Déficit
de chuvas no Brasil vem aumentando e se tornando mais grave nas últimas décadas.
Represa
Jacareí, que compõe o Sistema Cantareira, em São Paulo, em novembro de 2014.
O
déficit de chuvas em todo o Brasil vem aumentando nas últimas décadas e se
tornando mais grave nos últimos anos.
A
região Sudeste do país, por exemplo, que enfrentou em 2014 e 2015 o maior
período de estiagem dos últimos 70 anos, entrará em meados de agosto – quando
se inicia a estação mais seca do ano – com menos água do que tinha em 2014.
As
constatações são de estudos realizados por pesquisadores do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE).
Alguns
dos resultados dos estudos foram apresentados em uma conferência sobre a
problemática da seca no Sudeste brasileiro, realizada em 17/07/15 durante a 67ª
Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O
evento ocorreu até 18/07 no campus na Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar).
“Temos
um situação de déficit de chuvas tremendo em todo o país, que representa uma
situação muito grave. A quantidade de chuvas que entra nos sistemas de vazão
está diminuindo e contribuindo para deixar nossa conta bancária hídrica cada
vez mais no vermelho”, disse Paulo Nobre, pesquisador do INPE.
Os
pesquisadores do INPE realizaram um estudo em que compararam os dados de registros
de chuva no país no período entre 1960 e 1990 com os deste ano para estimar
qual o atual “saldo da conta bancária de água” do país.
As
projeções indicaram que a região Norte possui um saldo negativo de 6 m3
por m2.
A
região Nordeste tem um déficit hídrico em torno de 4 m2 por m2
e a região Sul está em uma situação de equilíbrio.
Já a
região Sudeste está no “cheque especial”, com um saldo negativo de 3,5 m3
por m2.
“Isso
representa grandes volumes de água que não foi usada para o crescimento de plantas
ou o consumo humano, mas que, simplesmente, não entrou no ciclo hidrológico”,
disse Nobre.
Em
outro estudo, os pesquisadores analisaram a quantidade de chuvas durante os
verãos na região Sudeste a partir da década de 1960 até os últimos anos.
Algumas
das constatações foram que, nas décadas entre 1960 e 1980, chegaram a ocorrer
durante um mês ao menos duas chuvas de mil milímetros.
Nas
décadas entre 1980 e 2000 essas chuvas se tornaram menos frequentes e raramente
ultrapassaram 900 milímetros.
Já
ao longo da década de 2000 e nos últimos anos as chuvas durante o verão no
Sudeste mal ultrapassaram o volume de 100 milímetros.
“Desde
2010 vem chovendo abaixo da média no Sudeste do país. Com isso o nível dos
reservatórios da região foi diminuindo e tivemos a grande seca de 2014 e 2015”,
afirmou.
O
total de chuvas que cai sobre o reservatório Cantareira – um dos que abastecem
São Paulo e que tornou-se símbolo da seca no Estado de São Paulo – vem
diminuindo de uma década para outra, afirmou o pesquisador.
Um
estudo em fase de execução realizado por Carlos Nobre, pesquisador do INPE e
colaboradores, calculou a taxa de vazão do sistema Cantareira nos últimos 130
anos.
Os
resultados do estudo indicaram que desde 1880 vem diminuindo a vazão das sub
bacias que abastecem o Cantareira.
“A
seca de 2014 e 2015 foi um evento extremo de diminuição de longo efeito que fez
com que a vazão do reservatório fosse decaindo nos últimos 20 anos”, avaliou
Paulo Nobre.
Aumento
da temperatura
De
acordo com o pesquisador, um dos fatores que contribuiu para a maior depressão
pluviométrica registrada no Sudeste do país este ano desde 1945 foi o aumento
da temperatura na região e em outras partes do Brasil.
Um
levantamento realizado por ele e colaboradores das médias de temperatura em
todas as regiões do Brasil entre 1960 e 2010 apontou que a temperatura do país,
como um todo, está aumentando.
“Estamos
constatando que, ano após ano, o Brasil está ficando mais quente. E isso se
deve, em grande parte, ao fato de que a temperatura do planeta está aquecendo
devido, entre outros fatores, ao aumento da concentração de gases de efeito
estufa na atmosfera”, afirmou.
O
aumento da temperatura da atmosfera induz rapidamente a ocorrência de eventos
extremos, como secas e inundações, no ciclo hidrológico, explicou Nobre.
Isso
porque, quando o ar está mais quente, ele dissolve mais rapidamente o vapor
d’água capturado da superfície e consegue gerar nuvens maiores, causando chuvas
mais intensas.
“As
chuvas intensas afetam toda a circulação planetária, ocasionando chuvas em um
determinado local e seca em outros”, detalhou.
O
aumento das emissões de gases de efeito estufa, como o CO2 na
atmosfera, combinado com a elevação da temperatura tende a agravar, ainda mais
as crises hídricas, ressaltou o pesquisador.
Utilizando
o Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (BESM, na sigla inglês), desenvolvido
com auxílio da FAPESP, os pesquisadores fizeram uma simulação em que
quadruplicam a quantidade atual de CO2 encontrado na atmosfera no
país – de 300 partes por milhão (ppms) – para estimar o que aconteceria na
dinâmica da atmosfera.
As
análises das simulações indicaram que a presença de 1,2 mil ppms de CO2
na atmosfera induziria a um aumento do número de dias consecutivamente secos no
país.
A
seca que aconteceu na região Sudeste do país poderia tornar-se mais frequente e
haveria um aumento da ocorrência de períodos longos e estiagem no Nordeste e na
Amazônia e na América do Sul, de um modo geral.
Em
contrapartida, também haveria um aumento na frequência de dias com precipitação
intensa, distribuídas em períodos de estiagem mais longos.
“As
projeções apontam que o clima do Brasil no futuro terá mais condições como as
que estamos vivendo agora, com enchentes no vale dos rios Itajaí e Tubarão, em
Santa Catarina, e do rio Madeira, na Amazônia, e secas mais frequentes no
Nordeste e Sudeste”, afirmou Nobre. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário