Caso
fôssemos fazer uma enquete para saber se as pessoas querem envelhecer em um
planeta com o aumento da temperatura média acima de 2°C até o final do século
com relação à era pré-industrial, muitas talvez não tivessem a noção do que
essa pergunta significa. Certamente neste cenário, dificilmente chegaríamos aos
116 anos, como o japonês Jiroemon Kimura, que morreu em junho de 2013, e não teríamos
variantes necessárias para a qualidade de vida por aqui, no Brasil, para chegar
à expectativa atual de 75,2 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em um contexto previsto de triplicação do
número de idosos (acima de 60 anos) no país até 2050, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS). As condições climáticas junto ao modelo deficiente de
atendimento à saúde pública nesta faixa de idade é algo que os governantes não
computam na hora de fazer seus planos de governo.
O
que hoje é uma probabilidade de alterações acentuadas no clima, está cada vez
mais perto de se tornar um fato concreto, apesar de tentativas de reversão
deste quadro, no campo das negociações diplomáticas, como a Conferência das
Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas da Mudança do Clima (COP 21), de
Paris, no final do ano passado, da qual participaram 195 países.
Já
ultrapassamos 1,02°C de aumento na temperatura média do planeta. O processo de
aumento de eventos extremos se acentua e o nível do mar também aumenta, que
pode chegar a subir até 7 metros a mais, o que amplia a vulnerabilidade de quem
vive em países insulares e nas faixas litorâneas. Neste mundo envolto pelo
Aquecimento Global, os cientistas preveem o aumento de até três milhões de mortes
devido à desnutrição, gradativo colapso da floresta Amazônica (que já sinaliza
traços de savanização), até quatro bilhões a mais de pessoas enfrentando a
escassez de água e a probabilidade de 40% das espécies de seres vivos serem
extintas, entre outros efeitos.
Agora,
a corrida é para alcançar o mínimo de 55 ratificações dos países mais
poluidores do mundo ao acordo firmado na COP 21, que representam 55% das
emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs). China e EUA, que estão no topo do
ranking, deram os primeiros passos nesta semana. O Brasil sinalizou que ainda
neste mês, também tomará esta medida. Os compromissos firmados devem valer a
partir de 2020 para o processo de descarbonização. Mas isso é suficiente para
não ultrapassar 1,5°C, o que é considerado tolerável pelos cientistas do Painel
Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC)? A quantidade de redução de
emissões não foi especificada no acordo, algo ainda a ser atualizado.
Por
outro lado, os países mais ricos assumiram mais um compromisso de auxiliar os
mais pobres em seus processos de adaptação e mitigação (redução de danos) com
recursos na ordem de R$ 100 bilhões anualmente, algo que não havia sido
implementado desde COPs anteriores. Alguns processos das mudanças climáticas já
estão em curso e exigem investimentos.
E o
Brasil nesta história?
Como
o que é acordado internacionalmente dialoga com as práticas internas de
desenvolvimento dos países? No caso específico do Brasil, com várias vertentes
das politicas públicas que versem sobre a redução do desmatamento baseada na
mudança do modelo de agronegócios desenvolvido aqui. De 1988 a 2015, já foram
desmatados 413.506 km2 na Amazônia Legal. Neste ano, vimos avanços
tanto do desmatamento como de queimadas, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE).
Por
décadas, há o favorecimento à ocupação de largas extensões de terra pelo
monocultivo e pela pecuária, de logísticas absurdas em vias caóticas que cortam
o país, gerando ainda mais emissões de dióxido de carbono com o diesel. Somado
a isso, o país ainda enfrenta a extração da madeira ilegal e da mineração, que
deixa passivos ambientais de grande porte. Não mantemos iniciativas eficientes
transversais de educação para o consumo consciente que visem a redução do
consumo de energia, de água e de desperdício de alimentos, por exemplo.
Falta
empenho mais efetivo para a ampliação de investimento em fontes limpas e
renováveis de matrizes elétricas, como a solar (incluindo a microgeração) e a
eólica (hoje temos 400 parques eólicos em funcionamento). Temos a predominância
da fonte hidráulica em 64%, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), que
infere ao mesmo tempo impactos ambientais.
Ainda
existe um gap com relação a campos de pesquisa mais efetivo com relação ao
biogás oriundo dos resíduos orgânicos e facilidades para implementação de
usinas e da energia proveniente das algas. No campo automotivo e das matrizes
energéticas, é determinante a redução gradativa das frotas com combustíveis
fósseis com substituição pelo etanol e veículos movidos à energia elétrica.
Hoje os percentuais nas fontes renováveis estão na casa de 43,9%.
No
contexto das cidades e zonas rurais (dos cinturões verdes), investimento em
planos diretores que potencializem os espaços paisagísticos com ciclovias seguras
e corredores ecológicos, em que a arborização, recuperação de Áreas de Proteção
Permanente (APPs) sejam com espécies nativas dialogando com todo o serviço
ecossistêmico local. Sem polinização, a segurança alimentar e da biodiversidade
ficarão cada vez mais vulneráveis. Tudo isso passa pela gestão pública desde o
nível municipal ao federal. Os candidatos a cargos executivos ou legislativos
tratam dessas agendas? Aí está um bom exercício a fazer: pesquisar as
propostas, tendo este olhar mais holístico, antes de irmos decidir nossos votos
na urna.
E
voltando à questão da longevidade em tempos de Mudanças Climáticas, fica mais
claro como as atitudes no hoje são determinantes pelo que poderemos preparar
para as perspectivas do amanhã. Então, fica mais fácil responder se queremos
envelhecer em um mundo que não reduz a ação antrópica na aceleração da
carbonização, ao sermos passivos neste processo? (ecodebate)
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