares de áreas de vegetação nativa entre 1985 e 2019. Isso equivale a 10,25% do território nacional.

Os desmatamentos aumentaram a partir de 2018 em todos os biomas: Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e no Pampa.

O mapa Biomas lançou um recente relatório demonstrando que perdemos 24 árvores por segundo em 2020.

É bom lembrar que a Floresta Amazônica é responsável pelas chuvas que chegam na região Centro Oeste, Sudeste e Sul, por meio dos rios voadores.

Análises da equipe do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostram que a quantidade anual de chuva caiu à metade ao longo dos últimos 20 anos em regiões de Rondônia, norte de Mato Grosso e sul do Pará, onde a agropecuária ocupou até 60% de áreas antes florestadas, com prejuízo anual estimado em R$ 5,7 bilhões.

Sobre a forma de ocupação na área urbana, é bom lembrar que a forma é padrão no Brasil, cidades como Belo Horizonte e São Paulo, outras poderiam ser citadas, tiveram seus rios urbanos canalizados em cerca de 80% e praticamente 90% da área urbana destas cidades estão asfaltadas. Com isso, a água da chuva nos centros urbanos não infiltra, causando enchentes com frequência.

O aumento do desmatamento em todos os biomas do Brasil provoca a diminuição das chuvas e ao mesmo tempo, mesmo quando chove, por conta da ausência da cobertura vegetal, a água da chuva não infiltra no solo. Isso impede a regularidade na quantidade de água durante o período seco.

O que significa perder superfície de água? Significa que estamos perdendo a quantidade de água armazenada nos rios que são capazes de garantir os usos múltiplos das águas, em especial do abastecimento humano.

Portanto, estamos colocando em risco: o abastecimento de água para a população, os negócios e o desenvolvimento.

O Brasil ainda apresenta dados negativos em relação ao direito humano do acesso a água limpa e segura e ao saneamento:

► Segundo dados oficiais, temos 35 (trinta e cinco) milhões de brasileiros (as) sem acesso a água limpa e segura e 95 (noventa e cinco) milhões de brasileiros (as) sem acesso ao saneamento e é sempre importante lembrar que boa parte dos leitos hospitalares no Brasil, estão ocupados por pessoas com doenças que tem origem na má qualidade da água e da ausência de saneamento.

► Estudos recentes comprovam que moradores de locais sem saneamento básico ganham salários menores do que a população com acesso a água, coleta e tratamento de esgoto, por isso, também estão mais vulneráveis a doenças comuns em áreas em que essa infraestrutura inexiste ou é precária – e o efeito disso é uma elevação nas despesas com saúde pública, que na realidade são despesas com doenças, não de fato com saúde.

► Em 2017, em todo o Brasil, 872 cidades tiveram reconhecimento federal de situação de emergência causada por um longo período de estiagem. A região mais afetada foi a do Nordeste e o estado da Paraíba, que concentrou o maior número de municípios, com 198 que comunicaram o problema à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec).

E a questão da desigualdade social?

A desigualdade social tem tanto relação com o modelo de desenvolvimento atual, quanto com os impactos sobre o ambiente, sendo que neste caso são os mais ricos que causam maior impacto sobre o ambiente.

Riqueza da humanidade adulta (cerca de 4,7 bilhões de pessoas) é de US$ 240,8 trilhões (2013). Mais de (68,7%) dos indivíduos adultos situados na base da pirâmide da riqueza, possuem 3% (US$ 7,3 trilhões) da riqueza global, com ativos máximo de US$ 10 mil.

No topo da pirâmide, apenas 0,7% de adultos, possui 41% da riqueza mundial (98,7% trilhões de dólares). Somados os dois estratos superiores da pirâmide – 393 milhões de indivíduos ou 8,4% da população adulta – detêm 83,3% da riqueza mundial.

Para satisfazer a avidez de 393 milhões de indivíduos – os 8,4% da população mundial adulta detentora de 83,3% da riqueza mundial, move-se a economia do planeta, máquina produtora de crises ambientais, a começar pelas mudanças climáticas: “os 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo produzem metade das emissões de CO2, enquanto os 3 bilhões mais pobres emitem apenas 7%”.

Portanto, precisamos vencer a desigualdade social de maneira que não isto não signifique produzir mais emissões e neste caso demonstra ainda mais fortemente a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento, que combine o fim da desigualdade social com o fim das emissões de CO2.

Mas temos saída diante destes fatos e dados apresentados? Qual é a saída? Ou como dizia a banda Rádio Táxi nos anos 80, com a música “Eva”: Será que temos de abandonar a aventura humana na Terra?

A primeira resposta é que não devemos abandonar a aventura humana na Terra. Existem muitos movimentos acontecendo demonstrando que somos capazes e existem oportunidades para que possamos encontrar saídas para as crises.

Uma delas e talvez a principal seja a urgente necessidade da discussão e construção de um novo modelo de desenvolvimento, pois um país profundamente desigual e que não cuida de suas águas e do ambiente não será sustentável.

Por isso, este novo modelo precisa integrar o social, o ambiental e a economia, deixando claro que nós seres humanos fazemos parte da natureza e não que estamos à parte da natureza.

As crises ambientais, hídrica e econômica que já passamos e estamos passando, demonstram a necessidade urgente deste novo modelo de desenvolvimento, onde as questões ambientais e sociais sejam o carro chefe do desenvolvimento e dizendo que de forma a economia deve funcionar.

O desenvolvimento para ser pleno tem que ser baseado na integração do social com o ambiental. Os setores que são a favor de um novo modelo de desenvolvimento precisam incorporar a questão ambiental na discussão sobre desenvolvimento, afinal, são os mais vulneráveis economicamente que mais sofrem com ausência de água e de saneamento.

Porém, enquanto discutimos e construímos um novo modelo de desenvolvimento, é urgente e necessário que no curto prazo, a população cobre e fortaleça a gestão ambiental e das águas sob pena de termos cada vez mais conflitos pelo uso da água e aumentarmos os riscos para garantir segurança hídrica.

Por isso é preciso cobrar dos governos federais, estaduais e municipais, a ampliação e manutenção da governança ambiental e cobrar do Congresso para que ele mantenha a legislação ambiental brasileira e não a modifique baseada somente com o viés econômico e ganancioso.

É fundamental ouvir a ciência para a tomada de decisão sobre qualquer mudança na legislação e para a tomada de decisão na elaboração de políticas públicas.

Por último, é importante afirmar de que é possível tanto resolver os desafios sociais e ambientais, mas se enxergamos ambas as lutas como apenas uma. (ecodebate)

Mudança climática afeta reprodução dos ipês

Mudanças no clima já afetam a reprodução dos ipês.
Nos últimos anos temos observado o adiantamento do início do florescimento dos ipês em até dois meses.

O espetáculo de cores proporcionado pelas flores nos últimos dias tem chamado a atenção de todos, especialmente o florescimento dos ipês, que tem sido um show à parte. O florescimento das cerejeiras é um evento simbólico no Japão, e os ipês estão contribuindo para esse sentimento em nosso País, no sentido de valorizar a natureza bela e efêmera da vida.

Participam também as azaleias, alamandas, bougainvilleas, ipês-de-jardim, hibiscos, quaresmeiras, manacás-da-serra, calistemos, helicônias, bicos-de-papagaio, patas-de-vaca, sapucaias, ixoras, cosmos amarelos, coroas-de-cristo, flamboyant-mirins, mussaendas, lírios e outras mais.

As condições climáticas disparam o relógio biológico das plantas, indicando o início da fase reprodutiva com a emissão das flores. Espécies que não apresentam dormência das sementes tendem a florescer nesta época do ano, de forma a coincidir com a dispersão dos frutos no início da estação chuvosa, contribuindo para a germinação e o crescimento inicial das plantas.

Espécies que apresentam sementes dormentes, como as palmeiras, muitas leguminosas e plantas, cujas sementes apresentam tegumentos duros ou impermeáveis, tendem a efetuar a dispersão durante a estiagem. As altas temperaturas do solo, processos abrasivos e a incidência de queimadas participam da quebra da dormência dessas espécies. Então é possível observar plantas com flores ao lado de outras em plena dispersão dos frutos.

A beleza dos ipês

As mudanças no clima têm afetado a reprodução dos ipês. O aumento da temperatura induz ao florescimento mais cedo, e nos últimos anos temos observado o adiantamento do início do florescimento em até dois meses em relação à normalidade. O ipê roxo normalmente é o primeiro a florescer, seguido dos ipês amarelo e rosa, e por último o ipê branco.

As sementes dos ipês perdem rapidamente o poder germinativo, e o florescimento precoce afeta drasticamente as chances de reprodução da espécie porque as sementes morrem antes do início da estação chuvosa. Sendo espécies caducifólias, que perdem as folhas durante o período de estiagem, as plantas tendem a dispersar os frutos e emitir nova folhagem, que virá a ser novamente descartada em função da insuficiência hídrica e da consequente emissão de novas flores. Desse modo, têm ocorrido florescimentos coincidentes com a presença de folhas nas árvores, o que reduz a beleza cênica e causa enorme estresse nas plantas.

Situação análoga pode ser observada no jacarandá-mimoso, que apresenta floração esplendorosa nas avenidas de Buenos Aires e passa quase despercebida no Brasil. Neste ano foi diferente, e as baixas temperaturas combinadas com a forte estiagem contribuíram para um florescimento único em árvores totalmente desprovidas das folhas, e na época certa para coincidir a dispersão das sementes com a chegada das chuvas.

O destaque das árvores no meio da vegetação natural mostra claramente que, apesar de todas as adversidades climáticas reinantes, os ipês mantêm altíssima população de plantas saudáveis no meio ambiente, pois, afinal de contas, o nome ipê em tupi-guarani significa “árvore de casca grossa”. Além do ipê amarelo, temos também nessa época do ano o florescimento do ipê do cerrado que é caracterizado por menor porte, tronco mais escuro, tortuoso, casca ainda mais grossa e flores em tons de amarelo gema.

Dentro de mais alguns dias, teremos a florada do ipê branco, a mais efêmera dentre todos eles. Essa é a espécie de ipê com menor número de indivíduos na natureza. É preciso ficar atento e ter muita sorte para encontrar um ipê branco em pleno florescimento. A observação da natureza traz muitos ensinamentos e contribui para superar muitas adversidades, além de preparar o espírito para a chegada da primavera. (ecodebate)

Novo Relatório IPCC e os impactos das mudanças climáticas no setor elétrico brasileiro

O que é o IPCC?

Em meio a uma das maiores crises hídricas do Brasil e aos extremos de temperatura que vem ocorrendo ao redor do mundo, o sexto relatório (AR6 – Assessment Report) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi liberado no início do mês de Agosto de 2021. O IPCC é uma organização internacional criada em 1988 pela WMO (World Meteorological Organization) e pela UNEP (United Nations Environment Programme) com o principal objetivo de auxiliar os governos mundiais na tomada de decisão com informações científicas sobre o Clima e as mudanças climáticas.

Atualmente, o IPCC tem milhares de membros espalhados por 195 países, contribuindo de forma voluntária e sem viés político para o desenvolvimento do relatório. Vale ressaltar que o IPCC não conduz nenhuma pesquisa por conta própria, nem tampouco faz medidas ou roda modelos. O papel da organização é analisar e avaliar artigos científicos publicados que são relevantes para o melhor entendimento das mudanças climáticas que vem ocorrendo e seus consequentes impactos. A análise do IPCC é muito criteriosa, sendo classificada em níveis de confiança das evidências e concordância da literatura, ou seja, para cada apontamento do IPCC há determinada confiabilidade relacionada ao mesmo. O IPCC utiliza diferentes termos para os níveis, podendo ter baixa, média ou alta confiança, ou em casos onde pode-se quantificar a incerteza, utiliza-se termos como por exemplo: “virtualmente certo” (99-100%), “muito provável” (90-100%), ou ainda, “improvável” (0-33%), entre outros termos utilizados no relatório.

De maneira geral, o IPCC é dividido em três grupos: o primeiro grupo é focado em descrever a física relacionada às mudanças climáticas, o segundo grupo tem como objetivo avaliar os impactos e as vulnerabilidades associadas às mudanças climáticas, o terceiro grupo trata sobre a mitigação das mudanças climáticas e avalia métodos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Além dos três grupos, há também uma força tarefa do IPCC que tem como objetivo estabelecer maneiras de calcular e reportar as emissões de gases do efeito estufa.  O AR6 lançado no início deste mês é apenas do grupo um, onde trata dos aspectos físicos das mudanças climáticas, enquanto os demais grupos deverão lançar seus relatórios nos próximos anos.

A Climatempo Energia vem por meio deste especial mensal esclarecer as dúvidas em relação ao IPCC e contextualizar os apontamentos do relatório juntamente com os respectivos impactos no setor elétrico nacional.

Impactos das ações humanas

Um dos grandes questionamentos em relação ao aquecimento global era em que proporção as atividades antropogênicas (efeito da humanidade) e os efeitos naturais (atividade solar e vulcânica) eram responsáveis pelo aquecimento global que vem sendo observado e sinalizado pelos relatórios anteriores do IPCC. Neste contexto, o principal efeito da humanidade é dado pela emissão de gases do efeito estufa, como por exemplo, o dióxido de carbono e o gás metano. Utilizando de novas tecnologias, novos métodos e novas evidências, o recente relatório do IPCC deixou evidente que não é possível que somente efeitos naturais provoquem o aquecimento médio de aproximadamente 1.6 ºC que foi observado entre 2011-2020 sobre os continentes (utilizando como referência os anos de 1850-1900). A Figura 1a) mostra que nos últimos 2000 anos nunca houve um aquecimento da magnitude que vem ocorrendo nos últimos 170 anos. Além disso, observa-se pela Figura 1b que somente efeitos naturais, como aquecimento solar e atividades vulcânicas, não seriam capazes de explicar o aquecimento observado nos últimos 100 anos.

Figura 1: a) Variação decadal da temperatura média da superfície do globo nos últimos 2000 anos junto com as observações de 1850-2020 (linha preta sólida) e b) Variação anual da temperatura média da superfície do globo nos últimos 170 anos (utilizando de referência os anos de 1850-1900).

Outra constatação do IPCC está associada às alterações causadas por atividade humana, no qual  as ondas de calor ou eventos com temperaturas quentes (frias) extremas estão se tornando mais (menos) frequentes e mais (menos) intensos sobre os continentes desde os anos 1950. Além disso, de maneira geral, foi constatado que eventos de precipitação intensa também estão se tornando mais frequentes desde 1950. No entanto, vale ressaltar que seria necessário uma maior disponibilidade de dados e estudos que analisem o impacto no padrão de precipitação de forma mais confiável sobre a América do Sul. Em contrapartida, o IPCC também aponta para períodos de secas mais frequentes, sugerindo que apesar de haver um aumento de episódios de precipitação intensa, esta pode ser mais localizada e de curta duração. No caso das secas para a América do Sul, a única região onde houve consenso de aumento da frequência de eventos foi o Nordeste Brasileiro.

Impactos das Mudanças Climáticas no Setor Elétrico Nacional

Não é novidade que o setor elétrico brasileiro é impactado pelo sistema climático, visto que a matriz elétrica nacional em sua maior parte é renovável, dependente de hidrelétricas, principalmente, seguida pela matriz eólica que vem crescendo cada vez mais. Atualmente, em 2021, o Sistema Interligado Nacional (SIN) tem capacidade total instalada em operação cerca de 61,5% de energia hidráulica, 10,5% de eólica, 1,9% de solar e 25% de termelétricas (ANEEL, 2021). Em suma, o Brasil possui cerca de 75% de toda sua matriz energética como fontes sustentáveis. Entretanto, a energia térmica ainda é muito utilizada no Brasil para suprir a demanda energética do país quando os outros setores não são suficientes, realidade que vivemos no atual cenário. Indiretamente, a energia térmica está relacionada com o clima, pois se os reservatórios estão com volumes comprometidos pela escassez de chuva, as usinas térmicas são acionadas e o preço da energia elétrica aumenta, impactando diretamente no consumidor. E com a maior atividade das termelétricas, mais gases do efeito estufa são emitidos para a atmosfera, o que compromete os esforços para direcionarmos o Brasil, e o planeta, para uma trajetória mais sustentável.

Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), haverá uma expansão muito significativa nos próximos anos dos empreendimentos relacionados a usinas eólicas (36,4% em construção e 21,5% em construção não iniciada) e solares (19,3% em construção e 63,9% em construção não iniciada) no Brasil. Isso mostra que cada vez mais o setor energético brasileiro se torna  sustentável, e por isso, mais dependente dos recursos naturais que são influenciados diretamente pelo clima agora e no futuro.

O efeito mais direto e compreendido (altíssima confiança) das mudanças climáticas para o setor elétrico é o aumento da temperatura.

Uma atmosfera mais quente promove um aumento da demanda energética, que por sua vez, aumenta a necessidade de mais carga de energia, o que, dependendo do cenário energético nacional, pode gerar racionamentos como medidas mais extremas para proteger o sistema elétrico. Juntamente a esse efeito, o novo relatório do IPCC trás evidências observadas de aumentos dos extremos de calor (ex: ondas de calor) que podem comprometer o sistema elétrico, como discutido anteriormente.

Além disso, destaca-se o papel fundamental do ciclo hidrológico na geração de energia elétrica nacional, mas que está sendo alterado ao longo do tempo em diversas regiões do Brasil. Com maior confiança, o AR6 mostra que as Regiões Nordeste, Centro-Oeste e leste do Norte são as que mais apresentam aumentos das frequências de eventos de secas severas, o que é preocupante para o setor hidráulico. Além disso, a umidade disponível no solo, fator fundamental para uma eficiente manutenção e elevação do volume de água das bacias hidrográficas, está diminuindo, corroborando ainda mais com um cenário pessimista para o setor hidráulico nas regiões afetadas. Porém, o setor eólico acaba sendo favorecido pela menor ausência de chuvas no Nordeste, pois de forma geral, um tempo mais seco e estável promove ventos mais constantes. Ademais, no Sul do Brasil já se observa uma elevação das chuvas intensas, principalmente ligado aos eventos de forte intensidade e curta duração. Isso pode ser positivo para o setor hidráulico no geral, mas negativo para a segurança da população residente na região.

Com todos esses efeitos combinados, a geração de energia solar pode ser favorecida no território brasileiro como um todo. No Nordeste e na região central do Brasil, onde em média as taxas de incidência de radiação solar na superfície são altas e os períodos secos estão ficando mais prolongados, ou seja, menor cobertura de nuvens por mais tempo, são regiões propícias a aumentos significativos da geração solar.

A geração de energia solar não está só presente no ambiente industrial, como também, em residências (ex: casas e prédios) para consumo individual. Isso é fundamental para que os consumidores finais consigam obter um certo tipo de “independência” energética do SIN. Isso é interessante tanto para o indivíduo quanto para o próprio sistema, pois mesmo que menor que seja a contribuição energética, ajuda na segurança do SIN.

Figura 2 – Panorama das mudanças observadas de extremos de calor, frio e chuva, e suas potenciais contribuições humanas para diversas sub-regiões na América do Sul delimitadas pelo IPCC. O Brasil pertence às regiões NSA, SAM, NES e SES.

Possíveis Trajetórias Futuras das Mudanças Climáticas

O panorama que vivemos atualmente de um mundo onde os extremos se tornam mais recorrentes e mais fortes é o mesmo cenário projetado para nosso sistema climático que o novo relatório do IPCC afirma com confiabilidade de ocorrer no futuro. Dependendo do caminho que a humanidade trilhar, as consequências podem ser mais ou menos severas, o que afeta diretamente o ecossistema terrestre.

O IPCC discute que existe a possibilidade de evitarmos algum tipo de catástrofe no futuro, mas somente se todas as nações abraçarem a causa em prol de um planeta mais sustentável. É inegável a importância do desenvolvimento e evolução da humanidade, mas o principal conceito por trás é de um desenvolvimento inteligente, em conjunto com a natureza, sem destruí-la. Uma das grandes mensagens do relatório e de diversos pesquisadores da área é de que os seres humanos pertencem ao Sistema Terrestre, não há justificativa plausível para que haja destruição de sua própria “casa”.

Diante de um conjunto de cinco cenários futuros que o IPCC traz à tona, os chamados Shared Socioeconomic Pathaways (SSPs), somente dois representam um planeta mais sustentável (SSP1-1.9 e SSP1-2.6, ver Figura 3) sem ultrapassar o nível de aquecimento global de 2°C até o fim do século 21. Entretanto, segundo os modelos climáticos globais, será inevitável alcançar o limite de 1,5°C de aquecimento global acima do período pré-industrial, estabelecido pelo Acordo de Paris em 2015. E com isso, diversos impactos, como mais eventos extremos (ondas de calor, chuvas intensas, secas severas, entre outros) devem ser esperados nas próximas décadas em decorrência de um planeta mais energético.

Figura 3 – Mudanças da temperatura global de superfície relativas ao período pré-industrial (1850-1900) para cinco cenários futuros, ordenados de forma que o SSP1-1.9 é o cenário mais “otimista”, ou seja, mais sustentável, e o SSP5-8.5 é o mais “pessimista”.

Como mostrado nas Figuras 4-6, as projeções climáticas de curto (2021-2040), médio (2041-2060) e longo (2081-2100) prazos diferem em relação ao tipo de cenário determinado (SSP1-2.6, SSP3-7.0 e SSP5-8.5) para as três variáveis em questão, temperatura média em superfície (Figura 4), precipitação (Figura 5) e vento em superfície (Figura 6). De forma geral, observa-se que conforme o período é mais distante (curto ao longo prazo), as mudanças climáticas de todas as variáveis tendem a ser mais intensas. Além disso, ao comparar os diferentes cenários futuros, o SSP5-8.5, considerado como mais pessimista do ponto de vista sustentável, é o que apresenta maiores magnitudes das mudanças climáticas.

No Brasil, as temperaturas podem alcançar valores próximos de 5 °C de aquecimento em relação ao período climatológico de 1995-2014. O regime de chuvas é mais incerto dentre as variáveis analisadas, visto que os modelos climáticos globais não apontam para um mesmo sinal nas mesmas regiões (áreas hachuradas). Entretanto, a mensagem clara é de que o ciclo hidrológico fica mais intenso, ou seja, onde normalmente as chuvas são fortes, ficam mais fortes ainda, e onde a seca predomina, ficará mais seco. As Regiões no Brasil onde o sinal tem maior confiança pelos modelos é no Norte e no Sul, com sinais de secamento e fortalecimento das chuvas, respectivamente. Em relação aos ventos, no geral, o Brasil tenderá a ter um cenário mais otimista para o setor eólico, pois há uma forte indicação de intensificação dos ventos em superfície praticamente em todo o território brasileiro.

Figura 4 – Projeções da temperatura média em superfície para três cenários futuros (SSP1-2.6, coluna da esquerda; SSP3-7.0, coluna do meio; SSP5-8.5, coluna da direita) e três períodos de tempo, representando o curto prazo (2021-2040, linha superior), médio prazo (2041-2060, linha central) e longo prazo (2081-2100, linha inferior). Para este cálculo, utiliza-se o ensemble de 32 modelos climáticos globais.

Figura 5 – Projeções da precipitação para três cenários futuros (SSP1-2.6, coluna da esquerda; SSP3-7.0, coluna do meio; SSP5-8.5, coluna da direita) e três períodos de tempo, representando o curto prazo (2021-2040, linha superior), médio prazo (2041-2060, linha central) e longo prazo (2081-2100, linha inferior). Para este cálculo, utiliza-se o ensemble de 31 modelos climáticos globais.

Figura 6 – Projeções do vento em superfície para três cenários futuros (SSP1-2.6, coluna da esquerda; SSP3-7.0, coluna do meio; SSP5-8.5, coluna da direita) e três períodos de tempo, representando o curto prazo (2021-2040, linha superior), médio prazo (2041-2060, linha central) e longo prazo (2081-2100, linha inferior). Para este cálculo, utiliza-se o ensemble de 29 modelos climáticos globais. (ecodebate)

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