sexta-feira, 31 de julho de 2020

Cidades mais envelhecidas do Brasil não são as mais atingidas pela covid

As cidades mais envelhecidas do Brasil não são as mais atingidas pela covid-19.
A pandemia do novo coronavírus causa mais vítimas fatais entre a população idosa. Na China 80% dos óbitos foram pessoas de 60 anos e mais, no Brasil são 73%. Alguém poderia imaginar que os municípios mais envelhecidos (com maior proporção de idosos na população) seriam os mais atingidos. Mas não é bem assim que tem ocorrido, como veremos a seguir.
O envelhecimento populacional ocorre em função da transformação da estrutura etária que acontece em função do aumento da proporção de idosos no conjunto da população e a consequente diminuição da proporção de jovens. Populações envelhecidas é uma novidade na história do mundo e do Brasil. No passado, a estrutura etária era rejuvenescida em todos os lugares, pois a esperança de vida era baixa e os casais tinham que gerar grande número de filhos para se contrapor ao elevado número de óbitos precoces.
Porém, a partir do momento em que as taxas de mortalidade e natalidade declinaram, teve início um processo de mudança da estrutura etária, com redução imediata da base da pirâmide e um alargamento, no longo prazo, do topo da distribuição de sexo e idade. Desta forma, o envelhecimento é o resultado, esperado e inexorável, da transição demográfica.
Uma maneira de medir o envelhecimento populacional é por meio do Índice de Envelhecimento (IE), que é a razão entre o número de pessoas idosas sobre os jovens (crianças e adolescentes). Trata-se de uma razão entre os componentes extremos da pirâmide etária. O IE pode ser medido pelo número de pessoas de 60 anos e mais para cada 100 pessoas menores de 15 anos de idade, segundo a seguinte fórmula:
Uma população é considerada idosa quando o topo da pirâmide é maior do que a sua base, ou seja, quando o Índice de Envelhecimento (IE) é igual ou superior a 100. Como já dito, o envelhecimento populacional é um fenômeno novo na história da humanidade. O primeiro país do mundo a ter a quantidade de idosos (60 anos e mais) maior do que a quantidade de jovens com menos de 15 anos foi a Suécia, em 1975. O número de países idosos passou para 3 em 1980 e chegou a 52 países em 2015.
O Brasil ainda é considerado um país jovem, mas em processo acelerado de envelhecimento. No ano 2010, segundo as projeções do IBGE (revisão 2018), havia 48,1 milhões de jovens de 0 a 14 anos e 20,9 milhões de idosos com 60 anos e mais. O Índice de Envelhecimento (IE) era de 43,4 idosos para cada 100 jovens, conforme mostra o gráfico abaixo. Em 2018, o número de jovens caiu para 44,5 milhões e o de idosos subiu para 28 milhões, ficando o IE em 63 idosos para cada 100 jovens.
O Brasil vai se tornar um país idoso em 2031, quando haverá 42,3 milhões de jovens (0-14 anos) e 43,3 milhões de idosos (60 anos e mais). Nesta data, pela primeira vez, o IE será maior do que 100, ou seja, haverá 102,3 idosos para cada 100 jovens (veja a coluna vermelha no gráfico). Mas o envelhecimento populacional continuará sua marcha inexorável ao longo do século XXI. No ano de 2055, as projeções do IBGE indicam o montante de 34,8 milhões de jovens (0-14 anos) e de 70,3 milhões de idosos (60 anos e mais). O IE será de 202 idosos para cada 100 jovens. Ou seja, haverá mais do dobro de idosos do que jovens.
O gráfico acima não deixa dúvidas quanto à diminuição da população jovem (0 a 14 anos) e do aumento da população idosa (60 anos e mais) ao longo do século XXI. Durante mais de 500 anos, o Brasil foi um país com uma estrutura etária jovem, mas a partir de 2029 será um país com uma estrutura etária idosa. E não haverá mais volta. O futuro do Brasil é ser um país “grisalho”.
Mas este processo de envelhecimento do país não acontece de forma uniforme, pois existem municípios que já estão mais avançados na transformação da estrutura etária e outros que ainda possuem uma estrutura muito rejuvenescida. Em geral, os municípios que foram pioneiros na transição da fecundidade também são pioneiros no envelhecimento. Mas a estrutura etária também é afetada pela migração, assim há municípios envelhecidos em função da perda de jovens e/ou do ganho de idosos.
A tabela abaixo, com base na estimativa populacional municipal de 2015, do IBGE, mostra os 10 municípios com a estrutura etária mais envelhecida (maior IE) do país. Nota-se que os 10 municípios recordistas do envelhecimento estão todos no Rio Grande do Sul (RS) e são municípios com menos de 5 mil habitantes. O município de Coqueiro Baixo com apenas 1.563 habitantes tinha, em 2015, 660 idosos (de 60 anos e mais) e apenas 94 jovens (de 0 a 14 anos). Ou seja, tinha 7 vezes mais idosos do que jovens e o IE era de 702,1 idosos para cada 100 jovens. Forquetinha era o segundo município mais idoso (com IE de 480,2) e Cotiporã o décimo município mais idoso do país (com IE de 233). O Rio grande do Sul é um dos estados brasileiros pioneiros na transição da fecundidade. Mas o alto envelhecimento populacional destes 10 municípios pequenos, provavelmente, foi reforçado pela perda de população jovem que procura os grandes centros em busca de oportunidades de estudo e/ou trabalho.
Segundo o Ministério da Saúde, até 24 de junho de 2020, Coqueiro Baixo, Rolador e Capão Bonito do Sul não registraram nenhum caso da covid-19. Forquetinha registrou 1 caso, Cruzaltense 7 casos, Canudos do Vale 4 casos, Santa Cecília do Sul 14 casos, Coronel Pilar 1 caso, Cotiporã 7 casos e nenhuma morte entre estes municípios. Santa Teresa teve 12 casos e 1 morte.
A tabela abaixo, também com base nas estimativas do IBGE, para 2015, mostra os 10 municípios mais populosos com a estrutura etária mais envelhecida (IE acima de 100) do país. Niterói, no Rio de Janeiro, com quase meio milhão de habitantes, tinha 96,8 mil idosos (60 anos e mais) para 80 mil jovens (0 a 14 anos), com um IE de 120,9 idosos para cada 100 jovens. Santos, em São Paulo, com população de 433,9 mil habitantes, tinha 93,4 mil idosos e 73,3 mil jovens, com IE de 127,4. São Caetano do Sul, em São Paulo, a cidade com maior IDH do país, tinha 33,7 mil idosos e 25 mil jovens, em 2015, com IE de 134,6. Em décimo lugar, Socorro, em São Paulo, com 39,5 mil habitantes, tinha 7,5 mil idosos e 7,1 mil jovens, com IE de 105,1.
Niterói é, entre as grandes cidades do país (mais de 40 mil habitantes) a mais envelhecida. Mas como mostra a tabela abaixo não foi a mais atingida pela pandemia. O coeficiente de incidência de Niterói é de 10,7 mil casos por milhão (acima da média da cidade do Rio de Janeiro), mas o coeficiente de mortalidade foi de 349 óbitos por milhão (bem abaixo da capital fluminense que tem uma estrutura etária menos envelhecida).
Para efeito de comparação, a tabela abaixo mostra os 10 municípios com a estrutura etária mais rejuvenescida (menor IE) do país. Nestes 10 municípios, o número de idosos não chega nem a 10% dos jovens. Por exemplo, Ipixuna, no Amazonas, com uma população total de 26,8 mil habitantes, tinha 11,5 mil jovens de 0 a 14 anos e somente 1,1 mil idosos (com 60 anos e mais) e um IE de 9,4 idosos para cada 100 jovens. O município de Jordão, no Acre, com população total de7,5 mil habitantes, tinha 3,6 mil jovens e somente 175 idosos, com IE de apenas 4,8. Em geral, estes municípios muito rejuvenescidos tem forte presença indígena.
Até o dia 23/06, Ipixuna teve 3 pessoas infectadas pelo novo coronavírus, Porto de Moz teve 392 casos e 22 mortes e Oiapoque teve 1.196 casos e 10 mortes. O contraste com os municípios mais envelhecidos é muito grande, pois há mais mortes nos municípios mais rejuvenescidos.
A tabela abaixo mostra os 10 maiores municípios brasileiros com IE abaixo de 20 idosos para cada 100 jovens. Macapá, capital do Amapá, com população de 456 mil habitantes em 2015, tinha 141,6 mil jovens e apenas 24,7 mil idosos, com IE de 17,5 idosos para cada 100 jovens. Parauapebas, no Pará, com 189 mil habitantes tinha IE de 10,8 e o município de Santana, no Amapá, com 112,2 mil habitantes, tinha IE de 18. Estes 10 municípios são de tamanho médio e possuem uma estrutura etária muito rejuvenescida.
Dos 5.570 municípios brasileiros em 2015, 531 cidades possuem Índice de Envelhecimento (IE) acima de 100, sendo, portanto, municípios envelhecidos. Em 2643 municípios o IE estava entre 100 e 50 idosos para cada cem jovens. Em 2162 municípios o IE estava entre 50 e 20 idosos para cada cem jovens. E em 234 municípios o IE estava abaixo de 20 idosos para cada cem jovens. Observa-se, portanto, que menos de 10% dos municípios brasileiros em 2015 estavam classificados como cidades onde a população tem uma estrutura etária envelhecida. Porém, como visto no primeiro gráfico, o Brasil está em processo acelerado de envelhecimento e em 2029 terá, na média, uma estrutura etária envelhecida. Assim, a tendência para as próximas décadas é que um número cada vez maior de cidades passe a ter um Índice de Envelhecimento acima de 100. O envelhecimento é inevitável e o Brasil precisa se preparar para saber lidar com esta nova realidade demográfica.
Como mostrei no artigo “A pandemia da covid-19 e o envelhecimento populacional no Brasil” (20/04/2020), a região mais atingida no Brasil pela covid-19 foi a região Norte que é a que possui a estrutura etária mais rejuvenescida, enquanto o Sul, que é a região mais envelhecida, foi a menos impactada pela pandemia. Isto mostra que a demografia não é destino e que existem outras variáveis que explicam o impacto do Sars-CoV-2 sobre a população. O importante a destacar é que os municípios mais envelhecidos não foram os mais impactados pela pandemia. (ecodebate)

Peça mais importante para um futuro sustentável

Biodiversidade: a peça mais importante para um futuro sustentável.
Por sua capacidade de mover-se por todas as direções do tabuleiro, a rainha (também conhecida como dama) é considerada a peça mais importante do xadrez, capaz de determinar a vitória ou a derrota de um jogador. Quanto maior a aptidão de um indivíduo às mudanças de cenário, maiores suas chances de êxito. No planeta Terra, também podemos identificar um fator capaz de definir nosso sucesso enquanto espécie: fora do tabuleiro, a biodiversidade é a rainha.
Não por acaso, neste ano o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) elegeu o tema para as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente. A data é fixada em 05 de junho, mas as celebrações se estendem pelo mundo durante todo o mês. A ideia é enfatizar que “somos completamente dependentes de ecossistemas saudáveis e vibrantes para nossa saúde, água, alimentos, medicamentos, roupas, combustível, abrigo e energia”.
Diante do contexto de mudanças climáticas e dos efeitos da pandemia da Covid-19, precisamos de um olhar mais atento para a nossa relação com todas as formas de vida. Já não passa despercebido o fato de que, ao combater a degradação e incentivar a conservação da natureza e de toda vida que nela habita, fortalece-se uma rede orgânica de cooperação. Sem esse esforço coletivo, muitas das tecnologias que hoje se conhece, não existiriam.
Ao pensarmos em atividades econômicas, é impossível ignorar o papel que a biodiversidade exerce sobre cada uma delas. O próprio agronegócio, por exemplo. Não é possível desenvolver uma indústria agropecuária sem a diversidade genética presente nos microrganismos que garantem a qualidade do solo e os nutrientes necessários para o crescimento das culturas e, na ponta final, a geração de alimentos.
Além disso, sem o importante trabalho de espécies polinizadoras, como abelhas, borboletas ou aves, as propriedades rurais produziriam menos e com menor qualidade. E o que dizer da pesquisa científica, da produção de medicamentos, que busca na natureza os princípios ativos das plantas? Quanto do setor turístico depende dos ambientes naturais e das diversas espécies que promovem o ciclo da vida?
A ciência tem um papel fundamental nessa integração entre economia e biodiversidade. Mesmo diante da riqueza da diversidade de vida na Terra, estima-se que, com todos os estudos e pesquisas realizados pela humanidade, 86% das espécies terrestres e 91% das que habitam os oceanos, continuam desconhecidas pelo homem.
E o que acontece quando perdemos o que ainda não conhecemos? Um relatório divulgado este ano pelo Fórum Econômico Mundial, colocou a perda da biodiversidade como o terceiro risco de maior impacto para o planeta nos próximos 10 anos. O mesmo documento estima que os bens e serviços produzidos pelos ecossistemas somem um total de US$33 trilhões/ano – praticamente o Produto Interno Bruto da China e dos Estados Unidos, combinados.
Com a maior diversidade biológica do mundo, e organizações que clamam por políticas de conservação, o Brasil poderia ser referência nessa empreitada. Todas as nações precisam compreender que proteger a biodiversidade é proteger as liberdades individuais e coletivas das pessoas, promovendo a geração de riquezas e a qualidade de vida para a população. Quanto maior a adesão dos governos na construção de políticas públicas que tenham a biodiversidade como peça importante, maiores as nossas chances de vitória. (ecodebate)

Cidade na Sibéria bate recorde de calor no Ártico

Aurora Boreal no Círculo Polar Ártico ou Polo Norte.
O aumento de temperatura nas regiões mais frias do planeta é uma realidade um tanto assustadora e, ao mesmo tempo, esperada por muitos cientistas. Consequências dos processos da Terra e do alto índice de poluição gerado por humanos, o mundo está esquentando cada vez mais.
Com isso, a Sibéria registrou em 20/06/20 uma temperatura de 38ºC e bateu um recorde histórico de temperaturas na região do Ártico.
O recorde de calor do Ártico
A região do Círculo Ártico é conhecida por ser fria, até porque está em um dos polos do planeta. Entretanto, com o aumento da temperatura da Terra, o calor está aumentando e surpreendendo as regiões.
Entre essas áreas está a Sibéria, que é a província mais fria da Rússia e também a mais ao norte. Ela é conhecida por algumas situações curiosas, como a neve escura, a chuva de sangue e eclipses espontâneos. Agora, além disso, a região também ganhou o recorde de maior temperatura do Círculo Ártico.
O evento aconteceu em Verkhoiansk, um pequeno vilarejo com aproximadamente 1.300 moradores e à uma distância de 4.800 quilômetros da capital Moscou. A cidade marcou a temperatura de 38ºC, quebrando o recorde e surpreendendo a população da região.
Um número que preocupa
O número é um pouco maior do que o recorde anterior, 37ºC, mas ainda assim chama a atenção. A região de Verkhoiansk é conhecida por ter uma extremidade de temperaturas, com uma média de 49ºC negativos durante os invernos pesados e acima de 30ºC no verão.
Acredita-se que o novo recorde seja uma consequência do fato da Sibéria ter passado pelo Maio mais quente de sua história. Toda a província marcou uma média 10ºC mais alta do que entre os anos 1979 e 2019.
Consequências do aumento de temperatura
Esses picos de calor causaram alterações na região da Sibéria. Só neste ano foram 31 incêndios pela província, que causaram a queima de mais de 350 mil hectares de uma floresta, que fica na República de Sakha, também conhecida como Iacútia, e que é parte da cidade Verkhoiansk.
Isso se deve, provavelmente, por um vazamento de 20 mil toneladas de diesel. Esses acontecimentos chamam a atenção para as preocupações com o meio ambiente e o aquecimento global. (megacurioso)

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Cientistas mapeiam grilagem em florestas públicas na Amazônia

Grilagem na Amazônia – Área equivalente a duas vezes o estado do Rio de Janeiro foi irregularmente declarada como imóvel rural no sistema do governo; mais de 2 milhões de hectares já foram desmatados.
Um novo artigo científico de autores brasileiros, publicado em 23/06/20 na revista “Land Use Policy”, mapeia a grilagem em florestas públicas não destinadas na Amazônia. Dos 49,8 milhões de hectares de florestas sob responsabilidade estadual e federal, mas ainda não alocados a nenhuma categoria de uso, 11,6 milhões de hectares foram declarados irregularmente como imóveis rurais, de uso particular, no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (CAR). Essa área equivale a dois estados do Rio de Janeiro.
O impacto da grilagem se traduz facilmente em desmatamento. Nessas áreas, os pesquisadores identificaram 2,6 milhões de hectares derrubados até 2018, uma área do tamanho de Sergipe. Tal destruição gerou a emissão de 1,2 bilhão de toneladas de CO2, o principal gás do efeito estufa. 80% da área desmatada (2,1 milhões de hectares) apresenta registro no CAR, demonstrando a intenção de uso privado de uma área pública.
Se toda a área registrada até hoje como propriedade privada fosse legalizada, de 2,2 a 5,5 milhões de hectares poderiam ser derrubados nos próximos anos – isso seguindo os limites de desmatamento definidos pelo Código Florestal, quando muitas vezes o desmatamento é maior que o permitido.
Nos últimos anos, a grilagem de florestas não destinadas aumentou. Em 2019, foi a categoria fundiária onde mais se derrubou floresta na Amazônia, de acordo com dados do sistema de alertas de desmatamento do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Deter. A tendência se mantém em 2020.
Passo a passo
Para fazer a análise, os pesquisadores primeiro limparam as sobreposições das florestas não designadas no Cadastro Nacional de Florestas, do Serviço Florestal Brasileiro, que conta com 62 milhões de hectares, com outras áreas na base fundiária da Amazônia. Com isso, chegou-se a 49,8 milhões de hectares de florestas públicas, próxima ao tamanho da Espanha, que ainda não foram destinadas para proteção ou uso sustentável de seus recursos naturais, como previsto na Lei de Gestão de Florestas Públicas, de 2006. Deste quinhão, os estados da Amazônia possuem uma área maior (32,7 milhões de ha) do que o governo federal (17,1 milhões de ha).
A grilagem dessas áreas tem como objetivo frequente a especulação fundiária. “Na Amazônia, observamos a seguinte dinâmica: um grileiro entra na área pública e a registra como dele ou no nome de laranjas; depois desmata a área, coloca algumas cabeças de gado para se dizer pecuarista e tenta de todos os jeitos a regularização, ou espera um desavisado comprar a terra. Uma vez vendida, essa terra entra no sistema de produção agropecuária, e o novo dono e seus produtos carregam esse passivo, enquanto o grileiro passa para a próxima área”, explica o pesquisador Paulo Moutinho, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), um dos autores principais do estudo.
O CAR, como registro de regularidade ambiental da propriedade, autodeclarado pelo ocupante, entra nessa equação como uma tentativa de se forjar uma ocupação regular. Por isso, é preciso barrar a validação desses cadastros falsos no sistema. “Esses registros estão na base de dados do governo. Para atuar contra a ilegalidade, é fundamental que o poder público atue para, no mínimo, avaliar a legalidade da ocupação destas áreas, pois isso é roubo do patrimônio público”, diz Moutinho.
A pesquisadora Claudia Azevedo-Ramos, da UFPA (Universidade Federal do Pará), que liderou o estudo, destaca o papel dessas florestas. “É preciso destinar essas florestas para fins de proteção e uso sustentável. Preservar esses ecossistemas significa respeitar os direitos das populações tradicionais e indígenas, que muitas vezes são expulsos pelos grileiros, além de manter a chuva e o clima estáveis, fundamentais para a produção agrícola na Amazônia”.
A despeito de a legislação brasileira definir categorias potenciais de destinação para as florestas públicas, e resguardar essas áreas como domínio público, os autores destacam que, desde 2019, todos os programas de designação dessas áreas foram desmontadas pelos governos federal e estaduais. “Estas florestas pertencem aos brasileiros. Aos governos, cabe protegê-las e garantir que não sejam entregues à especulação e à usurpação de seus recursos naturais. Preservar as florestas públicas é garantir que a Amazônia mantenha suas funções climáticas e socioambientais, com benefícios para todo o planeta”, explica Azevedo-Ramos. (ecodebate)

Combate ao coronavírus motivará novas medidas para reduzir poluição do ar

Esforço para combater o coronavírus deve motivar novas medidas para reduzir poluição do ar.
Em diversas cidades do mundo, especialmente nas grandes metrópoles, a qualidade do ar melhorou significativamente com a implantação das medidas de isolamento social para conter o avanço da pandemia causada pela novo coronavírus, que em todo o planeta já infectou quase 9 milhões de pessoas e provocou a morte de mais de 400 mil. Antes mesmo de concentrar toda sua atenção na luta contra o Covid-19, uma das principais preocupações da Organização Mundial da Saúde era com a questão da poluição do meio ambiente. Em 2019, a OMS fez um alerta de que a poluição do ar era o maior risco ambiental para a saúde da humanidade.
De acordo com a organização, por ano, 7 milhões de pessoas morrem prematuramente por doenças provocadas pela poluição atmosférica, causada principalmente pelos altos volumes de emissões da indústria, dos transportes e da agricultura. Além disso, 90% dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda.
Se nada for feito para reverter esse quadro, a tendência é que a situação se agrave. Portanto, para frear o avanço do problema, os principais agentes poluidores precisam urgentemente focar na eliminação, diminuição ou compensação de suas ações. Isso serve especialmente para as indústrias e para alguns segmentos de infraestrutura.
Máscaras podem proteger contra a poluição do ar e evitar a proliferação de gotículas portadoras do vírus.
Coronavírus e poluição do ar podem ser combinação perigosa.
Poluentes tornam as pessoas mais suscetíveis aos vírus, o que se manifesta sobretudo naquelas que já têm doenças cardiovasculares ou respiratórias.
No Brasil, um dos setores que vem apresentando bons resultados nesse sentido é o de energia limpa. Por conta dos avanços nas políticas que favorecem o biogás, proveniente de materiais orgânicos e que por ser renovável pode substituir o uso de combustíveis fósseis. Iniciamos 2020 com mais de 400 plantas de biogás em operação, um crescimento de 40% na comparação com 2019. As indústrias podem auxiliar no crescimento desse mercado e ao mesmo tempo se favorecer dele, já que hoje existem diversas soluções viáveis de reaproveitamento de resíduos para geração de energia. Com isso cai a necessidade de compra de energia, algo bastante custoso para a produção e ao mesmo tempo reduzem os gastos com a destinação de resíduos.
Mas precisamos avançar muito mais, e por outros setores. O mundo deve encarar o problema da poluição ambiental com a mesma firmeza que está enfrentando o novo coronavírus. As atitudes tomadas em relação à pandemia para a superação dessa crise estão mostrando como a inovação e a ciência são capazes de solucionar os problemas. Que usemos esse exemplo para gerar outras grandes mudanças a favor do desenvolvimento sustentável.
"Estudo feito na Cidade do México mostra que o rodízio de carros não reduz poluição se população não aderir. Na foto é possível ver a poluição atrás dos prédios".
Rodízio de carros não reduz poluição se população não aderir.
“Jeitinho” mexicano faz com que a manutenção do rodízio de carros até aos sábados não seja o bastante para diminuir os níveis de poluição do ar na Cidade do México. (ecodebate)

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Cientistas apontam situação gravíssima das florestas na Amazônia Maranhense

Maranhão possui apenas 25% de sua vegetação amazônica original. Foto: Secretaria do Turismo do Maranhão
Amazônia Maranhense – Assegurar medidas de proteção, assim como de restauração das florestas secundárias, é a saída para evitar o colapso ambiental na região
Um artigo recentemente publicado na revista Land Use Policy mostra que a porção de Amazônia existente no estado do Maranhão já perdeu 76% das suas florestas originais e que um quarto da vegetação florestal remanescente está degradada por incêndios criminosos e pela atividade madeireira ilegal.
Segundo os autores, a região também tem sido alvo de queimadas, desmatamento ilegal e muita violência, em particular contra os povos indígenas e as populações tradicionais.
Publicado por cientistas de diferentes centros e universidades, entre os quais estão o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), as Universidades Estadual e Federal do Maranhão (UEMA e UFMA, respectivamente), o Conselho Consultivo da Reserva Biológica do Gurupi e o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), o estudo apresenta dados do alto grau de fragmentação dessas paisagens florestais e evidencia a inexistência de áreas contíguas de florestas nativas, com tamanho mínimo para o manejo florestal sustentável por empresas madeireiras.
“No Estado do Maranhão é imperativo que políticas públicas garantam a conservação e a restauração florestal, assim como a produção agrícola sustentável. Mas, as tendências apontam para a direção oposta”, aponta o trabalho, coassinado por Celso H.L. Silva Junior, Danielle Celentano, Guillaume X. Rousseau, Emanoel Gomes de Moura, István van Deursen Varga, Carlos Martinez e Marlúcia Martins.
Retrocessos ambientais – Segundo o artigo, o ano de 2019 foi marcado por diversos retrocessos ambientais no Brasil, que resultaram no aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia. Isso causou prejuízos socioeconômicos e ambientais severos, incluindo grandes emissões de carbono para a atmosfera.
Entre os muitos reveses ambientais, aponta ainda o texto, o ano passado foi marcado pelo enfraquecimento da fiscalização do desmatamento e das políticas de mudança climática no Brasil, que catalisaram o aumento do desmatamento ilegal na Amazônia e alarmantes taxas de incêndio.
Além disso, mudanças no código florestal (Lei Federal nº 12.651 / 2012), como a indefinição do prazo de extensão para o Cadastro Ambiental (Lei nº 13.887 / 2019) e a tentativa de regularização de terras públicas obtidas de forma ilegal, por meio do Projeto de Lei nº 2.633/2020 (antiga Medida Provisória nº 910/2019, conhecida como “MP da Grilagem”), provavelmente aumentarão o desmatamento, retardando políticas de regularização e de restauração de passivos.
Restauração florestal – Nesse contexto de alta destruição, a restauração da floresta é considerada a principal medida ambiental para enfrentar as mudanças climáticas.
De acordo com um estudo global, 3,6 milhões de hectares da Amazônia Maranhense são considerados Hotspots Globais, ou seja, áreas em estado de conservação altamente crítico, mas ainda aptas à restauração.
A melhor estratégia para restaurar florestas como a Amazônia seria assegurar condições adequadas para a regeneração natural, protegendo a vegetação secundária – ou seja, incrementar processos que facilitem que o ecossistema se reabilite por conta própria em médio e longo prazo.
“As florestas secundárias que se formam através desse processo de regeneração são importantes para conservar a biodiversidade, garantir a regulação hidrológica e sequestrar carbono da atmosfera. Sem falar dos muitos benefícios que trazem de volta para a produção agrícola: regulação do clima local, polinização, controle biológico de pragas, entre outros”, aponta o estudo.
Amazônia maranhense – Atualmente, a Amazônia Maranhense tem  2,5 milhões de hectares de florestas secundárias, ou seja, que já sofreram alguma forma de degradação, este montante é quase equivalente à área de florestas intocadas (primárias), calculadas em 2,4 milhões de hectares.
Para os pesquisadores, a conservação, o manejo e a restauração das florestas na região, inclusive através de práticas agroflorestais e silviculturais, representam uma oportunidade de desenvolver cadeias produtivas sustentáveis com geração de emprego e renda.
Na atual conjuntura global (de crise climática) e estadual (de estresse hídrico e degradação do solo), toda cobertura florestal (primária e secundária) deve ser conservada na Amazônia Maranhense, assim como devem ser fomentadas práticas agrícolas adaptadas aos solos vulneráveis da região.
No entanto, não há proteção legal para as áreas que já sofreram alguma forma de alteração e, somente entre 2014 e 2018, cerca de 830 mil hectares foram desmatados.
“Regular a proteção e a recuperação do patrimônio ambiental é um dever do Estado, assim como garantir a proteção das populações indígenas e rurais”, afirmam os autores.
Uma ameaça adicional às florestas secundárias se esconde no Projeto de Lei Estadual 003/2020, aprovado em maio deste ano, que institui o Zoneamento Ecológico-Econômico do Bioma Amazônico no Maranhão e autoriza a redução da Reserva Legal, prevista no Artigo 14 (§3º). Segundo os especialistas, a medida poderá levar ao desmatamento legal e autorizado de mais de um milhão de hectares de áreas em regeneração, o que equivale à emissão de até 50 milhões de toneladas de carbono na atmosfera.
O Estado precisa criar mecanismos de proteção das Florestas secundárias e de fomento da restauração, porque o modelo de desenvolvimento atual tem resultado em degradação e pobreza”, argumentam. (ecodebate)

Terras Indígenas Amazônica são as APAS que mais sofrem pressão por desmatamento

Terras Indígenas na Amazônia são as Áreas de Proteção que mais sofrem pressão por desmatamento, revela Imazon.
Desmatamento – Relatório mostra que a TI Yanomami foi a mais pressionada entre fevereiro e abril deste ano.
A Terra Indígena é uma das mais vulneráveis para a Covid-19.
De acordo com o Imazon*, das dez Áreas Protegidas que mais sofreram pressão por desmatamento, cinco são Terras Indígenas. A TI Yanomami (RR/AM) foi o maior alvo dos criminosos responsáveis pela destruição ilegal da floresta. As TIs Alto Rio Negro (AM), Raposa Serra do Sol (RR), Uaçá I e II (AP) e Kayapó (PA) também registraram ocorrências de devastação no interior da área protegida. O avanço do desmatamento, além de trazer prejuízos ambientais para essas áreas, pode resultar ainda em riscos à saúde dessas comunidades tradicionais.
A Terra Indígena Yanomami, a primeira no ranking das APs mais pressionadas, está no ranking das TIs mais vulneráveis para a Covid-19, segundo levantamento feito pelo Instituto Socioambiental em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais. As TIs Raposa Serra do Sol e Alto Rio Negro também estão na lista das mais suscetíveis a ter surtos da doença. Na última semana, a TI Kayapó perdeu uma de suas maiores lideranças para o coronavírus: Paulinho Payakan. “É preciso gente para desmatar e há muita invasão justamente nas Unidades de Conservação e nas Terras Indígenas. Essas pessoas podem levar o coronavírus para esses territórios”, explica o pesquisador do Imazon Carlos Souza Jr.
O estudo apresenta ainda as Áreas de Proteção mais ameaçadas: APA do Tapajós (PA) e Parna Mapinguari (AM/RO). Somente o estado de Rondônia tem cinco das dez APs mais ameaçadas de fevereiro a abril deste ano. Já no ranking das APs mais pressionadas durante esse período, aparecem ainda a APA Triunfo do Xingu (PA), APA do Tapajós (PA) e a Florex Rio Preto-Jacundá (RO).
Ameaça e Pressão – O Instituto classifica ameaça como a medida do risco iminente de ocorrer desmatamento no interior de uma área protegida. É utilizada uma distância de 10 km para indicar a zona de vizinhança de uma AP, onde a ocorrência de desmatamento indica ameaça. Já o termo pressão é definido como a ocorrência do desmatamento no interior da área protegida, que pode levar à perdas ambientais e até mesmo redução ou redefinição de limites da AP.
De fevereiro a abril deste ano, o Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon detectou um total de 885 km² de desmatamento na Amazônia. 53% das células de desmatamento indicam ameaça e 47% mostraram a pressão em APs. O número de células com ocorrência de desmatamento de fevereiro a abril de 2020 é 216% superior ao registrado de fevereiro a abril de 2019.
Estudo – O relatório do índices de ameaça e pressão de desmatamento em Áreas Protegidas é divulgado trimestralmente pelo Imazon. O estudo é produzido com base em dados de alertas de desmatamento do SAD, Sistema de Monitoramento desenvolvido pelo Instituto. São utilizados apenas os indicadores de desmatamento para determinar ameaça e pressão em uma unidade de conservação, entretanto, outros fatores também oferecem risco para a área, como extração madeireira, atividades de garimpo e hidrelétricas. Para ver o relatório completo, clique aqui.
* Imazon – O Imazon é um Instituto nacional de pesquisa, sem fins lucrativos, composto por pesquisadores brasileiros, fundado em Belém há anos. Através do sofisticado Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), a organização realiza, há mais de uma década, o trabalho de monitoramento e divulgação de dados sobre o desmatamento e degradação da Amazônia Legal, fornecendo mensalmente alertas independentes e transparentes para orientar mudanças de comportamento que resultem em reduções significativas da destruição das florestas em prol de um desenvolvimento sustentável.
(ecodebate)

Plantio de novas florestas é parte da solução para as mudanças climáticas

Plantio de novas florestas é parte da solução para as mudanças climáticas, mas não é tudo.
O plantio em larga escala de novas florestas em áreas anteriormente livres de árvores, uma prática conhecida como florestamento, é aclamada como uma maneira eficiente de remover o excesso de dióxido de carbono da atmosfera – a chamada solução climática natural.
Mas um novo estudo liderado por um pesquisador de biologia da Universidade Estadual do Colorado descobriu que o potencial de captura de carbono da florestação pode estar superestimado. O estudo, publicado on-line em 22/06/20 na Nature Sustainability, afirma que as proporções de carbono orgânico do solo sob as áreas florestadas variam muito entre diferentes ecossistemas e climas, e essas variações dependem de fatores como espécies de árvores, histórico de uso da terra e tipo de solo.
Esses resultados, com base em mais de 11.000 amostras de solo coletadas em parcelas de controle e florestadas no norte da China, indicam que soluções climáticas naturais por si só não são suficientes para atender às metas globais de mitigação climática.
“Esperamos que as pessoas entendam que as práticas de florestamento não são uma coisa”, disse Anping Chen, cientista do Departamento de Biologia da CSU e principal autor do estudo. “O reflorestamento envolve muitos detalhes técnicos e balanços de diferentes partes, e não pode resolver todos os nossos problemas climáticos”. Chen ajudou a lançar o ambicioso estudo enquanto estudante de pós-graduação na Universidade de Princeton há cerca de uma década.
Inspirado para encontrar melhores dados
A pesquisa foi inspirada em um workshop de 2010 em Princeton, que levou a uma publicação de alto nível sobre o sumidouro de carbono florestal global em Science pelo cientista do Serviço Florestal dos EUA Yude Pan. Na ausência de melhores fontes de dados, os cientistas usaram uma proporção fixa entre a biomassa das árvores e o carbono do solo para estimar o estoque total de carbono orgânico do solo – uma medida que suspeitava que Chen e o colaborador da Universidade de Pequim, Shilong Piao, não eram precisos. Esse método pode ser ainda mais problemático, disse Chen, para estimar o potencial de sequestro de carbono da florestação, porque as mudanças no uso da terra geralmente estão associadas a distúrbios do solo.
Mundo precisa de 1,2 trilhões de novas árvores para conter o aquecimento global, diz estudo.
Enquanto Chen e Piao estavam sentados na oficina, eles decidiram tentar encontrar uma nova maneira de estimar as mudanças de carbono no solo abaixo do solo e projetaram um estudo de campo para investigar suas hipóteses.
Em 2012-13, pesquisadores dos EUA e da China liderados por Chen e Piao coletaram amostras comparativas de solo em várias profundidades de 619 pares de parcelas florestadas e parcelas de controle no norte da China. O governo chinês realizou extensas campanhas de florestação, tanto como estratégias de mitigação do clima quanto como uma tentativa de reduzir a poeira do deserto de Gobi.
Os pesquisadores descobriram que em solos pobres em carbono, a florestação aumentou a densidade de carbono orgânico do solo. Mas em solos já ricos em carbono, eles descobriram que a densidade de carbono diminuía. Suas descobertas concluíram que as taxas fixas de carbono orgânico da biomassa para o solo assumidas em estudos anteriores podem estar superestimando as características gerais de aprimoramento do carbono orgânico do solo das práticas de florestação em geral.
Os resultados têm implicações para os gerentes e formuladores de políticas florestais. Por exemplo, um local que já está acima de certo limiar de carbono orgânico do solo subterrâneo pode ser deixado sozinho para a regeneração natural da floresta, em vez de plantado com árvores, disse Chen.
Restaurar florestas e ecossistemas pode ser solução para combater mudanças climáticas.
“Nossos resultados sugerem fortemente que os potenciais estimados de sumidouro de carbono da florestação que não representam os estoques de carbono no solo de fundo ou os efeitos potencialmente negativos da florestação são excessivamente otimistas”, escreveram os autores. “Essas descobertas também indicam que a suposição de uma proporção fixa entre o solo e o carbono da biomassa, que tem sido amplamente utilizada em estudos anteriores para estimar os estoques de carbono no solo, não é confiável”. (ecodebate)

sábado, 25 de julho de 2020

Registros indicam novo recorde de temperatura de 38°C ao norte do Ártico

Emergência Climática: Registros indicam novo recorde de temperatura de 38°C ao norte do Círculo Polar Ártico.
A Organização Meteorológica Mundial está tentando confirmar um novo recorde de temperatura ao norte do Círculo Polar Ártico, de 38°C. Isso ocorreu em 20/06/20 na cidade russa de Verkhoyansk, em meio a uma prolongada onda de calor na Sibéria e a um aumento na atividade de incêndios florestais.
Verkhoyansk, localizado na parte norte da República de Sakha (Yakutia), fica em uma região da Sibéria Oriental que possui um clima continental seco extremamente severo (inverno muito frio e verão quente).
A estação meteorológica de Verkhoyansk teve um recorde anterior de temperatura do ar de 37,3°C, observado em 25/07/1988, de acordo com os cientistas alemães Alekseenkov e Vasily Smolyanitsky no Instituto de Pesquisa do Ártico e Antártico do Serviço Federal Russo de Serviço Federal de Monitoramento Hidrometeorológico e Ambiental (Roshydromet). A estação fornece medições diárias desde 1885.
As informações finais sobre se esse registro é máximo para toda a área do Ártico ao norte do Círculo Polar precisam ser avaliadas quando dados meteorológicos mais completos estiverem disponíveis.
Depois que a WMO receber a confirmação da temperatura da Roshydromet, ela encaminhará a descoberta para verificação por uma equipe de investigadores do seu Arquivo de extremos de clima e clima. Isso fornece detalhes de extremos globais, hemisféricos e continentais (calor, precipitação, etc.).
Até agora, a WMO não havia verificado possíveis registros de “temperatura mais alta registrada ao norte do Círculo Polar Ártico”. No entanto, o interesse nessa observação extrema despertou interesse suficiente para que atualmente estamos estudando a criação de uma categoria tão nova para o Arquivo oficial, de acordo com Randall Cerveny, Relator Especial da OMM para Extremos Meteorológicos e Climáticos.
“Uma equipe de avaliação de resposta rápida da OMM aceitou provisoriamente essa observação como uma observação legítima, o que é consistente com as observações atuais do ar na época na Sibéria”, disse o professor Cerveny. “Isso agora estará sujeito a um processo normal para uma revisão formal detalhada por um painel de cientistas atmosféricos da OMM”.
“Tem sido uma primavera incomumente quente na Sibéria, e a coincidência falta de neve subjacente na região, combinada com o aumento geral da temperatura global, sem dúvida ajudou a desempenhar um papel crítico ao causar essa observação extrema da temperatura”, disse o professor Cerveny, professor de geografia do presidente. Ciências, Universidade Estadual do Arizona.
Como parte do processo de verificação, a OMM está entrando em contato com a agência meteorológica russa para coletar informações diretas sobre a observação (como dados reais, tipo de equipamento usado, verificações de qualidade e calibração do instrumento, técnicas de monitoramento de observação, correspondência com estações vizinhas, etc).
“Esses dados serão examinados com muito cuidado por um painel internacional de cientistas atmosféricos. Fundamentalmente, essas avaliações são projetos muito completos e demorados. Mas o resultado final será uma informação incrivelmente valiosa que ajudará os cientistas do clima a entender melhor o clima, engenheiros e médicos a se prepararem melhor para os extremos climáticos e até o público em geral, a fim de obter uma melhor apreciação das mudanças climáticas em todo o planeta”, disse o professor Cerveny.
O Ártico está entre as regiões de aquecimento mais rápido do mundo e está aquecendo duas vezes a média global. As temperaturas anuais do ar na superfície nos últimos 4 anos (2016–2019) no Ártico (60° a 85° N) foram as mais altas já registradas. O volume de gelo marinho do Ártico no mês de setembro de 2019 (após a estação de derretimento) diminuiu mais de 50% em comparação com o valor médio de 1979/2019.
A Sibéria testemunhou um calor excepcional, com temperaturas de até 10°C (18,5°F) acima da média em maio e impulsionando o mês mais quente já registrado para todo o hemisfério norte e, de fato, o mundo.
Mas não foi apenas maio que foi incomumente moderado nesta região; todo o inverno e a primavera tiveram períodos repetidos de temperaturas da superfície do ar acima da média, principalmente a partir de janeiro.

O calor incomum no inverno e na primavera foi associado a uma quebra excepcionalmente precoce do gelo nos rios da Sibéria.
O Serviço Copernicus de Mudanças Climáticas da Europa realizou uma exploração mais aprofundada de seus dados.

“Embora o planeta como um todo esteja esquentando, isso não está acontecendo igualmente. Por exemplo, o oeste da Sibéria se destaca como uma região que aquece mais rápido que a média e onde as variações de temperatura de mês para mês e ano para ano tendem a ser grandes. Isso significa que, em certa medida, grandes anomalias de temperatura não são inesperadas. No entanto, o que é incomum neste caso é quanto tempo as anomalias mais quentes que a média persistiram ”, disse Copernicus.
O Serviço de Monitoramento Atmosférico da Copernicus disse que o número e a intensidade de incêndios florestais no nordeste da Sibéria e no círculo ártico continuam aumentando nos últimos dias. A intensidade total diária está em níveis semelhantes aos observados em 2019.
Prevê-se que as temperaturas acima do normal continuem na maior parte do Ártico entre junho e agosto de 2020, de acordo com o Arctic Climate Forum, que fornece informações aos tomadores de decisão sobre uma região em rápida mudança, que está aquecendo mais do que o dobro da média global.
Na discussão sobre os impactos regionais na Sibéria Ocidental e Oriental, o Fórum alertou para um possível risco de incêndios florestais no início do verão devido à temperatura acima do normal e abaixo da precipitação normal. As altas temperaturas previstas podem levar à degradação contínua do permafrost e à erosão costeira.
A redução na extensão do gelo marinho e a degradação do permafrost na tundra podem criar dificuldades para espécies “chave”, por exemplo, ursos polares, caribu, baleias, etc. liberação de metano, um poderoso gás de efeito estufa.
Sibéria, um verão com calor de 38ºC é um alerta do que pode vir, é um aviso perigoso. (ecodebate)

Aumento do desmatamento pode gerar bloqueios de investimentos no Brasil

Aumento do desmatamento pode gerar bloqueios de investimentos no Brasil, diz economista.
Um grupo de investidores internacionais que gere US$ 3,75 trilhões (R$ 19,3 trilhões) em ativos enviou uma carta aberta em 22/06/20 para embaixadas brasileiras manifestando preocupação com o aumento do desmatamento no Brasil.
O documento foi enviado a representações brasileiras em sete países. O grupo liderado pela empresa norueguesa de seguros e pensões Storebrand Asset Management diz que a política ambiental brasileira gera uma "incerteza generalizada sobre as condições para investir ou fornecer serviços financeiros ao Brasil".
O economista Fábio Sobral, professor de Economia Ecológica da UFC (Universidade Federal do Ceará), disse que há registro de fuga de capital do Brasil desde o ano passado.
"Creio que pode haver uma fuga de capitais, na verdade já há um movimento de fuga de capitais do Brasil desde o ano passado, isso tem sido demonstrado pela saída de dólares de investidores estrangeiros provavelmente devido a essa profunda instabilidade política que se instaurou no país", explicou à Sputnik Brasil.
Segundo Sobral, o aumento do desmatamento pode sim gerar fuga de investimentos no país.
"A política ambiental pode determinar uma espécie de bloqueio de parte dos fundos de investimentos ao Brasil, principalmente daqueles fundos que captam de pequenos investidores", afirmou.
O economista atribui a atitude encabeçada pela empresa Storebrand Asset Management a dois fatores.
"Uma vertente de marketing junto aos pequenos investidores e um segundo fato é a percepção de que, de fato, em regiões onde as mudanças climáticas forem mais intensas os prejuízos podem ser mais significativos", afirmou.
Fábio Sobral vê como positiva a pressão externa sobre a política ambiental brasileira.
"A pressão externa pode dar um suporte às nações indígenas, a grupos quilombolas, grupos ambientais, até porque esses grupos sofrem ameaças físicas. O número de lideranças rurais e ambientais que são assassinadas tem crescido, não há uma proteção a esses grupos, então a pressão externa vai trazer significativa proteção interna ou pelo menos uma divulgação maior do que está ocorrendo na Amazônia", defendeu.
De acordo com Sobral, será difícil o governo do presidente Jair Bolsonaro reverter a imagem do Brasil na política de proteção ao meio ambiente.
"O governo tem se tornado um inimigo do meio ambiente, o governo se apresentou assim como um inimigo do meio ambiente, o governo se apresenta como um destruidor das florestas, vai ser muito difícil reverter as ações governamentais e reverter a imagem do Brasil nesse quesito", acredita.
O Banco Central divulgou em 24/06/20 um balanço que aponta que nos cinco primeiros meses deste ano o Brasil registrou a saída de US$ 33,6 bilhões (R$ 178,25 bilhões) nos primeiros cinco meses deste ano.
O BC também informou que os investidores retiraram US$ 50,9 bilhões (R$ 270 bilhões) de aplicações financeiras no Brasil nos doze meses encerrados em maio deste ano. (sputniknews)

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Commodities agrícolas foram grandes responsáveis por incêndios amazônicos

Commodities agrícolas foram as grandes responsáveis por incêndios na Amazônia, segundo estudo.
Pesquisa aponta frigoríficos e produtores de soja com maior risco de serem associados a queimadas.
Commodities agrícolas foram as grandes responsáveis por incêndios na Amazônia, segundo estudo que cruza dados da NASA com cadeias de suprimentos das empresas.
Em agosto do ano passado, imagens dos incêndios na Amazônia atraíram a atenção do mundo todo. Chefes de governo, organizações multilaterais, ambientalistas e celebridades manifestaram preocupação com o futuro da maior floresta tropical do planeta. “A Amazônia precisa ser protegida”, disse António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). “Nossa guerra contra a natureza precisa acabar”, tuitou a ativista Greta Thunberg.
O tamanho real do desastre ambiental só foi conhecido em janeiro, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apresentou um balanço final dos incêndios que atingiram a floresta. Em 12 meses, ocorreram 89 mil focos de incêndio na região, um aumento de 30% em relação a 2018. Um crescimento preocupante, apesar de o número ter ficado abaixo da série histórica (109 mil).
No auge da crise, o presidente Jair Bolsonaro lançou suspeita sobre ONGs que atuam na região. E o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) culpou a temporada mais seca, quando, na verdade, choveu mais do que no ano anterior. Pesquisadores do bioma atribuem os incêndios, porém, a outros fatores.
A especulação fundiária é hoje um dos grandes vilões da floresta amazônica. Trata-se de um negócio de alta rentabilidade que envolve a invasão de terras públicas, a derrubada e retirada das árvores mais valiosas e depois, por meio de correntes presas a tratores, a derrubada da vegetação mais baixa. Passadas algumas semanas, período necessário para a secagem do material destruído, basta pôr fogo ao que antes era uma floresta. É hora então de espalhar as sementes para criar o pasto, à espera do comprador.
“É dinheiro fácil. Invasor de terra pública gasta R$ 1 mil para derrubar e colocar fogo num hectare consegue vender o mesmo por até R$ 2,7 mil”, afirma Raoni Rajão, pesquisador da Amazônia e professor do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Queimadas costumam ser feitas no período amazônico mais seco, entre julho e outubro.
A floresta não queima apenas por conta da grilagem de terras. Para ampliar o pasto, muitos produtores põem fogo em áreas contíguas às suas propriedades ou destroem a mata existente dentro de suas próprias fazendas. O Código Florestal estabelece que, nos imóveis localizados na Amazônia Legal, 80% da mata nativa deve ser preservada. Há ainda as queimadas feitas por agricultores, indígenas e povos tradicionais com o propósito de renovar o pasto ou a área de cultivo, uma prática que tem impacto bem menor sobre o bioma, mas que pode sair do controle e provocar destruição em grandes áreas.
Levantamento realizado pelo MapBiomas — iniciativa que reúne universidades, organizações sociais e empresas de tecnologia – revela a dimensão das práticas criminosas citadas acima. De acordo com o estudo, realizado a partir do cruzamento de imagens de satélites com o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e outros bancos de dados oficiais, 99% do desmatamento realizado no Brasil no ano passado foi ilegal. Dos 12 mil km2 de vegetação nativa destruída, a maior parte está localizada no Cerrado e na Amazônia.
Pecuária e soja
Estudo realizado pela Chain Reaction Research (CRR) [http://chainreactionresearch.com/wp-content/uploads/2020/05/Deforestation-driven-fires-in-Brazil-Indonesia.pdf], uma coalizão de consultorias ambientais europeias e americanas, ajuda a entender um pouco mais os interesses por trás dos incêndios ocorridos no ano passado na Amazônia. Os pesquisadores cruzaram imagens dos incêndios, feitas por satélites da NASA, com a localização dos maiores frigoríficos da região, como JBS e Marfrig, e grandes silos de soja, controlados por gigantes como Bunge e Cargill.
O sistema de monitoramento da agência espacial americana detectou 417 mil focos de fogo nas “zonas potenciais de compra” da JBS e da Marfrig de julho a outubro do ano passado, um número que representa 42% de todos os incêndios ocorridos no Brasil no período – foram 981 mil, segundo a NASA. Os focos de incêndios no entorno das duas empresas representam quase a metade (47%) do total detectado (885 mil) nas proximidades dos dez maiores frigoríficos da região.
As zonas potenciais de compra dos matadouros foram estabelecidas pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) em 2017, a partir de entrevistas feitas com 157 frigoríficos da Amazônia Legal. Entre outras informações, essas empresas revelaram a distância máxima que percorrem para comprar os animais para abate. Os frigoríficos maiores uma distância máxima de 360 km a partir de suas instalações. Os menores, que têm certificados para atuar apenas dentro do Estado, compram gado a uma distância máxima de 153 km.
No caso da soja, a Chain Reaction Research estabeleceu um raio de 25 km a partir dos silos das maiores empresas do setor como área de sua cadeia de suprimentos. O levantamento indicou que as queimadas ocorridas no entorno da Bunge e da Cargill (39,9 mil) superaram a soma dos focos de incêndio registrados nas proximidades dos outros oito maiores traders do setor.

Levantamento não faz nenhuma acusação a esses conglomerados. “O objetivo foi mostrar a ocorrência de enorme quantidade de incêndios nas proximidades dessas empresas, o que não implica o envolvimento direto delas nessas práticas. Mas faz com que tenham de resolver as suspeitas que recaem sobre sua cadeia de suprimentos”, diz Marco Túlio Garcia, pesquisador da Aidenviroment e um dos autores do estudo, que analisou também os incêndios na Indonésia, onde as suspeitas recaem sobre a produção de óleo de palma.
“O desmatamento na Amazônia, causa principal dos incêndios, traz riscos a essas empresas. Nos últimos anos, os grandes investidores internacionais colocaram essas questões no centro de sua pauta. Elas não estão mais restritas a debates entre ambientalistas”, completa Tim Steinweg, coordenador de pesquisa da Chain Reaction Research. Um exemplo dessa preocupação do mercado global foi dado em dezembro último pela Nestlé, quando suspendeu suas compras de soja da Cargill, por suspeita de que o produto tenha origem em áreas desmatadas da Amazônia.

Reportagem recente do jornal The Guardian revelou que bancos e outras instituições financeiras britânicas investiram nos últimos anos mais de US 2 bilhões nas principais empresas brasileiras de carne que atuam na Amazônia. Por conta do desmatamento, estudam reconsiderar seu apoio se essas companhias não mostrarem progressos no rastreamento de seus fornecedores. Gigantes do setor de alimentos manifestam a mesma preocupação. Em dezembro, a Nestlé suspendeu suas compras de soja da Cargill, por suspeita de que o produto tenha origem em áreas desmatadas da floresta.
Estudiosos avaliam que o setor de pecuária traz hoje mais riscos para a Amazônia do que a indústria da soja, que hoje ameaça mais o Cerrado. A imagem dos produtores do grão melhorou a partir do pacto, batizado de “moratória da soja”, firmado em 2006 com entidades ambientalistas, pelo qual se comprometeram a não comprar a commodity de áreas desmatadas no bioma. O acordo contou depois com o apoio do governo federal.
O setor pecuário carrega irregularidades dos mais variados tipos. Entre elas, animais que nascem em áreas desmatadas, muitas vezes embargadas pelo IBAMA, e que são vendidos para pequenos e médios produtores. Depois da engorda, são comprados legalmente pelos grandes frigoríficos. Os sistemas de controle não conseguem pegar o vício de origem. “É uma cadeia muito complexa. Não existe um sistema que permita rastrear cada animal desde o início, e os frigoríficos não parecem interessados em implantar um monitoramento desse tipo”, lamenta Ritaumaria Pereira, diretora executiva do Imazon. “Há um ditado na região que traduz essa triste realidade. Boi não morre de velho na Amazônia. Sempre vai ter alguém para comprá-lo, independentemente de onde venha”, afirma a engenheira agrônoma.
Menos floresta, menos chuva
Para muitos especialistas, falta visão estratégica ao governo brasileiro e aos produtores rurais em relação à Amazônia, o principal ativo ambiental do país. Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), lembra que a floresta funciona como uma espécie de bomba de vapor d’água que, transportado por meio dos chamados rios voadores, irriga o Centro-Oeste e o Centro-Sul do Brasil. A destruição coloca em risco esse sistema de irrigação. “Ao desmatar, é como se fizéssemos um furo nesse regador, que garante o sucesso de boa parte da produção agrícola brasileira.” De acordo com estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) e do IBGE, 92,5% da água consumida pela agricultura brasileira vêm das chuvas. Apenas 7,5% são de sistemas de irrigação.
Os riscos à floresta amazônica são reais, de acordo os cientistas. O bioma já perdeu cerca de 17% (dados de 2017) de sua vegetação nativa. Se esse percentual superar 20%/25%, corre grande risco de entrar em um processo de savanização, segundo estudo publicado há dois anos pelo pesquisador brasileiro Carlos Nobre e pelo americano Thomas Lovejoy. Na década anterior, os mesmos pesquisadores falavam que o tipping point (ponto sem volta) aconteceria quando fossem atingidos os 40% de destruição. Refizeram os cálculos em razão da aliança mortal entre desmatamento, incêndios e mudança climática.
Especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que não é preciso destruir nenhum hectare a mais para aumentar a produção agropecuária. Bastariam aproveitar os 12 milhões de hectares que foram desmatados e abandonados na Amazônia, áreas que poderiam ser recuperadas. “Você tem muitas áreas que estão abertas e, com incentivo adequado, poderiam ser exploradas”, afirma Paulo Moutinho, do IPAM. Ritaumaria Pereira, do Imazon, concorda: “Além da regeneração dessas áreas, precisamos de políticas públicas para incentivar o aumento da produtividade da pecuária, que hoje é muito baixa, cerca de um animal por hectare”.
Pesquisa aponta frigoríficos e produtores de soja com maior risco de serem associados a queimadas.
O que dizem as empresas
Em nota, a JBS reclama do fato de não ter sido procurada pelos pesquisadores da Chain Reaction Research. A empresa questiona os critérios técnicos do estudo e diz adotar uma abordagem de tolerância zero em relação ao desmatamento em toda a sua cadeia de fornecimento. “Todas as fazendas fornecedoras de gado da JBS na região amazônica são monitoradas por meio de imagens de satélite e dados georreferenciados da propriedade. Portanto, fornecedores que utilizaram fogo para desmatar a floresta serão detectados pelo sistema de monitoramento da Companhia e bloqueados para compra de gado.”
A Marfrig afirmou que adota “uma rígida política de compra de animais, bem como um protocolo com critérios e procedimentos que são pré-requisitos para a homologação de fornecedores”. A empresa diz manter uma plataforma que monitora, por meio de um sistema de georreferenciamento e geomonitoramento socioambientais, todos os seus fornecedores. A ferramenta cruza os dados georreferenciados e documentos das fazendas com informações públicas oficiais para identificar potenciais não conformidades, “coibindo que a matéria-prima seja oriunda de fazendas que produzam carne em áreas de desmatamento ou embargadas, sobrepostas a unidades de conservação ou terras indígenas, ou mesmo que utilizem ‘trabalho escravo’”.
A Bunge disse que está comprometida com uma cadeia de suprimentos livre de desmatamento e que condena qualquer uso do fogo para o desflorestamento. “A empresa mantém rigoroso controle sobre critérios socioambientais em suas operações em todo o Brasil. As ações incluem verificações diárias às listas públicas de não conformidades do IBAMA e do Ministério do Trabalho e Emprego, além da checagem de outros requisitos legais, e bloqueio imediato de qualquer negociação comercial, em caso de desconformidade”. De acordo com a nota, “a empresa também é signatária da Moratória da Soja, compromisso reconhecido mundialmente que proíbe a compra de soja cultivada em áreas desmatadas após 2008 na Amazônia, e do Protocolo Verde de Grãos do Pará, uma iniciativa conjunta com o Ministério Público Federal (MPF), que estabelece critérios para transações comerciais com foco em evitar a comercialização de grãos oriundos de áreas ilegalmente desmatadas”.
A Cargill afirmou que está comprometida com a proteção das florestas e da vegetação nativa de maneira que sejam economicamente viáveis para os agricultores. “O desmatamento ilegal e incêndios deliberados na Amazônia são inaceitáveis e, juntamente com outras empresas do setor, continuaremos a fazer parcerias com comunidades locais, agricultores, governos, ONGs e nossos clientes para encontrarmos soluções que preservem esse importante ecossistema”, afirma a nota da Cargill. “Fazemos parte da Moratória da Soja na Amazônia desde 2006, quando assinamos um acordo voluntário com organizações industriais e ambientais de não comprar soja de terras que foram desmatadas após 2008 neste bioma. Esse esforço contribuiu para o declínio de 80% no desmatamento na Amazônia na última década e foi estendido indefinidamente em 2016”.
Queimadas não são naturais na Amazônia; todo incêndio tem mão humana (inclusive a nossa).

As florestas derrubadas acabam virando bife no almoço de muitos brasileiros. (ecodebate)

Aquecimento global é pior para os mais pobres

O aquecimento global reflete a desigualdade institucionalizada, pois, atinge diretamente aqueles que possuem os menores recursos à sobrevivê...