sábado, 19 de dezembro de 2015

História da reciclagem animal

O aproveitamento de partes não comestíveis de produtos originários do abate de animais e de recortes de açougues foi verdadeiramente a primeira atividade de reciclagem de resíduos de atividades humanas. O primeiro registro do uso de gorduras animais de que se tem notícia foi para a fabricação de sabões, no “Papirus de Ebers” (Egito, 1550 AC), época em que os antigos egípcios se banhavam regularmente com um produto à base de óleos vegetais e gorduras animais combinados com sais alcalinos para formar um tipo de sabão.
A segunda forma de uso de produtos reciclados de origem animal foi o uso do óleo de baleia na fabricação de velas, por volta dede 200AC, na China. As velas só passaram a ter importância na Europa por volta dede 400DC, quando o uso de lamparinas à base de azeite de oliva era muito difundido. Durante toda a idade média, o uso de óleos animais era essencialmente artesanal, pois fazendeiros e alquimistas extraiam a gordura dos resíduos do abate de animais para consumo próprio ou para fabricação de sabões, unguentos e velas. Utilizando grandes taxos de ferro abertos, aquecidos a lenha, o material era fervido e posteriormente o sobrenadante (gordura) era retirado. Esse tipo de reciclagem de resíduos de origem animal ainda é feita em fazendas e locais remotos para a obtenção de banha suína para consumo e conservação de carnes.
O uso de óleo, seja ele de origem animal ou mineral, só conseguiu atingir viabilidade comercial com o surgimento da indústria pesqueira baleeira no século XVII.
Em meados do século XIX, a indústria de abate de búfalos e bovinos começou a se estabelecer em Chicago, Estados Unidos.
Quantidades crescentes de resíduos não comestíveis eram produzidos diariamente, e consequentemente, os problemas para se descartar esses resíduos só aumentavam, resultando em enorme pressão social para que esses estabelecimentos fossem fechados devido a péssimas condições sanitárias. Gustavus Swift, Nelson Morris e Lucius Darling são os pioneiros do moderno setor de Reciclagem de Resíduos de Origem Animal – ROA. Eles vislumbraram que a indústria da carne necessitaria ter seus resíduos reutilizados, e iniciaram o processo de coleta e processamento dos mesmos.
No início do século XX, o processamento consistia da injeção de vapor direto na matéria-prima, separando a água e a gordura do material sólido. A gordura era utilizada para a fabricação de margarinas, lubrificantes, velas e sabões; o resíduo sólido era utilizado como fertilizante.
Em 1912, esse resíduo úmido foi oferecido a porcos, que apresentaram melhor ganho de peso. Após o início I e da II Guerras Mundiais, fazendeiros europeus necessitando alimentar seus animais, passaram a utilizar amplamente esse resíduo para bovinos e suínos. Enquanto isso, nos EUA, a demanda por glicerina para a produção de nitroglicerina era enorme. Com isso, foi descoberta uma fonte barata e viável de proteína para a alimentação de animais de produção.
Com o avanço tecnológico, o resíduo do processamento passou a ser produzido seco, em forma de farinha. Em 1947, frangos de corte tiveram seu crescimento acelerado quando receberam farinha de carne e ossos em suas dietas. O processamento de subprodutos do abate de aves começou então nos anos 50, com a fabricação de farinhas de vísceras e de penas. Entre 1960 e 1970, o uso de farinhas e gorduras de origem animal se disseminou na produção animal. Animais que consumiam rações fabricadas com esses produtos cresciam mais rápido, consumiam menos ração e apresentavam custo de produção muito inferior aos que comiam apenas grãos.
Visando aumentar a produção de leite e de carne, em países desenvolvidos o gado foi retirado do pasto, e passou a ser alimentado em enormes currais, onde o alimento cuidadosamente formulado era oferecido diariamente, e o uso de farinhas de origem animal era amplamente recomendado.
Em 1986, na Inglaterra, o gado foi abatido por uma doença semelhante ao "scarpie" de ovelhas, que veio a ser conhecida como "doença da vaca louca" (nome científico: Encefalopatia Espongiforme Bovina, BSE).
De início, a causa era desconhecida, e apenas em 1990 que se passou a compreender que a transmissão se dava pelo consumo de farinhas de origem animal, majoritariamente ovelhas que teriam morrido de Scarpie nas fazendas e que teriam sido recolhidas e enviadas para a reciclagem animal, contaminando animais sadios. Com isso, o uso de farinhas de ruminantes, em dietas de ruminantes, foi banida na Inglaterra em 1990.
Apesar de o Brasil ser considerado um país com risco insignificante BSE, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA, proibiu o uso de farinhas de origem animal em dietas de ruminantes.
Além disso, proibiu o uso de cama de frango e quaisquer resíduos de abate, assim como exigiu a esterilização de todas as farinhas que contenham resíduos de ruminantes. Dessa forma, acredita-se que o risco de o Brasil apresentar casos de BSE seja extremamente reduzido. (abra)

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