Cientistas utilizam sete
indicadores principais para monitorar o estado do sistema climático global;
processo envolve observações no fundo do mar até ao topo da atmosfera e conta
com ampla rede de estações espalhadas pelo mundo, além de satélites e radares.
Você com certeza já ouviu
mensagens da ONU alertando o mundo sobre o perigo do aquecimento global. Mas
você sabe como é feita a medição que está por trás destes alertas?
Ao todo, sete indicadores são
usados pelos cientistas para monitorar a evolução e o estado do sistema
climático global. Esses indicadores constituem informação chave para descrever
as alterações climáticas.
Os métodos aplicados neste
processo vão de observações no fundo do mar até ao topo da atmosfera.

Comunidades em Maalimin, no
nordeste do Quênia, enfrentam condições de seca.
1 – Temperatura média do ar
na superfície
O primeiro indicador
importante é a temperatura média do ar na superfície. Para gerar essa
informação é feita uma combinação entre a temperatura do ar cerca de dois
metros acima da superfície da terra e do mar, usando informações de estações de
medição espalhadas pelo mundo e modelos de reanálise de clima.
É com base em seis conjuntos
de dados de temperatura global que a OMM calcula a anomalia e o ranking anual.
2023 será o ano mais quente desde que há registro. As medições começaram em
1850.
Além disso, os últimos nove
anos, de 2015 a 2023, foram os mais quentes.
2- Conteúdo de calor do
oceano
O segundo indicador é o
conteúdo de calor do oceano. Essa medida é feita em várias profundidades,
chegando até 2 mil metros. Todas as bases de dados apontam que a taxa de
aquecimento do oceano tem tido um aumento acentuado nas últimas duas décadas em
todas as profundidades.
O oceano absorveu e retém
cerca de 90% do excesso de calor devido ao aumento do efeito estufa causado
pelos humanos. A última informação consolidada disponível, referente ao ano
2022, revela que o conteúdo de calor do oceano atingiu um novo recorde neste
ano.

Restos de uma casa no Atol de
Tarawa, Kiribati, que foi destruída pela elevação do nível do mar e por
tempestades, agravadas pelas mudanças climáticas.
3- Aumento do nível do mar
Outro elemento observado é o
aumento do nível do mar, que tem acontecido de forma constante. Entre janeiro
de 1993 e outubro de 2023, o mar subiu mais de 10 cm, atingido um valor recorde
em 2023.
Além disso, verifica-se uma
aceleração, pois a taxa de subida do nível médio do mar nos últimos dez anos é
mais do que o dobro da registrada entre 1993 e 2002.
As projeções apontam para a
continuidade do aumento de forma cada vez mais rápida, especialmente devido ao
aquecimento dos oceanos e o derretimento do gelo dos glaciares e das calotas
polares.
No ritmo atual, o degelo da
Groenlândia e da Antártida podem contribuir para que o nível médio do mar suba
quase um metro ainda neste século, num cenário de altas emissões de gases com
efeito estufa.
4- Massa glacial
O quarto indicador é a massa
glacial. Os chamados glaciares, ou geleiras, são uma grande massa de gelo que
pode levar até 30 mil anos para se formar. Elas estão presentes em várias
partes do planeta, principalmente no topo das mais altas montanhas. As geleiras
armazenam 70% da água doce existente no planeta.
Desde os anos 70, houve uma
diminuição média de mais de 30 metros na espessura dessas geleiras.
Em agosto de 2023, foi
registrado na Suíça um novo recorde de altitude para o ponto na atmosfera em
que a água congela, que ficou em 5.298 metros. Isso é bem mais acima do que o
topo das mais altas montanhas da Europa, como o Mont Blanc, que tem 4.811
metros.

Túnel de iceberg fotografado
em Portal Point, na Antártida
5- Extensão do gelo marinho
A quinta medida é a extensão
do gelo marinho. Novos números mostram que em setembro deste ano, o gelo
marinho da Antártica era de 1,5 milhão km2 menor que a média, uma área
aproximadamente igual a área de Portugal, da Espanha, da França e Alemanha
juntas.
É bom lembrar que o gelo
também tem o papel de refletir a luz do sol, então conforme reduz a camada de
gelo do planeta, mais calor fica retido e isso acelera ainda mais o
derretimento do gelo que resta.
6 – Acidificação do oceano
O sexto indicador observado é
a acidificação do oceano. Os mares absorvem cerca de 23% das emissões anuais de
dióxido de carbono, CO2, geradas pelo homem, mas paga um preço
ecológico elevado por isso.
O CO2 reage com a
água do mar aumentando sua acidez e isso coloca em perigo os organismos vivos,
afetando inclusive a pesca e aquicultura. Isso afeta também a proteção costeira
ao enfraquecer os recifes de coral, que servem de barreira para o litoral.

A poluição do ar causada por
usinas de energia contribui para o aquecimento global
7 – Concentração de gases do
efeito estufa
E por último é analisada a
composição da atmosfera. E o que é mais alarmante nesse sentido é o aumento da
concentração de gases que causam o “efeito estufa”, ou seja, retem o calor.
A emissão desses gases
disparou por conta de atividades humanas desde o início da era industrial e
esse é o principal motivo identificado pelos cientistas para as mudanças
climáticas que vivemos hoje.
O principal gás do efeito
estufa é CO2. Parte dele é absorvida por florestas e mares, mas
quase metade fica no ar e demora muitos anos para se dissipar.
A última vez que a Terra
registou uma concentração comparável de CO2 foi há 3 a 5 milhões de anos,
quando a temperatura era 2 a 3°C mais quente e o nível do mar era 10 a 20
metros mais alto do que é agora.
Naquela época havia apenas a
emissão de CO2 por processos naturais. Hoje, a emissão de CO2
gerada pelos seres humanos, embora seja menor do que aquela resultante dos
processos naturais, causa um excesso que não tem como ser absorvido, gerando um
desequilíbrio fatal.

Dados de instituições de
referência
A Organização Meteorológica
Mundial usa conjuntos de dados provenientes de várias instituições de
referência e centros de investigação internacionais, incluindo os dados de
temperatura global de seis instituições que são referência em monitoramento do
clima.
A primeira delas é
Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, NASA. Essa
agência tem pelo menos 42 satélites e instrumentos espaciais dedicados a
medições ligadas ao clima na Terra.
A segunda organização de referência
é a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, Noaa, que
possui ou opera 17 satélites 1322 boias marinhas, 15 navios e 9 aeronaves para
monitorar o clima.
Além disso, a agência
organiza uma base de dados com registros de mais de 100 mil estações
meteorológicas de 180 países e territórios.
A terceira fonte de dados é o
Met Office, o serviço meteorológico nacional do Reino Unido, fundado em 1854. O
centro inglês é uma referência devido a sua capacidade tecnológica baseada no uso
de supercomputadores para realizar previsões meteorológicas e projeções de
alterações climáticas.

ONU Costa Rica/Danilo Mora
OMM para a América do Norte,
América Central e Caribe
A quarta é o Centro Europeu
de Previsão do Tempo, Ecmwf, que opera um dos modelos previsão do tempo com
melhor performance a nível global e o modelo de reanálise ERA5, que integra
variáveis da atmosfera, do solo e do oceano, com elevada resolução espacial e
temporal.
A quinta fonte da OMM é o
grupo Berkeley Earth, uma organização científica independente, especializada em
ciência de dados, que estuda tendências, faz análises estatísticas e simulações
com informações de estações meteorológicas espalhadas ao redor do mundo.
A sexta fonte é a Agência
Meteorológica do Japão, JMA, que desenvolveu o modelo de reanálise de terceira
geração, JRA55, que foi o primeiro deste tipo a disponibilizar informação desde
final da década de 50 do século XX.

Consenso científico
Além disso, a meteorologia é
uma das disciplinas onde existe uma cooperação internacional longa e
bem-sucedida. Os sistemas de observação, incluindo as estações ao redor do
mundo têm que seguir e operar de acordo com especificações rigorosas para gerar
dados uniformizados, confiáveis e robustos.
O Sistema global de
observação da OMM conta atualmente com mais de 11 mil estações em terra, cerca
de 4 mil a bordo de navios, mais de 1,2 mil boias na superfície do mar,
enviando em tempo real os dados de observação, para além de diversos satélites,
aviões, radares e detectores de descargas elétricas atmosféricas, entre outros.
Todo esse compartilhamento da
informação que vem dessas estações e meios de observação alimenta as bases de
dados e modelos climáticos que são usados em estudos rigorosos sobre as causas
do atual aquecimento do planeta.

É por isso que, segundo a
NASA, 97% dos cientistas de clima que estão ativamente desenvolvendo e
publicando estudos concordam que os seres humanos estão causando o aquecimento
global e as mudanças climáticas. (ecodebate)