“Os
mortos governam os vivos” - Augusto Comte
Capsula Mundi, projetada pelos designers italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel
Capsula Mundi, projetada pelos designers italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel
A
humanidade já provocou grandes alterações nos ecossistemas do Planeta. Desmatou
florestas para explorar as madeiras de lei, fazer carvão e ampliar as
atividades da agricultura e da pecuária. Represou rios, drenou pântanos,
alterou a paisagem natural. Revolveu a terra para extrair minérios, foi buscar
petróleo no fundo do subsolo e emitiu gases de efeito estufa que alteram a
química da atmosfera, provocando o aquecimento global e a acidificação dos
solos e das águas. Mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas e
cresce agressivamente o número de megalópoles com mais de 10 milhões de
habitantes.
Em
decorrência de tudo isto, cresce o número de cientistas que dizem que não dá
mais para continuar neste ritmo insustentável. É preciso buscar todas as
alternativas para evitar a crise ambiental que ameaça o bem-estar de todos os
seres vivos do campo e da cidade. Sem dúvida, a humanidade precisa mudar o
estilo de vida. Mas há também propostas para se mudar o estilo de morte, reconfigurando
os enterros e os cemitérios, para um desenho mais amigável ao meio ambiente.
A
antropologia histórica diz: “a cidade dos mortos antecede a cidade dos vivos”.
Antes do surgimento do Homo Sapiens, há 200 mil anos, o gênero Homo já cultuava
o espírito e a memória dos antepassados. Na Era Paleolítica, os mortos foram os
primeiros a ter uma morada permanente, quer seja em uma caverna, uma cova
assinalada por um monte de pedras ou um túmulo coletivo. A “cidade dos mortos”
já estava presente, mesmo quando a humanidade era nômade.
As
pirâmides do Egito – uma das sete maravilhas do mundo antigo – eram templos
construídos para os mortos. Envolveu o trabalho de dezenas de milhares de
trabalhadores e escravos, empobreceu a economia e custou a vida de muitos. Sarcófagos
luxuosos foram edificados para eternizar as desigualdades sociais. Monumentos
funerários foram construídos para satisfazer as aspirações religiosas da
transfiguração da hierarquia da sociedade.
Dizem
que “O túmulo é o limite das vaidades e pretensões humanas”. Mas muitos túmulos
se tornam monumentos à arrogância, à concorrência, à exibição e à presunção das
famílias. Diversos cemitérios se tornam atração turística por serem “museus a
céu aberto”, onde estão expostas, nos túmulos, obras caras de famosos e
variados escultores. Existem cemitérios dos ricos e dos pobres e, mesmo de
forma desigual, ambos têm impacto ambiental.
Os
cemitérios ocupam cada vez mais espaços e muito material, como aço, madeira e
cimento, que são usados para enterrar um corpo e expandir os túmulos. O fluído
de embalsamar e cuidar dos corpos (formaldeído) é tóxico. Mesmo o processo de
cremação tem impactos, como a quantidade de energia necessária para transformar
um corpo em cinzas. Feitas em madeira de lei, as urnas funerárias utilizadas
atualmente provocam desmatamento e é um desperdício de recursos naturais em um
recipiente a ser consumido embaixo da terra ou no fogo crematório.
Reportagem
da revista SCIAM mostra que túmulos em ruínas, com rachaduras permitem
infiltração em especial das águas de chuva, problemas provocados pela
compactação do solo por raízes de árvores de maior porte, além de negligência
de proprietários de jazigos em cemitérios também favorecem de maneira
específica a contaminação do lençol freático com impactos ambientais capazes de
afetar a saúde pública. O necrochorume, produzido no processo de decomposição
orgânica é liberado de forma constante por cadáveres em decomposição e
apresenta um grau variado de patogenicidade.
Para
a sociedade sobreviver no terceiro milênio, de maneira biocêntrica, vai
precisar alterar este ambiente fúnebre e ecologicamente incorreto. Assim como a
humanidade superou a idade das cavernas, vai precisar superar a época dos
caixões e das impactantes “cidades dos mortos”. Felizmente, já há uma opção
mais ambientalmente responsável e que pode dar continuidade ao “ciclo da vida”
na Terra.
A
ideia inovadora está na proposta de Capsula Mundi, projetada pelos designers
italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel. Eles desenharam uma cápsula orgânica e
biodegradável capaz de transformar os restos mortais em nutrientes para uma
árvore. Sem utilizar madeira ou cimento, o corpo é colocado numa cápsula e
enterrado. Depois, uma árvore ou semente é plantada acima da urna biodegradável
para aproveitar a matéria orgânica gerada pela decomposição do organismo.
O tipo de árvore pode ser escolhido pela pessoa ainda em vida. A comunidade, os familiares ou amigos podem assumir a responsabilidade de cuidar da planta depois da partida da pessoa. Segundo os criadores, a ideia é transformar os atuais cemitérios – lugares bastante tristes e pouco frequentados – em florestas que podem captar o carbono e reverter a Pegada Ecológica que a pessoa deixou em vida. As árvores são uma forma de recuperação ecológica e uma maneira de manter a memória dos indivíduos que passaram para outra existência. Uma memória viva, segundo Anna Citelli e Raoul Bretzel.
O tipo de árvore pode ser escolhido pela pessoa ainda em vida. A comunidade, os familiares ou amigos podem assumir a responsabilidade de cuidar da planta depois da partida da pessoa. Segundo os criadores, a ideia é transformar os atuais cemitérios – lugares bastante tristes e pouco frequentados – em florestas que podem captar o carbono e reverter a Pegada Ecológica que a pessoa deixou em vida. As árvores são uma forma de recuperação ecológica e uma maneira de manter a memória dos indivíduos que passaram para outra existência. Uma memória viva, segundo Anna Citelli e Raoul Bretzel.
A
Capsula Mundi já é uma alternativa de enterro sustentável para os cidadãos. Mas
seria uma grande alternativa ecológica para o mundo se fosse adotada nestes
tempos de crise ambiental. Segundo a Divisão de População da ONU, morrem
anualmente cerca de 60 milhões de pessoas no mundo. Entre 2095 e 2100 devem
morrer cerca de 120 milhões de pessoas por ano. No século XXI são estimados 8,8
bilhões de mortes humanas no Planeta.
Augusto
Comte dizia “Os mortos governam os vivos”. Agora podem comandar de uma maneira
ecológica. Seria como ressuscitar em uma árvore que dê flores e frutos e
gerasse sementes para outras árvores, com a transmigração do espírito ecológico
e da herança biológica. E cada cemitério seria uma floresta.
A Terra seria um lugar muito melhor para se
viver se, ao invés de demandar recursos da natureza para os funerais ao estilo
da “cidade dos mortos”, todos adotassem um enterro sustentável, utilizando a
Capsula Mundi. Cada pessoa morta poderia virar uma planta e fazer parte de uma
imensa floresta de bilhões de árvores que poderiam, além de abrigar a
biodiversidade e recuperar as nascentes e veios d’água, retirar gás carbônico
da atmosfera e lançar oxigênio no ar. Sem dúvida, nesta nova perspectiva, o
mundo poderia reduzir o aquecimento global, sendo, ao mesmo tempo, mais verde,
menos funesto e mais vivo. (ecodebate)
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