A transição
demográfica (TD) é um dos fenômenos sociais mais importantes de todos os
tempos. Ela começa com a queda da taxa de mortalidade e, depois de certo lapso
de tempo, é seguida pela queda da taxa de natalidade. O tamanho da prole fica
menor, mas aumenta o número de crianças sobreviventes, com um alongamento da
esperança de vida. A TD leva necessariamente a uma transição da estrutura
etária, com a redução da base da pirâmide, o crescimento do percentual de
pessoas em idade economicamente ativa e, em um prazo mais longo, ao
envelhecimento populacional.
As taxas de
fecundidade (número médio de filhos por mulher) sempre foram altas na maior
parte da história da humanidade, pois as famílias precisavam ter muitos filhos
para se contrapor às altas taxas de mortalidade. No quinquênio 1950-55 a taxa
de fecundidade da população mundial era de 4,97 filhos por mulher e subiu
ligeiramente para 5,02 filhos por mulher no quinquênio 1960-65. Portanto, até
meados da década de 1960 as taxas de fecundidade do mundo estavam acima de 5
filhos por mulher.
Mas a queda da taxa
de mortalidade, especialmente da mortalidade infantil, após o fim da Segunda
Guerra Mundial abriu espaço para a mulher recorrer menos à gravidez para
atingir o tamanho ideal de família, pois cresceu o percentual de filhos
sobreviventes.
O fato é que a taxa
de fecundidade total (TFT) começou a cair a partir de 1960, passando de 5,02
filhos por mulher em 1960-65, para 2,53 filhos no quinquênio 2005-10. Ou seja,
em 50 anos a TFT caiu pela metade. A queda média neste período foi de meio
(1/2) filho por década.
O destaque foram as
décadas de 1960, 1970 e 1980 com uma queda conjunta de 2 filhos por mulher,
pois a TFT mundial estava em 5,02 filhos no quinquênio 1960-65 e caiu para 3,04
filhos no quinquênio 1990-95. A maior redução aconteceu na década de 1970, com
uma queda de 0,84 filhos, sendo que países como a China e o Brasil tiveram
reduções expressivas.
Na década de 1990 a
taxa de fecundidade continuou caindo, mas já apresentou uma desaceleração, pois
a redução foi de 0,45 filhos por mulher. Mas a maior desaceleração aconteceu na
primeira década do século XXI, com uma queda de somente 0,09 filhos, pois a TFT
estava em 2,59 filhos por mulher no quinquênio 2000-05 e caiu para 2,5 filhos
por mulher no quinquênio 2010-15.
A projeção média da
Divisão de População da ONU indica que a redução na fecundidade média da
população mundial vai continuar desacelerando ao longo do século XXI. Ou seja,
em 50 anos a TFT caiu 2,5 filhos por mulher, mas as projeções indicam que deve
cair apenas meio (0,5) filho por mulher nos próximos 90 anos.
No caso da hipótese
média da ONU, que pressupõe a estabilização da TFT ao nível de reposição, o
volume total de população mundial ficaria ao redor de 11 bilhões de habitantes
em 2100. Se a TFT ficar meio (0,5) filho acima do nível de reposição a
população mundial chegaria a quase 17 bilhões de habitantes em 2100. Mas se a
TFT ficar meio (0,5) filho abaixo do nível de reposição a população mundial
ficaria abaixo de 7 bilhões de habitantes em 2100.
Portanto, uma
variação de apenas meio (0,5) filho por mulher pode fazer a população mundial
variar em torno de 10 bilhões de habitantes nos próximos 90 anos, ou seja,
entre 7 e 17 bilhões de indivíduos da raça humana, em 2100. O futuro está
aberto.
Estudos mais recentes
– utilizando técnicas estatística bayesianas – mostram que ao contrário do que
sugeriam alguns cenários anteriores, a população mundial não deverá declinar a
partir da segunda metade deste século. Com maior grau de certeza, o mais
provável é que a população mundial fique realmente entre 10 e 12 bilhões de
habitantes em 2100, sendo extremamente improvável – ceteris paribus – o
declínio da população global na segunda metade do século XXI.
Demografia não é
destino e o ser humano tem livre arbítrio e pode construir o futuro. A
humanidade pode escolher o caminho do maior ou do menor crescimento
demográfico, desde que haja respeito aos direitos sexuais e reprodutivos e a
regulação da fecundidade seja uma escolha livre dos casais e das pessoas.
Qualquer que seja a
decisão será preciso levar em consideração as condições ambientais do Planeta,
a sobrevivência das demais espécies, a manutenção da biodiversidade e a saúde
dos ecossistemas. A economia faz parte da ecologia e a humanidade faz parte da
diversidade da vida na Terra. Na determinação do futuro é preciso considerar
que o egoísmo deve ser substituído pelo altruísmo, para o bem da vida na Terra.
(ecodebate)
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