A parcela de culpa da comunicação
na falsa sustentabilidade empresarial
Todos os anos, no dia 5 de junho celebramos o
Dia Mundial do Meio Ambiente. Bonitos discursos são proferidos nesta data,
comprovando mais uma vez que nunca na história se falou tanto sobre meio
ambiente e sustentabilidade. Políticos de todos os níveis da administração pública,
falam das medidas adotadas em suas administrações, ONG’s apresentaram seus
projetos para a preservação e conservação do planeta, e as organizações
empresariais trataram de mostrar para todos os seus stakeholders, e também para
a sociedade, seus projetos de sustentabilidade que promovem a equidade
econômica, social e ambiental e que também contribuem para a construção de um
mundo melhor para as gerações futuras
Entretanto,
a proteção ambiental não pode ser assegurada somente com base no cálculo financeiro
de custos e benefícios. O ambiente é um dos bens que os mecanismos de mercado
não estão aptos a defender ou a promover adequadamente. Mais uma vez repito que
convém evitar uma concepção mágica do mercado, que tende a pensar que os
problemas se resolvem apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dos
indivíduos.
Será
demasiado esperar daqueles que são obcecados pela maximização dos lucros que
considerem os efeitos ambientais que deixarão às futuras gerações? Há muita
descrença em relação à sustentabilidade empresarial. Já no inicio dos anos 90,
a professora Isabel Carvalho, defendia que “o surgimento de um ‘mercado verde’,
‘tecnologias limpas’, do ‘consumo sustentável’ mantém a mesma lógica da
degradação ambiental, revestida pelo discurso do desenvolvimento sustentável”.
Sustentabilidade tornou-se a palavra do momento, da moda, e todas as
organizações querem “estar na moda”. Ser uma empresa sustentável, que pensa na
preservação do planeta, que cuida dos seus funcionários e da sua comunidade, que
desenvolve e comercializa produtos que não agridem o meio ambiente e não fazem
mal à saúde das pessoas é, literalmente, um grande negócio.
Mas,
a sustentabilidade não pode ser encarada como modismo, um diferencial em
relação aos concorrentes ou mesmo como algo que possa agregar valor ao produto
e/ou serviço. Sustentabilidade é o que vai garantir que essa mesma empresa
continue existindo lá na frente, dando lucro aos seus proprietários e
acionistas, seus herdeiros, produzindo bens que proporcionem conforto às
pessoas e garantindo emprego à sociedade. Como sobreviver às novas mudanças, ao
novo mundo, são respostas que deveriam nortear as organizações empresariais
rumo à sua própria sustentabilidade.
Vivemos
um momento delicado, a relação entre desenvolvimento econômico e qualidade de
vida está caminhando para um divórcio. Grandes embates são travados e o
objetivo é conciliar os diversos interesses sociais, econômicos e ambientais.
O
que se pode perceber é que o “discurso sustentável” vem sendo apropriado pelo
mundo empresarial corporativo, muito mais que em outros setores da nossa
sociedade. As empresas se tornaram as grandes “guardiãs” do meio ambiente, são
organizações socialmente responsáveis e também promovem o desenvolvimento
sustentável do planeta.
Citando
Rachel Carson: “o homem é parte da natureza e sua guerra contra a natureza é
inevitavelmente uma guerra contra si mesmo”. Como dizem corriqueiramente aqui
no Brasil, é uma “febre” falar em sustentabilidade no meio empresarial, podemos
chamá-la de “gripe da sustentabilidade”, pois nos últimos anos contaminou a
todas as organizações empresariais instaladas aqui no país.
Os
discursos empresariais estão recheados de valores que antes eram contraditórios
à lógica capitalista, as propagandas e as mensagens na mídia corporativa mais
parecem viagens utópicas dos hippies nos anos 70. CEO’s e dirigentes deliram
frases de efeito. Eventos corporativos, publicações, rankings, e outros
acontecimentos, que enaltecem a atuação sustentável das empresas ganharam um
valor imensurável pela contribuição à imagem e reputação corporativa. O foco
obstinado no lucro e a guerra de mercado parecem ter sofrido uma mudança brusca
no seu direcionamento.
A
visão empresarial ainda é muito míope. A sustentabilidade é um fator
estratégico de sobrevivência, agrega valor à imagem institucional, dá
credibilidade pública e liderança competitiva. Mas será somente essa a questão
a ser levada em consideração? Será necessário passar por uma crise, um risco a
imagem e reputação, para que ocorra uma revisão de valores institucionais e
mudança na condução dos negócios.
Essas
questões nos levam a uma reflexão sobre o papel da comunicação empresarial em
relação à sustentabilidade. A qual propósito serve o comunicador que atua no
mundo empresarial corporativo, ou qual deveria servir frente aos desafios de
preservar o planeta para as futuras gerações. Deveria ser capaz de promover as
mudanças de paradigma na forma de atuar da empresa, e assim agregar valor
“sustentável” à sua imagem e reputação, ou somente criar discursos e
propagandas para a disputa de novos mercados na luta contra seus concorrentes.
Sabemos da responsabilidade do biólogo frente à proteção da ecologia, do médico
e a proteção da vida, do engenheiro na garantia da comodidade da vida moderna,
mas qual a responsabilidade do comunicador frente à sustentabilidade do
planeta?
Somos
os profissionais capacitados para perceber as mudanças e nortear os caminhos
para o futuro, criar uma forte reputação às empresas e também dar sustentação
nos momentos de crise. Sabemos que a comunicação também se dá no campo das
percepções, portanto é imperativo que as empresas sejam “percebidas” como
organizações sustentáveis. Mas não basta ser somente percebida, mais do que uma
boa imagem a empresa deve construir uma boa reputação. Não basta falar que
cuida do meio ambiente, tem que cuidar de verdade. As empresas precisam criar
uma relação verdadeira com todos os públicos, contribuir com as políticas
públicas, com a melhoria da qualidade de vida das comunidades, cuidar dos seus
funcionários, dentre outras coisas. A consolidação de uma imagem socialmente
responsável faz com que o meio empresarial busque formas de melhorar seu
relacionamento com o meio ambiente e a sociedade, de modo a contribuir para um
desenvolvimento sustentável, do qual também depende a sua sobrevivência.
O
desenvolvimento sustentável tem que deixar o campo das aparências e passar a
existir de forma completa no campo das ações, tendo o comunicador no papel
central de ampliar o diálogo real formado através dessas verdadeiras ações e a
sociedade. Sempre em busca de sustentabilidade e proteção do meio ambiente
dentro e fora das empresas. (ecodebate)
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