Mudanças climáticas podem levar mais de 122 milhões de
pessoas à pobreza, alerta a FAO.
A
Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) das Nações Unidas alertou
em 17/10/16 para a urgência de ajudar o setor agrícola a adaptar-se às
alterações climáticas, que poderão deixar mais de 122 milhões de pessoas na
pobreza.
“A
menos que sejam tomadas medidas agora para tornar a agricultura mais
sustentável, produtiva e resiliente, os impactos das alterações climáticas vão
comprometer gravemente a produção alimentar em países e regiões que já
enfrentam uma alta insegurança alimentar”, escreveu o diretor-geral da
organização, José Graziano da Silva, no prefácio de um relatório publicado
ontem.
Intitulado
O estado da Alimentação e da Agricultura, o relatório sublinha que, se não
houvesse alterações climáticas, a maioria das regiões deveria reduzir o número
de pessoas em risco de pobreza até 2050.
No
entanto, com as mudanças no clima e se nada for feito estima-se que entre 35 e
122 milhões de pessoas entrem para a faixa de pobreza. Isto deve-se sobretudo
aos impactos negativos do aquecimento global no setor agrícola.
Os
mais afetados seriam as populações nas zonas mais pobres da África subsaariana
e do Sul e Sudeste Asiático, especialmente os que dependem da agricultura para
viver.
Graziano
da Silva defende que a fome, a pobreza e as alterações climáticas têm de ser
abordadas em conjunto, “por um imperativo moral, porque aqueles que hoje mais
sofrem são os que menos contribuíram para as alterações climáticas”.
O
relatório da FAO recorda que para manter o aumento da temperatura global abaixo
do teto de 2°C, as emissões de gases de efeito estufa terão de diminuir 70% até
2050, o que só será possível com o contribuição dos setores agrícolas.
Estes
setores são responsáveis por, pelo menos, um quinto de todas as emissões,
principalmente devido ao desmatamento para converter florestas em terra
cultivada e também devido à pecuária e à produção agrícola.
No
entanto, escrevem os autores, os setores agrícolas enfrentam um duplo desafio:
reduzir as emissões de gases de efeito estufa ao mesmo tempo e aumentar a
produção de alimentos para saciar uma população crescente e cada vez mais rica.
Estima-se
que a procura global por alimentos em 2050 seja pelo menos 60% maior do que em
2006, mas o crescimento populacional será concentrado nas regiões onde hoje já
há maior prevalência de subnutrição e maior vulnerabilidade às alterações
climáticas.
Foco
nos pequenos proprietários
O
relatório reconhece que reformular a agricultura e os sistemas alimentares será
um processo complexo, devido ao vasto número de partes envolvidas, à
multiplicidade dos sistemas agrícolas e de produção alimentar e às diferenças
nos ecossistemas.
No
entanto, alerta, os esforços têm de começar agora, porque os impactos das
alterações climáticas só piorarão com o tempo e se nada for feito os países
mais pobres terão, no futuro, de enfrentar simultaneamente a fome, a pobreza e
as mudanças climáticas.
Nas
palavras de Graziano da Silva, “os benefícios da adaptação ultrapassam os
custos da inação com margens muito grandes”.
Nas
vésperas da 22ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Alterações Climáticas, que começou em 07/11/16 em Marrocos, o relatório
sublinha que o sucesso da transformação da agricultura depende em grande medida
da ajuda aos pequenos proprietários na adaptação às mudanças climáticas.
Estima-se
que haja nos países em desenvolvimento cerca de 475 milhões de famílias de
pequenos proprietários que produzem em contextos socioeconômicos e condições
agroecológicas muito distintas, por isso não existe uma só resposta.
No
entanto, a FAO descreve no relatório algumas formas “alternativas e
economicamente viáveis” de ajudar os agricultores a se adaptarem e
especificamente a partir da adoção de práticas inteligentes, como o uso de
variedades de culturas eficientes na fixação de nitrogênio e tolerantes ao
calor.
A
adoção generalizada de práticas nitrogênio-eficientes, por exemplo, permitiria
reduzir em mais de 100 milhões o número de pessoas em risco de subnutrição,
estima o relatório. (ecodebate)
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