COP21: Especialistas dizem que proposta brasileira pode ser
mais audaciosa e firmeza na redução do desmatamento
Coordenador
de estudo técnico que ofereceu várias opções para a proposta brasileira na
Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21), que ocorrerá a
partir de 30/11/15 em Paris, o professor Emílio La Rovere, admitiu que a
posição do país poderá se mostrar mais audaciosa até o prazo final de 1º de
outubro.
Professor
de Planejamento Energético do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), La Rovere
participou em 24/08 no Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, de debate sobre a posição do Brasil na COP21. A proposta brasileira
está sendo discutida no governo, após receber contribuições da sociedade civil
organizada, de governos estaduais e prefeituras. A palavra final será dada pela
presidenta Dilma Rousseff.
O
professor da Coppe afirma que o próprio governo já deu sinais do que será a
proposta brasileira nas declarações conjuntas firmadas com a China, Estados
Unidos e Alemanha. O ponto mais importante, segundo ele, é o compromisso de
ter, até 2100, emissões de gases de efeito estufa (GEE) zero. Visando atenuar
os efeitos do aquecimento global, foi definido que, se até o final deste século
houver emissões, elas serão compensadas pelo plantio de árvores, “que é
necessário para fazer a temperatura parar de subir”.
Como
as discussões em Paris estão voltadas mais para 2030, o Brasil já sinalizou que
até lá pretende zerar o desmatamento ilegal; recuperar 12 milhões de hectares
de florestas desmatadas; elevar a participação das energias renováveis no total
da energia gerada no país, excetuando a energia hidrelétrica, de 28% para 33%.
Na parte de consumo de eletricidade, La Rovere opina que o compromisso do
governo brasileiro é dobrar a participação atual das fontes renováveis,
excetuando hidrelétrica, de 9,5% para até 20%, até 2030.
Até
1º de outubro, será discutido como vai ser a oferta de redução de emissões do
Brasil, se ele apresentará um número absoluto sobre isso e quais são as
condições que o país pedirá de contrapartida, como, por exemplo, financiamento
em condições privilegiadas para poder cortar essas emissões.
O
potencial de recursos naturais renováveis dá ao Brasil possibilidade de ser
mais audacioso em sua proposta final na COP21, e se tornar um líder, opina La
Rovere. Com essa liderança, diz ele, o Brasil pode, inclusive, ampliar sua
competitividade e ele espera que haja um anúncio até “1º de outubro, que vá
além do anunciado até agora”.
Na
avaliação do economista e presidente da Câmara Técnica de Sustentabilidade da
Prefeitura do Rio de Janeiro, Sérgio Besserman, a proposta brasileira à COP21
“não faz feio”, mas é “medrosa”. A seu ver, ela poderia ser mais “audaciosa,
sem custo e sem atrapalhar o desenvolvimento econômico e social”. Besserman diz
que o Brasil está muito na defensiva, embora esteja cumprindo o “dever de casa”
com sucesso. “Já é um avanço. Vamos chegar lá (na COP21) bem, do ponto de vista
do desmatamento na Amazônia, que se reduziu bastante”.
O
ex-ministro do Meio Ambiente e atual deputado estadual (PT-RJ), Carlos Minc,
considera a proposta brasileira é boa. Destaca, ainda, a unanimidade dos
debatedores em relação a pontos em que o Brasil ainda pode avançar. O corte do
subsídio à energia fóssil (gasolina e diesel) é um deles. Na opinião de Minc,
outro ponto de consenso é o replantio, o que demandará “política específica,
com apoio, terras e tecnologia”. O país deve dar ênfase também ao transporte
metroviário e ferroviário e à política de resíduos, transformando o metano dos
lixões em energia renovável.
Ambientalista
defende firmeza do Brasil na COP21 sobre redução do desmatamento
Segundo
o diretor de Políticas Públicas da organização não governamental SOS Mata
Atlântica, Mário Mantovani, o Brasil precisa de uma posição firme em relação à
redução do desmatamento.
A
COP21 começa no dia 30 de novembro, em Paris, e os países participantes devem
apresentar, até 1º de outubro, as propostas de redução de emissões de gases de
efeito estufa.
“O
Brasil não pode ser covarde. O que nós estamos vendo hoje é a falta de
posicionamento do país, por exemplo, sobre o tema do desmatamento. O Código
Florestal foi a antítese disso, autorizou o desmatamento”, disse Mantovani
sobre a legislação aprovada em 2012, que flexibilizou alguns aspectos das leis
ambientais. De acordo com Mantovani, uma posição firme em relação ao
desenvolvimento sustentável pode trazer até benefícios ao agronegócio.
Os
benefícios para a imagem das empresas preocupadas com o meio ambiente também
foram destacados pela secretária estadual de Meio Ambiente de São Paulo,
Patrícia Iglecias. “Estamos trabalhando com as empresas para termos protocolos
voluntários de redução de emissões [de gases]. Isso é fundamental, porque as
empresas podem trabalhar com economia e usar isso como elemento de imagem [da
empresa]. Quanto mais houver essa cooperação voluntária, melhor”, disse ela, sobre
as ações desenvolvidas pelo governo estadual.
Além
disso, problemas atuais, como a crise hídrica no estado têm relação com os
efeitos das mudanças no clima, disse a secretária. “Quando se olha em outros
países, a visão é também que esses eventos, do ponto de vista do clima e da
água, estão totalmente relacionados com a temática das mudanças climáticas.
Isso os cientistas têm levantado em diversos lugares do planeta.”
O
coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Sarney Filho (PV-MA)
disse que a aproximação entre a sociedade civil e o Legislativo é uma maneira
de dar vazão às demandas da população.
Sarney
Filho lembrou que caberá à Câmara e ao Senado aprovar possíveis acordos
internacionais assinados com o objetivo de reduzir as emissões de poluentes.
“Também vão depender dele [Senado] as leis e a aprovação de qualquer acordo
internacional, daí a importância de fazermos uma união forte do Legislativo com
a sociedade civil”, afirmou o deputado. (ecodebate)
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