Leptospirose, transmitida por água e barro contaminados, é preocupação após enchentes
Além de perdas humanas e materiais, as chuvas que atingiram a Região Serrana do Rio de Janeiro trazem outro risco para a população: a leptospirose. Causada por uma bactéria presente na urina de animais, principalmente ratos, a doença pode levar a morte é comum em situações de enchente. A pesquisadora Ilana Teruszkin Balassiano, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), aponta os cuidados que devem ser tomados pela população, ressalta a importância de higienizar bem pernas e pés e alerta que o risco da doença está presente tanto em áreas urbanas quanto em regiões afastadas de grandes centros.
A recomendação é evitar ao máximo o contato com a água e o barro de enchentes e desmoronamentos.
A leptospirose é causada por bactérias do gênero Leptospira, presente na urina do rato, muito comum em esgotos de grandes cidades. No entanto, Ilana explica que ela também é excretada por outros animais, como bois, porcos e cachorros. “Por isso, em uma situação de enchente, a leptospirose continua a representar risco para a população, mesmo em áreas menos urbanizadas”, afirma a especialista do Laboratório de Zoonoses Bacterianas do IOC, que atua como Referência Nacional para Leptospirose junto ao Ministério da Saúde e é reconhecido desde 2008 como Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o agravo.
A bactéria penetra no corpo pela pele, principalmente se houver alguma “porta de entrada”, como um corte ou arranhão. Como pernas, pés e mãos estão mais expostos ao contato com lama e água que podem estar contaminados, os cortes e arranhões nestas localizações inspiram ainda mais cuidados.
Segundo Ilana, porém, em situações como a vivida neste momento na Região Serrana fluminense, o contágio pode ocorrer pelo contato prolongado da água ou o barro contaminado com a pele, mesmo sem ferimentos. “Para diminuir os riscos, a recomendação é evitar ao máximo o contato com a água e o barro de enchentes e desmoronamentos. Se não for viável, lavar bem pernas, pés e mãos assim que possível”, explica a especialista. “O uso de calça comprida e sapato fechado ajuda, mas não protege totalmente, pois acabam encharcados. O mais indicado é o uso de galochas ou sacos plásticos para proteger a pele por dentro do calçado, se não houver como evitar o contato com a água e o barro”, orienta.
Ilana também indica cuidados na hora de voltar às residências atingidas por enchentes e desmoronamentos. “A Leptospira precisa de ambientes úmidos para sobreviver. Dessa forma, é importante evitar o contato com a lama das casas e terrenos, pois ainda há o risco de contaminação”, explica. “A bactéria é sensível aos desinfetantes de forma geral, principalmente aqueles a base de cloro. Recomenda-se uma boa higienização das casas com esses produtos. Para lavar roupas atingidas pela enchente, por exemplo, o uso de água sanitária é indicado”, explica. A pesquisadora destaca, ainda, a importância de orientar as crianças para evitar o contato com a água e a lama das casas e de consumir apenas água mineral ou devidamente tratada, para evitar o risco de contaminação por diversos microorganismos.
O período de incubação da leptospirose varia de cinco a dez dias. Os primeiros sinais da doença se assemelham a um resfriado, com febre, dores de cabeça e no corpo, especialmente na panturrilha, podendo ocorrer icterícia (coloração amarelada da pele e das mucosas). “Se a pessoa teve contato com a água das enchentes ou o barro de desmoronamentos e apresentar estes sintomas, deve procurar atendimento médico e relatar a situação, para que receba o tratamento adequado”, explica Ilana.
A leptospirose é tratável, principalmente se diagnosticada logo, mas pode evoluir, em casos específicos, para formas mais graves, comprometendo os pulmões e os rins e causando a morte do paciente. O tratamento da doença é feito com antibióticos específicos e em casos mais graves pode ser necessária internação hospitalar. (EcoDebate)
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