quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Mudanças climáticas aquecem os rios e ameaçam a vida aquática

O aquecimento da água dos rios é um problema crescente que ameaça a vida aquática, afetando espécies individuais e ecossistemas inteiros. As mudanças climáticas e as secas são os principais fatores que contribuem para esse fenômeno.
A seca e o aumento da temperatura da água, causaram a morte de dezenas de botos no no Médio Solimões, no interior do Amazonas.

O aquecimento da água dos rios é um problema crescente que ameaça a vida aquática, afetando espécies individuais e ecossistemas inteiros.

As mudanças climáticas e as secas são os principais fatores que contribuem para esse fenômeno.

Um novo estudo, publicado na revista Hydrological Processes, revela que os fluxos de água reduzidos e o aumento das temperaturas atmosféricas devem aquecer nossos rios nas próximas décadas.

Os cientistas identificaram três mecanismos primários que impulsionam o aumento da temperatura da água do rio durante as secas:

Mudanças climáticas sufocam peixes por falta de oxigênio

• Durante as secas, os níveis de água diminuem, expondo mais superfície da água à radiação solar.

• Influências físicas do habitat: A forma do canal do rio e a presença de vegetação podem afetar a temperatura da água. Por exemplo, rios com curvas e sinuosidades tendem a ter temperaturas mais baixas do que rios com canais retos.

• Contribuições de diferentes fontes de água: A água subterrânea geralmente é mais fria do que a água superficial. Durante as secas, a contribuição da água subterrânea para os rios diminui, o que pode levar a um aumento da temperatura da água.

O aumento da temperatura da água do rio pode ter consequências significativas para a vida aquática. Peixes e outros organismos aquáticos são sensíveis à temperatura da água e podem ser afetados por mudanças mesmo de poucos graus.

Impactos do aquecimento da água do rio sobre a vida aquática:

• Reduzir a disponibilidade de habitat para algumas espécies: Peixes e outros organismos aquáticos podem ser forçados a se deslocar para águas mais frias, o que pode levar a uma competição por recursos.

• Aumentar o estresse fisiológico: O aquecimento da água do rio pode tornar mais difícil para os organismos aquáticos regular sua temperatura corporal, o que pode levar a problemas de saúde.

• Prejudicar a reprodução: O aquecimento da água do rio pode reduzir a fertilidade e a sobrevivência dos ovos e larvas.

Em alguns casos, o aquecimento da água do rio pode até levar à morte de organismos aquáticos.

Além dos impactos sobre a vida aquática, o aquecimento da água do rio também pode afetar a saúde humana e o uso dos rios para fins recreativos e industriais.

Rios estão aquecendo e perdendo oxigênio em ritmo mais rápido do que oceanos.

O estudo destaca a necessidade de medidas para mitigar os impactos do aquecimento da água do rio. Essas medidas incluem a redução das emissões de gases de efeito estufa, o gerenciamento de secas e a proteção dos habitats aquáticos. (ecodebate)

Florestas sul-americanas estão à beira de se tornar fontes de carbono

As florestas tropicais da América do Sul são um dos maiores sumidouros de carbono do mundo, tirando bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono (2CO2) da atmosfera a cada ano. Mas essa capacidade diminuiu à medida que as temperaturas globais aumentaram.
Desmatamento flagrado pelo Ibama

A capacidade das plantas de estocar carbono cessou durante o El Nino de 2015-2016, quando as temperaturas dispararam e as árvores morreram.

As florestas tropicais da América do Sul são um dos maiores sumidouros de carbono do mundo, tirando bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono (2CO2) da atmosfera a cada ano. Mas essa capacidade diminuiu à medida que as temperaturas globais aumentaram. Um estudo recente publicado na Nature Climate Change mostrou que, durante o El Nino 2015-2016, quando algumas partes da América do Sul experimentaram um aquecimento recorde e provavelmente a seca mais severa em décadas, a diferença entre o carbono que essas florestas tropicais absorveram e emitiram era praticamente zero.

Durante um evento do El Nino, os ventos do Leste enfraquecem e as temperaturas da superfície do mar no leste tropical do Oceano Pacífico sobem. Esse fenômeno aumenta as temperaturas globais por meses, com o clima sul-americano particularmente interrompido devido à proximidade do continente com o Pacífico. Portanto, o evento é uma oportunidade para os cientistas avaliarem os impactos a longo e curto prazo do calor e da seca nas florestas.

No novo estudo, mais de 100 pesquisadores de várias instituições rastrearam milhares de árvores em 123 lotes florestais em toda a América do Sul por mais de 30 anos. As parcelas, parte da Rede de Inventário Florestal Amazônica e do Programa Brasileiro de Pesquisa em Biodiversidade, incluíram manchas intactas de vegetação na Amazônia, na Mata Atlântica e no Cerrado, uma savana tropical nas terras altas brasileiras.

Os pesquisadores estimaram a quantidade de biomassa e carbono que as árvores estocavam medindo seus diâmetros do tronco ao longo dos anos. Conforme crescem, as árvores tiram carbono do ar através da fotossíntese, transformando-o em biomassa que compõe seu tronco, raízes e folhas. Mas as árvores também emitem carbono através da respiração enquanto estão vivas e pela deterioração depois de morrerem.

Os dados mostraram que durante o evento El Nino, altas temperaturas e secas levaram ao aumento da mortalidade das árvores e ao crescimento mais lento. Isso fez com que a quantidade de carbono emitido anulasse a quantidade de carbono absorvida. Antes do El Nino 2015-2016, cada hectare de floresta estudada armazenava cerca de um terço de tonelada métrica de carbono por ano. Durante o evento, esse saldo foi próximo de zero.

Estudos anteriores mostraram que os sumidouros de carbono nas florestas tropicais da América do Sul, especialmente na Amazônia, têm diminuído desde o início dos anos 90. Uma pesquisa recente até apontou que algumas partes da Amazônia já emitem mais carbono do que absorvem. Alguns cientistas previram que, se as emissões globais de CO2 continuarem no ritmo atual, essa capacidade de estocar carbono pode cessar completamente antes de 2040.

“Há um alto risco de que as florestas que têm sido nossas aliadas no combate às mudanças climáticas se transformem em fontes significativas de carbono, o que terá um enorme impacto climático global”, disse o coautor Thaiane Rodrigues de Sousa, ecologista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia no Brasil.

Florestas dos EUA podem se tornar emissoras de carbono em breve.

Árvores maiores morrem de sede

O novo estudo também ajudou a explicar como diferentes florestas tropicais respondem a temperaturas mais quentes. Alguns cientistas levantaram a hipótese de que as florestas mais quentes e secas poderiam se adaptar mais facilmente à seca futura e ao calor extremo, porque evoluíram nesses climas durante séculos. De fato, estudos semelhantes mostraram que as florestas tropicais africanas permaneceram sumidouros de carbono eficazes durante os eventos do El Nino.

Mas a nova pesquisa indicou que o oposto vem acontecendo na América do Sul. As árvores cresceram menos e morreram com mais frequência em florestas mais secas, como áreas de transição na Mata Atlântica e no Cerrado, e em algumas regiões do sul da Amazônia brasileira e norte da Colômbia. Além disso, o risco de mortalidade foi maior para árvores maiores com menor densidade de madeira.

Sousa explicou que as árvores grandes são mais vulneráveis aos extremos climáticos porque precisam usar mais energia para puxar a água do solo até suas folhas. Quando as temperaturas são altas, as árvores grandes também “suor” mais do que outras através da evapotranspiração. E muita transpiração sem absorção suficiente de água pode deixar as plantas desidratadas.

“É como se eles morressem de sede”, disse Sousa.

Protegendo as florestas remanescentes

O novo estudo também ajudou a explicar como diferentes florestas tropicais respondem a temperaturas mais quentes. Alguns cientistas levantaram a hipótese de que as florestas mais quentes e secas poderiam se adaptar mais facilmente à seca futura e ao calor extremo, porque evoluíram nesses climas durante séculos. De fato, estudos semelhantes mostraram que as florestas tropicais africanas permaneceram sumidouros de carbono eficazes durante os eventos do El Nino.

Como os pesquisadores monitoraram apenas parcelas florestais intactas, eles não consideraram a quantidade de dióxido de carbono liberado através do desmatamento e dos incêndios florestais, que são desenfreados nas florestas da América do Sul.

Para a cientista climática Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que não esteve envolvida no estudo, os resultados servem como um lembrete da importância da proteção das florestas intactas remanescentes. Gatti tem pilotado aviões sobre a Amazônia para medir os níveis de carbono no ar por mais de uma década. Seus estudos mostraram que florestas intactas absorvem mais carbono do que aquelas em regiões devastadas por incêndios florestais e perto de zonas desmatadas. Ela disse que acha que a diferença se deve aos níveis mais altos de estresse das árvores.

“Há menos chuva nas regiões desmatadas, então as florestas ficam mais quentes, secas, mais estressadas e vulneráveis à mortalidade”, explicou Gatti.

Sousa concordou e pediu mais investimentos em pesquisa e políticas públicas para preservar as florestas. Como próximo passo, seu grupo de pesquisa avaliará como a presença de reservatórios subaquáticos pode afetar a resposta de uma floresta à seca. Esse tipo de pesquisa pode ajudar a identificar as florestas que são mais resistentes às mudanças climáticas e potencialmente ainda mais vitais para salvaguardar. “Mais do que nunca, precisamos nos concentrar em manter essas florestas protegidas”. (ecodebate)

Os deslizamentos translacionais rasos naturais nas encostas da Serra do Mar

Os Deslizamentos Translacionais Rasos Naturais nas Encostas Da Serra do Mar – Diagnóstico do Fenômeno.
O principal tipo de deslizamento natural na Serra do Mar, por sua distribuição e frequência, é o translacional raso ou planar. Esses deslizamentos mobilizam quase que exclusivamente o horizonte superior de solos superficiais.

A imponente escarpa da Serra do Mar, responsável, por obséquio de sua topografia acidentada, pela conservação do pouco que nos resta da Mata Atlântica na região sudeste brasileira, cumpre uma espetacular função ambiental, determinante na equação climática regional. Claro, além de sua importância cênica, ecológica, turística, histórica e cultural.

Essa escarpa serrana, que desde tempos pré-coloniais impõe uma enorme dificuldade de transposição para homens e cargas na ligação litoral-interior, tem origem tectônica por reativação da Falha de Santos, ocorrida ao final do Cretáceo, há cerca de 65 milhões de anos, a uma distância, mar adentro, de perto de 60 Km da atual orla litorânea do sudeste brasileiro. A escarpa ocupa sua atual posição geográfica fruto de um prolongado processo de regressão erosiva.

Preteritamente, desde o início do período Terciário, em ocasião de paleoclimas áridos com chuvas torrenciais, ambiente geológico em que a cobertura vegetal recolhia-se a pequenos refúgios (Aziz Ab’Saber), os solos então formados durante o clima quente/úmido, e então desprotegidos, eram lavrados violentamente pôr em eventos pluviométricos intensos, conformando momentos geológicos de acelerada regressão geomorfológica da escarpa.

Em intervalos geológicos e climáticos quentes e úmidos, como o atual, quando se estabelece o domínio pleno da floresta atlântica (floresta ombrófila densa), a regressão erosiva da escarpa da Serra do Mar desacelera-se, dando-se apenas restritamente como consequência de deslizamentos isolados em episódios de chuvas intensas, e, em maiores períodos de recorrência, por miríade de deslizamentos concomitantes em eventos de elevada pluviosidade concentrada.

Em ambos os casos, obedecendo ao mesmo padrão pluviométrico: alguns dias de chuvas ininterruptas (chuvas de saturação) culminados por um episódio pluviométrico de grande intensidade (chuva de deflagração). Mas, em termos de capacidade de movimentação de solos, na atual condição climática pode-se dizer que o processo mais radical de erosão regressiva da escarpa apresenta-se contido, latente, como consequência da espetacular proteção proporcionada pela floresta.

O principal tipo de movimento de massa natural nas encostas da Serra do Mar

O principal tipo de deslizamento natural na Serra do Mar, por sua distribuição e frequência, é o translacional raso ou planar.

Esses deslizamentos mobilizam quase que exclusivamente o horizonte superior de solos superficiais. Somente eu sua “raiz”, ou seja, no local de sua origem/início, há, eventualmente, mobilização de materiais do horizonte imediatamente inferior de solo de alteração de rocha, saprolítico. São os deslizamentos translacionais rasos, por sua grande área de distribuição e pela frequência de ocorrência, aqueles que devem inspirar o maior cuidado para os empreendimentos humanos que se façam necessários na Serra do Mar. A Geologia de Engenharia brasileira proporcionou nas últimas décadas um considerável avanço da compreensão da dinâmica evolutiva desse tipo de deslizamento, atingindo o que se pode considerar um estágio avançado de conhecimentos, informando adequadamente, a todo tipo de atividade humana interessada, sobre onde, quando e como esses deslizamentos ocorrem. (ecodebate)

Extremos climáticos sempre afetam os mais pobres

Deslizamento em Petrópolis, fevereiro de 2022.

A culpa sempre recai sobre a mãe natureza, mas certamente um olhar mais atento e imparcial pode revelar a crueldade social que se esconde por trás de uma tragédia.

O mundo inteiro sofre com tragédias causadas por eventos climáticos como furacões, tempestades, terremotos e tantos outros, porém, na grande maioria dos países, essas tragédias normalmente não causam nada além de prejuízos materiais. Já no Brasil, tragédias como a que ocorreu em Petrópolis causam centenas de mortos, em sua maioria de cidadãos pobres que habitam em áreas de risco.

Logicamente, a culpa sempre recai sobre a mãe natureza, mas certamente um olhar mais atento e imparcial pode revelar a crueldade social que se esconde por trás de uma tragédia aparentemente “natural” e, mais do que isso, para a falta de políticas públicas e incompetência dos governos municipais, estaduais e federal para impedir que isso ocorra.

Tudo começa por falta de políticas públicas que deveriam abranger a geração de emprego e renda, projetos habitacionais, educacionais, de saúde e de melhoria dos transportes, e por isso famílias pobres ocupam ilegalmente áreas de risco para construírem suas habitações.

Nova pesquisa sugere que o aquecimento global aumentou a desigualdade social ao reduzir o crescimento de países de clima quente, como Índia, Brasil e Nigéria, enquanto países desenvolvidos, como Noruega e Suécia, ficaram ainda mais ricos.

Isso mesmo, geralmente as favelas se formam para que o trabalhador e suas famílias possam ficar mais próximos dos locais de trabalho e dos serviços públicos essenciais que lhe são negados nas áreas mais distantes, deixando exposto o primeiro erro da administração pública, que é a ausência total de políticas públicas sérias que possam reverter este fenômeno.

Depois, o gestor público comete o crime de omissão, pois não cumpre o seu papel de fiscalização impedindo tais ocupações de acontecerem, permitindo a criação dessas comunidades em áreas de alto risco, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, uma tragédia acontecerá, porém “desde que a tragédia ocorra no governo de seu sucessor” isso não é um problema para ser pensado agora.

E assim, entra mandato, sai mandato e as comunidades vão crescendo em velocidades alucinantes, sem ordenação, sem saneamento básico, sem um plano de prevenção e controle de catástrofes e sem medidas que poderiam minimizar os efeitos dos eventos climáticos.

Infelizmente, até hoje no Brasil inexistem dispositivos legais para que o judiciário possa penalizar a administração pública por tais tragédias e pelos mortos, ressarcindo as suas famílias e obrigando os gestores a promover a realocação dessas comunidades para locais seguros, e logicamente tais dispositivos inexistem porque os políticos sequer apresentam ou aprovam leis capazes de punir a si próprios pela omissão, descaso e morte de cidadãos.

Todos esses fatores fazem com que a verdadeira tragédia no Brasil seja ser pobre e privado dos serviços básicos, ser invisível aos olhos dos políticos, que somente visitam essas áreas em busca de votos a cada dois anos, sempre com falsas promessas e que se escondem em seus gabinetes quando a tragédia ocorre.

Vilarejo nas Filipinas atingido por tufão em novembro de 2020.

E de tragédia em tragédia vamos escrevendo essas cruéis páginas de sangue, dor e sofrimento na história de nosso país. (ecodebate)

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Mudança climática ameaça a vida de bilhões de pessoas

Mudanças Climáticas 202 2: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade. Contribuição do Grupo de Trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

As mudanças climáticas induzidas pelo homem estão causando perturbações perigosas e generalizadas na natureza e afetando a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo, apesar dos esforços para reduzir os riscos. Pessoas e ecossistemas menos capazes de lidar com a situação estão sendo os mais atingidos, disseram cientistas no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

“Este relatório é um alerta terrível sobre as consequências da inação”, disse Hoesung Lee, presidente do IPCC. “Isso mostra que a mudança climática é uma ameaça grave e crescente ao nosso bem-estar e a um planeta saudável. Nossas ações hoje moldarão como as pessoas e a natureza respondem aos crescentes riscos climáticos”.

O mundo enfrenta vários riscos climáticos inevitáveis nas próximas duas décadas com o aquecimento global de 1,5°C (2,7°F). Mesmo excedendo temporariamente este nível de aquecimento resultará em impactos severos adicionais, alguns dos quais serão irreversíveis. Os riscos para a sociedade aumentarão, inclusive para infraestrutura e assentamentos costeiros de baixa altitude.   

O resumo para formuladores de políticas do relatório do Grupo de Trabalho II do IPCC, Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and Vulnerability foi aprovado no domingo, 27/02/2022, por 195 governos membros do IPCC, por meio de uma sessão virtual de aprovação que foi realizada ao longo de duas semanas a partir em 14 de fevereiro.

Ação urgente necessária para lidar com riscos crescentes

O aumento das ondas de calor, secas e inundações já está excedendo os limites de tolerância de plantas e animais, causando mortalidade em massa em espécies como árvores e corais. Esses extremos climáticos estão ocorrendo simultaneamente, causando impactos em cascata cada vez mais difíceis de gerenciar. Eles expuseram milhões de pessoas à insegurança alimentar e hídrica aguda, especialmente na África, Ásia, América Central e do Sul, em Pequenas Ilhas e no Ártico.

Para evitar a perda crescente de vidas, biodiversidade e infraestrutura, é necessária uma ação ambiciosa e acelerada para se adaptar às mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que se faz cortes rápidos e profundos nas emissões de gases de efeito estufa. Até agora, o progresso na adaptação é desigual e há crescentes lacunas entre as medidas tomadas e o que é necessário para lidar com os riscos crescentes, segundo o novo relatório. Essas lacunas são maiores entre as populações de baixa renda.

O relatório do Grupo de Trabalho II é a segunda parte do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC, que será concluído este ano.

“Este relatório reconhece a interdependência do clima, da biodiversidade e das pessoas e integra as ciências naturais, sociais e econômicas mais fortemente do que as avaliações anteriores do IPCC”, disse Hoesung Lee. “. Enfatiza a urgência de ações imediatas e mais ambiciosas para lidar com os riscos climáticos. Meias medidas não são mais uma opção”.

Salvaguardar e fortalecer a natureza é fundamental para garantir um futuro habitável

Existem opções para se adaptar a um clima em mudança. Este relatório fornece novos insights sobre o potencial da natureza não apenas para reduzir os riscos climáticos, mas também para melhorar a vida das pessoas.

“Os ecossistemas saudáveis são mais resilientes às mudanças climáticas e fornecem serviços essenciais à vida, como alimentos e água potável”, disse o copresidente do Grupo de Trabalho II do IPCC, Hans-Otto Pörtner. “Ao restaurar ecossistemas degradados e conservar de forma eficaz e equitativa 30 a 50% da terra, água doce e habitats oceânicos da Terra, a sociedade pode se beneficiar da capacidade da natureza de absorver e armazenar carbono, e podemos acelerar o progresso em direção ao desenvolvimento sustentável, mas finanças e políticas adequado apoio são essenciais”.

Cientistas apontam que as mudanças climáticas interagem com tendências globais como uso insustentável de recursos naturais, urbanização crescente, desigualdades sociais, perdas e danos por eventos extremos e uma pandemia, comprometendo o desenvolvimento futuro.

“Nossa avaliação mostra claramente que enfrentar todos esses diferentes desafios envolve todos – governos, setor privado, sociedade civil – trabalhando juntos para priorizar a redução de riscos, bem como a equidade e a justiça na tomada de decisões e investimentos”, disse o Co-Grupo de Trabalho II do IPCC. Presidente Debra Roberts.

“Dessa forma, diferentes interesses, valores e visões de mundo podem ser conciliados. Ao reunir o know-how científico e tecnológico, bem como o conhecimento indígena e local, as soluções serão mais eficazes. O fracasso em alcançar um desenvolvimento resilientes e sustentável ao clima resultará em um futuro abaixo do ideal para as pessoas e a natureza”.

Cidades: focos de impactos e riscos, mas também uma parte crucial da solução

Este relatório fornece uma avaliação detalhada dos impactos, riscos e adaptação das mudanças climáticas nas cidades, onde vive mais da metade da população mundial. A saúde, a vida e os meios de subsistência das pessoas, bem como a propriedade e a infraestrutura crítica, incluindo os sistemas de energia e transporte, estão sendo cada vez mais adversamente afetados por riscos de ondas de calor, tempestades, secas e inundações, bem como mudanças de início lento, incluindo o aumento do nível do mar.

“Juntos, a crescente urbanização e as mudanças climáticas criam riscos complexos, especialmente para aquelas cidades que já experimentam um crescimento urbano mal planejado, altos níveis de pobreza e desemprego e falta de serviços básicos”, disse Debra Roberts.

“Mas as cidades também oferecem oportunidades para a ação climática – edifícios verdes, suprimentos confiáveis de água potável e energia renovável e sistemas de transporte sustentáveis que conectam áreas urbanas e rurais podem levar a uma sociedade mais inclusiva e justa”.

Há cada vez mais evidências de adaptação que causou consequências não intencionais, por exemplo, destruindo a natureza, colocando a vida das pessoas em risco ou aumentando as emissões de gases de efeito estufa. Isso pode ser evitado envolvendo todos no planejamento, atenção à equidade e justiça, e aproveitando o conhecimento indígena e local.

Uma janela estreita para a ação

A mudança climática é um desafio global que requer soluções locais e é por isso que a contribuição do Grupo de Trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC fornece informações regionais extensas para permitir o Desenvolvimento Resiliente ao Clima.

O relatório afirma claramente que o Desenvolvimento Resilientes ao Clima já é um desafio nos níveis atuais de aquecimento. Ele se tornará mais limitado se o aquecimento global exceder 1,5°C (2,7°F). Em algumas regiões, será impossível se o aquecimento global exceder 2°C (3,6°F). Esta descoberta chave sublinha a urgência da ação climática, com foco na equidade e justiça. Financiamento adequado, transferência de tecnologia, compromisso político e parceria levam a uma adaptação mais eficaz às mudanças climáticas e a reduções de emissões.

“A evidência científica é inequívoca: a mudança climática é uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta. Qualquer atraso adicional na ação global concertada perderá uma janela breve e de fechamento rápido para garantir um futuro habitável”, disse Hans-Otto Pörtner.

Notas

Mudanças Climáticas 202 2: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade. Contribuição do Grupo de Trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

O relatório do Grupo de Trabalho II examina os impactos das mudanças climáticas na natureza e nas pessoas em todo o mundo. Ele explora os impactos futuros em diferentes níveis de aquecimento e os riscos resultantes e oferece opções para fortalecer a resiliência da natureza e da sociedade às mudanças climáticas em andamento, combater a fome, a pobreza e a desigualdade e manter a Terra um lugar que valha a pena viver – tanto para o atual quanto para o futuro de gerações futuras.

O Grupo de Trabalho II apresenta vários novos componentes em seu último relatório: Um é uma seção especial sobre impactos das mudanças climáticas, riscos e opções para atuar em cidades e assentamentos à beira-mar, florestas tropicais, montanhas, hotspots de biodiversidade, terras áridas e desertos, o Mediterrâneo como bem como as regiões polares. Outro é um atlas que apresentará dados e descobertas sobre os impactos e riscos das mudanças climáticas observados e projetados, de escala global a regional, oferecendo ainda mais insights para os tomadores de decisão.

O Resumo para os formuladores de políticas da contribuição do Grupo de Trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação (AR6), bem como materiais e informações adicionais, estão disponíveis em  https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/.

Nota: Originalmente programado para ser lançado em setembro/2021, o relatório foi adiado por vários meses pela pandemia do COVID-19, pois o trabalho na comunidade científica, incluindo o IPCC, mudou para on-line. Esta é a segunda vez que o IPCC realiza uma sessão virtual de aprovação de um de seus relatórios.

AR6 Grupo de Trabalho II em números

270 autores de 67 países

• 47 – autores coordenadores

• 184 – autores principais

• 39 – editores de revisão

• 675 – autores contribuintes

Mais de 34.000 referências citadas

Um total de 62.418 comentários de especialistas e de revisão do governo

(Esboço de Primeira Ordem 16.348; Minuta de Segunda Ordem 40.293; Distribuição Governamental Final: 5.777)

Mais informações sobre o Sexto Relatório de Avaliação podem ser encontradas  aqui.

Sobre o IPCC

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é o órgão da ONU para avaliar a ciência relacionada às mudanças climáticas. Foi estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em 1988 para fornecer aos líderes políticos avaliações científicas periódicas sobre as mudanças climáticas, suas implicações e riscos, bem como propor estratégias de adaptação e mitigação. No mesmo ano, a Assembleia Geral da ONU endossou a ação da OMM e do PNUMA em estabelecer conjuntamente o IPCC. Tem 195 estados membros.

Milhares de pessoas de todo o mundo contribuem para o trabalho do IPCC. Para os relatórios de avaliação, os cientistas do IPCC oferecem seu tempo para avaliar os milhares de artigos científicos publicados a cada ano para fornecer um resumo abrangente do que se sabe sobre os motores das mudanças climáticas, seus impactos e riscos futuros, e como a adaptação e a mitigação podem reduzir esses riscos.

O IPCC tem três grupos de trabalho:  Grupo de Trabalho I, que trata das bases da ciência física das mudanças climáticas; Grupo de Trabalho II, que trata de impactos, adaptação e vulnerabilidade; e Grupo de Trabalho III, que trata da mitigação das mudanças climáticas. Também possui uma Força Tarefa sobre Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa que desenvolve metodologias para medição de emissões e remoções. Como parte do IPCC, um Grupo de Tarefas de Suporte de Dados para Avaliações de Mudanças Climáticas (TG-Data) fornece orientação ao Centro de Distribuição de Dados (DDC) sobre curadoria, rastreabilidade, estabilidade, disponibilidade e transparência de dados e cenários relacionados aos relatórios de o IPCC.

As avaliações do IPCC fornecem aos governos, em todos os níveis, informações científicas que podem ser usadas para desenvolver políticas climáticas. As avaliações do IPCC são uma contribuição fundamental para as negociações internacionais para enfrentar as mudanças climáticas. Os relatórios do IPCC são elaborados e revisados em várias etapas, garantindo objetividade e transparência. Um relatório de avaliação do IPCC consiste nas contribuições dos três grupos de trabalho e um Relatório Síntese. O Relatório Síntese integra as conclusões dos três relatórios do grupo de trabalho e de quaisquer relatórios especiais elaborados nesse ciclo de avaliação.

Sobre o Sexto Ciclo de Avaliação

Em sua 41ª Sessão em fevereiro/2015, o IPCC decidiu produzir um Sexto Relatório de Avaliação (AR6). Em sua 42ª Sessão em outubro/2015, elegeu uma nova Mesa que supervisionaria o trabalho sobre este relatório e os Relatórios Especiais a serem produzidos no ciclo de avaliação.

Aquecimento Global de 1,5°C, um relatório especial do IPCC sobre os impactos do aquecimento global de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e vias de emissão global de gases de efeito estufa relacionadas, no contexto do fortalecimento da resposta global à ameaça das mudanças climáticas, desenvolvimento, e os esforços para erradicar a pobreza foram lançados em outubro/2018.

Climate Change and Land, um relatório especial do IPCC sobre mudanças climáticas, desertificação, degradação da terra, manejo sustentável da terra, segurança alimentar e fluxos de gases de efeito estufa em ecossistemas terrestres foi lançado em agosto/2019, e o Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em uma Mudança Climate foi lançado em setembro/2019.

Em maio de 2019, o IPCC divulgou o Refinamento de 2019 das Diretrizes do IPCC de 2006 para Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa, uma atualização da metodologia usada pelos governos para estimar suas emissões e remoções de gases de efeito estufa.

Em agosto/2021, o IPCC divulgou a contribuição do Grupo de Trabalho I para o AR6, Climate Change 2021, the Physical Science Basis.

A contribuição do Grupo de Trabalho III para o AR6 está prevista para o início de abril/2022.

O Relatório Síntese do Sexto Relatório de Avaliação será concluído no segundo semestre de 2022.

Para mais informações, acesse www.ipcc.ch. (ecodebate)

80% dos moradores de Miami sofrerão impactos do aumento do nível do mar

Miami elabora plano para combater o aumento do nível do mar em 40 anos.

Relatório apresenta propostas para o enfrentamento das consequências trazidas pelas mudanças climáticas na região.

Os efeitos serão sentidos predominantemente por pessoas de baixa renda, já que as áreas habitáveis encolhem e os preços da habitação aumentam

Um novo estudo que examina os efeitos físicos e socioeconômicos do aumento do nível do mar na área do condado de Miami-Dade, na Flórida, descobriu que nas próximas décadas, quatro em cada cinco moradores podem enfrentar interrupções ou deslocamentos, quer vivam em zonas de inundação ou não.

Como a inundação se espalha, os efeitos serão sentidos predominantemente por pessoas de baixa renda, já que as áreas habitáveis encolhem e os preços da habitação aumentam, diz o estudo. Apenas um pequeno número de moradores poderá se mudar de propriedades baixas ou à beira-mar, enquanto muitos outros sem meios suficientes podem ficar presos lá, diz.

O estudo combina projeções de construção por construção de inundações causadas por aumento direto do nível do mar, chuvas ou tempestades com dados demográficos finos para determinar como os moradores serão afetados. Junto com mapas de inundação, os pesquisadores usaram os EUA. Dados do Census Bureau para traçar fatores econômicos e sociais que tornariam as pessoas mais ou menos vulneráveis, incluindo idade, raça, nível de educação, renda e status de emprego, e se eles possuíam ou alugariam suas casas, entre outras medidas. Dividiram a população em quatro categorias.

Com um aumento de um metro do nível do mar – um cenário intermediário para o final deste século –,66% da população, principalmente em terrenos mais altos, poderia enfrentar pressões para se mudar, dizem eles. Os pesquisadores chamam essas pessoas de “deslocáveis”.

O segundo maior grupo que eles rotularam de “preso” – cerca de 19% da população, vivendo em território cronicamente inundado, mas sem os meios para fugir para um terreno mais seguro nas proximidades. Cerca de outros 19% seriam “estáveis”, de acordo com os pesquisadores – vivendo em áreas não propensas a inundações e capazes de permanecer lá. Apenas 7%, basicamente os mais ricos, que os pesquisadores rotularam como “migrando” – seriam diretamente expostos a inundações em áreas à beira-mar ou baixas, mas capazes de se mover para pontos mais seguros dentro da área metropolitana.

Aumento do nível do mar na costa da Flórida preocupa autoridades.

Um estudo da Florida Atlantic University estimou que apenas 6 centímetros a mais de aumento do nível do mar colocariam em risco o sul da Flórida.

Não surpreendentemente, o estudo diz que, se o nível do mar subir ainda mais de um metro, inundações diretas se tornarão a força dominante que afeta os moradores. Em dois metros – bastante alto em meio à faixa atual de estimativas, mas não fora de questão – cerca de 55% da população será inundada diretamente através de uma combinação de alto nível do mar e, em uma extensão crescente, chuvas. Sob esse cenário, 49% da população ficaria presa e 25% deslocados. Apenas 8% seriam classificados como estáveis.

O estudo não analisa quantas pessoas estão atualmente sendo afetadas por inundações, direta ou indiretamente. Mas as inundações já se tornaram uma parte rotineira da vida, já que os picos mensais nas marés se infiltram nos esgotos durante as chamadas inundações ensolaradas e a chuva sem lugar para drenar piscinas nas ruas. O tipo de inundação repentina na cidade de Nova York que fez grandes notícias depois de uma grande tempestade no final de setembro seria visto como apenas mais um dia em partes de Miami durante a temporada chuvosa de maio a outubro.

Uma pesquisa ainda não publicada indica que quase três quartos dos habitantes de Miami dizem que foram pessoalmente afetados pelas inundações causadas pelas chuvas de uma forma ou de outra.

Há também algumas indicações de que a chamada gentrificação climática – o deslocamento de pessoas de baixa renda de áreas de alta distância previstas pelo estudo – já está ocorrendo. Por exemplo, nos últimos anos, o bairro Little Haiti, um relativamente alto 10 pés acima do nível do mar, tem visto um aumento repentino no desenvolvimento e nos valores das propriedades, preocupando os moradores em grande parte negros de que eles podem não ser capazes de permanecer.

Exposição de inundações no Condado de Miami-Dade. (a)-(b) Painéis retratam modelagem de exposição a inundações sobrevidas em imagens no nível da rua de uma seção do centro de Miami no condado de Miami-Dade sob cenários de SLR de 0 m (a) e 1 m (b). Em cada uma delas, a maior profundidade de inundação modelada é especificada (ou seja, como a maior profundidade de precipitação, tempestades ou inundações de águas subterrâneas). (c)-(f) Os painéis retratam a distribuição espacial em todo o condado dos riscos de inundação sob a SLR. Em cada um, o impulsionador de inundação dominante é especificado como inundação para profundidades de 3 cm ou superior ou, alternativamente, inundações impulsionadas por tempestades a profundidades de 30 cm ou mais. (ecodebate)

Crise da água ameaça a segurança alimentar, a sustentabilidade e a economia

A primeira estimativa anual do valor econômico da água e dos ecossistemas de água doce é de US$ 58 trilhões – equivalente a 60% do PIB global. A degradação de rios, lagos, zonas úmidas e aquíferos ameaça seu valor econômico e seu papel insubstituível na manutenção da saúde humana e planetária

A água – o recurso mais precioso e subvalorizado do mundo – está no centro de uma crise global crescente que ameaça a saúde humana e planetária, alerta um novo relatório publicado pelo WWF.

Lançado no Dia Mundial da Alimentação, o relatório O alto custo da água barata: o verdadeiro valor da água e dos ecossistemas de água doce para as pessoas e para o planeta revela uma dura realidade: o valor econômico anual da água e dos ecossistemas de água doce é estimado em US$ 58 trilhões, o equivalente a 60% do Produto Interno Bruto (PIB) global. A degradação de rios, lagos, zonas úmidas e aquíferos subterrâneos está ameaçando esses valores, além de prejudicar as ações sobre o clima e a natureza e o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

No Brasil, a seca que assola a Amazônia é o mais recente exemplo da gravidade do problema, que já afetou diversas regiões do país nos últimos anos, comprometendo o fornecimento de água potável em importantes regiões metropolitanas. Na última década, os nove países com floresta amazônica em seu território perderam 1 milhão de hectares de superfície de água, o equivalente a seis cidades de São Paulo em área hídrica, segundo o Mapbiomas. Além disso, outros problemas como o uso ilegal do mercúrio para a mineração e o desmatamento agravam a situação.

A rica biodiversidade da bacia do rio Amazonas sofre com o envenenamento por mercúrio proveniente da mineração ilegal de ouro. Essa substância altamente tóxica entra nos cursos d’água e se acumula em rios, peixes, plantas e plantações impactando toda cadeia alimentar da região. Um estudo que mediu os níveis de mercúrio em peixes vendidos em seis estados e 17 municípios da Amazônia brasileira mostrou que, em média, 21% dos peixes vendidos tinham níveis inseguros de mercúrio. Já o desmatamento impossibilita a saúde das florestas e seus serviços ambientais como as cheias dos rios e os recorrentes ciclos hidrológicos que garantem as safras dos alimentos.

Desde 1970, o mundo perdeu um terço de suas áreas úmidas remanescentes, enquanto as populações de animais selvagens de água doce caíram em uma média de 83%. No Brasil, por exemplo, a população de botos cor-de-rosa na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no estado do Amazonas, teve uma queda de 65% entre 1994 e 2016, segundo o Relatório Planeta Vivo 2022.

A perda da natureza, a insegurança hídrica e alimentar tendem a se agravar com a redução de águas acelerada pelas mudanças climáticas. Situações como as mortes dos golfinhos do lago Tefé-AM, cerca de 140 animais nas últimas semanas, pode ser algo recorrente, assim como o aumento do número de pessoas que enfrentam a escassez de água e a falta de alimentos, pois os rios e lagos secam, a poluição aumenta e as fontes de alimentos, como a pesca em água doce, diminuem.

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) já alertou que as alterações climáticas causadas pela ação humana contribuíram para a gravidade do impacto das secas em muitas regiões do planeta. Estima-se que os riscos relacionados com a água aumentem com cada grau de aquecimento global. Ações de preservação da floresta como a redução do desmatamento e o controle do garimpo ilegal que assola grande parte da Amazônia são fundamentais para a saúde dos rios e lagos.

“A água é um dos pilares do nosso futuro compartilhado”, disse a Dra. Kirsten Schuijt, diretora-geral do WWF Internacional. “O relatório do WWF revela o valor surpreendente que a água tem para nós. Chegou a hora de governos, empresas e instituições financeiras investirem na proteção e restauração de nossos ecossistemas de água doce para garantir que construamos um futuro em que a água flua em abundância para todos”, acrescentou Schuijt.

Valor econômico da água e dos ecossistemas de água doce

O relatório conclui que os benefícios econômicos diretos, como o consumo de água para residências, agricultura irrigada e indústrias, chegam a um mínimo de US$ 7,5 trilhões por ano. O documento também estima que os benefícios invisíveis – que incluem a purificação da água, a melhoria da saúde do solo, o armazenamento de carbono e a proteção das comunidades contra inundações e secas extremas – são sete vezes maiores, cerca de US$ 50 trilhões por ano.

Direto: US$ 7,5 trilhões – uso consuntivos na indústria (US$ 5,1 trilhões); residências (US$ 1,5 trilhão); e agricultura (US$ 380 bilhões), juntamente com usos não consuntivos, como transporte terrestre, energia hidrelétrica e recreação (US$ 460 bilhões)

Indiretos: US$ 50 trilhões – regulamentação ambiental, incluindo a melhoria da qualidade da água e da saúde do solo, o fornecimento de sedimentos e nutrientes, o armazenamento de carbono (US$ 27 trilhões); a mitigação de eventos extremos, como secas e inundações (US$ 12 trilhões); e a manutenção da biodiversidade em terra e em ambientes marinhos e de água doce (US$ 11 trilhões).

*Os valores do PIB são dos últimos conjuntos de dados anuais disponíveis a partir de 2021.

Os ecossistemas de água doce do mundo estão em uma espiral descendente, o que representa um risco cada vez maior para esses valores. A extração de quantidades insustentáveis de água, os subsídios prejudiciais, as alterações nos fluxos dos rios, a poluição e os impactos relacionados às mudanças climáticas estão colocando em risco os ecossistemas de água doce. Surpreendentemente, dois terços dos maiores rios do mundo não estão mais fluindo livremente, enquanto as áreas úmidas continuam a ser perdidas três vezes mais rápido do que as florestas.

Combinada com a má gestão da água, a destruição dos ecossistemas de água doce deixou bilhões de pessoas em todo o mundo sem acesso a água limpa e saneamento, enquanto os riscos da água para as empresas e economias estão crescendo. Até 2050, cerca de 46% do PIB global poderá ser proveniente de áreas com alto risco hídrico, em comparação com os 10% atuais.

Para enfrentar a crise hídrica global, o WWF pede que governos, empresas e instituições financeiras aumentem urgentemente o investimento em infraestrutura hídrica sustentável. No entanto, ele adverte que o pensamento ultrapassado, que se concentra apenas em mais infraestrutura construída e ignora a origem do problema – rios, lagos, zonas úmidas e aquíferos degradados – não resolverá a crise da água, especialmente na era da ebulição climática.

Chave está em reverter a perda contínua de ecossistemas de água doce. Os governos, por exemplo, devem aderir ao Freshwater Challenge (Desafio da Água Doce), uma iniciativa liderada por países que visa restaurar 300.000 km de rios degradados e 350 milhões de hectares de áreas úmidas degradadas em todo o mundo até 2030 e proteger os ecossistemas de água doce intactos. Enquanto isso, as empresas devem transformar sua abordagem em relação à água e ampliar a ação coletiva para construir bacias hidrográficas mais resilientes.

“A água e os ecossistemas de água doce não são apenas fundamentais para nossas economias, mas também são a força vital de nosso planeta e de nosso futuro”, disse Stuart Orr, líder global de água doce do WWF. “Precisamos lembrar que a água não vem de uma torneira – ela vem da natureza. A água para todos depende de ecossistemas de água doce saudáveis, que também são a base da segurança alimentar, pontos críticos de biodiversidade e o melhor amortecedor e seguro contra a intensificação dos impactos climáticos. Reverter a perda de ecossistemas de água doce abrirá o caminho para um futuro mais resilientes, positivo para a natureza e sustentável para todos”. (ecodebate)

Recorrentes Poluições do Ar

A poluição atmosférica é responsável por cerca de 7 milhões de mortes e 90% da população mundial respira ar com níveis de poluentes que excedem os limites indicados pela Organização Mundial de Saúde, OMS.

Com razoável constância recebemos, infelizmente, informações sobre graves ocorrências de poluição do ar, com características e causas variadas. Seguem alguns exemplos recentes dos muitos reportados.

Nova Déli, com cerca de 20 milhões de habitantes, é uma das cidades mais poluídas do mundo. Ela é afetada a cada inverno (hemisfério norte) por uma densa camada de névoa tóxica. Um estudo publicado na revista The Lancet, em 2020, afirma que pelo menos 17.500 pessoas morreram em Nova Déli em 2019 devido à poluição do ar. A Índia tem a maior taxa de mortalidade mundial por doenças respiratórias crônicas e asma, de acordo com a OMS. O relato de Nova Délhi é um caso extremo que, infelizmente, está presente, em diferentes graus, na maioria das grandes zonas urbanas e industriais.

Em 2013, a China registrou uma média de 52,4 microgramas (µg) por metro cúbico (m3) de partículas poluentes PM2,5 — dez vezes mais do que o limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) hoje. As partículas finas PM2,5, provenientes da combustão de resíduos e combustíveis fósseis, são muito prejudiciais à saúde devido à sua alta capacidade de penetração nas vias respiratórias. Pequim vivia o denominado airpocalipsis, algo como “apocalipse do ar”. A China, entretanto, reduziu em 40% a quantidade de partículas nocivas no ar entre 2013 e 2020, segundo o relatório apresentado em junho pelo Instituto de Política de Energia da Universidade de Chicago (EPIC, na sigla em inglês), nos EUA, que realiza medições por satélite.

Uma nuvem gigante de poeira cobriu o horizonte em Franca-SP em setembro de 2021. A cidade enfrentava racionamento de água por causa da estiagem prolongada. Essa inquietante nuvem foi percebida no interior de São Paulo e em Minas Gerais. O fenômeno é uma combinação da poeira acumulada ao longo de semanas de estiagem com os fortes ventos que ocorreram antes das chuvas. Em Ribeirão Preto (SP), por exemplo, as rajadas chegaram perto dos 100 km/h.. Na mesma região, em Pradópolis (SP), os ventos chegaram a 80 km/h.

No primeiro semestre/2023, milhões de habitantes da Costa Leste dos EUA conviveram com fumaça carregada de cinzas dos violentos incêndios florestais canadenses. A fumaça começou a se espalhar para os Estados Unidos a partir de Quebec, envolveu horizontes inteiros em uma espessa névoa de fuligem, agravando os ataques de asma e levando as autoridades a declarar alertas de qualidade do ar em Pittsburgh, Baltimore e Provincetown, Massachusetts. A névoa chegou a cobrir toda a cidade de Nova York, bloqueando o sol e tingindo o céu de um sinistro laranja escuro – como uma cena de um filme pós-apocalíptico. O fenômeno foi apelidado na internet de Smokepocalypse.

Focos de incêndio na Amazônia, em setembro/outubro/23, lançaram uma capa de fumo cinzento sobre a cidade de Manaus com cerca de 2 milhões de habitantes. Segundo o World Air Quality Index, a qualidade do ar de Manaus está entre as piores do mundo. Os sinistros ocorrem em meio a uma seca extrema na região, com os rios em níveis criticamente baixos, dificultando o transporte e o abastecimento de cerca de 500 mil habitantes. O estado do Amazonas atravessa o pior outubro em 25 anos, no tocante a focos de incêndio. INPE/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais registrou 2.770 focos ativos, um aumento de 154% em relação ao mesmo período de 2022.

Metrópoles iranianas ficaram sufocadas, em março de 2013, por ar poluído. Durante uma semana, o ar acre fechou as escolas e manteve os residentes, reféns, nas suas casas. Os dias perigosamente poluídos também dobraram quatro vezes em Teerã desde o início do ano em curso, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Complexas composições químicas orgânicas e inorgânicas das partículas atmosféricas (PA) são referidas como “coquetel químico” e podem conter diversos elementos tóxicos, incluindo metais e metaloides (p.ex., Cd, Pb, As, Cu e Cr) que são prejudiciais para saúde humana. Alguns estudos mostram que a poeira de rua contribui de 20-95% para poeira doméstica (Meyer et al., 1999; Rasmussen et al., 2001). Consequentemente, casas próximas a áreas industriais podem ter uma concentração de metal mais alta do que casas longe delas. Casas nos subúrbios podem ter menor concentração de metal do que casas no centro da cidade. (Rasmussen et al., 2013).

Os estudos e discussões sobre a química e fontes das poeiras domésticas, com suas implicações para a saúde humana são questões ambientais de significante importância, até devido os seus corriqueiros acontecimentos e recorrências anômalas. Termino com Drummond: “A natureza não faz milagres; faz revelações”. (ecodebate)

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