A população do Brasil
girava em torno de 3,4 milhões de habitantes em 1800, chegou a 17,4 milhões em
1900 e a 170 milhões no ano 2000. Ou seja, pouco antes da chegada da família
real portuguesa, a população brasileira, que era cerca da metade do tamanho atual
do número de habitantes da cidade do Rio de Janeiro, se multiplicou por 5 vezes
no século XIX e por 10 vezes no século XX. Em 200 anos, o número de pessoas
vivendo no território brasileiro aumentou 50 vezes.
Foi um dos maiores
crescimentos demográficos do mundo. Mas o montante inicial era muito pequeno e
a densidade demográfica brasileira chegou apenas a 23 habitantes por km2,
em 2010. É uma densidade maior do que a da Austrália (3 hab/km2), do
Canadá (3 hab/km2) e da Rússia (8 hab/km2), mas muito
menor do que a densidade da China (140 hab/km2) e da Índia (373
hab/km2).
Com certeza, o alto
crescimento populacional do Brasil no período 1800 a 2000 não vai se repetir no
século XXI. A projeção média da ONU indica que o número de brasileiros deve
atingir um pico máximo de 224 milhões no final da década de 2030 e depois
iniciar um declínio para 223 milhões em 2050 e 177 milhões em 2100. As
projeções do IBGE, feitas em 2008, também indicam números parecidos com estes
da ONU (mesmo porque a ONU se baseia nos dados do IBGE para as projeções do
Brasil). Mas uma projeção do IPEA de 2009 indica que o pico populacional não
deve ultrapassar 210 milhões de habitantes por volta de 2030, iniciando em
seguida o processo de declínio.
Para se fazer
projeções é preciso considerar a mortalidade, a migração e a fecundidade. Na
primeira variável, as projeções indicam que a mortalidade infantil vai
continuar caindo e a esperança de vida subindo. Na segunda variável não se
espera grandes saldos migratórios que influenciem o tamanho da população.
Portanto, a variável chave para determinar o futuro da população brasileira é a
fecundidade.
A taxa de fecundidade
total (TFT) no Brasil caiu de pouco mais de 6 filhos por mulher que prevalecia
até 1960, para 1,9 filhos por mulher em 2010. Isto quer dizer que o Brasil já
entrou na fase de fecundidade abaixo do nível de reposição (que é de 2,1 filhos
por mulher). Se esta taxa se mantiver nas próximas décadas a população
brasileira vai decrescer depois que passar o efeito da inércia demográfica,
fruto da estrutura etária jovem.
A projeção média da
ONU indica uma TFT de 1,7 filho por mulher em 2045-50 e uma recuperação para 2
filhos por mulher até 2100. Nas projeções alta e baixa se adiciona ou subtrai
meio filho (0,5) na taxa média. O resultado é que a população brasileira
poderia chegar em 2050 com um montante de 259 milhões na hipótese alta, de 223
milhões na hipótese média e de 191 milhões na hipótese baixa. Para 2100 os
números são: 314 milhões de habitantes na alta, 177 milhões na média e somente
93 milhões na hipótese baixa. Ou seja, a população brasileira no final do
século XXI pode variar de 93 milhões a 313 milhões. Mas nas condições atuais, o
mais provável é que fique em torno dos mesmos 170 milhões de habitantes do ano
2000, indicando um crescimento próximo de zero no século XXI.
A transição da
fecundidade no Brasil aconteceu mesmo sem haver políticas explícitas de
controle da natalidade. Ao contrário, o que havia era uma coalizão de forças
contrárias ao chamado planejamento familiar. Nas décadas de 1960 e 1970, os
militares, a igreja católica, a esquerda e o movimento feminista se opunham ao
pensamento neomalthusiano que via a redução do número médio de filhos das
famílias como um fator positivo para a redução da pobreza e o avanço da renda
nacional e familiar.
Porém, a despeito de
tudo e de todos, as taxas de fecundidade caíram rapidamente, pois houve uma
reversão do fluxo intergeracional de riquezas. Ou seja, houve um aumento do
custo e uma redução dos benefícios dos filhos. Com o processo de urbanização,
industrialização e secularização do país, as famílias passaram a limitar o
tamanho da prole, reduzindo a quantidade de crianças e investindo na qualidade
(educação, etc.) dos filhos. Atualmente, as taxas de fecundidade no Brasil já
estão abaixo do nível de reposição e a perspectiva é que continuem caindo nas
próximas décadas. Até quando vão cair ninguém sabe e é com grande curiosidade
que os demógrafos estudam esta questão.
O fato é que as taxas
de fecundidade no Brasil já estão em declínio há 50 anos. Isto significa que o
país está em pleno processo de mudança da estrutura etária, deixando de ser um
país predominantemente de jovens para se tornar um país com forte presença de
idosos. Atualmente as pessoas com 60 anos ou mais de idade representam 12% da
população total, mas deve chegar a 30% em 2050. Os desafios do aumento da razão
de dependência demográfica serão enormes. É preciso que as políticas públicas comecem
a tratar destes assuntos desde já, para que o futuro da população grisalha não
seja cinzento e opaco. (EcoDebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário