Cientistas estimam que devastação da Mata Atlântica despeja até
70 mil t de carbono na água.
Uma nova pesquisa revela que restos de plantas carbonizadas
na Mata Atlântica - uma consequência das queimadas na agricultura - estão
vazando do solo para rios, chegando até o oceano. A entrada desse resíduo
(chamado de carbono negro) no ecossistema marinho pode prejudicar espécies
animais e vegetais - mais testes são necessários para confirmar essa hipótese.
A equipe de cientistas liderada pelo biogeoquímico
especializado em sistemas aquáticos Carlos Eduardo de Rezende, da Universidade
Estadual do Norte Fluminense, no Rio, e pelo geoquímico Thorsten Dittmar, do
Instituto Max Planck de Microbiologia Marinha em Bremen, na Alemanha, descobriu
altos níveis de carbono negro no Rio Paraíba do Sul (que banha São Paulo, Minas
e é o principal do Rio de Janeiro) e no solo da região.
No Vale do Paraíba, ainda há queimadas da cana-de-açúcar
todos os anos, mas, segundo os pesquisadores revelaram no site da Nature
Geoscience, apenas essa prática não poderia ser responsável pela quantidade de
carbono negro que eles identificaram.
Para determinar quanto carbono negro a floresta queimada
produziu originalmente, Rezende e seus colegas buscaram pistas em outro bioma
brasileiro, a Amazônia. Como outros estudos calcularam a taxa de carbono negro
produzida por incêndios na floresta amazônica, os cientistas combinaram esses
números aos índices históricos de queimadas na Mata Atlântica.
O resultado dessa conta mostrou que foram emitidos de 200
milhões a 500 milhões de toneladas de carbono negro na Mata Atlântica. Para que
apenas metade dessa quantidade seja expelida do solo, levariam de 630 a 2.200
anos, de acordo com os especialistas.
O carbono negro geralmente escapa do solo quando a água da
chuva carrega o material até os rios, que por sua vez despejam os resíduos no
Atlântico.
Amostras. Para calcular quanto de carbono pode estar sendo
adicionado ao mar, os cientistas coletaram amostras do Paraíba do Sul a cada 15
dias, entre os anos de 1997 e 2008. Eles descobriram que o carbono negro
dissolvido continua a ser expelido pelo solo todos os anos, em níveis
aproximadamente constantes, durante a estação mais chuvosa.
De acordo com eles, apenas o Paraíba do Sul é responsável
pela entrada anual de mais de 2,7 mil toneladas dos restos da antiga mata no
oceano. Com base nesses dados, Rezende e seus colegas estimaram que toda a área
devastada da floresta despeja de 50 mil a 70 mil toneladas de carbono negro
dissolvido no ambiente marinho.
O que acontece com esse carbono negro após sua entrada no
oceano ainda é um mistério. Uma pesquisa anterior descobriu carbono negro em
áreas profundas e remotas nos arredores da Antártida.
Para Dittmar, a maior parte desses resíduos acaba sendo
depositadas no fundo dos oceanos, em todo o planeta. Mas apenas novas pesquisas
poderão revelar o quanto desse carbono negro que sai dos rios chega às
profundezas oceânicas e como ele pode afetar a vida marinha - em especial as
comunidades de micróbios que vivem e se alimentam de pequenas partículas
orgânicas. (OESP)
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