Quando
Pero Vaz de Caminha chegou ao litoral brasileiro, além da admiração pelos
índios e índias, pela exuberância da floresta litorânea, ele fica deslumbrado
com a quantidade de águas. Vai escrever ao rei: “águas são muitas; infinitas.
Em tal maneira graciosa (a terra) que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela
tudo; por causa das aguas que tem! ”. Frase que depois, falsificada, fica
reduzida a “nesse país em se plantando tudo dá”.
Quando
o Brasil elaborou seu Primeiro Plano Nacional de Recursos Hídricos, participei
com poucas pessoas do Nordeste para inserir no Plano a captação da água de
chuva. Juntando várias fontes o Plano concluía que temos aproximadamente 13,8
das águas doces mundiais em território brasileiro.
Temos
a maior malha de bacias hidrográficas do planeta, além do que somos o único
país do mundo de dimensões continentais que tem chuva em todo território
nacional. Outros países como China, Estados Unidos e Austrália tem imensos
desertos em seus territórios.
Os dois maiores aquíferos do mundo estão em grande parte em território brasileiro, como o Alter do Chão na Amazônia, e Aquífero Guarani que abrange regiões do sul e sudeste, além de outros países do cone sul.
Os dois maiores aquíferos do mundo estão em grande parte em território brasileiro, como o Alter do Chão na Amazônia, e Aquífero Guarani que abrange regiões do sul e sudeste, além de outros países do cone sul.
Ainda
mais, os rios voadores que saem da Amazônia chegam até Buenos Aires – para
outros até à Patagônia – e são os responsáveis pelas chuvas que caem em todo
esse vasto território da América Latina.
Nem
mesmo a propalada diferença de quantidade de água de região para região pode
ser alegada como problema. O Semiárido, com um milhão de quilômetros quadrados,
com uma média de 700 mm/ano, tem capacidade instalada para armazenar apenas 36
dos 700 bilhões de m3 que caem sobre esse território todos os anos.
Onde
está, então, nosso problema? Exatamente na abundancia, nos ensinava o já
falecido Prof. Aldo Rebouças. Ela nos tornou perdulários e, junto com a cultura
predadora construída desde a fundação do Brasil, passamos a maltratar as nossas
águas.
Aos
poucos estamos perdendo não só a abundancia pela destruição do ciclo de nossas
águas – desmatamento da Amazônia e do Cerrado -, mas transformando nossos
corpos d’água em depósitos de esgotos e de lixo. São as mineradoras – vide
Samarco -, dejetos industriais, domésticos, hospitalares, agrícolas e resíduos
sólidos como lixo doméstico e restos de construções. Basta olhar para o rio São
Francisco.
Dessa
forma, além de estarmos provocando a escassez quantitativa, estamos provocando
a escassez qualitativa, isto é, os mananciais estão diante dos nossos olhos –
Pinheiros e Tietê em São Paulo -, mas suas águas são imprestáveis para qualquer
tipo de uso.
Nesse
sentido, mais uma vez, a importância da Campanha da Fraternidade sobre o
saneamento básico. Ao coletar e tratar os esgotos, manejar adequadamente os
resíduos sólidos, estaremos dando a maior contribuição para superar a escassez
qualitativa de nossas águas.
Alerta:
cientistas e juristas que estiveram na elaboração do conteúdo do Texto Base da
CF, nos alertam que o governo está focando a luta contra as doenças em
evidência no combate ao mosquito, desviando o foco do fundamento básico do
saneamento. (ecodebate)
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