Afetadas
pela escassez de água, indústrias já avaliam parar produção
Falta de água pode paralisar
a produção do setor industrial de São Paulo.
Indústria
de São Paulo sofre os efeitos da crise hídrica.
A indústria de São Paulo, cuja
atividade de janeiro a junho caiu 8,7%, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), atravessa também o pior momento da crise
hídrica. “Estamos chegando no fundo do poço e se os reservatórios, tanto o Alto
Tietê como o Cantareira, não se recuperarem a prioridade absoluta vai ser o
abastecimento humano, e aí vamos ter que parar a produção”, alerta a gerente do
Departamento de Meio Ambiente, da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP),
Anicia Pio. O setor, que consome 10% da água disponibilizada na região
metropolitana, foi obrigado a reduzir em 30% a captação do insumo em Campinas
em 18/08/15 e prepara-se para novas restrições nas regiões abastecidas pela
Bacia do Alto Tietê, onde o governador Geraldo Alckmin, depois de ano e meio de
crise, acabou de reconhecer oficialmente a gravidade do cenário
abrindo assim a possibilidade de suspender captações de água do setor privado,
tanto da agricultura como da indústria.
Com duas crises avançando de mãos
dadas sobre o setor, a FIESP diz não ter como calcular os efeitos
de uma, a econômica, e de outra, a hídrica, mas Pio destaca o aumento do
orçamento dedicado pelas empresas para garantir a qualidade do insumo. “A água
captada nos rios piorou muito, a vazão se reduz e os poluentes acabam se
concentrando. Temos casos de indústrias que gastam dez vezes mais do que
gastavam antes para tratar essa água”, relata a gerente. A necessidade de
investir mais em tratamento, no entanto, não é exclusiva de indústrias que
precisam de água potável no seu processo produtivo, como a de bebidas,
farmacêuticas ou a alimentar. “A água é tão ruim que qualquer indústria precisa
de um tratamento para que fique em condições, da indústria de vidros à
metalúrgica”, completa.
Embora calcular o impacto econômico
do desabastecimento em São Paulo é difícil, Pio relata os efeitos sofridos pela
indústria, responsável por 25% do PIB do Estado, em um cenário de abastecimento
incerto. “Há empresas que mudaram de região e outras que não se instalaram.
Houve quem decidiu transferir os investimentos dedicados na região para outras.
Ninguém mais quer se instalar nestas bacias porque não conseguem licenciamento
ambiental [para a captação de água], e nas empresas localizadas em regiões
críticas [as abastecidas pelo Cantareira e o Alto Tietê, principalmente] pesa
um item de segurança na hora de pedir financiamento: o sistema financeiro vê
mais risco nelas. No final, essas regiões, não recebem nenhum novo investimento
ao não ser que a produção não dependa de água”, relata Pio.
A preocupação dos bancos pela crise
hídrica já foi exposta em várias ocasiões por um dos maiores especialistas em recursos hídricos do Brasil, o professor José Galizia Tundisi. “A crise hídrica afeta a
economia até tal ponto que têm vários bancos preocupados pelos possíveis
impactos, inclusive a inadimplência. As empresas dependentes da água no seu
processos produtivo podem reduzir a produção”, afirma Tundisi. A agência de
risco Standard & Poors também dedicou um relatório em fevereiro aos
efeitos de um possível racionamento energético e hídrico na qualidade do crédito.
A agência acredita que as consequências devem ser limitadas, embora tenha
reconhecido a dificuldade de “predizer o potencial impacto de um racionamento
de água no setor”.
Pio acredita que a portaria publicada
no Diário Oficial na semana passada, na qual é reconhecida a “criticidade” da
crise hídrica na bacia do Alto Tietê, que abastece quase cinco milhões de
pessoas, não é mais que um reconhecimento de uma realidade antiga. Cerca de 69%
das indústrias contavam com poços artesianos, mas 14,7% deles tinham secado nos
últimos meses, segundo um estudo desenvolvido pelo Centro de Pesquisa,
Desenvolvimento e Educação Continuada, em parceria com o Núcleo de Economia
Industrial e Tecnologia da Unicamp, realizada em novembro de 2014.
“O Governo não fez as obras que devia fazer e agora
nós temos que pagar a conta? Vai ser preciso fundos para socorrer o setor ou
vamos todos embora de São Paulo”, questiona a executiva.
“O Governo declara oficialmente que
existe uma crise porque a situação é de preocupação. Mas ele [o governador
Geraldo Alckmin] sempre negou e passou o ano inteiro dizendo que não há
racionamento. Mas da mesma forma que as pessoas ficam sem água à noite, aquela
pequena indústria que depende da rede pública sofre também com esse
racionamento horário”, afirma Pio que se reconhece “chateada” pela falta de
compensação do Governo estadual com o setor. “Só se fala de cortar, caçar,
restringir [captações], mas qual é a contrapartida? O Governo não fez as obras
que devia fazer e agora nós [cidadãos e indústria] temos que pagar a conta? Vai
ter fundos para socorrer o setor ou vamos todos embora de São Paulo”, questiona
a executiva. (elpais)
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