sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Estudo estima que até 2100, Ilhas Maldivas, Veneza, Londres, Hong Kong e Bangladesh ficarão submersos

Até 2100, adeus, Ilhas Maldivas. Mas também adeus a um belo pedaço de Manhattan, uma grande fatia de Londres, de Hong Kong, mais meia Bangladesh. E, naturalmente, Veneza. Tudo destinado a acabar embaixo d’água, com boa parte das costas litorâneas de todo o mundo, por causa de uma elevação geral do nível dos mares de quase um metro e meio. É uma previsão muito mais pessimista do que a oficial, formulada pelo intergovernamental Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a comissão da ONU sobre o efeito estufa, que havia ficado na metade: 59 centímetros de elevação até o fim do século. No estudo “As mudanças climáticas na Antártida e o meio ambiente”, redigido por nove cientistas (entre os quais o italiano Guido Di Prisco), com a contribuição de mais de 100 pesquisadores, defende-se que os mares irão se elevar em pelo menos 1,4 metros. Não se trata de cientistas contra cientistas. As previsões do IPCC não levavam em consideração a possível contribuição do derretimento das geleiras do Pólo Sul na elevação dos mares. E não levavam em conta por uma ótima razão: as geleiras do Pólo Sul, em seu conjunto, não estão derretendo. Mas o novo estudo, definido como o primeiro relatório exaustivo sobre o clima da Antártida, resolve esse mistério, tirando de campo um dos argumentos preferidos dos céticos do efeito estufa, e adverte que a exceção da Antártida está destinada a acabar muito cedo, com um impacto devastador sobre as costas dos continentes e sobre a vida do homem. Com efeito, enquanto no Pólo Norte a banquisa ártica se restringe mais a cada ano, e as geleiras da Groenlândia perdem volume sempre mais velozmente, no sul, na Antártida, nos últimos 30 anos, mudaram muito pouco. Para os céticos do efeito estufa, essa é a prova de que o aquecimento do planeta não é um fenômeno global, onipresente e contínuo. Mas o novo estudo resolve o enigma. O mais surpreendente, observa John Turner, que coordenou os trabalhos do relatório, é a prova de como um impacto causado pelo homem protegeu a maior parte da Antártida de um outro impacto causado pelo homem. A exceção da Antártida, de fato, é explicada com um paradoxo. O que isolou o Pólo Sul do aquecimento global foi, até agora, o buraco da camada de ozônio. Um outro desastre humano: a camada de ozônio da atmosfera, comprometida por uma série de produtos químicos industriais, protege o planeta das perigosas radiações ultravioletas da luz solar. O buraco da camada de ozônio sobre a Antártida, nas últimas décadas, porém, produziu segundo o estudo um reforço de em torno de 15% dos ventos oceânicos, que isolaram o continente antártico do aquecimento global. Mas tudo isso está acabando. Graças a um acordo internacional, não muito diferente daquele que se tentará chegar em Copenhague nos próximos dias sobre o efeito estufa, os componentes químicos industriais que atacam o ozônio foram proibidos. O resultado, paradoxal, é que o buraco está se fechando e, ao longo deste século, irá desaparecer totalmente. Assim, a Antártida está começando a ser plenamente envolvida no aquecimento global. A concentração de gás carbônico e de metano na atmosfera, diz Turner, é sem precedentes nos últimos 800 mil anos. Os cientistas não esperam mudanças dramáticas na massa continental antártica. Em terra firme, o aumento de temperatura não deveria superar os três graus, insuficientes para derreter as geleiras do continente. Mas o problema são as geleiras marinhas, que circundam a Antártida e que serão atingidas por águas mais quentes. O estudo prevê que um terço do atual gelo marinho, se o efeito estufa não for freado, será derretido. Isso significa 2,6 milhões de quilômetros quadrados de gelo que se transformam em água. O que é suficiente para dobrar o efeito do derretimento no Ártico e na Groenlândia no nível dos mares. No total, mares e oceanos de pelo menos 1,4 metro mais altos, submergindo costas e ilhas. Uma boa parte das costas italianas – principalmente o alto Adriático, do Pó a Trieste, mas também em Tirreno, da Toscana à Campania – acabaria embaixo d’água. A situação seria, portanto, dramática em todo o mundo. Historicamente, grande parte da urbanização sempre ocorreu em proximidade das costas, e a população se adensa perto do mar. Quase todas as grandes megalópoles modernas são também portos, tanto nos países desenvolvidos como nos emergentes: Nova York, Londres, Sydney, assim como Lagos, Calcutá, Xangai. Defender-se de um mar que sobe alguns centímetros por ano não é a mesma coisa que parar um tsunami. Mas a Holanda testemunha o compromisso e os esforços enormes que são necessários para frear o mar. E as recorrentes inundações em Bangladesh, daquilo que ocorre quando isso não é possível. O relatório dos cientistas sobre a Antártida não é, portanto, só pessimismo. Provavelmente, aos habitantes das Ilhas Maldivas, condenados a seguir o destino de Atlântida, ele não vai importar muito. Mas, dizem os cientistas, os pinguins da Antártida, nas próximas décadas, terão que se virar muito bem.

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