sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A longevidade em tempos de mudanças climáticas


Caso fôssemos fazer uma enquete para saber se as pessoas querem envelhecer em um planeta com o aumento da temperatura média acima de 2°C até o final do século com relação à era pré-industrial, muitas talvez não tivessem a noção do que essa pergunta significa. Certamente neste cenário, dificilmente chegaríamos aos 116 anos, como o japonês Jiroemon Kimura, que morreu em junho de 2013, e não teríamos variantes necessárias para a qualidade de vida por aqui, no Brasil, para chegar à expectativa atual de 75,2 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em um contexto previsto de triplicação do número de idosos (acima de 60 anos) no país até 2050, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). As condições climáticas junto ao modelo deficiente de atendimento à saúde pública nesta faixa de idade é algo que os governantes não computam na hora de fazer seus planos de governo.
O que hoje é uma probabilidade de alterações acentuadas no clima, está cada vez mais perto de se tornar um fato concreto, apesar de tentativas de reversão deste quadro, no campo das negociações diplomáticas, como a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas da Mudança do Clima (COP 21), de Paris, no final do ano passado, da qual participaram 195 países.
Já ultrapassamos 1,02°C de aumento na temperatura média do planeta. O processo de aumento de eventos extremos se acentua e o nível do mar também aumenta, que pode chegar a subir até 7 metros a mais, o que amplia a vulnerabilidade de quem vive em países insulares e nas faixas litorâneas. Neste mundo envolto pelo Aquecimento Global, os cientistas preveem o aumento de até três milhões de mortes devido à desnutrição, gradativo colapso da floresta Amazônica (que já sinaliza traços de savanização), até quatro bilhões a mais de pessoas enfrentando a escassez de água e a probabilidade de 40% das espécies de seres vivos serem extintas, entre outros efeitos.
Agora, a corrida é para alcançar o mínimo de 55 ratificações dos países mais poluidores do mundo ao acordo firmado na COP 21, que representam 55% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs). China e EUA, que estão no topo do ranking, deram os primeiros passos nesta semana. O Brasil sinalizou que ainda neste mês, também tomará esta medida. Os compromissos firmados devem valer a partir de 2020 para o processo de descarbonização. Mas isso é suficiente para não ultrapassar 1,5°C, o que é considerado tolerável pelos cientistas do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC)? A quantidade de redução de emissões não foi especificada no acordo, algo ainda a ser atualizado.
Por outro lado, os países mais ricos assumiram mais um compromisso de auxiliar os mais pobres em seus processos de adaptação e mitigação (redução de danos) com recursos na ordem de R$ 100 bilhões anualmente, algo que não havia sido implementado desde COPs anteriores. Alguns processos das mudanças climáticas já estão em curso e exigem investimentos.


E o Brasil nesta história?
Como o que é acordado internacionalmente dialoga com as práticas internas de desenvolvimento dos países? No caso específico do Brasil, com várias vertentes das politicas públicas que versem sobre a redução do desmatamento baseada na mudança do modelo de agronegócios desenvolvido aqui. De 1988 a 2015, já foram desmatados 413.506 km2 na Amazônia Legal. Neste ano, vimos avanços tanto do desmatamento como de queimadas, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Por décadas, há o favorecimento à ocupação de largas extensões de terra pelo monocultivo e pela pecuária, de logísticas absurdas em vias caóticas que cortam o país, gerando ainda mais emissões de dióxido de carbono com o diesel. Somado a isso, o país ainda enfrenta a extração da madeira ilegal e da mineração, que deixa passivos ambientais de grande porte. Não mantemos iniciativas eficientes transversais de educação para o consumo consciente que visem a redução do consumo de energia, de água e de desperdício de alimentos, por exemplo.
Falta empenho mais efetivo para a ampliação de investimento em fontes limpas e renováveis de matrizes elétricas, como a solar (incluindo a microgeração) e a eólica (hoje temos 400 parques eólicos em funcionamento). Temos a predominância da fonte hidráulica em 64%, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), que infere ao mesmo tempo impactos ambientais.
Ainda existe um gap com relação a campos de pesquisa mais efetivo com relação ao biogás oriundo dos resíduos orgânicos e facilidades para implementação de usinas e da energia proveniente das algas. No campo automotivo e das matrizes energéticas, é determinante a redução gradativa das frotas com combustíveis fósseis com substituição pelo etanol e veículos movidos à energia elétrica. Hoje os percentuais nas fontes renováveis estão na casa de 43,9%.
No contexto das cidades e zonas rurais (dos cinturões verdes), investimento em planos diretores que potencializem os espaços paisagísticos com ciclovias seguras e corredores ecológicos, em que a arborização, recuperação de Áreas de Proteção Permanente (APPs) sejam com espécies nativas dialogando com todo o serviço ecossistêmico local. Sem polinização, a segurança alimentar e da biodiversidade ficarão cada vez mais vulneráveis. Tudo isso passa pela gestão pública desde o nível municipal ao federal. Os candidatos a cargos executivos ou legislativos tratam dessas agendas? Aí está um bom exercício a fazer: pesquisar as propostas, tendo este olhar mais holístico, antes de irmos decidir nossos votos na urna.
E voltando à questão da longevidade em tempos de Mudanças Climáticas, fica mais claro como as atitudes no hoje são determinantes pelo que poderemos preparar para as perspectivas do amanhã. Então, fica mais fácil responder se queremos envelhecer em um mundo que não reduz a ação antrópica na aceleração da carbonização, ao sermos passivos neste processo? (ecodebate)

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