Estudo coordenado pela Fiocruz mapeia mudanças no clima do
Mato Grosso do Sul.
No
Mato Grosso do Sul, a porção norte do estado poderá apresentar um aumento de
até 5,8°C graus na temperatura e uma redução de até 19% no volume de chuvas nos
próximos 25 anos. Os dados fazem parte de uma pesquisa inédita sobre o Mato
Grosso do Sul, que identificou a vulnerabilidade à mudança do clima nos 79
municípios do estado. Coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o estudo
é uma das atividades realizadas no âmbito do projeto Vulnerabilidade à Mudança
do Clima, feito em parceria com o Ministério do Meio Ambiente.
Os
resultados da pesquisa foram compartilhados durante o Seminário Indicadores de
Vulnerabilidade à Mudança do Clima, que ocorreu em 30/11/16 em Campo
Grande (MS). Para o coordenador do projeto, Ulisses Confalonieri, este trabalho
possibilitará aos gestores avaliar, por meio de mapas e gráficos, qual parte do
território está mais e menos vulnerável às alterações do clima e os mais aptos
a se recuperarem de possíveis impactos climáticos. “O Mato Grosso do Sul é o
único representante da região centro-oeste a participar do estudo. Além dele,
foram escolhidos mais cinco estados para serem avaliados: Amazonas, Espírito
Santo, Maranhão, Paraná e Pernambuco. Também foi desenvolvida uma ferramenta, um software,
que ajuda a quantificar a vulnerabilidade humana às mudanças climáticas,
conforme cada município”, ressalta o pesquisador da Fiocruz Minas.
Dias mais secos
A
pesquisa feita sobre os municípios sul-mato-grossenses indica que a porção sul
do estado poderá ser a mais afetada em relação ao número de dias secos
consecutivos no ano, índice chamado de CDD. Na cidade de Japorá, por exemplo, o
aumento no número de dias seguidos sem chuva poderá chegar a 12,6%, seguida por
Sete Quedas (12,2%) e Tacuru (11,5%).
O município de Novo Horizonte do Sul apresentou
o CDD mais elevado do estado, com um aumento de 15,2% para os períodos de
estiagem. Esta situação é diferente em cidades localizadas na parte central,
como Rochedo e Corguinho. Nelas, os dias seguidos sem chuvas permanecerão os
mesmos em comparação com o período atual.
Mais calor e menos chuvas
Em
relação à temperatura máxima, Corguinho poderá ter um incremento de até 5,8°C
para os próximos 25 anos. Os municípios da porção norte serão os mais afetados,
assim como algumas cidades localizadas na parte leste do estado. Em Paranaíba e
Aparecida do Taboado o aumento pode chegar a 5,7°C para o período de 2041 a
2070.
O
Alto do Taquari pode ser uma das regiões mais impactadas pela redução do volume
de chuvas. Em Coxim e Rio Verde do Mato Grosso, por exemplo, a precipitação
poderá diminuir 19,3%. Na parte leste do estado, a pluviosidade pode reduzir
até 17,6%, como é o caso do município de Selvíria.
Campo
Grande apresenta uma elevação de 5,4°C na temperatura e uma redução de 8,3% na
precipitação. Em relação ao número de dias seguidos sem chuva, a capital pode
ter uma diminuição de 5,4%.
Mudança do clima no Pantanal
As
projeções feitas no estudo indicam possíveis consequências para o Pantanal. Por
ser um bioma úmido, que depende do ciclo de cheias e secas, o aumento da
estiagem pode impactar no ciclo de inundações e na diminuição da
biodiversidade, por causa das alterações no processo reprodutivo de plantas e
animais.
As
mudanças do clima também podem provocar transformações em fenômenos naturais
recorrentes no Pantanal, como o período das cheias dos rios. Por causa das
alterações no volume de chuvas e elevação da temperatura, podem ocorrer eventos
extremos, como secas e alagamentos. Estes fenômenos climáticos poderiam
impactar no Pantanal, a perda do potencial de pesca e, em outras partes do
estado, a redução da produção agrícola, afetando diretamente a segurança
alimentar das populações que vivem nessa região. Outro impacto que pode ser
apontado nesse cenário futuro é o aumento de doenças, devido à proliferação de
vetores.
Vulnerabilidade dos municípios
As
pesquisas realizadas sobre o estado consideram informações de cada município
relacionadas a fenômenos extremos, a exemplo de tempestades, e doenças
vinculadas ao clima, entre elas, dengue, leptospirose e leishmaniose. Dados
sobre a população, envolvendo saúde e condições socioeconômicas e a capacidade
dos municípios para lidarem com as mudanças climáticas também são utilizados.
As
informações coletadas são associadas a três elementos – exposição,
sensibilidade e capacidade adaptativa da população, considerando dois cenários
de clima futuro: um com redução nas emissões de gases do efeito estufa e menor
aquecimento global, e outro que considera o aumento contínuo dessas emissões
com maior impacto no clima. A partir da combinação e análise desses dados, é
possível calcular o Índice Municipal de Vulnerabilidade (IMV) e outros
indicadores.
As
projeções feitas na pesquisa indicaram que os municípios mais vulneráveis à
mudança do clima seriam Rio Verde do Mato Grosso, Rio Negro e Sonora e os menos
vulneráveis seriam Jateí, Naviraí e Chapadão do Sul. As cidades mais expostas
às alterações climáticas foram Maracaju, Três Lagoas e Coxim, em virtude de
desmatamentos, variações bruscas de temperatura e ocorrência de eventos
extremo, como secas e enxurradas. Em relação à sensibilidade, que indica a
intensidade com a qual os municípios são suscetíveis aos impactos do clima,
Juti, Taquarassu e Paranhos seriam os mais impactados.
O
estudo apontou que Campo Grande, Chapadão do Sul e Costa Rica foram
considerados os municípios mais adaptados para lidar com as mudanças clima,
devido à existência de infraestrutura de saúde, como leitos hospitalares, plano
de contingência de desastres e atuação da Defesa civil. Coronel Sapucaia e
Novo Horizonte do Sul seriam os menos adaptados. (ecodebate)
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