Áreas protegidas da Amazônia são responsáveis pela redução do desmatamento.
O Brasil está próximo de atingir 1,25 milhões de quilômetros quadrados protegidos na Amazônia, área que representa 27% do território ocupado pelo bioma. Pesquisas recentes têm demonstrado que as áreas protegidas são imprescindíveis para barrar o aquecimento global. O estudo Papel das áreas protegidas da Amazônia brasileira na mitigação das mudanças climáticas, publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), no primeiro semestre, comprovou a eficácia dessas áreas na redução de emissão de gás carbônico.
Segundo o líder do estudo, Britaldo Soares Filho, coordenador do programa de pós-graduação em modelagem de sistemas ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os trechos protegidos foram responsáveis por 37% da redução, entre 2004 e 2006, de um dos principais vilões para o aumento da temperatura no globo: o desmatamento. A projeção feita pelo trabalho é de que a proteção de novas áreas poderá evitar a emissão de 8 bilhões de toneladas de carbono até 2050.
“O trabalho comprova cientificamente a eficácia desse esforço e a necessidade de apoio, até de outros países, às ações de preservação”, diz Britaldo. A meta de área preservada de 30% foi estabelecida em 2006 pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio) e, mesmo antes de ter sido plenamente alcançada, poderá ser revista. Seus percentuais poderão ser ampliados durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica (CBD), que ocorrerá em Nagoya, Japão, de 18 a 29 de outubro.
“Como está sendo discutida a revisão das metas, é possível que se aumentem os percentuais para os biomas do mundo, incluindo a Amazônia”, diz o diretor de áreas protegidas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Fábio França. De acordo com França, ainda não foram definidos os percentuais que deverão ser apresentados pela comitiva brasileira. No entanto, ele admite que 30% não é o ideal, mas ressalva que, se as terras indígenas forem somadas às áreas protegidas da Amazônia, esse número aumenta para 45% do bioma. “Não é o melhor dos mundos, porque para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e conservar a biodiversidade, o ideal é desmatamento zero”, admite.
O combate ao desmatamento é uma das principais ações para que o Brasil possa deixar de figurar na lista dos países que mais emitem gases de efeito estufa, ou seja, os que mais colaboram para o aquecimento do planeta — ao lado dos Estados Unidos, da China e da Índia. “O principal responsável pela emissão de dióxido de carbono não é a indústria, o transporte, a energia elétrica. O vilão é a mudança de uso do solo. Em outras palavras, a conversão do solo da floresta para uso da agricultura ou aumento da área urbana”, pontua Fábio.
O programa de áreas protegidas da Amazônia (Arpa) é implementado por uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente, o Ibama, governos estaduais e municipais da Amazônia, Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF), Banco Mundial, KfW (banco de cooperação do governo da Alemanha), GTZ (agência de cooperação da Alemanha), WWF-Brasil, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e organizações da sociedade civil. Segundo o diretor do MMA, os resultados encontrados, em geral, indicam que as taxas de derrubada da floresta no interior dessas áreas são significativamente menores quando comparadas às áreas adjacentes.
Para garantir que as áreas protegidas não fiquem apenas no papel, os gestores do projeto devem investir US$ 400 milhões em 10 anos em ações de preservação. Segundo França, a determinação de uma região como área protegida inibe a derrubada ilegal de árvores, porque os criminosos não iniciam atividades econômicas em áreas onde fatalmente serão multados. “O Brasil é um dos países líderes no sensoriamento remoto, feito por sobrevoo ou imagem de satélite. É possível identificar em tempo real o desmatamento, o que ajuda a direcionar o esforço da fiscalização”, acrescenta.
RespiraçãoA preservação do bioma amazônico, além de reduzir a emissão de gases de efeito estufa, que são liberados quando as árvores são queimadas, também pode colaborar para a captura do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Ao longo da vida, as plantas realizam os processos de fotossíntese e de respiração. Durante a fotossíntese, as plantas capturam o CO2 da atmosfera para a produção de energia e liberam oxigênio. Por essa razão, as plantas são fundamentais para manter o equilíbrio do CO2. Ao respirar, elas fazem o processo inverso, liberando CO2.
Quando a floresta está em processo de crescimento, ela captura mais CO2, devido à fotossíntese, mais intensa. Era corrente entre os ecólogos que florestas em estágio de clímax ou adultas, como na Amazônia, tivessem estabilidade na captura e na produção de CO2. No entanto, algumas pesquisas vêm demonstrando que as florestas de clímax também podem capturar CO2 durante a fotossíntese. Uma delas foi desenvolvida por um grupo de 11 pesquisadores, entre os quais três brasileiros: Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Antônio C. Miranda e Heloísa S. Miranda, da Universidade de Brasília (UnB).
O grupo defende no estudo que o aumento da taxa de gás carbônico na atmosfera, em uma curva ascendente nos últimos anos, poderia na realidade incrementar a taxa de fotossíntese na Floresta Amazônica. A captura de gás carbônico por florestas estáveis é controversa. Por exemplo, de acordo com a analista de programa de conservação da WWF-Brasil Karen Suassuna, o balanço de carbono é neutro. O consenso entre todos os pesquisadores, no entanto, é que a preservação da Amazônia é fundamental para reduzir o aquecimento global. “Temos que garantir a preservação da biodiversidade e também pelo valor cultural da floresta” defende Karen. (EcoDebate)
Um comentário:
O QUE HÁ DE NOVO NA DISCUSSÃO DA TEMÁTICA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS?
Ainda vivemos, agora mais intensamente, o conflito de posições entre os que defendem e os que atacam as bases da teoria do Aquecimento Global. Todos os dias, nas diferentes formas de mídia (muitas das vezes tendo como pano de fundo nítidas posições políticas), pode-se observar a quantidade de informações que, em síntese, massacram a cabeça do ser humano não iniciado (entenda-se a grande maioria da sociedade).
Muitas informações são extremamente oportunas, outras suposições, muitas das vezes sem qualquer sustentação científica. Como os não iniciados não conseguem perceber a diferença entre as duas situações, acabam por, gradativamente, se afastando da discussão do tema, transferindo para o segmento dito dos iniciados (pesquisadores, cientistas, ecologistas, políticos, etc.) o andamento do assunto.
As pesquisas já mostram isso com muita clareza; a realizada pelo Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA, na Região da Grande Vitória / ES (municípios de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica (cerca de 1000 entrevistas / erro de 3% e intervalo de confiança de 95%) deixa claro que a sociedade como um todo reconhece a importância do tema, porém se diz fora do processo de decisão e, ao ser submetida a aprovar ou rejeitar teses corretas (fundamentadas cientificamente) e não corretas, reage, demonstram um nítido e visível desconhecimento sobre o contexto das Mudanças Climáticas.
Ou seja, a sociedade prioriza o assunto e está aberta a um processo de conscientização, porém o processo que se está adotando hoje – vale mais, muitas das vezes, o impacto do título da matéria do que seu conteúdo – está gerando uma ação de entropia que nos parece muito perigosa, sobretudo se levarmos em conta que não há solução para o problema se não houver uma íntima e consciente participação da sociedade.
Onde está a origem das falhas que levam a esta realidade?
São muitas. Começam nas escolas de ensino básico, fundamental, médio e médio técnico que ainda não perceberam que meio ambiente não pode ser discutido apenas em sala de aula dissociado da realidade da comunidade do seu entorno, das instituições de ensino superior que ainda não perceberam a importância de gerar gestores (nas várias áreas de formação) ambientais que possam atuar a partir de suas futuras atividades profissionais, do Poder Público que não assume a sua responsabilidade de estruturar campanhas de conscientização, do segmento político que em muitas das vezes define leis totalmente dissociadas da realidade, para citar apenas algumas, que acabam por levar a sociedade a este processo de afastamento em relação aos assuntos ligados à temática ambiental.
A quem interessa este estado de coisas?
Quem ganha, quem perde com isso?
Será que a tática é “pagar para ver”?
Roosevelt S. Fernandes, M. Sc.
Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA
roosevelt@ebrnet.com.br
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