quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Reúso da água chega à cafeicultura

Sistema baseado em tanques de decantação permite que água volte pelo menos três vezes à lavagem dos grãos. Você tem ideia de quanta água é usada na lavoura para garantir, lá na ponta, uma xícara de café de qualidade? Pois vai muita. De acordo com estimativas de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (MG), o processamento do café por via úmida, método utilizado para obtenção do café cereja descascado, considerado especial, consome, para cada litro de fruto processado, cerca de 3 a 5 litros de água limpa. Trocando em miúdos, se para obter uma saca de 60 quilos de café é necessário um volume aproximado de 480 litros de frutos, a produção de uma única saca do grão beneficiado, pronto para ser torrado, pode consumir até 2.400 litros de água. Ampliando a conta para o volume total de café cereja descascado produzido no Brasil (equivalente a cerca de 15% da safra de grãos, ou 7,05 milhões de sacas), o número ficaria próximo dos 17 bilhões de litros de água. Mas uma técnica de manejo desenvolvida pelo pesquisador Sammy Soares, da Embrapa Café, em parceria com pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), e com o Consórcio de Pesquisa do Café, vem sendo testada com sucesso por produtores da região de Viçosa (MG) e Venda Nova do Imigrante (ES) e promete reduzir drasticamente esses números. Trata-se de um sistema com estrutura baseada em caixas d"água, peneiras e tubos de PVC, que permite o reúso, por várias vezes - e não apenas uma utilização, como acontece normalmente -, da água empregada na unidade de processamento do café para fazer a lavagem e descascamento dos grãos. Por decantação O funcionamento é relativamente simples, segundo explica Soares. Após lavar e descascar o café em equipamentos próprios, toda a água é bombeada para três caixas d"água, que funcionam, uma após a outra, como tanques de decantação. "Nessas caixas ficam depositados no fundo os resíduos sólidos maiores. Já livre desses resíduos, a água passa por uma peneira e está pronta para ser reutilizada na própria lavagem dos graõs." Na fazenda do cafeicultor Waldir Mol, no município de Paula Cândido (MG), região de Viçosa, eram gastos por dia, no método convencional de lavagem e retirada da casca, entre 20 mil e 25 mil litros de água para processar 12 mil litros de fruto. Atualmente, após investir R$ 8 mil para instalar o sistema de reúso, esse consumo caiu para menos da metade. Para processar a mesma quantidade de café, Mol gasta agora entre 7 mil e 8 mil litros. A média de gasto, que estava entre 3 litros de água para cada litro de fruto, baixou para 1,5 litro. De acordo com ele, após entrar na unidade de processamento, a água é reutilizada por mais três vezes. E há quem acredite que essa economia pode ser maior. É o caso do chefe da fazenda experimental do Incaper em Venda Nova do Imigrante (ES) - onde o sistema foi testado pela primeira vez -, Aldemar Moreli. Ele está concluindo sua tese de mestrado sobre o assunto e afirma que é possível, por meio da reutilização, reduzir o consumo para um pouco mais de meio litro de água. Ou seja, quase um décimo da média atual. Investimento Em Venda Nova do Imigrante, o produtor Pedro Carnielli afirma ter atingido esse nível, mas com investimento de R$ 20 mil, maior do que o feito por Mol. Com a utilização de filtros industriais, Carnieri conta que conseguiu economizar em três quartos o consumo de água necessário para processar 20 mil litros de café por dia. Hoje, no lugar de gastar 40 mil litros diariamente, sua unidade de processamento consome 10 mil litros de água para o mesmo volume de café. Apesar dos bons resultados, os pesquisadores envolvidos na pesquisa, iniciada há cinco anos, dizem que ainda são poucos os produtores que fazem o reuso da água no processamento do café. Para Moreli, mais do que a falta de costume, já que existe mesmo um intervalo de tempo entre a criação de uma nova tecnologia e sua efetiva aplicação, é preciso continuar investindo no aprimoramento do sistema para torná-lo cada vez mais eficiente e também de baixo custo. "Este ponto é crucial, já que a maioria das unidades de processamento está nas mãos de pequenos e médios produtores." Entretanto, ele não ignora a importância de se baratear ainda mais o sistema para que grandes produtores também se interessem em adotá-lo. (OESP)

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