O principal dogma da ciência econômica continua sendo a
estapafúrdia ideia de fazer a economia crescer continuamente para “ofertar” a
todos uma vida boa. A intenção em si é benevolente, contudo, isso não é
factível.
Enquanto a ciência econômica continuar estabelecendo a
produção econômica como o mais ilustrativo paradigma de prosperidade,
convertendo isso em regra de comportamento, estaremos fadados a conviver com um
meio ambiente cada vez mais degradado. Definitivamente, a expansão econômica
(mais crescimento) é algo potencialmente agressivo ao ecossistema.
Lamentavelmente, o arcabouço neoclássico ainda não se deu conta – ou finge não
entender – que sem a natureza nada pode ser produzido de forma sólida. A escola
neoclássica parece não considerar o fato de que a atividade econômica se
desenrola dentro da chamada ecosfera dividida em quatro camadas (atmosfera,
biosfera, hidrosfera e litosfera), e que essa não pode ser exposta à constante
agressão.
Nesse sentido, não se pode perder de vista que a economia
nada mais é que um apêndice da biosfera que consome energia. A economia
encontra-se subordinada à ecologia que, por sua vez, é subordinada à biologia e
à termodinâmica (calor, energia, potência), sendo essa última subordinada à
física.
Assim, qualquer tentativa de crescimento econômico passa,
indubitavelmente, por esses meandros. Apenas pelo fato da atividade econômica
consumir energia já se vincula isso à uma dependência explícita às leis da
física.
Contextualizando esse ponto. Energia é um conceito básico da
física que obedece a duas leis fundamentais da termodinâmica. A primeira é a
lei da conservação, cujo pressuposto básico diz que a energia não pode ser
criada nem destruída, apenas pode ser transformada. A segunda é a lei da
entropia que diz que a energia sempre se dispersa, passando de um estado de
maior concentração para um de menor concentração.
Esse segundo princípio termodinâmico é, por si só, um
balizador da expansão da atividade econômica, uma vez que a economia não pode
contrariar a lei da entropia, ou seja, em outras palavras, não se pode usar a
mesma energia, queimar o mesmo carvão ad
infinitum.
Por isso é pertinente à afirmativa de que a economia está
vinculada à ecologia e à termodinâmica. Sendo um sistema aberto – embutido – ao
sistema ecológico, a economia passa a ser regida pelas leis da termodinâmica. O
problema maior é que, além de não reconhecer essa “dependência”, o ensinamento
neoclássico – que forma a base, em geral, do raciocínio dos economistas – trata
com menosprezo os limites da natureza, pondo o conjunto das bases naturais em
delicada situação. A atmosfera, por exemplo, pela elevação da temperatura
produzida especialmente pela expansão da atividade econômica é uma das
primeiras a sofrer as consequências.
Tornando essa passagem mais didática, é oportuno apontar que
a atmosfera é uma mistura de muitos gases. Dois gases acabam “formando” 99% da
massa atmosférica: o nitrogênio (com mais de 78%) e o oxigênio (com 20,95%).
Sobra 1% para outros componentes menores (neônio, metano, hidrogênio, dióxido
de carbono, ozônio e outros). O que acontece é que a temperatura da atmosfera é
controlada pelo teor de alguns destes componentes menores, principalmente pelo
gás carbônico.
É importante salientar que se apenas existissem nitrogênio e
oxigênio, a temperatura da atmosfera seria muito baixa e a maior parte dos
mares viraria gelo, dificultando o desenvolvimento das espécies. Acontece que o
gás carbônico e o metano (em menor proporção) são os gases que retém o calor do
sol e evitam esse congelamento dos mares. Conquanto, se o teor desses gases
subir muito (acima de 1%) a temperatura na Terra ficará insuportavelmente alta.
A questão temerária é que a atividade econômica na sanha em estimular o
crescimento físico da economia tem provocado substancialmente o aumento desse
teor, promovendo o aquecimento do clima. É a esse fato que se dá o nome de
Efeito Estufa. Cada vez que se queima petróleo, carvão mineral e florestas
(desmatamento) aliados à ação das indústrias que poluem o ar são introduzidos
bilhões de toneladas por ano de gás carbônico na atmosfera, sendo que 85% são
originados dos combustíveis fósseis.
Com isso, estimular o crescimento econômico só faz aumentar
a pressão sobre os serviços prestados pela natureza. Crescimento é expansão, e
o mundo ecológico não suporta mais um tipo de expansão exageradamente agressivo
à escala de valores da natureza, em especial da biodiversidade.
Voltando ao início, enquanto o paradigma maior da ciência
econômica girar em torno da busca pelo crescimento o limite biofísico será
constantemente ferido. Mudar esse princípio é o principal desafio dos próximos
tempos. Para tanto, faz-se necessário estabelecer uma economia que opere em
sintonia com os princípios da natureza reconhecendo, de antemão, a dependência
do sistema econômico em relação à ecologia e à termodinâmica. (EcoDebate)
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