Brasil pode sofrer falta de água assim com São Paulo.
Rogério Jordão analisa problema em Itu, uma das cidades mais
afetadas pela crise hídrica.
Presságio para o futuro brasileiro?
Apesar
das chuvas nos últimos dias, a falta d´água no Estado de São Paulo é coisa
grave, como todos sabem. Em cidades como Itu, a 100 km da capital
paulista, a situação é de calamidade, senão oficial, de fato. No facebook dá
para acompanhar e até se solidarizar com seus 150 mil habitantes em grupos como
“Itu vai parar” e “Itu pede socorro a nossa senhora” (o grupo se reúne uma vez
por semana para rezar em praça pública, pedindo clemência aos céus e,
indiretamente, aos governantes).
Das cidades paulistas Itu é a que
talvez viva a situação mais grave e urgente, pois lá o racionamento começou há
meses. Ali do lado, a populosa capital do estado vai chegar a este ponto? A que
distância estamos de uma catástrofe ambiental-urbana de grandes proporções? E,
principalmente, o que pode ser feito desde já e para o futuro?
Não sou especialista no assunto,
mas olhando de longe parece que explicar a falta de água em São Paulo é como
explicar acidente de avião: a “culpa” é sempre de um conjunto de fatores. Pelo
que leio, a questão passa por macro problemas ambientais, como o
desflorestamento ao longo da bacia hidrográfica da Cantareira, de gestão da
coisa pública (perda de água via vazamentos na rede de distribuição + não
tratamento do esgoto), até, é claro, pela própria estiagem. Isso para não
mencionar o “aquecimento global” e outras coisas horripilantes do gênero.
Esses problemas somados fazem da
experiência paulista – na qual a população se vê forçada a mudar sua
relação com a água na vida cotidiana – uma possível avant-première do
que virá por aí em muitas metrópoles brasileiras. SP está mais para regra do
que exceção; SP parece dizer ao país neste momento: eu sou você amanhã.
Moro no Rio (onde também falta água
em muitas localidades) e fiquei sabendo do drama de Itu porque tenho um amigo
que mora lá. Telefonei – antes das chuvas, é verdade, que se dão um conforto
psicológico não eliminam o problema de longo prazo — para mandar um ‘oi’
e ele disse que as coisas estavam muito ruins. “Não tem a menor graça ficar sem
água. Aqui parece que o futuro da ficção científica já chegou”, contou.
Ele descreveu cenas que me
lembraram Mad Max, o filme australiano dos anos 1970 em que gangues de
motoqueiros lutam por gasolina em um mundo desértico após uma crise energética,
se bem me lembro do enredo.
Em Itu não há gangues em
motocicletas, mas os caminhões pipa rodam com escolta da guarda municipal. Em
uma bica pública houve um assalto: um cara armado dirigindo uma picape levou
dezenas de baldes e galões embora do povo que estava há horas na fila. Em
alguns condomínios há relatos de suborno para que o caminhão despeje seu
conteúdo primeiro em uma caixa de água e não em outra. Banho só de caneca.
Descarga, uma vez por dia. Água para beber, só em galão de supermercado e às
vezes falta.
A situação piora nos bairros
pobres; nesses não há dinheiro para furar poços artesianos e não sobra no fim
do mês para comprar água de galão para beber, aquela que deveria chegar pelas
torneiras (tai um exemplo palpável de “país dividido”). Muitas pessoas têm se
mobilizado para “doar” água para essas populações em dificuldade e também para
hospitais.
O que acontece em SP pode ser um
presságio do que virá por aí nas cidades brasileiras, onde não há tratamento de
esgoto (=desperdício de água), o desflorestamento é problema comum e o
planejamento das coisas básicas costuma ser feito aos remendos. Como definiu um
cientista político inglês: a política gira em torno a quem vai ter o que, como
e quando. Água, por favor. (yahoo)
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