Desperdício de
alimentos amplia o ‘Custo Brasil’
A perda de alimentos
amplia o “Custo Brasil” – O Brasil está há pelo menos meia década em franca
expansão econômica. Mas uma questão que ainda emperra o desenvolvimento e o
crescimento é o chamado custo Brasil. Entre as questões colocadas por um
investidor antes de aplicar o seu capital no país estão: os impostos são
reduzidos? A mão de obra é barata? Os juros são baixos? Existe uma boa
infraestrutura de transportes? A energia é abundante? Há informação científica
robusta disponível? Há suporte técnico-científico para as atividades
planejadas?
Porém, há um aspecto
que também afeta a conta final do custo Brasil, mas que é pouco abordado. É a
questão da fome e do desperdício de alimentos. O Brasil está entre os dez
países que mais desperdiçam comida no mundo. Se reduzisse essas perdas, o país
poderia oferecer mais produtos para o mercado interno, barateando os preços, e
também exportar mais. Ou seja, o mercado consumidor se beneficiaria de preços
mais baixos, entrariam divisas e o gasto governamental com todo o sistema seria
menor, podendo-se investir em outros setores, como educação, ciência, tecnologia,
inovação e infraestrutura. Boa parcela do chamado custo Brasil poderia ser
equacionada.
Todos os alimentos
não aproveitados ao longo da cadeia produtiva representam 1,4% do PIB
brasileiro
Órgãos governamentais
e pesquisadores de entidades públicas e privadas se debruçam sobre o problema
diariamente, com o intuito de encontrar soluções para os diversos gargalos que
o circuito dos alimentos enfrenta no Brasil. E o esforço para vencê-los
precisará ser grande. Cerca de 35% de toda a produção agrícola vai para o lixo.
Pesquisas apontam que é na fase de colheita que ocorrem as maiores perdas e os
motivos são diversos. Um exemplo é a falta de regulação, operação e manutenção
adequadas das colheitadeiras ou equívocos na identificação do grau de maturação
do produto. As dificuldades se repetem na pós-colheita. Falta infraestrutura na
rede de armazenagem e no transporte da produção brasileira. Nessa fase, os
estragos podem ocorrer tanto do ponto de vista físico como da qualidade do
produto.
Na prática, isso significa
que mais de 10 milhões de toneladas de alimentos poderiam estar na mesa de
milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. Do total de
desperdício no país, 10% ocorrem durante a colheita, 50% no manuseio e no
transporte dos alimentos, 30% nas centrais de abastecimento e os últimos 10%
ficam diluídos entre supermercados e consumidores. Por exemplo, segundo o IBGE,
a estimativa é de que 67% das cargas brasileiras sejam deslocadas pelo modal
rodoviário, o menos vantajoso para longas distâncias.
Entre os
consumidores, os números também são alarmantes. Uma família brasileira
desperdiça, em média, 20% dos alimentos que compra no período de uma semana. Em
valores, isso representa US$ 1 bilhão, dinheiro suficiente para alimentar 500
mil famílias. Na mesa do consumidor, a situação não é melhor. A Embrapa
Agroindústria de Alimentos realizou uma pesquisa em que demonstra que o
brasileiro joga fora mais alimentos do que efetivamente leva à mesa. Nas 10
principais capitais do país, o consumo anual de vegetais é de 35 quilos por
habitante. No entanto, o desperdício chega a 37 quilos por habitante ao ano,
parte do qual relacionado à qualidade inicial do produto e parte relacionada a
armazenamento inadequado.
Levantamento da
Secretaria de Abastecimento e Agricultura do Estado de São Paulo, no final da
década passada, mostra que todos os alimentos não aproveitados ao longo da
cadeia produtiva representam 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, um
rombo de R$ 17,25 bilhões no faturamento do setor agropecuário. De acordo com a
FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), o
Brasil deverá atingir a meta da Organização das Nações Unidas (ONU) de reduzir
pela metade o número de famintos no país até 2015, de 13 milhões para 7 milhões.
Sem dúvida, a redução do desperdício com uso otimizado dos produtos pode
contribuir para que se atinja efetivamente essa meta.
Por outro lado, o
país está ciente de que “ampliar a produção agrícola” não é o único fator da
equação, e que segurança alimentar e nutricional é uma meta transversal, que
envolve esforços múltiplos no campo da economia (enfrentar crises financeiras e
flutuação de preços dos alimentos, por exemplo), da saúde (disseminar
conhecimento sobre produção e consumo saudável), dos transportes e
infraestrutura (melhorar a logística de distribuição) e da política (reduzir
desequilíbrios sociais e regionais), entre outros. Cabe a todos nós fazermos a
nossa parte.
Um esforço louvável
no campo institucional é a criação, nos estados, de Observatórios
Socioambientais em Segurança Alimentar e Nutricional. No Piauí, por exemplo, a
Universidade Estadual, com apoio do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea-PI), deverá criar nos próximos meses este instrumento. Mas
o projeto, no âmbito nacional, conta com a participação da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT),
Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) e Universidade Federal de
Pelotas (UFPEL). Os observatórios socioambientais realizarão um monitoramento
das políticas públicas e avaliarão a Política Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (PNSAN) em todo o país.
A ideia é que todos
os estados tenham um polo para gerir cada observatório de forma autônoma. A
coordenação geral do projeto de implantação dos observatórios está a cargo
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estado cuja experiência de
implantação servirá de base para a implantação da Rede de Observatórios nos
demais estados.
Esse monitoramento
vai gerar uma coleta de dados dos municípios que informam indicadores de
produção e disponibilidade de alimentos; renda e condições de vida; acesso à
alimentação adequada e saudável; saúde, nutrição e acesso a serviços
relacionados; educação, programas e ações relacionadas a segurança alimentar e
nutricional. (EcoDebate)
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