Resíduos industriais podem ser úteis como matéria prima na
fabricação de cerâmicas
Pesquisa da
Escola Politécnica utilizou lodo de esgoto e lama vermelha, agregando valor a
esses resíduos.
Pesquisa realizada na
Escola Politécnica (Poli) da USP analisou a possibilidade de incorporar lodo de
esgoto e lama vermelha, dois resíduos industriais, como matéria prima na
fabricação de cerâmicas, conferindo um valor agregado a esses rejeitos. O
trabalho foi realizado durante a dissertação de mestrado do engenheiro Cristian
Camilo Hernández Díaz, sob a orientação do professor Antonio Carlos Vieira
Coelho.
Imagem mostra o
lodo de esgoto calcinado a diferentes temperaturas
Segundo o engenheiro,
as massas cerâmicas são usadas na fabricação de cerâmicas estruturais, ou seja,
blocos maciços, tijolos e telhas. “Eles geralmente são fabricados com argilas
comuns, com jazidas próximas à fabrica de produção. Decidimos utilizar lodo de
esgoto e lama vermelha porque a produção desses resíduos está aumentando
consideravelmente”, conta. A pesquisa Estudo da possibilidade de uso de
lodo de esgoto e lama vermelha como matérias-primas cerâmicas foi
apresentada na Poli em03/05/13.
O lodo é gerado no
processo de tratamento de esgoto e a lama vermelha é o resíduo de um processo
denominado Bayer para produzir alumina (óxido de alumínio, que é um dos
componentes da bauxita, o principal minério de alumínio). “O lodo veio da
planta de tratamento de esgotos da cidade de Franca, no interior de São Paulo.
Já a lama vermelha é originária de uma planta industrial localizada no Pará”,
informa.
Lodo de esgoto
foi obtido na Estação de Tratamento de Esgotos de Franca (SP)
Hernández Díaz
explica que o lodo de esgoto geralmente é depositado num aterro sanitário,
diminuindo a vida útil deste. A lama vermelha é levada para lagoas especiais,
mas a alta alcalinidade desse resíduo gera um problema ambiental. “Em ambos os
casos, os resíduos têm a possibilidade de serem usados em outras aplicações
devido a seus componentes químicos, diminuindo assim a quantidade de resíduos
depositados na natureza”, explica.
A pesquisa mostrou
que esses resíduos poderiam ser usados como matérias-primas alternativas para
outros produtos. “Assim seriam diminuídas as quantidades de resíduos a
necessitarem de uma disposição final. Além disso, há um menor consumo dos
recursos naturais. E quanto às propriedades tecnológicas, os produtos cumprem
todos os parâmetros”, diz.
Experimentos
O engenheiro realizou
a caracterização das matérias-primas quanto sua composição química, fases
mineralógicas presentes e comportamento térmico. O pesquisador também avaliou
as propriedades tecnológicas de corpos de prova prensados, fabricados com os
resíduos e com misturas dos resíduos e argila em diferentes proporções. Essas
propriedades tecnológicas são: resistência à flexão, densidade, absorção de
água, porosidade e retração na secagem e na queima. Hernández Díaz ainda
comparou os resíduos e suas misturas com os produtos sem adição de resíduos,
quanto a vários aspectos físicos como: cor, textura e odor. Também definiu,
segundo os resultados obtidos, as possibilidades de aplicações mais adequadas
para os resíduos e para as misturas estudadas.
Método de
disposição a úmido da lama vermelha
Os resíduos foram
caracterizados e, baseados em estudos que já haviam sido realizados, foram
escolhidas algumas proporções resíduo-argila. Depois foram determinadas as
propriedades tecnológicas das misturas após queima.
Os resultados
mostraram que algumas das misturas cumprem os parâmetros exigidos para os tipos
de produtos estudados. A mistura que apresentou melhor relação entre a
quantidade de resíduos e propriedades físicas e mecânicas foi uma mistura de
45% argila, 45% lama vermelha e 10% lodo de esgoto. Ou seja, a incorporação de
resíduo é maior ao 50%.
Sobre a aplicação
prática da técnica, o engenheiro afirma que seria possível. “De fato há vários
artigos de testes a nível industrial e algumas casas já têm sido construídas
com esse tipo de produto. Para que fosse uma produção em maior escala seriam
necessárias iniciativas por parte das empresas e governos para favorecer este
tipo de produção amigável com a natureza”, finaliza. (EcoDebate)
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