A
encíclica ecológica do papa Francisco – cujo título “Laudato Si’” (“Louvado
sejas”) faz referência ao Cântico das Criaturas, poema em que São Francisco de
Assis chama o Sol, a Lua, a Água e a Terra de irmãos e irmãs – diz que o
combate ao aquecimento global e à degradação do meio ambiente é um imperativo
moral para todos os católicos. Em vez de dominar e explorar de forma predatória
a natureza o ser humano deveria superar a “cultura do consumo e do descarte” e
cuidar do meio ambiente
A
encíclica é um chamado à ação e veio em boa hora, podendo contribuir com toda a
luta ambientalista, com o engajamento dos cristãos na defesa dos ecossistemas,
da biodiversidade e para que a Conferência das Partes (COP21) que vai reunir
cerca de 200 países, em Paris, em dezembro de 2015, possa deliberar sobre um
novo tratado do clima que substitua o limitado Protocolo de Kyoto, de 1997.
Os
católicos somam cerca de 1,25 bilhão de pessoas e junto com 1,05 bilhão de
evangélicos formam um contingente de 2,3 bilhões de cristãos, representando
31,5% da população mundial de 7,3 bilhões de habitantes em 2015. O Papa não tem
divisões de guerra, mas tem força moral para influenciar a opinião pública
católica, cristã e até mesmo de outras religiões e das pessoas sem filiação
religiosa. Mas, independentemente do tamanho do seu rebanho, a mensagem do papa
Francisco tem um apelo global sobre “o cuidado da casa comum” e no
reconhecimento de que a intervenção humana está por detrás das alterações
climáticas e da destruição sem precedentes dos ecossistemas da Terra.
O
mais importante a destacar é que a Santa Sé reconheceu “Inúmeros estudos
científicos que demonstram que nas últimas décadas o aquecimento global foi
principalmente resultado de uma grande concentração de gases com efeito de
estufa em função da atividade humana”. O Papa censurou as pessoas e as atitudes
que continuam travando uma solução para a elaboração de um acordo internacional
para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, criticou os céticos do
clima que negam os fatores antropogênicos das mudanças climáticas e ironizou a
crença ilimitada nas capacidades técnicas, como se o poder da tecnologia fosse
uma força do mundo superior.
Na
página 5 da encíclica o Papa clama por uma ação solidária universal: “Lanço
um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir
o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o
desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm
impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e
rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na
consciencialização. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções
concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela
recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que
dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do
problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções
técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal”.
O
Papa Francisco reconhece que o ambiente natural está cheio de feridas
produzidas pelo comportamento irresponsável do ser humano e, entre as ações e
medidas urgentes apontadas para atacar o problema e mitigar a crise ambiental,
ele propõe a substituição dos combustíveis fósseis e o investimento em energias
renováveis. Também preconiza uma mudança do paradigma do “consumismo
desenfreado” das sociedades ocidentais, que “crescentemente está a transformar
o nosso planeta numa imensa lixeira”. O trecho abaixo é bastante elucidativo:
“O
clima é um bem comum, um bem de todos e para todos. Em nível global é um
sistema complexo, que tem a ver com muitas condições essenciais para a vida
humana. Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos
perante um preocupante aquecimento do sistema climático. Nas últimas décadas,
este aquecimento foi acompanhado por uma elevação constante do nível do mar,
sendo difícil não o relacionar ainda com o aumento de acontecimentos
meteorológicos extremos, embora não se possa atribuir uma causa cientificamente
determinada a cada fenômeno particular. A humanidade é chamada a tomar
consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de
consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o
produzem ou acentuam. É verdade que há outros fatores (tais como o vulcanismo,
as variações da órbita e do eixo terrestre, o ciclo solar), mas numerosos
estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento global das últimas
décadas é devida à alta concentração de gases com efeito de estufa (anidrido
carbônico, metano, óxido de azoto, e outros) emitidos, sobretudo por causa da
atividade humana. A sua concentração na atmosfera impede que o calor dos raios
solares refletidos pela terra se dilua no espaço. Isto é particularmente
agravado pelo modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de
combustíveis fósseis, que está no centro do sistema energético mundial. E
incidiu também a prática crescente de mudar a utilização do solo,
principalmente o desflorestamento para finalidade agrícola” (p. 8).
Além
da questão climática, a encíclica mostra o efeito da “carbonização” sobre os
ecossistemas e sobre a cadeia alimentar: “Por sua vez, o aquecimento influi
sobre o ciclo do carbono. Cria um ciclo vicioso que agrava ainda mais a
situação e que incidirá sobre a disponibilidade de recursos essenciais como a
água potável, a energia e a produção agrícola das áreas mais quentes e
provocará a extinção de parte da biodiversidade do planeta. O derretimento das
calotas polares e dos glaciares a grande altitude ameaça com uma libertação, de
alto risco, de gás metano, e a decomposição da matéria orgânica congelada
poderia acentuar ainda mais a emissão de anidrido carbônico. Entretanto a perda
das florestas tropicais piora a situação, pois estas ajudam a mitigar a mudança
climática. A poluição produzida pelo anidrido carbônico aumenta a acidez dos
oceanos e compromete a cadeia alimentar marinha. Se a tendência atual se
mantiver, este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas inauditas e
duma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com graves consequências para
todos nós. Por exemplo, a subida do nível do mar pode criar situações de
extrema gravidade, se se considera que um quarto da população mundial vive à
beira-mar ou muito perto dele, e a maior parte das megacidades está situada em
áreas costeiras” (p. 9).
A
encíclica considera que a propriedade privada em geral (e os recursos naturais
em particular) é eticamente justificável apenas se servir ao bem comum. Apoia
as negociações internacionais para redução das emissões nacionais de gases de
efeito estufa e critica os mecanismos de mercado para reduzir a dependência dos
combustíveis fósseis: “A estratégia de compra-venda de ‘créditos de emissão’
pode levar a uma nova forma de especulação, que não ajudaria a reduzir a
emissão global de gases poluentes. Este sistema parece ser uma solução rápida e
fácil, com a aparência dum certo compromisso com o meio ambiente, mas que não
implica de forma alguma uma mudança radical à altura das circunstâncias. Pelo
contrário, pode tornar-se um diversivo que permite sustentar o consumo
excessivo de alguns países e sectores” (p. 53). Depois deste claro
posicionamento, espera-se agora que o Vaticano se posicione sobre a campanha do
“desinvestimento” e a saída do banco do Vaticano dos investimentos em
combustíveis fósseis.
A
encíclica mostra que o efeito do aquecimento global e da degradação ambiental
deve recair sobre os pobres, especialmente dos países mais pobres, e vai afetar
muitos refugiados do clima. O Papa critica “os modelos atuais de produção e
consumo” e denuncia as tentativas de “mascarar os problemas ou ocultar os seus
sintomas”. Ele defende a difusão da energia limpa e renovável, a eficiência
energética, e o menor uso de matérias-primas (desmaterialização). A encíclica
considera a água um bem essencial para a vida humana e não humana: “A água
potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é
indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e
aquáticos” (p. 10). Uma crise hídrica provoca uma crise alimentar e pode ser
motivo de guerras. O Papa defende a biodiversidade: “A perda de florestas e
bosques implica simultaneamente a perda de espécies” (p. 11). “Os danos
provocados pela negligência egoísta” provoca “os altíssimos custos da
degradação ambiental”.
Na
página 12, o Papa menciona “os pulmões do planeta repletos de biodiversidade
que são a Amazônia e a bacia fluvial do Congo” e em seguida, influenciado pelo
pensamento patriótico, critica “os enormes interesses econômicos internacionais
que, a pretexto de cuidar deles (pulmões do planeta), podem atentar contra as
soberanias nacionais”. Mesmo sendo verdade, o Papa deixou de falar da
destruição da Amazônia que é provocada por forças econômicas “tupiniquins”, com
a destruição provocada pelos garimpeiros, madeireiros, pela Usina de Belo
Monte, pelo agronegócio, pela Zona Franca de Manaus, pelas rodovias e ferrovias
projetadas, etc. Ainda no item “3. Perda de biodiversidade”, a encíclica
critica o “desaparecimento dos manguezais”, a sobrepesca, a destruição dos
recifes de corais, a poluição dos oceanos e defende todas as “espécies em vias
de extinção”.
Na
seção “Deterioração da qualidade de vida humana e degradação social” (p. 14), o
Papa critica a insustentabilidade das grandes cidades, a imobilidade urbana a
gentrificação, a violência, o narcotráfico, etc. Na seção seguinte critica as
desigualdades e diz: “A desigualdade não afeta apenas os indivíduos, mas países
inteiros, e obriga a pensar numa ética das relações internacionais. Com efeito,
há uma verdadeira ‘dívida ecológica’, particularmente entre o Norte e o Sul”. E
completa: “A dívida externa dos países pobres transformou-se num instrumento de
controle, mas não se dá o mesmo com a dívida ecológica” (p. 17). Criticando a
exploração dos países ricos sobre os pobres, o Papa ataca a “globalização da
indiferença” (p. 17). Evidentemente, reforçar a ideia das “responsabilidades
comuns, mas diferenciadas” é super correto, porém, parece que a encíclica não
foi critica o suficiente com as “elites nacionais” que degradam o ambiente e
concentram a renda e a riqueza nos diversos países pobres ou de renda média.
Como
escrevi no artigo “Pegada Ecológica: e se eliminarmos os países ricos?” (Alves,
19/07/2013): “Os 5,6 bilhões de habitantes dos países de renda baixa e de renda
média (países em desenvolvimento), em 2008, tinham uma pegada ecológica total
de 12,2 bilhões de hectares globais (gha), superior à capacidade de carga
(biocapacidade) do Planeta. Desta forma, mesmo em uma situação hipotética em
que os países ricos chegassem a zero em sua pegada ecológica, ainda assim o
mundo estaria com problema ambiental e com uma Pegada Ecológica acima da
Biocapacidade. E o pior é que os países do chamado “sul global” continuam com
população em crescimento e com um modelo econômico que mimetiza o que tem de
pior nos países desenvolvidos”. Ou seja, os países ricos tem uma dívida com os
países pobres, mas ambos têm uma dívida com o meio ambiente. Os países pobres são
vítimas, mas não deixam de ser também ecologicamente agressores da natureza.
Assim, um dos grandes desafios globais é erradicar a pobreza no Terceiro Mundo
sem destruir ainda mais os ecossistemas.
Neste
sentido, o Papa fortalece de forma explícita a ideia do decrescimento das
economias que vivem na superabundância. Ele diz: “Assim, se nalguns casos o
desenvolvimento sustentável implicará novas modalidades para crescer, noutros
casos – face ao crescimento ganancioso e irresponsável, que se verificou ao longo
de muitas décadas – devemos pensar também em abrandar um pouco a marcha, pôr
alguns limites razoáveis e até mesmo retroceder antes que seja tarde. Sabemos
que é insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem cada vez
mais, enquanto outros ainda não podem viver de acordo com a sua dignidade
humana. Por isso, chegou a hora de aceitar certo decréscimo do consumo nalgumas
partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma
saudável noutras partes” (p. 60). Ou seja, numa situação de crescimento
vegetativo negativo da população dos países ricos, o decrescimento da economia
e do consumo vai possibilitar a redução das emissões de gases de efeito estufa
e a redução da degradação ambiental.
O
Capítulo II, “O Evangelho da Criação” (p. 20) faz uma abordagem teológica das
questões ambientais. O Capítulo III, “A Raiz Humana da Crise Ecológica” (p. 32)
o Papa fala do poder da tecnologia e dos avanços do progresso humano, mas
acrescenta: “cresce continuamente a possibilidade de o homem fazer mau uso do
seu poder” (p. 33). Na página 37 a encíclica aparentemente critica o
antropocentrismo moderno e suas consequências: “O antropocentrismo moderno
acabou, paradoxalmente, por colocar a razão técnica acima da realidade, porque
este ser humano já não sente a natureza como norma válida nem como um refúgio
vivente”. A crítica do Papa ao antropocentrismo ocorre em função da prevalência
de “a razão técnica acima da realidade” (p. 37). Ou seja, o Papa está
criticando mais o processo que Max Weber chamava de racionalização e
desencantamento do mundo. O Papa contorna o princípio colocado no livro do Gênesis,
do Velho Testamento, que diz: “Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos
os animais que se arrastam sobre a terra”. Parece que, neste ponto, o Papa
ficou aquém de São Francisco de Assis, embora busque substituir a ideia de
“enchei a terra e sujeitai-a” por outra concepção mais amena: “Mas a
interpretação correta do conceito de ser humano como senhor do universo é
entendê-lo no sentido de administrador responsável” (p. 37). Ou seja, muda a
ideia de ser humano dominador, para administrador.
A
encíclica diz que a falta de preocupação por medir os danos à natureza e o impacto
ambiental é apenas o reflexo do desinteresse em reconhecer a mensagem que a
natureza traz inscrita nas suas próprias estruturas e faz uma defesa do pobre,
da pessoa com deficiência e critica o aborto: “reconhece a importância dum
pobre, dum embrião humano, duma pessoa com deficiência”. Assim, embora a
encíclica lembre São Francisco ao defender os espaços anecúmenos do Planeta:
“São Francisco pedia que, no convento, se deixasse sempre uma parte do horto
por cultivar para aí crescerem as ervas silvestres” (p. 5), o Papa volta a
defender o antropocentrismo característico da cultura judaico-cristã, inclusive
critica o biocentrismo: “Quando a pessoa humana é considerada apenas mais um
ser entre outros, que provém de jogos do acaso ou dum determinismo físico,
‘corre o risco de atenuar-se, nas consciências, a noção da responsabilidade’.
Um antropocentrismo desordenado não deve necessariamente ser substituído por um
biocentrismo”. Neste ponto a encíclica se afasta de São Francisco de Assis e
não fala nada sobre os crimes de especismo e ecocídio. A encíclica condena
“experimentações sobre os animais”, mas não combate a alimentação cárnea e nem
defende a dieta vegetariana, que estaria mais coerente com o espírito de São
Francisco de Assis e a defesa de todos os seres vivos sencientes.
O
Capítulo IV fala de “Uma Ecologia Integral” (p. 43) abarcando as dimensões
econômica, social e ambiental: “A ecologia estuda as relações entre os
organismos vivos e o meio ambiente onde se desenvolvem. E isto exige se sentar
a pensar e discutir acerca das condições de vida e de sobrevivência duma
sociedade, com a honestidade de pôr em questão modelos de desenvolvimento,
produção e consumo. Nunca é demais insistir que tudo está interligado”.
Reforçando as metodologias da Pegada Ecológica e das Fronteiras Planetárias o
Papa chama a atenção para a possibilidade de um colapso ambiental: “As
previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Às
próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo. O ritmo
de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as
possibilidades do planeta, que o estilo de vida atual – por ser insustentável –
só pode desembocar em catástrofes, como, aliás, já está a acontecer
periodicamente em várias regiões” (p. 50). Ele propõe outro estilo de vida,
criticando “o mercado tende a criar um mecanismo consumista compulsivo para
vender os seus produtos” que gera um “consumismo obsessivo” (p. 63).
Não
pretendo discutir todos os pontos da encíclica. Para não prolongar demais,
comento um ponto que mostra a dubiedade da Igreja Católica em relação à
dinâmica demográfica e aos direitos sexuais e reprodutivos. Na seção “5.
Desigualdade planetária” a encíclica diz: “Em vez de resolver os problemas
dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução
da natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de
desenvolvimento, que condicionam as ajudas econômicas a determinadas políticas
de «saúde reprodutiva». Mas, ‘se é verdade que a desigual distribuição da
população e dos recursos disponíveis cria obstáculos ao desenvolvimento e ao
uso sustentável do ambiente, deve-se reconhecer que o crescimento demográfico é
plenamente compatível com um desenvolvimento integral e solidário’. Culpar o
incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e seletivo de alguns é
uma forma de não enfrentar os problemas” (p. 16).
Realmente
o padrão de consumo conspícuo e o “consumismo obsessivo” causam um dano enorme
ao meio ambiente. Mas não dá para ignorar a questão do crescimento populacional
ilimitado. Não existe consumo sem população e nem população sem consumo. É
verdadeiro que não devemos colocar a culpa de todos os problemas ambientais no
crescimento demográfico. Mas isto não justifica a posição da Igreja de ser
contra os métodos contraceptivos e até contra os preservativos e o sexo seguro.
Ou
seja, a Santa Sé precisa repensar a encíclica Humanae Vitae, lançada
pelo papa Paulo VI, em 1968. Até setores da igreja são a favor de rever as
posições contra os direitos sexuais e reprodutivos. “Em editorial de 23 de
janeiro de 2015, a revista National Catholic Reporter afirma que a encíclica
Humanae Vitae tem sido um sério impedimento à autoridade católica e que o seu
texto criou um abismo entre os prelados e os padres, entre a hierarquia e os
fiéis”. Ou seja, segundo setores da própria igreja Católica, há um clamor para
rever a doutrina e as práticas e dogmas do Vaticano sobre a reprodução humana.
Enfim,
já são esperadas criticas por parte dos setores conservadores, dos “céticos do
clima” e dos neoliberais que acusam o Papa de ser populista, terceiro-mundista,
contra o “livre mercado”, contra o crescimento econômico, anti-modernidade,
catastrofista, a favor da teoria da dependência e de uma “ecologia da
libertação”. Mas a encíclica “Laudato Si’” também deve ser criticada por
setores de esquerda que apontam imprecisões, contradições e vários elementos
populacionistas, anti-gênero e contra os direitos sexuais e reprodutivos.
Todavia, será difícil não reconhecer o grande valor da encíclica no sentido de
se posicionar em consonância ao conhecimento científico sobre o aquecimento
global e de fazer uma defesa clara do meio ambiente, da biodiversidade e do
duplo problema global a ser enfrentado no século XXI: “Já se ultrapassaram
certos limites máximos de exploração do planeta, sem termos resolvido o
problema da pobreza” (p. 10).
Como
disse o jornalista George Monbiot a encíclica do Papa Francisco é um “ponto de
inflexão”, pois reafirma num momento crucial, antes da COP21, que a
sobrevivência da humanidade depende da “proteção do mundo natural”, da
superação da dependência aos combustíveis fósseis e da mudança do modelo de
acumulação que leva ao “consumismo obsessivo” e à “cultura do descarte”, ou
seja, à cultura do luxo e do lixo. A encíclica papal é antes de tudo uma
mensagem de compaixão, amor e defesa dos pobres e do meio ambiente. (ecodebate)
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