Sistema
Cantareira tem ‘transição catastrófica’, diz estudo
'A culpa
não é do sistema natural, ele sempre funcionou assim. Foi um problema de
gestão'.
Governo
do Estado oficializou crise em agosto/15.
Um artigo recém-publicado por
pesquisadores brasileiros em uma revista científica norte-americana afirma que
o Sistema Cantareira sofreu uma “transição catastrófica”, entre o fim de 2013 e
o início de 2014, provocada pela demora dos gestores em reduzir a exploração do
manancial, apesar dos indícios de estiagem.
Os
cientistas afirmam que, desde janeiro de 2014, quando a crise foi anunciada
pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o
Cantareira já havia mudado do “estado normal” para um “estado de ineficiência”,
no qual a água da chuva já não se reverte em aumento do nível de armazenamento
das represas porque é absorvida pelo solo seco, no chamado “efeito esponja”.

Represa de Atibainha, em Nazaré Paulista, interior de
São Paulo.
“A
culpa não é do sistema natural, ele sempre funcionou assim. Foi um problema de
gestão, que negligenciou aspectos fundamentais do funcionamento de bacias
hidrográficas”, afirma o ecologista Paulo Inácio Prado, do Instituto de
Biociências da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores.
Para
explicar a transição catastrófica, um termo da física que descreve mudanças
bruscas de um estado para outro, o pesquisador Roberto Kraenkel, do Instituto
de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (UNESP), compara a situação
do Cantareira com a de um barco no lago. “Ele está sob o efeito do vento e das
ondas, mas não vira. Se existir um evento excepcional, sabemos que o barco pode
virar, e de forma rápida. Depois que ele vira, fica muito difícil desvirá-lo.
Infelizmente, foi isso que aconteceu.”
Segundo
Kraenkel, as chuvas na região do Cantareira não diminuíram de repente e o
volume de água que entra nas represas por meio da chuva, dos rios e do lençol
freático já vinha em queda há mais tempo. “Era possível ter percebido isso
antes e reduzido a retirada de água do sistema desde outubro/13, mas isso só
começou a ser feito em fevereiro. Desta forma, (os gestores) acabaram jogando o
sistema dentro da catástrofe”, diz.
Segundo
Prado, se as medidas tivessem sido tomadas naquela época, o racionamento de
água seria menor hoje e a recuperação do sistema, mais rápida. “A retirada de
água já está em menos da metade e ainda estamos com volume baixo. Se os
próximos meses não forem muito chuvosos, será preciso reduzir ainda mais a
distribuição da água”, diz. O estudo também é assinado pelo pesquisador Renato
Mendes Coutinho, da UNESP.
Em
nota, a Agência Nacional de Águas (ANA) cita relatório climático que aponta que
a estiagem foi “anormal” e “imprevisível” e - desde fevereiro de 2014 - defende
reduções significativas do uso do Cantareira. A Sabesp e o Departamento de
Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) não se manifestaram até o
fechamento da matéria. (yahoo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário