Torcer ou não torcer,
eis a questão. Eu apoio a segunda opção convicto que esta não representa a
solução dos problemas do Brasil, mas ao escolhê-la levo em consideração o custo
de oportunidade aplicado à Copa do Mundo. A realização do Mundial em território
brasileiro não mudará a qualidade das nossas faculdades, por exemplo, pelo
simples fato que as verbas destinadas à educação são cumpridas. O problema é o
ralo da corrupção.
Portanto, o custo de
oportunidade da Copa do Mundo não é financeiro no sentido de questionar
montantes que poderiam ter sido utilizados para construir hospitais ou escolas,
mas que foram direcionados para a construção de estádios. Pode-se argumentar
que os orçamentos da saúde e da educação devem ser aumentados, mas o ponto
crucial é que antes de chegar aos seus destinos finais, as verbas são dilapidadas
pelo mal da corrupção.
E aí entra o conceito
de custo de oportunidade: torcer enfaticamente pela seleção brasileira,
assistir aos mandos e desmandos de dirigentes de entidades nacionais e
internacionais que impõem suas vontades sobre a cultura do Brasil pelos
interesses comerciais envolvidos, e ver governantes dando justificativas pífias
para os orçamentos bilionários dos estádios construídos é compactuar com a
triste realidade de corrupção no nosso País; é afirmar que pelo futebol, nós
aceitamos qualquer coisa.
É uma questão de
honestidade intelectual questionar o que acontece no País antes, durante e
depois da Copa do Mundo. E que depois de refletir sobre as mazelas nacionais,
cada brasileiro faça o seu próprio julgamento se vale a pena torcer pela seleção
brasileira e em qual intensidade. Para muitos, é realmente desconfortável ser
patriota apenas em dias de jogos da equipe brasileira em face do que vemos na
rua: brasileiros mal educados infringindo leis de trânsito, jogando lixo na rua
e ignorando a realidade de moradores de rua maltrapilhos jogados para escanteio
pelo poder público. E a classe política cada vez mais desmoralizada por
escândalos.
Infelizmente, para
outros, o exercício do “patriotismo” eventual, que na verdade nada mais é do
que uma desculpa para promover celebrações pessoais e não culturais no seu
sentido mais amplo, é suficiente para alguém se considerar um brasileiro que
não desiste nunca. E convenhamos: esse lema “sou brasileiro e não desisto
nunca” não se aplica a muitos brasileiros; apenas aos verdadeiros heróis que
sobrevivem sem bolsas governamentais “pegando no batente”. Heróis não são os
jogadores, mas os anônimos que ninguém aplaude e que não atraem os holofotes da
mídia. (ecodebate)
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